ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Ensino de Química
Autores
Carvalho de Jesus, P. (IFMA CAMPUS CAXIAS) ; Dias da Silva, E. (IFMA CAMPUS CAXIAS) ; Galdino Soares, C.R. (IFMA CAMPUS CAXIAS) ; Pereira da Silva, E.K. (IFMA CAMPUS CAXIAS) ; Suzi, S.R. (IFMA CAMPUS CAXIAS)
Resumo
Respaldado e orientado pela politica da Inclusão Escolar e da Educação Escolar; a qual está baseada na LDB (lei 9394/96), este trabalho objetivou a realização da adaptação do laboratório de química do IFMA Campus Caxias para o ensino de química direcionado às pessoas com surdez. O laboratório de química recebeu placas e etiquetas em Portuguesa e em LIBRAS para facilitar e identificação dos objetos e procedimentos de segurança laboratorial .Conclui-se que o presente trabalho comprovou que é possível propiciar um ambiente escolar onde todos os indivíduos, independentemente de sua deficiência tenham a oportunidade de construção do conhecimento, desde que para isso o ambiente esteja adaptado para cada tipo de deficiência culminando em melhor aprendizado.
Palavras chaves
ENSINO DE QUIMICA; SURDEZ; INCLUSAO
Introdução
Ensinar química para alunos com necessidades específicas de surdez desafia educadores a modificar sua postura educacional, levando-o a buscar caminhos alternativos para favorecer o ensino-aprendizagem deste aluno cada vez mais presente nas escolas regulares de ensino. A história da educação dos surdos evidencia que estas pessoas eram rotuladas como incapacitadas para a aprendizagem, fato que levava a sociedade a excluí-las do convívio social. Mas educação especial formalizada, iniciada na década de 70, tende a ser um fator determinante para a mudança de paradigma na educação das pessoas com necessidades específicas de aprendizagem. Promovendo, posteriormente, a inclusão destes alunos no ensino regular. A inserção do aluno surdo em sala instiga o professor de Química a pensar em novos processos de aprendizagem, levando para o aluno um ensino que atenda suas necessidades específicas de aprendizagem, colaborando para o desenvolvendo de um raciocínio critico dos problemas que tanto degrada o planeta e contribui para melhoria do ambiente socioeconômico ( De Sousa; da Silveira, 2011). A comunicação do aluno surdos se dá por meio da linguagem dos sinais (LIBRAS). É por meio das libras, considerada a primeira língua do surdo, que o ensino deve ser repassado. Geralmente em uma sala de aula regular existe o interprete, profissional que auxilia o favorecimento da comunicação entre ouvintes e o surdo. No entanto, sabe-se que os conteúdos da disciplina de Química são, na sua grande maioria, abstratos, o que dificulta o entendimento apenas por meio de palavras, mesmo que estas palavras sejam em libras. Quando as aulas são práticas, em laboratório, onde a maioria dos rótulos e aviso de segurança são escritos em na língua oral, a aprendizagem do aluno surdo torna-se ainda mais distante de suas necessidades específicas para aprender. Todos esses aspectos impossibilitam que um educando com problema de surdez, participe efetivamente de aulas ministradas em um laboratório de Química. Ao lançar um olhar sobre o ensino de Química para alunos surdos, constata-se que nem todos os ambientes educativos favorecem a inclusão do aluno com deficiência auditiva, principalmente quando a aula prática requer do aluno a realização de experimentos, conhecimentos dos procedimentos de segurança laboratorial, manuseio das substancias químicas e o uso das vidraçaria de adequada. Isso ocorre devido a maioria das etiquetas, placas e os materiais didático estão escritos em língua oral para as pessoas ditas “normais. Pensando em contribuir para a inclusão educacional do aluno surdo nas aulas práticas de Química, o presente trabalho objetivou adaptar o espaço físico do laboratório de química para aulas práticas para pessoas com necessidades específicas de surdez.
Material e métodos
Segundo Trautmann (2008) a permanência do aluno no interior do laboratório é preciso conhecer e seguir algumas normas básicas de uso do laboratório de química, que ajuda a segurança no seu interior, tais como: o uso de boné e adornos; vestimentas que exponham partes dos pés ou pernas; evitar conversas paralelas e circulação entre as bancadas de forma desnecessária, a fim de diminuir os riscos de contaminação; proibição do uso de cosméticos, não utilização de lápis, canetas ou roer das unhas, não pipetar com a boca; não cheirar as substancias presentes no laboratório sem prévio conhecimento e etc. O processo de adaptação do laboratório de química para alunos com necessidades específicas de surdez foi realizado seguindo as seguintes etapas: 1) Reuniões com a intérprete de libras do campus para aprofundamento das estratégias a serem utilizadas na identificação das áreas de risco do laboratório. Nesta etapa, optou-se por figuras ou fotos que pudesse ser utilizada na elaboração dos cartazes de alerta aos alunos sobre os perigos existentes no ambiente laboratorial de química. Para a escolha dos cartazes, foi realizada uma busca na internet por meio do Google imagens durante o mês de dezembro de 2015. As imagens foram avaliadas e selecionadas pela interprete e o pesquisador. Todas as figuras utilizadas nesta pesquisa são de livre acesso, sendo que aquelas que possuíam as credenciais de seus criadores, foram creditadas. Os cartazes de identificação evidenciavam os riscos ou perigos inerentes às substâncias químicas. Os principais riscos elencados foram: risco de asfixia; explosão; comburência; inflamável; tóxicos; corrosão; irritação; danos ao meio ambiente e alergia. 2). Adaptação do laboratório de química. Esta etapa foi concretizada por meio das seguintes ações: a) Escolha dos pontos estratégicos para fixação dos cartazes laboratório; b) Identificação dos equipamentos do laboratório com etiquetas escritas em português e transcritas para LIBRAS, com tamanho das fontes 36; c) Elaboração de uma aula teste, composta por três experimentos de química para discentes surdos, realizada no mês de dezembro de 2015. A aula foi auxiliada pela interprete do IFMA Campus Caxias e objetivou fazer uma avaliação do processo de ensino-aprendizagem da disciplina de química no laboratório já adaptado. Para realização da aula teste foram convidados os alunos com deficiência auditiva das duas escolas públicas estaduais de ensino médio do município de Caxias que possuem alunos regularmente matriculados. Apenas um aluno compareceu a aula experimental. Na aula foi realizada a parte prática de experimentos envolvendo a destilação do vinho; indicador de ácido-base de fenolftaleína e o teste de chama; d) Aplicação de um questionário contendo 10 perguntas com relação a adaptação do laboratório de química do IFMA Campus Caxias e a compreensão da aula ministrada pelo pesquisador.
Resultado e discussão
Os laboratórios de Química são construídos para a realização das práticas
sobre os processos químicos ocorrido em uma solução. Habitualmente, estes
laboratórios não estão preparados para receberem alunos com deficiência
auditiva. O laboratório de Química do Instituto Federal do Maranhão IFMA
Campus Caxias não possui adaptação necessária para aulas práticas com alunos
especiais que pudesse facilitar o entendimento das regras de segurança,
espalhadas em diversos ambientes do espaço físico do laboratório. O modelo
do laboratório de química do campus segue a padronização da grande maioria
dos espaços físicos destinados a experimentos de química, pensados para
alunos ditos “normais”, o que termina dificultando a compreensão dos
procedimentos que norteiam os experimentos das soluções químicas, uma vez
que toda a identificação do espeço está escrita em português, ou seja,
propiciando o oralismo. As fotos abaixo mostram como era o laboratório de
química do IFMA campus Caxias antes da adaptação para alunos surdos.
Bonavigo; Dos Santos (2008 ) evidenciam que a inserção das pessoas com
necessidades especiais de surdez nas escolas de ensino regular, deve ser
norteada pela adequação da escola a estes alunos.
“ As leis que asseguram às pessoas com necessidades educacionais especiais
com os surdos o direito à educação no ensino regular e cabe à escola
adequar-se para atender as suas necessidades. Sendo que um dos principais
focos deve ser o respeito a identidade dos surdos, a sua cultura, sua forma
de ver o mundo e relacionar-se que é diferente dos ouvintes. ” (p.3).
A citação acima deixa evidente o quanto faz-se necessário acondicionar ao
meio educacional medidas adaptativas que ajudem o aluno com surdez a superar
sua limitação.
Como pode ser observado, os equipamentos e instrumentos do laboratório
tinham as etiquetas com identificação somente em português, contemplando
apenas os alunos ouvintes, sem nenhuma menção a alunos com necessidades
específicas.
A lei da educação especial menciona acerca da inclusão do indivíduo com
deficiência no contexto escolar. Todavia, é necessário que os professores
despertem para necessidade da criação de novas metodologias, ou adaptar as
práticas educativas já existentes, visando contemplar este público-alvo no
processo de ensino e aprendizagem, favorecendo, assim, a inclusão escolar. A
efetivação de uma nova prática educacional inclusiva, não será garantida
apenas por meio de leis, decretos ou portarias. É necessário que os
professores despertem para um novo olhar pedagógico que valorize as
diferenças e favoreça a diversidade e a heterogeneidade. Ao professor, cabe
a missão de contemplar em suas práticas educativas não apenas os alunos
ditos “normais”, mas também aquele que tem limitações advindas de
deficiências.
Adaptação do Laboratório com recursos visuais.
A adaptação do laboratório de química tenta trazer à baila que é possível
redirecionar o olhar para um mesmo lugar para incluir. Os alunos surdos não
podem ouvir, mas enxergam o que está ao seu redor. E foi explorando o
sentido da visão que foram utilizadas imagens, fotos e a transcrição para
LIBRAS como ferramentas promotoras da aprendizagem de conteúdos abstratos de
química. A ideia era encontrar imagens que melhor retratassem a informação a
ser repassada para o aluno surdo.
Inicialmente, as informações visuais versavam sobre as regras de segurança e
os riscos eminentes de um laboratório de química, provenientes da
manipulação dos produtos químicos. Posteriormente foi realizado o
reconhecimento dos equipamentos existentes no laboratório por meio de
etiquetas ilustrativas. A figura 3 mostra como ficou o laboratório após o
trabalho da adesivação com cartazes confeccionados com imagens e fotos e a
transcrição dos textos para língua de sinais.
Todos os cartazes foram afixados nas paredes do laboratório em lugares
estratégicos e favoráveis à visualização por parte dos alunos surdos para
servir de apoio, instruir e orientá-lo no interior do laboratório. É
importante ratificar que as novas metodologias e recursos de ensino devem
ser utilizados como meios para favorecer a produção e a utilização das
diferentes linguagens e dos conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo
em vista contribuir para uma construção da autonomia do aluno, do poder de
argumentação e do aprender permanente (Nery, 2004). É salutar que os
indivíduos que fazem parte do processo educativo busquem constantemente
inovar as metodologias para facilitar o ensino-aprendizagem. A proposta aqui
abordada parte das necessidades concretas evidenciadas no ensino de pessoas
com surdez, que muitas vezes não tem em sua escola adaptações direcionadas
para suas necessidades e ausência de professor que seja mediador de saber.
Todos os cartazes foram afixados nas paredes do laboratório em lugares
estratégicos e favoráveis à visualização por parte dos alunos surdos para
servir de apoio, instruir e orientá-lo no interior do laboratório. É
importante ratificar que as novas metodologias e recursos de ensino devem
ser utilizados como meios para favorecer a produção e a utilização das
diferentes linguagens e dos conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo
em vista contribuir para uma construção da autonomia do aluno, do poder de
argumentação e do aprender permanente (Nery, 2004). É salutar que os
indivíduos que fazem parte do processo educativo busquem constantemente
inovar as metodologias para facilitar o ensino-aprendizagem. A proposta aqui
abordada parte das necessidades concretas evidenciadas no ensino de pessoas
com surdez, que muitas vezes não tem em sua escola adaptações direcionadas
para suas necessidades e ausência de professor que seja mediador de saber.
.
Aula teste realizada no laboratório com aluno deficiente auditivo
Para realização da aula teste de química no laboratório foi elaborado um
roteiro com três experiências químicas simples, que pudessem ser descritas
pela observação dos discentes surdos. Foram elas: teste de chama; destilação
do vinho e indicador de ácido-base. A aula foi ministrada com o auxílio da
intérprete em LIBRAS do IFMA Campus Caxias. Abaixo as fotos das experiências
realizadas:
Para esta aula, foram convidados cinco alunos surdos do ensino médio das
escolas públicas do município de Caxias – MA. Porém, somente um dos alunos
compareceu no dia marcado para aula-teste no laboratório de química. Os
demais alunos justificaram a ausência em virtude das provas finais do ano
letivo.
As experiências demonstradas nas fotos acima foram escolhidas por serem de
fácil verificação do processo reacional das substâncias e pela observação
que é proporcionada pelo sentido da visão do indivíduo. Antes do início da
aula, a intérprete explanou em LIBRAS o objetivo da aula e apresentou o
laboratório de química para o estudante surdo, com tradução do que era
falado pelo pesquisador.
Na apresentação do ambiente já adaptado, o aluno pode fazer a leitura dos
cartazes e etiquetas transcritos para a língua de sinais. Em seguida, foram
iniciadas as experiências químicas, onde foi detalhado cada passo do que
iria acontecer durante os experimentos. A aula-teste durou cerca de sessenta
minutos.
Após a aula foi aplicado um questionário abordando os aspectos de adaptação
evidenciados pelo deficiente auditivo. As perguntas elaboradas tiveram como
finalidade avaliar o grau de aprendizagem do aluno surdo em um ambiente
laboratorial adaptado com recursos visuais utilizados como ferramentas
promotoras de aprendizagem de pessoas com limitações auditivas.
Os questionamentos versavam sobre o entendimento do aluno sobre a
disciplina de Química, conhecimento de outros laboratórios escolares
adaptados e a sua opinião sobre as adaptações realizadas no laboratório de
química como estratégia de aprendizagem. As respostas evidenciaram que as
imagens escolhidas para representatividade das substâncias, equipamentos e
segurança do espaço foram viáveis para o entendimento da aula.Quanto a
sugestões as adaptações pode ser melhoradas.
RISCO INERENTES AO LABORATORIO DE QUIMICA: ALERGIA E IRRITAÇAO
FIGURAS DE RISCOS INERENTE AO LABORATORIO JA USADA NA ADAPTAÇAO, TRANSCRITA PARA LIBRAS
RECURSO VISUAL TRANSCRITO PARA LIBRAS USADA NA ADAPTACAO DO LABORATORIO DE QUIMICA
RECURSO VISUAL TRANSCRITO PARA LIBRAS, USADA NA ADAPTAÇÃO DO LABORATÓRIO DE QUIMICA
EXPERIENCIA UTILIZADA EM UMA AULA TESTE COM ALUNO SURDO
EXPERIENCIA DA DESTILAÇAO DO VINHA UTILIZADA NA AULA TESTE COM O ALUNO SURDO NO LABORATORIO DE QUIMICA
Conclusões
O projeto de adaptação do laboratório de química do IFMA Campus Caxias para ensino de química a alunos com surdez proporcionou comprovou que é possível propiciar um ambiente escolar onde todos os indivíduos, independentemente de sua deficiência, tenham a oportunidade de construção do conhecimento. No entanto, apresenta limitações, que podem ser vencidas com futuras pesquisas, como a ampliação do número de alunos surdos participantes da aula-teste. Espera-se que esta pesquisa incentive outros trabalhos na área de ensino da química, visando sempre a melhoria do processo de ensino aprendizagem dessa disciplina no ensino médio, não só apenas para alunos com necessidades específicas, mas a todos os alunos inseridos no ensino regular. Deseja-se, ainda, que este trabalho possa servir de inspiração para professores de química, levando-os a refletir sobre a mediação da construção do conhecimento e a desconstrução de velhos paradigmas de exclusões.
Agradecimentos
Primeiramente aagradeço a Deus pela forca, perseverancia em segundo aos meus orientadores Profa Cecilia, Elias e Lucinete para dicas e orientaçao que foram crucial na
Referências
BONAVIGO, Angelita Kaminski; DOS SANTOS, Sandro Aparecido. O uso de Imagens como propostas para o ensino de ciências em classes inclusivas.
NERY, Clarisse Alabarce; BATISTA, Cecília Guarnieri. Imagens visuais como recursos pedagógicos na educação de uma adolescente surda: um estudo de caso. Paidéia, v. 14, n. 29, p. 287-99, 2004.
OLIVEIRA, Fátima Inês Wolf de. "A importância dos recursos didáticos adaptados no processo de inclusão de alunos com necessidades especiais.
"Disponível no site http://www. unesp. br/prograd/PDFNE2002/aimportanciados recdidaticos. pdf. Acesso em 21/12/ 2015.
DE SOUSA, S. F., & da Silveira, H. E. (2011). Terminologias químicas em Libras: a utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos.
TRAUTMANN, Ricardo. Manual de Segurança. 2008. Disponível em : < http://www2.unifesp.br/home_diadema/labgrad/pdfs/manual_seguranca.pdf>. Acesso em: 14/01/2016.