A construção de imagens táteis para o ensino de Química a alunos cegos utilizando o software Monet

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Padilha, M.V.S. (IFPA) ; Oliveira, A.S. (IFPA) ; Ribeiro, P.E.S. (UFPA) ; Monteiro, R.L. (IFPA) ; Ferreira, J.E.V. (IFPA)

Resumo

Pessoas com deficiência visual tem o direito de ter acesso às mesmas informações que aquelas que enxergam. Com relação a isso, o uso de novas tecnologias tem dado uma grande contribuição ao processo de ensino- aprendizagem da química para cegos e deficientes visuais. Este artigo descreve a elaboração de gráficos táteis com ajuda do computador para ser utilizado com alunos que só conseguem ler pelo toque. Os autores apresentam e discutem uma variedade de desenhos de interesse da química com legendas em caracteres em Braille. Todos os materiais apresentados, revelam as possibilidades que a computação aliada à tecnologia assistiva pode oferecer para aumentar as oportunidades dos cegos na educação.

Palavras chaves

gráficos táteis; química; educação inclusiva

Introdução

A informação está cada vez mais sendo apresentada em formatos não-verbais, tais como diagramas, tabelas, gráficos, mapas e assim por diante, todos esses recursos a que se refere 'graphics'. Do mesmo modo, 'graphicacy', a capacidade de compreender e criar tais dispositivos, está se tornando uma importante dimensão da alfabetização (ALDRICH; SHEPPARD, 2000). O objetivo dos gráficos é comunicar informações ou conceitos que são difíceis ou impossíveis de transmitir através de palavras (ALDRICH; SHEPPARD, 2001). Em química eles desempenham um papel crucial no entendimento de muitos conceitos abstratos. De fato, muitas representações sobre a química são baseadas em coisas que podem ser vistas: números, fórmulas, símbolos, equações, gráficos, esquemas, diagramas e muitas experiências envolvem a visualização de mudança de cor. Estar familiarizado com estas representações e sua utilização na química, é essencial para a aquisição de conhecimentos (KOZMA; RUSSEL, 1997). Livros de química estão cheios desses recursos pictóricos. Definitivamente química é um assunto que requer muita análise visual e o aprendizado que os alunos adquirem na escola, depende em grande parcela da interpretação correta de diversas imagens. Mas a questão principal é como ensinar química para pessoas cegas? Quando consideramos essas pessoas, imagens devem ser reproduzidas em relevo para serem lidas pelo toque. O sentido do tato desempenha um papel importante na apresentação de informações para as pessoas com deficiência visual (POWER; JÜRGENSEN, 2010). A fim de ajudar alunos cegos em seu processo ensino- aprendizagem, os autores realizaram pesquisas para compreender melhor como a representação gráfica poderia ser entendida por eles, testando alguns materiais e métodos.

Material e métodos

A elaboração de gráficos táteis para o ensino da química: o momento da arte. Ao pensar sobre a visualização da imagem para alguém com falta de percepção visual. A primeira coisa a considerar é como transpor a realidade expressa visualmente em uma realidade percebida pelo toque. Devemos ter em mente que o sucesso de uma tal transposição para os gráficos táteis depende de uma boa descrição presente no objeto, algo que requer algumas técnicas especiais e pode mesmo tornar-se uma obra de arte. As estratégias descritas neste trabalho se concentrarão na criação de gráficos de interesse do ensino da química, através do uso do software Monet e da impressora Braille. Em Química existe uma representação específica em sinais Braille e deve ser empregada em todas as imagens quando necessário. Os símbolos para representação química podem variar dependendo do país. No Brasil, um documento foi criado pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2011), para padronizar símbolos químicos. Os gráficos táteis podem ser desenhados a partir “do zero” utilizando o Monet ou importados de outras fontes através da função “importar”. O primeiro passo para a elaboração de um gráfico tátil é a seleção de informação, a exclusão dos detalhes meramente visuais são imprescindíveis para a elaboração do gráfico destinado ao cego e informações irrelevantes, que não comprometerão o entendimento do aluno também podem ser descartadas. A produção dependerá do manuseio do software Monet, o qual irá gerar um arquivo eletrônico que poderá ser guardado para posterior edição ou duplicação.

Resultado e discussão

A Figura 1 mostra o desenho do diagrama de fases da água (a pressão em função da temperatura) feito através do software Monet. Um deles (Figura 1a) é simples e apresenta apenas os limites das fases. A outra (Figura 1b) é mais complexa, e mostra os limites das fases e a identificação do ponto triplo, ponto de fusão e ponto de ebulição. Deve-se dedicar um cuidado especial a distinguir os três tipos de linhas: os eixos cartesianos X - Y (linhas contínuas mais espessas), as linhas de separação das fases (linhas contínuas simples) e as linhas que ligam os pontos as curvas dos eixos (linhas pontilhadas). A Figura 2 traz representações moleculares e atômicas. A Figura 2 (a) mostra duas moléculas enantiômeras. A figura 2 (b) mostra a molécula de etanol (superior) e acetona (inferior) e a Figura 2 (c) o átomo de carbono. Conceitos que sem um gráfico tátil tornam-se indecifrável ao cognitivo do aluno cego. O melhor método para aprender a preparar uma imagem em relevo vem do treinamento prático, do feedback crítico de outros produtores táteis e leitores de gráficos tácteis, e com a experiência (BANA, 2010). Nem todos os detalhes são extremamente necessários para a compreensão correta de uma ilustração tátil. Thompson e Chronicle (2006) dizem ser necessário repensar o projeto de gráficos táteis", pois considera que a reprodução direta de imagens visuais em formas táteis é cada vez mais considerado como falta de consideração das necessidades e capacidades de seus usuários. Figura 1. Diagramas de fases da água com legendas em Braille para serem impressos em relevo tátil: (a) simples e (b) complexo. Figura 2. Representações moleculares (a e b) e atômica (c) com legendas em Braille para serem impressas em relevo tátil.

Figura 1

Diagrama de fases da água

Figura 2

Isômero Óptico, Etanol e acetona, Átomo de carbono.

Conclusões

Para se propor uma educação inclusiva, se faz necessário adaptar. Adaptar materiais específicos, adaptar currículo, adaptar avaliação. Não no sentido de promover uma maior facilidade para os alunos cegos, mas no sentido de promover uma metodologia acessível para estes alunos. Alcançar o sucesso na disciplina de Química dependerá principalmente do contato que os alunos obtiverem com materiais táteis. O software Monet mostrou-se eficiente no desenho de representações Químicas táteis com legendas em Braille.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio financeiro disponibilizado pelo IFPA e a participação dos sócios da ADVASP (Associação dos Deficientes Visuais).

Referências

ALDRICH, F. K.; SHEPPARD, L. Graphicacy: the fourth ‘r’? Primary Science Review, v. 64, nº 1, 8-11, 2000.
ALDRICH, F. K.; SHEPPARD, L. Tactile graphics in school education: perspectives from pupils. The Brithish Journal of Visual Impairement, v. 19, nº 2, 69-73, 2001.
BANA (2010). Braille Authority of North America. Guidelines and Standards for Tactile Graphics. http://www.brailleauthority.org/tg/web-manual/index.html
BRASIL. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Especial. Grafia Química Braille para uso no Brasil, 2ª edição. Brasília, 2011.
KOZMA, R.; RUSSEL, J. Multimedia and understanding: expert and novice responses to different representations of chemical phenomena. Journal of Research in Science Teaching, v. 34, 948-968, 1997.
POWER, C.; JÜRGENSEN, H. Accessible presentation of information for people with visual disabilities. Universal Access in Information Society, [S.l.], v. 9, n° 2, 97–119, 2010.
THOMPSON, L. J.; CHRONICLE, E. P. Beyond visual conventions: rethinking the design of tactile diagrams. The British Journal of Visual Impairment, [S.l.], v. 24, n° 2, 76-82, 2006.

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