CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS VOLÁTEIS PRESENTES NO PECÍOLO E BAINHA IN NATURA DE MONTRICHARDIA LINIFERA

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Produtos Naturais

Autores

Botelho, A.S. (UFPA) ; Batista, R.J.R. (MPEG) ; Amarante, C.B. (MPEG-CCTE)

Resumo

Montrichardia linifera é uma planta típica de regiões tropicais, vastamente distribuídas nas várzeas amazônicas e muito utilizada na medicina tradicional por ribeirinhos. Há relatos de ribeirinho de que onde há a presença desta planta não ocorre a presença do mosquito transmissor da malária. Neste trabalho, fez-se a caracterização dos constituintes voláteis do pecíolo e bainha in natura de M. linifera, extraídos por micro destilação- extração simultânea e identificados por cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas. Foram encontrados os altos teores de eucaliptol, principal substância encontrada em óleos de eucalipto, citado pela forte atividade antimicrobiana e como repelente natural.

Palavras chaves

Substâncias Bioativas; Repelente; Eucaliptol

Introdução

Montrichardia linifera é uma macrófita aquática popularmente conhecida como “aninga” (AMARANTE et al., 2009; 2011). Típica de regiões tropicais (MAYO et al., 1997), ela é vastamente distribuída nas várzeas amazônicas e em diversos ecossistemas inundáveis como margens de rios e igarapés (AMARANTE et al., 2009). Esta planta é muito utilizada na medicina tradicional por ribeirinhos amazônicos, principalmente pela propriedade cicatrizante da seiva retirada do caule, entre outras aplicações, apesar de, paradoxalmente, a considerarem venenosa, pois esta em contato com a pele pode causar queimaduras e em contato com os olhos pode causar cegueira (AMARANTE et al., 2009). Também há relatos de ribeirinhos de que onde ocorre a presença desta planta, não ocorre o mosquito transmissor da malária, apontando para uma possível ação repelente (AMARANTE, 2010). Estudos anteriores realizados por Souza & Amarante (2016) e Costa & Amarante (2015) com a inflorescência de M. linifera, foi encontrada a substância (Z)- jasmona que participa do mecanismo de defesa de algumas espécies de vegetais atuando contra pragas e possui atividade repelente comprovada. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi dar continuidade ao estudo fitoquímico com a finalidade de ser obter substâncias biologicamente ativas a partir do pecíolo e bainha de Montrichardia linifera com potencial aplicação farmacológica e/ou tecnológica.

Material e métodos

As amostras foram coletadas no Aningal do Mangal das Garças às margens da Baia do Guajará (1º27’59.8”S e 48º30’22.8”W), localizado na cidade de Belém do Pará. Após a coleta, as amostras de pecíolo e bainha de M. linifera foram lavadas e levadas ao Laboratório de Fitoquímica da Coordenação de Botânica (CBO) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Aproximadamente 60g do material cortado foi transferido para um balão de fundo redondo de 1000 mL e adicionados 300 mL de água destilada. Posteriormente, a amostra foi submetida ao processo de micro destilação-extração simultânea por 2 horas com 4 mL de pentano em sistema Chrompack para extração de compostos voláteis. Após o processo de extração, a solução pentânica obtida foi levada ao Laboratório Adolpho Ducke da CBO do MPEG para análise e identificação dos compostos voláteis por cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas em sistema Shimadzu QP-2010 Plus equipado com coluna capilar de sílica Rtx-5MS (30 m x 0,25 mm x 0,25 m de espessura de filme), respectivamente. Hélio foi usado como gás de arraste com fluxo de 1 mL/min; a programação de temperatura do forno foi 60-240° C (3°C/min). A injeção foi sem divisão de fluxo (1μL de uma solução contendo 0,5 g de extrato em 1 mL de hexano), com as temperaturas do injetor e da interface em 250 °C. O espectrômetro de massas foi operado por impacto de elétrons a 70 eV e a temperatura da fonte de íons 200 °C. A identificação foi feita através da comparação dos espectros de massas e índices de retenção (IR) com os existentes na biblioteca NIST-05,11 do sistema e da literatura (ADAMS, 2007). Os IR foram obtidos utilizando a série homóloga dos n-alcanos C8–C26 (Fluka S.A.) nas mesmas condições cromatográficas e calculadas através do software do sistema.

Resultado e discussão

Foram encontrados 16 constituintes voláteis presentes no pecíolo e bainha in natura, dos quais 8 foram identificados até o momento: 1,8-Cineol (70,7%), Terpinen-4-ol (6,21%), α-Copaeno (4.13%), α-Muuroleno (0.45%), γ-Cadineno (0.16%), δ-Cadineno (1.49%), Ácido Hexadodecanóico (2.12%) e Óxido 13-epi- Manoil (1.54%). O resultado da análise dos compostos voláteis está apresentado na Figura 2. Dentre estas substâncias, o 1,8-Cineol, também conhecido como eucaliptol, foi o constituinte majoritário e apresenta forte atividade antimicrobiana contra muitos agentes patogênicos importantes (GILLES et al., 2009; LOPEZ-LUTZ et al., 2008) e baixa toxicidade observada em ensaios in vitro (ELASSI et al, 2012). Esta substância também é relatada por apresentar atividade antifeedant e ovoposição repelente contra o Aedes aegypti adulto (KUMAR et al., 2012) e os óleos com alto teor eucaliptol são apresentados como uma boa alternativa a inseticidas químicos nocivos (KLOCKE et al., 1987 apud KUMAR et al., 2012). De fato, os óleos essenciais de Eucalipto são bastante citados na literatura como repelente natural contra o mosquito (STEFANI et al., 2009; RIBAS & CARREÑO, 2010). Atualmente, óleos essenciais contendo alto teor de eucaliptol (≥70%) são extraídos de plantas do gênero Eucalyptus onde menos de 20 destas são exploradas comercialmente, que são utilizados em indústrias farmacêuticas e cosméticas (ELASSI et al., 2012). O alto teor de 1,8-cineol no pecíolo e bainha de Montrichardia linifera pode tornar esta planta como uma nova alternativa para obtenção desta substância. O Terpinen-4-ol é atividades como acaricida, antimicrobiano, anti-inflamatório e anestésico (JOCA et al, 2012) e o α- Copaeno é reconhecido pela sua ação antimicrobiana e anti-inflamatória (SCUR et al, 2016).

Figura 1

Sistema de micro destilação-extração simultânea.

Figura 2

Gráfico do teor (%) dos constituintes voláteis presentes no pecíolo e bainha in natura de M. linifera (N.I.: compostos não identificados).

Conclusões

O alto teor de Eucaliptol nos compostos voláteis é semelhante ao encontrado em óleos essenciais de certas espécies de Eucaliptus explorados comercialmente e sugere que a extração daquele, a partir do pecíolo e bainha de Montrichardia linifera, pode ser economicamente viável para aplicação farmacológica e tecnológica e a presença desta substância, juntamente com (Z)-jasmona presente na inflorescência, pode está relacionada com os relatos de ribeirinhos sobre onde haver a presença do mosquito na presença da planta.

Agradecimentos

À Dra. Cristine Bastos do Amarante, à Drª Eloisa Helena de Aguiar Andrade, ao CNPq, ao Museu Paraense Emílio Goeldi e aos meus companheiros de equipe do LAQGoeldi

Referências

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