CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E QUIMIOMÉTRICA DE ÓLEO DE CASTANHA-DO-PARÁ (BERTHOLLETIA EXCELSA) COMERCIALIZADOS EM BELÉM DO PARÁ

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Produtos Naturais

Autores

Leal Correa, K. (UFPA) ; Coelho de Souza Júnior, F.J. (UFPA) ; Machado da Silva, A.H. (UFPA) ; Maria dos Santos, L.P. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)

Resumo

A Castanha do Pará (Bertholletia excelsa), de origem amazônica, é uma das principais fontes de renda para quem trabalha com extração vegetal no norte do Brasil. Dentre os seus derivados, destaca-se o seu óleo que possui diversas aplicações nas indústrias farmacêutica e cosmética, devido possuir agentes cicatrizantes, propriedades de hidratação e fortificação capilar. este trabalho realizou um estudo físico-química e quimiométrico de 20 amostras obtidas em 2 localidades diferentes. Foram investigados os seguintes parâmetros: densidade, viscosidade, índice de acidez, umidade e teor de cinzas. Com exceção de acidez, todos os parâmetros estão de acordo com a ANVISA. Também foi possível uma parcial separação das amostras via análise multivariada (PCA e HCA) em termos da origem das amo

Palavras chaves

Amazônia; óleo vegetal; análise multivariada

Introdução

A região amazônica caracteriza-se pela sua potencialidade de produtos naturais, sendo a biodiversidade na fruticultura um dos seus maiores exemplos. Diversos frutos excêntricos e exóticos, têm se destacado perante a comunidade cientifica, seja pelo seu potencial econômico, nutricional ou farmacológico (GLÓRIA, REGITANO-d’ÁRCE, 2000). Um dos grandes destaques do bioma amazônico é a Castanha do Pará (Bertholletia excelsa), que é um dos potencias naturais que vem despertando grande interesse no meio científico, por ser uma espécie de extrema importância nutricional e energética já comprovada. O óleo extraído desse fruto é foco de interesse tanto em pesquisas acadêmicas, quanto nos setores das indústrias. Pelo fato do seu óleo ser rico em ácidos graxos, os quais são amplamente utilizados como agentes cicatrizantes pela cultura popular da região norte, além de ser utilizado como umidificador da pele, como hidratante e fortalecedor capilar (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002; DUTRA-DE-OLIVEIRA; SÉRGIO MARCHINI, 2003; FERREIRA et al.,2006). Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi realizar analises físico-químicos e quimiométricas de amostras do óleo de castanha-do-pará provenientes de duas localidades distintas para caracterizá-los e fazer a distinção das amostras conforme sua origem, via emprego de análise de componentes principais (PCA) e análise hierárquica de agrupamentos (HCA).

Material e métodos

Foram adquiridas 20 amostras de óleo de castanha do Pará (Bertholletia excelsa) no município de Belém (Pará), sendo 10 amostras obtidas em uma loja de produtos naturais (industrializadas) e 10 amostras compradas na feira livre do Ver-o-Peso (naturais), classificadas como amostras A e amostras B, respectivamente. Os experimentos foram realizados nos Laboratórios de Química da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Pará. Foram realizadas as análises de densidade absoluta, realizada por meio da medição da massa do óleo contida em picnômetro de 10 mL; acidez, por meio da técnica de titulação de uma solução de óleo em éter-etanol (2:1) e neutralizando a solução utilizando a base NaOH 0,1 mol L-1; viscosidade, medida por meio do escoamento em copo Ford número 3, e medida do tempo de escoamento, sendo tempo convertido em viscosidade por meio da equação ⱱ = 2,31 (t – 6,58) fornecida com o aparelho (BRASIL, 2010); umidade, utilizando-se uma balança de infravermelho, onde foi colocado cerca de 2 g da amostra a 105 °C durante 15 minutos obtendo-se o resultado em porcentagem; cinzas, por meio da pesagem de 4 a 10 g da amostra em questão em cadinhos de porcelana aferidos previamente e queimados em mufla a 550º C até eliminação completa do carvão (ADOLFO LUTZ, 2008). Todas as determinações foram realizadas em triplicatas e os resultados expressos em termos de média e desvio padrão. Os resultados obtidos foram avaliados e comparados por meio do teste t de Student (p < 0,05), utilizando-se o software BioEstat 5.0. A análise de componentes principais e a análise hierárquica dos agrupamentos foram realizadas utilizando o programa MINITAB 16, para se separar as amostras de acordo com suas origens.

Resultado e discussão

Os resultados das análises físico-química estão expressos na Tabela 1. Os óleos do Ver-o-Peso (A) e Comércio (B) apresentaram respectivamente valores médios de densidade entre 0,897 e 0,911 (g/mL), sem diferença significativa (p<0,05), a viscosidade variou entre 115,454 e 119,519 cSt, respectivamente, sendo inferior a encontrada por Santos (2012) que foi de 41,060 cSt, cujo trabalho foi realizado com castanha e subprodutos. Um parâmetro importante realizado foi a determinação da acidez, que está muito relacionado com a conservação do óleo. A menor acidez encontrada foi de 6,461 (g de KOH/mg) para as amostras A e a maior foi de 9,305 (g de KOH/mg) para as amostras B. Estes valores foram superiores aos encontrados por Neto (2013), que foi de 5,580 (mg de KOH/g) para estudos com óleo de Coco e também por Melo (2014), cujo resultado obtido foi de 8,700 (g de KOH/100 g) para estudos com óleo de Andiroba. Essas discrepâncias de valores em comparação com a literatura podem ser justificadas pelas condições de armazenamento dos óleos. A umidade teve média de 1,207 % para as amostras do Ver–o–Peso e 1,167 % para as amostras do comércio, esses percentuais foram um pouco menores em comparação com os estudos realizados por Aranha (2012) que obteve um teor de umidade de 3,4% para o óleo da castanha do Pará. A presença do teor de água sugere que os óleos não passaram por um processo de refinamento. Os valores de cinzas foram de 0% para todas as amostras de óleo, sendo esses valores próximos a literatura para óleo de coco: 0,005% (NETO, 2013). Ao se aplicar a PCA e a HCA (Figura 1) houve uma separação parcial das amostras, indicando que talvez se precise de mais algum parâmetro para que se possa identificar exatamente as amostras de acordo com sua origem.

Tabela 1. Parâmetros físico-químicos para as amostras do óleo da Casta

Letras iguais indicam que não houve diferença significativa e diferentes indicam haver diferença significativa a partir do teste t Student (p<0,05).

Figura 1. Gráficos da PCA e da HCA



Conclusões

Os valores estudados concordaram com a pouca literatura existente sobre parâmetros físico-químico para os óleos de castanha do Pará, exceto a acidez, entretanto observa-se que as amostras que mais se enquadram nos dados da literatura são as amostras naturais. O desenvolvimento de mais estudos sobre as propriedades químicas e físicas do óleo é importante para um melhor aproveitamento desse recurso natural, a fim de promover a valorização dos produtos naturais existentes no Pará, sendo essa uma maneira de representar internacionalmente a cultura da população amazônica.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos laboratórios de Química da Faculdade de Farmácia e a UFPA.

Referências

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