ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Ensino de Química
Autores
Azevedo, W.H.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Freitas, G.F.N. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Araujo, H.F. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Santos, G.L.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Fortuna, K.A.V. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Santiago, J.C.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)
Resumo
Frustração e desmotivação são sentimentos que, infelizmente, acompanham muitos discentes dos cursos de licenciatura, em especial daqueles referentes às áreas de Ciências, tal como a Química. Este descontentamento, muitas vezes, resulta em ocasional desistência – o que configura a grande evasão observada em tais cursos – ou, quando não, em profissionais que ingressam no mercado totalmente insatisfeitos com o seu trabalho. Buscando-se investigar os fatores que influenciam essa realidade, este trabalho procurou analisar as expectativas que os alunos ingressos no curso de Licenciatura Plena em Química, da UEPa, possuíam a respeito de sua formação docente. Foi possível chegar à conclusão de que o desprestígio social da profissão é a principal causa de tantos sentimentos negativos.
Palavras chaves
Formação de Professores; Licenciatura em Química; Carreira Docente
Introdução
Observa-se, atualmente, altos índices de evasão acadêmica nos cursos de formação de professores. Quando se analisa os dados referentes às licenciaturas que englobam áreas afins às ciências, tais índices tornam-se ainda maiores, configurando um quadro marcado por altas taxas de insucesso (ENID, 2014). Um dos fatores que contribuem significativamente para esse quadro, sem dúvidas, é o estilo das aulas em tais cursos: focado no fazer docente, na exposição, repleto de leituras obrigatórias e seminários periódicos, rotina que se repete na maioria das disciplinas, tornando-se enfadonha (ARROIO, RODRIGUES FILHO e SILVA, 2006). Entretanto, nota-se que o desprestígio social em relação à profissão é o que mais desanima os ingressos de tais cursos a continuar na carreira docente. A sociedade, de acordo com Barros (2013), já rotulou os cursos de licenciatura de maneira negativa, vendo a profissão como mal remunerada em relação às outras com mesmo nível de formação, de rotinas desgastantes e, o que é pior, como impossível de trazer conforto futuro ou satisfação profissional. O professor, então, é percebido como um sujeito que (somente) enfrenta constantes dificuldades profissionais. Por consequência, muitos ingressos em cursos de licenciatura, notadamente em Química, vislumbram a carreira docente como secundária, ou seja, só embarcam no curso de formação por o considerarem acessível em relação a outros, o que resulta em profissionais frustrados, que contribuem para a desvalorização dessa profissão perante a sociedade, fechando-se então um ciclo que possui como principal vítima os alunos, os quais acabam desenvolvendo forte antipatia em relação a diversas áreas do conhecimento,em especial à Química, por conta da falta de didática docente (BARROS, 2013).
Material e métodos
Para coleta de dados, elaborou-se um questionário, contendo 14 questões de cunho objetivo e subjetivo. Dentre aquele, buscou-se descobrir o sexo e idade dos participantes, assim como o período do curso em que estavam. Tal coleta deu-se em um dia, no mês de abril de 2016, sendo efetuada na Universidade do Estado do Pará, nos primeiro e terceiro semestres do curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais, com Habilitação em Química. Inicialmente, porém, antes de repassar os questionários, foi feito o registro do número médio de evadidos. Como, por ano, ingressam no curso 40 alunos, esperava-se que 80 pessoas participassem da pesquisa. Porém, apenas 53 alunos participaram, já que os demais haviam trocado ou abandonado o curso. Vale destacar que, para não influenciar nas respostas dadas, os pesquisadores evitaram expor suas concepções a respeito do curso e da profissão. Dentre as perguntas mais importantes que os entrevistados tiveram que responder, estavam: “A sua primeira opção foi Licenciatura em Química?”; “Quais motivos levaram você a cursar licenciatura?”; “Caso você se forme, mesmo não querendo, pretende atuar como professor?”; “O que você espera do curso?”, “Na sua opinião, como o professor é visto pela sociedade?”. Tais perguntas objetivaram conhecer que anseios levaram os alunos a escolher Licenciatura em Química da UEPa e, sobretudo, o que esperavam de sua futura profissão.
Resultado e discussão
Por mais preocupantes que tenham sido as respostas obtidas, elas confirmaram
a presente realidade: há poucas esperanças por parte dos discentes de
Licenciatura em Química, da UEPa, e muita frustração. 79% dos discentes não
possuíam o curso como sua primeira opção; em outras palavras, só o estão
cursando já que não conseguiram vaga no curso que realmente almejavam, o que
explica o grande desinteresse por parte de muitos. Ademais, o fato de o
curso ser uma Licenciatura em Ciências Naturais, com habilitação em Química,
é outro ponto que incomoda bastante seus acadêmicos, pois anseiam estudar
logo os conteúdos referentes à Química, e não ciências, mesmo que essa
integralização de várias áreas do conhecimento seja fundamental para se
desenvolver uma visão holística, contribuindo para o estabelecimento de um
paradigma interdisciplinar (BARROS, 2013).
É importante frisar, também, o descontentamento dos discentes frente às
metodologias do curso. Muitos professores, segundo Freire (2000), não
possuem formação pedagógica adequada, levando os alunos a não compreenderem
vários arcabouços conceituais, e a falta de experimentação, como promoção da
investigação científica, por conta da falta de infraestrutura, contribui
para respostas como: “só estou aqui pois busco rápido retorno financeiro”,
“foi o único curso em que passei” e “curso química pois ainda há falta de
profissionais no mercado, e pretendo logo trabalhar”.
Por falta de opção, 89% desses alunos, mesmo não querendo, pretendem
embarcar na profissão, por questões relacionadas à subsistência. O estigma
apresentado pela sociedade em relação a esses profissionais, contribui de
forma determinante para que eles, mesmo que ainda não formados, já estejam
repletos de desânimo e desmotivação.
Respostas à questão: "Caso você se forme, mesmo não querendo, pretende atuar como professor?". 47 alunos responderam "sim", ao passo que 6, "não".
Respostas à questão: "A sua 1ª opção foi Licenciatura em Química?". 42 alunos responderam "não", ao passo que somente 11, "sim".
Conclusões
Nota-se, nessa conjuntura, que o aumento de salário não é o bastante para motivar os discentes de Licenciatura em Química, futuros professores. Os graduandos possuem uma evidente avidez por melhores condições de trabalho na carreira docente, reconhecimento e prestígio, além de melhor infraestrutura e recursos disponíveis para os cursos de formação de professores. É preciso adotar metodologias de ensino eficazes nos cursos superiores, capazes de elucidar a importância da docência enquanto ofício, por meio da constante integração entre prática pedagógica e conhecimento técnico de qualidade.
Agradecimentos
Agradecemos à professora Tânia Roberta, excelente profissonal, e a todos os discentes que contribuíram com essa pesquisa.
Referências
ARROIO, A.; ROGRIGUES FILHO, U. P.; SILVA, A. B. F. A Formação do Pós-Graduando em Química Para a Docência em Nível Superior. Química Nova, v. 29, n. 6, p. 1387–1392, 2006.
BARROS, L. V. Intenção de Ingresso dos Alunos do Ensino Médio da Escola de Planaltina no Curso de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade UnB de Planaltina. 2013. 16 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Ciências Naturais) – Universidade de Brasília, Planaltina, 2013.
ENID, 4., 2014, Campina Grande. Anais ... Campina Grande: UEPB.
FREIRE, A. M; Trabalho Experimental: Concepções e Práticas de Estagiários de Física e Química. Química, v. 76, 2000.