ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Produtos Naturais
Autores
Castro, C.C. (MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI) ; Nascimento, L.D. (MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI) ; Andrade, E.H.A. (MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI)
Resumo
A composição química do concentrado volátil da espécie Cattleya violacea apresentou (E,E)-α-farneseno como constituinte majoritário nas amostras de setembro (15,2%) e maio (15,02%). O constituinte trans-hidrato de sesquisabineno (11,88%) foi presente apenas na mostra de setembro, enquanto que citronelol foi identificado com 13,72% somente na amostra de maio. As flores de Encyclia granitica apresentaram linalol como constituinte majoritário, com percentuais de 69,11 % (amostras de Belém) e 44,18 % (amostras de Ananindeua), mas mostraram diferenças significativas quanto ao teor de trans-α-Bergamoteno (2,61%- Belém e 21,37%-Ananindeua).
Palavras chaves
Orquidaceae; Composição química; Aroma
Introdução
Os aromas das flores, para o homem, podem ser classificados em duas categorias: aqueles que são agradáveis, fragrantes ou frutados, e os que são desagradáveis ou denominados aminóides. Odores agradáveis são geralmente contidos em óleos essenciais na flor, constituídos principalmente por mono- e sesquiterpenos, bem como por substâncias aromáticas, alcoóis alifáticos, cetonas e ésteres. Em muitos casos um único componente pode ser responsável pelo aroma particular de uma flor, pelo seu elevado teor, mas usualmente, uma mistura de componentes compõe o aroma (HARBORNE, 1977). Orchidaceae é considerada a maior família botânica do mundo. O número de espécies conhecidas é difícil de ser precisado, estima-se uma variação entres 15 000 e 35 000 espécies distribuídas em mais de 800 gêneros. A beleza e o perfume das flores das orquídeas têm exercido atração ao homem desde épocas remotas, este fato enriqueceu muito a história desta família. O interesse dos povos orientais pelas orquídeas é muito antigo. O filósofo Confúncio (551-479 a.C.) escreveu que tais plantas possuem perfume supremo digno de um rei (SILVA; SILVA, 2010). Embora diversas pessoas tenham se dedicado a coleta e estudo das orquídeas brasileiras, o conhecimento de sua flora ainda está muito insipiente, principalmente em regiões pouco desenvolvidas e mal conhecidas nos seus recursos naturais, como é o caso da Amazônia brasileira. O objetivo deste trabalho é avaliar a composição química do concentrado volátil das flores de espécies de Orchidaceae por cromatografia de fase gasosa acoplada a espectrometria de massas.
Material e métodos
As coletas das flores foram realizadas pela manhã, entre 07h e 9h, e o aroma extraído logo em seguida. As flores de Cattleya violacea foram colhidas em dois períodos (setembro/2015 =A e maio/2016 = B), e as flores de Encyclia granitica foram obtidas em dois locais, nos municípios de Belém (C) e Ananindeua (D), Pará. O material botânico, ainda in natura, foi cortado, homogeneizado, pesado e submetido a micro hidrodestilação-extração simultânea (DES), usando um extrator tipo Nickerson & Likens da Chrompack, e n-pentano (3 mL) como solvente, acoplado a sistema de refrigeração para manutenção da água de condensação entre 5-10º C, durante 2 horas. A composição química dos constituintes voláteis foi analisada por cromatografia de fase gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG/EM), em sistema Shimadzu QP-2010 Plus, equipado com coluna Rtx-5MS (30 m x 0,25 mmx 0,25 m de espessura de filme). O gás de arraste usado foi hélio com fluxo de 1,2ml/min. A injeção da amostra (concentrado pentânico) sem divisão de fluxo. A temperatura do injetor e da interface foi de 250ºC. O programa de temperatura do forno foi de 60 - 250ºC, utilizando-se uma rampa de 3ºC/min. O espectrômetro de massas foi por impacto eletrônico a 70 eV e a temperatura da fonte de íons 200ºC. Os constituintes foram identificados através da comparação dos seus espectros de massas e índices de retenção (IR) com os existentes na biblioteca NIST-05 e 11, FFNS e na literatura (Adams, 2007). Os índices de retenção foram calculados através do software do sistema, utilizando a série homóloga dos n-alcanos (C8-C20) injetados nas mesmas condições cromatográficas.
Resultado e discussão
A composição química dos concentrados voláteis (CV) obtidos das flores frescas de Cattleya violacea (A e B) e Encyclia granítica (C e D) encontra-se na Tabela 1, com seus respectivos índices de retenção (IR), em ordem crescente.
O CV das flores de C. violaceae (A) apresentou cis- (9,71%) e trans- óxido de rosa (3,83%), estes constituintes estão presentes em pequenas concentrações em algumas plantas como a rosa búlgara, gerânio, rosa damascena (BABU et al., 2002). Os farnesenos, (E,E)-α- (15,2%) e o β- (0,49%) podem ser encontrados nos revestimentos de maçãs e outros frutos.
No CV da E. granitica (C) o monoterpeno alcoólico linalol foi o constituinte principal (69,11%), seguido também de dois alcoóis terpênicos, α-terpineol (11,07%), que apresenta odor agradável e é um ingrediente comum em perfumes, cosméticos e sabores (SILVA, et al., 2011).
Na Tabela 1 observa-se que (E,E)-α-farneseno apresenta concentrações similares, cerca de 15%, nas duas amostras estudadas de C. violácea (A e B). Citronelol (13,72%) está presente apenas no CV da amostra B, enquanto trans-hidrato de sesquisabineno ocorreu somente na amostra A. Nonanal e óxido de rosa foram detectados nas duas amostras, sendo que no CV da amostra A os teores foram superiores, enquanto as concentrações de linalol são maiores na amostra B. A composição dos CVs das amostras de E. granitica (C e D), mostra que o constituinte predominante é o linalol, sendo que o teor na amostra C (69,11%) foi superior a D (44,18%), o mesmo ocorreu com os constituintes α-terpineol e geraniol. Antranilato de metila, muito usado nas formulações de perfumes, sabões, águas de colônia e cosméticos em geral, e o sesquiterpeno trans-α-bergamotene apresentaram maiores concentrações na amostra D.
Constituintes químicos (%) identificados no concentrado volátil das flores de Cattleya violacea e Encyclia granítica e seus índices de retenção (IR).
Conclusões
O aroma das flores de C. violacea é caracterizado pela presença de linalol, os óxidos de rosa (cis e trans) e nonanal. O concentrado volátil das flores obtido em períodos diferentes apresentou diferenças quantitativas e qualitativas, o que pode ser justificado pela influência sazonal. O aroma das flores de E. granitica é caracterizado pelas concentrações elevadas de linalol. A variação química nas amostras coletadas em Belém e Ananindeua, principalmente com relação aos teores de linalol e trans-α-bergamoteno pode estar associada ao ambiente em que as plantas se encontram.
Agradecimentos
Referências
ADAMS, R.P. Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatography/Mass Spectrometry.Allured Publishing Corp., Carol Stream. 2007.
BABU, K. G. D.; SINGH, B.; JOSHI, V. P.; SINGH, V. Essential oil composition of Damask rose (Rosa da¬mascena Mill.) distilled under different pressures and temperatures. Flav. Fragr. J., v. 17, p. 136-140, 2002.
HARBORNE, J.B. Introduction to ecological biochemidtry. New York, Academic Press, 1977.
SILVA, M.F.F.; DA SILVA, J.B.F. Orquídeas nativas-Amazônia Brasileira. 2. Ed. Ver. Belém: MPEG, 2010.
SILVA, et al., 2011. Avaliação dos efeitos antioxidantes in vitro do alfa-terpineol. Disponível em: <http://www.abq.org.br/cbq/2011/trabalhos/7/7-567-11188.htm>. Acessado em 01/02/2016.