ANÁLISE DO PERFIL DE COMPOSTOS VOLÁTEIS DE CAGAITA
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Alimentos
Autores
Barrett Reina, L.D.C. (UFMT) ; Bueno, G.H. (UFSJ) ; Nogueira, L.A. (UFSJ) ; Guedes, M.N.S. (UFPA) ; de Souza, A.G. (UFSJ) ; Garcia, E.M. (UFSJ) ; Taroco, H.A. (UFSJ) ; Augusti, R. (UFMG) ; Melo, J.O.F. (UFSJ)
Resumo
A cagaita é um fruto da cagaiteira (Eugenia dysenterica) que pertence ao Cerrado brasileiro. Este trabalho tem como objetivo investigar o perfil de voláteis dos frutos de duas matrizes. Coletaram-se aleatoriamente 20 frutos inteiros de cada matriz. Para realizar as análises utilizou-se o método SPME (fibra PDMS-DVB) no modo headspace. Foram encontrados 25 compostos na planta 1 e 32 na planta 2, das seguintes classes: monoterpenos, sesquiterpenos, ésteres, fenóis, alcoóis, éteres, hidrocarbonetos, aldeídos, cetonas e ácido carboxílico. Os compostos voláteis possuem propriedades fisiológicas na proteção contra predadores e na atração de polinizadores, também apresentam ações farmacológicas. Dessa forma, torna-se extremamente importante a investigação desses compostos.
Palavras chaves
Compostos Voláteis; Eugenia dysenterica; Microextração fase sólida
Introdução
Algumas espécies vegetais do Cerrado podem constituir potenciais fontes de exploração econômica, desde que a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias viabilizem seu aproveitamento. Dentre elas, encontra-se a cagaita (Eugenia dysenterica), um fruto que tem recebido bastante atenção por apresentar características muito apreciadas, sendo utilizado na forma in natura ou em preparações como doces, geleias, sucos, licores e sorvetes. Porém, assim como em outros frutos desta região, a cagaita apresenta consumo restrito, sendo interessante sua exploração visando valorizar esse bioma, além de constituir-se como fonte de renda para as famílias do cerrado brasileiro (Martinotto - 2008; Cardoso - 2011; Oliveira-2011; Bedetti - 2013; Oliveira - 2016, Rodrigues - 2016). Há a presença de um grande número de substâncias voláteis na sua matriz, as quais normalmente determinam o aroma característico das frutas (GARCIA - 2016). Vários métodos têm sido utilizados para isolamento dos compostos orgânicos voláteis (COVs) de frutas, como a microextração em fase sólida no modo headspace (HS-SPME), o headspace estático, o headspace dinâmico, a extração por fluido supercrítico, a extração em fase sólida e a extração líquido- líquido. Entre elas, a HS-SPME tem recebido bastante destaque por apresentar diversas vantagens como alto poder de concentração, isenção de solventes, facilidade de ser acoplada ao cromatógrafo gasoso e aplicabilidade a muitos analitos (Valente - 2000). Neste sentido, o objetivo deste estudo foi identificar os compostos voláteis em frutos de Eugenia dysenterica da região de Prudente de Morais - MG, buscando compostos voláteis que sejam marcadores químicos para identificar a variedade.
Material e métodos
Os frutos maduros de cagaita foram coletados aleatoriamente de duas matrizes de cagaiteira (plantas 1 e 2) na cidade de Prudente de Morais/MG, em outubro de 2016. Após a etapa de higienização, as sementes das amostras foram descartadas e a polpa homogeneizada utilizando-se um mixer, sendo armazenada em freezer a -18°C. Pesou-se amostras de 2,0 g de cagaita (polpa), que foram colocadas em frascos de headspace com capacidade de 20 mL e aquecido a 60 oC. Após 5 minutos de aquecimento, a fibra PDMS/DVB (Polidimetilsiloxano- divinilbenzeno) foi exposta e em seguida, o holder contendo a fibra foi retirado e inserido no injetor do cromatógrafo gasoso (Belo, 2009). As amostras foram analisadas por meio de um sistema de cromatografia gasosa (Trace GC Ultra) acoplado a detector de espectrômetro de massas (Polaris Q) da Thermo Scientific (San Jose, CA), com analisador do tipo “ion-trap”. As condições cromatográficas de análise das amostras foram: temperatura do injetor de 250ºC; injeção modo splitless, tempo de dessorção de 5 minutos; temperatura da interface de 275 ºC. O aquecimento da coluna foi com temperatura programada: iniciou-se a 40 oC permanecendo por 1 minuto e depois com taxa de aquecimento de 10 ºC/min até 100 ºC mantendo a isoterma por 1 minuto, de 15ºC/min até 160 ºC mantendo a isoterma por 1 minuto e depois 18ºC/min até 245ºC, temperatura na qual manteve-se a isoterma por 2 minutos (Garcia, 2016). O detector foi mantido no modo de varredura (fullscan, de 35 a 300m/z), utilizando a técnica de ionização por impacto de elétrons (EI), com eneriga de 70 eV. A identificação dos compostos foi realizada com base na comparação entre os espectros de massas no banco de dados contido na biblioteca eletrônica NIST, considerando um Índice de Retenção (RSI), superior a 500.
Resultado e discussão
A maioria dos compostos voláteis identificados são terpenoides. Estes
resultados são semelhantes ao encontrado por Santos (2015) no estado de
Goiás.
Os monoterpenos pertencem ao grupo mais abundante e potente de substâncias
presentes em plantas e agem contra insetos. Os sesquiterpenos participam nos
processos de interações entre planta-planta, planta-inseto e planta-
patógeno, servindo de proteção contra predadores (SANTOS, 2015).
Foram encontrados 42 compostos voláteis, sendo 25 na planta 1 e 32 na planta
2. As classes foram terpenóides, ésteres, alcoóis, éteres, fenóis, cetonas,
aldeídos e ácidos carboxílicos.
Dos compostos voláteis identificados na planta 1, destacaram-se os
monoterpenos (β-pineno; 3-careno; (Z)-3,7-dimetil-1,3,6-octatrieno;
eucaliptol), os sesquiterpenos (decanoato de etila; α-humuleno; β-selineno),
e os ésteres (acetato de linalílio; butanoato de etila; butanoato de metila;
hexanoato de pentila; octanoato de etila).
Na planta 2, destacaram-se os monoterpenos (β-pineno; 3-careno; eucaliptol),
os sesquiterpenos (aristoleno; γ-muuroleno; α-humuleno), ésteres (butanoato
de etila; crotonato de etila; butanoato de Metila; acetato de linalílio;
benzoato de etila; octanoato de etila).
Santos (2015) encontrou como compostos majoritários para cagaita in natura
os monoterpenos β-pineno, α-pineno; mirceno; trans-β-ocimeno; linalool e
sesquiterpenos (β-cariofileno; α-humulene). Carvalho (2008), estudando os
compostos voláteis da cagaita em Tocantins encontrou como majoritários os
ésteres, hexanoato de etila, butanoato de etila e hexanoato de metila,
resultados estes parecidos com os encontrados neste estudo.
O aroma e o sabor típicos das frutas é resultado da combinação de inúmeras
substâncias voláteis, representantes de diversas classes de compostos
orgânicos.
Conclusões
O método de microextração em fase sólida no modo headspace permitiu identificar nas plantas 1 e 2, 42 compostos voláteis, sendo 25 na planta 1 e 32 na planta 2, pertencentes as classes terpenóide, éster, álcool, éter, fenol, cetona, aldeído e ácido carboxílico. Dos compostos voláteis identificados nos frutos das 2 cagaiteiras estudadas da região de Prudente de Morais, 5 compostos se destacaram como marcadores químicos: butanoato de etila; β-pineno; eucalipitol; 3-careno e acetato de linalílio.
Agradecimentos
FAPEMIG, FAPEMAT, CNPq, UFMG, UFSJ, UFMT pelo apoio financeiro.
Referências
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