ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Produtos Naturais
Autores
Leal Correa, K. (UFPA) ; dos Santos, G. (UFPA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)
Resumo
O gengibre é uma planta utilizada desde a antiguidade como uma especiaria, devido seu sabor característico, sendo usado em bebidas, alimentos e remédios (cultura popular). O chá de gengibre é utilizado na terapêutica como um anti emético, anti-inflamatório, antimicrobiano, etc. O objetivo deste trabalho foi caracterizar as propriedades físico-químicas do chá de gengibre. Foram avaliadas 9 amostras, de 3 feiras de municípios do Pará, em termos de: pH, densidade, acidez, teor de extrativos, umidade e cinzas. Os dados obtidos seguiram o exposto na literatura para outros chás, pois não se encontram na literatura dados físico-químicos para o gengibre, e, após realização de testes estatísticos multivariados (PCA), se verificou que houve uma distinção das amostras conforme sua origem.
Palavras chaves
ervas medicinais; chá; análise multivariada
Introdução
Desde os tempos antigos, as plantas medicinais já eram usadas com a finalidade de cura e tratamento de diversas enfermidades (PALHARIM, 2008). Uma das plantas medicinais mais antigas e populares do mundo é o gengibre (Zingiber officinale), que é nativo do sudeste Asiático e que é muito encontrado em florestas tropicais (CESTARI, 1998). O gengibre é um caule subterrâneo (rizoma) que é amplamente utilizado em razão do seu potencial medicinal e culinário. A sua importância está nas atividades antiemética, antiinflamatória, alívio em pacientes com artrite reumatóide, de ação preventiva contra úlcera, hipoglicemia, ação analgésica, antipirética, antibacteriana, antioxidativa, antiamebiana. O objetivo deste estudo foi realizar a caracterização físico-química de chá de gengibre (Zingiber officinale), de nove amostras provenientes de três municípios paraenses (Belém, Ananindeua e Marituba, todos pertencentes à Região Metropolitana de Belém), com a finalidade de verificar sua qualidade, além de aplicar análises estatísticas (ANOVA e PCA) para discriminar as amostras conforme sua origem.
Material e métodos
Os rizomas do gengibre frescos foram adquiridos em três feiras distintas dos municípios de Belém, Ananindeua e Marituba, no Estado do Pará. Em cada uma localidade foram obtidas três amostras, sendo identificadas com as letras A (Ananindeua), B (Belém) e C (Marituba). As análises foram realizadas no laboratórios de Química da Faculdade de Farmácia (UFPA). Inicialmente, o chá de gengibre foi preparado por meio do método de decocção (BRASIL, 2010), onde utilizou-se aproximadamente 10 g da raiz triturada em 150 mL de água destilada fervendo por 15 minutos. Após 30 minutos em repouso, foram realizados os testes de pH, o qual foi determinado por meio de um pHmetro portátil previamente calibrado; densidade, em um picnometro com volume de 15 mL; teor de extrativos segundo o método da Farmacopeia Brasileira (2010); cinzas da raiz do gengibre, com a queima das amostras em mufla a 550º C até formação de cinza branca (BRASIL, 2005); umidade da raiz do gengibre com eliminação à 105 ºC dos compostos voláteis presentes na amostra; acidez através da diluição de 5 mL do chá para 50 mL com água destilada e titulação da solução com NaOH 0,1 mol/L e tendo a fenolftaleína como indicador. Todas as análises foram feitas em triplicata e os resultados obtidos foram expressos em termos de média e desvio padrão. Tais resultados foram depois submetidos a análise de componentes principais (PCA) para se buscar uma possível separação das amostras de acordo com sua origem (amostras A, B ou C). Os tratamentos estatísticos foram feitos usando os programas Excel 2010 e MINITAB 16.
Resultado e discussão
A tabela 1 expõe os resultados obtidos. A densidade teve médias iguais a 1,66 g/mL; 1,00 g/mL; 1,00 g/mL que são valores diferentes aos encontrados por Magalhães et al. (1997) em amostras de óleos essenciais obtidos de gengibre fresco e seco (0,88 g/mL), porém, apresentou proximidade aos valores encontrados em chás das cascas de copaíba (JUNIOR et al., 2014): 0,97 g/mL. Segundo Magalhães et al. (1997), a umidade do rizoma fresco se deu de 80% a 90%, o que, com exceção das amostras de Marituba (C), concordam com os valores encontrados no presente trabalho (80,13%; 88,97% e 77,67%). O teor de cinzas encontrados por Magalhães apud Lucio, Freitas e Waszczynskyj (2010) foram de 4% a 8%, e desta forma os valores médios referentes às amostras de Ananindeua (5,97%) se encontra dentro desta faixa, mas os de Belém (3,88%) e o de Marituba (3,23%) são ligeiramente inferiores. Os valores de pH tiveram médias iguais a 6,12; 7,81 e 7,70, valores estes superiores aos valores médios encontrados de 5,14 para chás de casca de copaíba (JUNIOR et al., 2014) e 4,95 a 5,15 para chás a partir da decocção da casca de aroeira (PINHO et al. 2014). Em termos de acidez, os chás de gengibre se mostraram bem mais ácidos (11,01%; 5,53% e 5,52%) em relação aos chás das cascas de copaíba (0,06%) e aroeira (2,12% a 2,55%). O teor de extrativos apresentou médias iguais a 14,42% (Ananindeua); 6,18% (Belém) e 8,07% (Marituba) que são valores equiparáveis aos encontrados por Pinho et al. (2014) para chás de aroeira (7,28% a 15,40%) e para chá de copaíba (9,99%), descobertos por Junior et al. (2014). A análise de componentes principais produziu a Figura 1, em que se percebe que os parâmetros estudados permitiram uma discriminação das amostras conforme sua procedência.
TE = teor de extrativos. Letras iguais indicam semelhança entre as amostras, via ANOVA e teste de Tukey (p<0,05).
Como houve uma separação das amostras de acordo com o município de origem, estes gengibres podem ser considerados distintos entre si.
Conclusões
Os parâmetros físico-químicos analisados, em sua grande maioria, concordam com valores constantes na literatura, para outros chás (pois não há relatos dessas análises em chá de gengibre). Os parâmetros estudados foram suficientes para separar as amostras conforme sua origem, quando se empregou a análise de componentes principais, indicando que as amostras sofrem influência da localidade de origem.
Agradecimentos
Ao LACQUAMA (UFPA) e ao CTA (UFRA)
Referências
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira, vol., 5ª edição. Brasília. p. 546, 2010.
BRASIL. Esclarecimentos sobre a regulamentação de chás: informe Técnico nº 45, de 28 de dezembro de 2010. Disponível em <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/40512000474583248e6ede3fbc4c6735/informe_45.pdf?MOD=AJPERES> (acesso em 22/07/2016).
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PALHARIM, L.H.D.; NETO, E.F.; LOPES, M.P.C.; BOSQUÊ, G.G. Estudo sobre gengibre na medicina popular; Revista Científica Eletrônica de Agronomia, ano VII. n.14, 2008.
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MAGALHÃES, Mauro Taveira et al. Gengibre (Zingiber officinale Roscoe) Brasileiro: aspectos gerais, óleo essencial e oleoresina. Parte 2 - Secagem, óleo essencial e oleoresina. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 17, n. 2, p.132-136, mai-ago. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cta/v17n2/a13v17n2.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2016.
PINHO, A.C. et al. Análise físico-química de amostras de chá da casca de aroeira (schinus terebinthifolia r.) obtidas em feiras populares de Belém – PA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 54., 2014, Natal. Anais eletrônicos... Natal, 2014. Disponível em: <http://www.abq.org.br/cbq/2014/trabalhos/7/5737-19102.html>.Acesso em 26 jul. 2016.
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