HISTÓRIA DOS MODELOS ATÔMICOS: UMA PROPOSTA DE AULA INTERDISCIPLINAR COM RECURSO AUDIOVISUAL

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Azevedo Neta, S.L. (IFRJ) ; Castro, D.L. (IFRJ)

Resumo

O objetivo deste trabalho foi criar uma aula de química, usando um vídeo, com elementos da física para enriquecer o conteúdo a ser ministrado: a história dos modelos atômicos. Na maioria das instituições o ensino é realizado de forma a-histórica, não evidenciando que a ciência está relacionada à sociedade, à política, à economia da época. Foi feita uma busca de vídeos, que contemplassem o conteúdo de forma interessante e que abordassem a história dos mesmos por meio de uma visão química e física. Aplicamos a proposta em uma escola da rede privada, no primeiro ano do ensino médio. Acreditamos que por meio desta proposta os alunos compreenderão os modelos atômicos de maneira interdisciplinar e perceberão a importância da abordagem da história da ciência para construção do conhecimento.

Palavras chaves

Modelos Atômicos; Interdisciplinaridade; História da Ciência

Introdução

O objetivo deste trabalho foi criar uma aula de química, usando um vídeo didático/educativo, com alguns elementos da física (aula interdisciplinar) para enriquecer o conteúdo, especificamente, a história dos modelos atômicos, pois hoje, o ensino é, usualmente, muito a-histórico, ou seja, são poucos os assuntos que são abordados com a história e filosofia da ciência, mostrando que a ciência está relacionada à sociedade, à política, à economia da época de certa teoria, além de existirem poucos discentes que estão preocupados em buscar um ensino mais histórico para fazer a difusão dos diferentes conhecimentos. Hoje, existe uma tendência global, de compreender cada vez mais a História da Ciência, mesmo de áreas não científicas (CHASSOT, 2001). Logo, torna-se importante que conhecimentos de História da Química, da Física e/ou Ciências façam parte das aulas, inserir a história da ciência é promover uma prática pedagógica importante, principalmente no ensino dessas disciplinas, pois, conforme Trindade (2010, p.115): A Química quando estudada através de sua história, mostra-se viva e permite que o jovem aprendiz se perceba não só como ator, mas como um possível autor desse conhecimento. A história das ciências, em especial da química e da física, mostra-se como um condutor relevante para o processo de ensino-aprendizagem, pois mostra feitos históricos que compuseram e estruturam alguns conceitos. A história da química constitui-se em um todo orgânico, vivo, um processo no qual estamos envolvidos, que nos modifica e que também podemos modificar. Conhecer o passado é uma das formas de escolher nosso futuro (TRINDADE, 2010, p. 37). Uma questão que é trabalhada na história dos modelos atômicos no ensino de química é a utilização de modelos. Tendo em vista Figueiredo e Silva (2007) um modelo é uma representação da natureza, por conseguinte uma explicação temporária, pois são superados por outros cuja capacidade explicativo-descritiva seja maior, monstrando a presença de diversos modelos como tentativa de compreensão da estrutura da matéria, evitando que um modelo seja visto como uma manifestação. A abordagem histórica é mister para mostrar que a ciência provém de uma construção temporal e é influenciada por sua época histórico-social, e não uma ciência neutra, canônica e de revelação. A história da ciência é uma “fonte contextualizadora e facilitadora do entendimento de modelos como construções históricas, fato que contribuiria para uma aprendizagem mais significativa” (FIGUEIREDO e SILVA, 2007, p.3). Desta forma, a utilização de analogias e modelos podem produzir bons resultados no ensino e na aprendizagem, pois os modelos, conforme os autores acima (2007, p.2) “são ferramentas essenciais na construção do conhecimento humano”, pois aproximam da realidade o mais próximo possível. E para tornar a realidade mais próxima dos alunos é mister que os educandos tenham uma formação mais global, que eles possam interpretar o mundo e para isso utilizamos a interdisciplinaridade, pois segundo Fazenda (1999), Picciguelli e Ribas (2007) a formação absoluta sucede quando os docentes estabelecem a conversa entre suas disciplinas, extinguindo as barreiras colocadas entre os conhecimentos produzidos, e favorecem a integração conhecimento/realidade concreta, as expressões da vida, que dizem respeito a todos os campos do conhecimento. Conforme Gattás e Furegato (2006) entende-se a interdisciplinaridade como alguma forma de arranjo entre duas ou mais matérias, com o objetivo de compreender um item a partir da confluência de visões distintas cujo propósito final é a elaboração de síntese relativa ao item comum, ou seja, no nosso caso é abordar os modelos atômicos através de uma reflexão histórica, física e química para se chegar a um consenso final sobre tais modelos. Em concordância Mendes, Lewgoy e Silveira (2008) dizem que interdisciplinaridade ocorre com a comunicação e ela gera uma integração mútua dos conceitos entre as disciplinas, abarcando um novo conhecimento, logo, aumentando a visão de mundo do discente e de sua realidade. Algumas ferramentas didático-pedagógicas buscam confluir o ensino de ciências e o cotidiano do aluno aumentando o engajamento no processo ensino-aprendizagem, um exemplo é o uso de vídeos didático-educativos. Segundo Soares (2010) o emprego de aparatos criativos para o ensino de ciências torna-se importante no sentido de alcançar uma metodologia eficaz em atrair o estudante, de sorte que o mesmo compreenda os distintos conhecimentos de forma lúdica. Em assentimento Luz e Oliveira (2008) afirmam que o uso de ferramentas didáticas contribui para impactar os discentes de que o conhecimento pode ser atingido a partir de distintas procedências, além de fomentar a curiosidade e o interesse dos educandos.

Material e métodos

A elaboração da proposta didática teve início com uma pesquisa midiática, a respeito de vídeos, que contemplassem o conteúdo modelos atômicos de forma criativa e interessante e que abordassem a história dos mesmos por meio de uma visão química e física (vídeo interdisciplinar). A pesquisa foi realizada na internet em sítios de buscas e no sítio www.youtube.com com as palavras chaves: modelos atômicos, história dos modelos atômicos. Analisamos cada vídeo de acordo com a sua idoneidade, conteúdo, apresentação audiovisual, apresentação de erros, entre outros. Escolhemos o vídeo, “Tudo se transforma, história da química, história dos modelos atômicos”, produzido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em parceria com o Ministério da Educação, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para integrar uma série de programas dedicados ao apoio do Ensino de Química no Ensino Médio. Ele tem duração de 13 minutos e 30 segundos. O vídeo aborda os principais modelos atômicos da química e suas peculiaridades desde os gregos até a química atual com um apanhado histórico-social da ciência, e os tópicos versados da física são gravitação, eletricidade e quântica, estando de acordo com Gattás e Furegato (2006), Mendes, Lewgoy e Silveira (2008) incorporando em um vídeo a interdisciplinaridade (química/física/história da ciência). Aplicamos a proposta em uma escola da rede privada de ensino no primeiro ano do ensino médio, pois fica localizada em Duque de Caxias, onde há uma heterogeneidade de alunos, uma vez que abarca várias classes sociais e localidades porque é um ponto comum de fácil acesso para várias regiões. Utilizamos duas aulas seguidas de 50 minutos cada, pois inicialmente explicamos que começaríamos uma nova matéria (modelos atômicos) e fizemos uma breve introdução do assunto, exibimos o vídeo sem interrupção para que os discentes pudessem contemplar o assunto abordado, vale ressaltar que esse foi o primeiro contato da turma com o conteúdo. Após, houve uma pequena explicação sobre o vídeo para sanar algumas dúvidas que foram geradas durante a exibição e retornamos a assisti-lo, de forma a pausá-lo para falarmos sobre os cientistas e seus métodos, neste momento iniciamos uma discussão e problematização sobre a importância da ciência, dos fatos históricos, da evolução da ciência no decorrer do tempo, como a política e o contexto histórico estão diretamente relacionados com o desenvolvimento de certas pesquisas, como ocorre a disseminação do conhecimento, como duas disciplinas (química e físicas) estão entrelaçadas entre si e que tópicos os alunos conseguiam identificar a qual das duas disciplinas pertenciam ou se em ambas, se existia mais alguma disciplina que eles conseguiam perceber no vídeo.

Resultado e discussão

Percebemos que a discussão foi bem dinâmica, calorosa, motivadora e importante para os educandos, pois a maioria participou (90%), demonstraram a sua opinião (75%) e estavam ávidos para participar, falar e comentar sobre os assuntos abordados no vídeo. Eles ficaram impressionados com o tempo que levam para se construir uma teoria, como a forma de construção se dá, como as pesquisas são influenciadas pelos acontecimentos políticos e como a física e a química podem se relacionar para se chegar a um propósito, que as vezes até não se consegue se dissociar uma da outra, como por exemplo a abordagem interdisciplinar utilizando o vídeo em que relacionou-se a química e a física quântica, o qual explica que o modelo atômico de Rutherford foi aperfeiçoado por Böhr que observou que os elétrons que estão mais próximos ao núcleo possuem menos energia do que os que estão mais longe do núcleo, uma vez que o núcleo atrai os elétrons que estão próximos mais fortemente, assim Böhr pôde concluir que existem níveis de energia, desta forma ele criou a base para a física quântica que foi sendo aperfeiçoada de acordo com o tempo. Estando de acordo com Gattás e Furegato (2006), Mendes, Lewgoy e Silveira (2008) incorporando em um vídeo a interdisciplinaridade (química/física/história da ciência). O professor como mediador foi de grande importância para que se mantivesse o curso do debate e não se perdesse a linha de raciocínio. Os alunos conseguiram perceber no vídeo algumas disciplinas como a química 90% dos educandos (os modelos atômicos em si), a física 70% dos educandos (eletricidade), a biologia 75% dos educandos (daltonismo), a história 70% dos educandos (os fatos históricos, como por exemplo, a guerra mundial) e a geografia 43% dos educandos (localidade dos lugares), podemos ver que eles observaram disciplinas e conteúdos que não foram previamente esperados. Vale resaltar que a pergunta era aberta, portanto diversos alunos colocaram mais de uma disciplina. Pedimos para que os alunos, ao final, fizessem um resumo ou um mapa conceitual sobre o que eles aprenderam sobre os modelos atômicos, por meio dessa coleta de dados observamos que os discentes compreenderam de forma divertida, criativa e interessante os modelos atômicos, uma vez que 85% dos discentes dissertaram as principais características de cada modelo atômico abordado no vídeo, 38% dos alunos fizeram analogias e/ou desenhos para exemplificar seus pensamentos, e principalmente 60% dos educandos abarcaram a história das ciências. Alguns alunos escreveram ou falaram que “podia haver mais aulas assim” (aluno 1), que eles aprenderam de forma mais “legal, dinâmica e divertida” (aluno 2) que não podiam acreditar que “demorava tanto pra fazer ciência” e que “necessitava de tantos cientistas para chegar a um modelo atômico atual” (aluno 3), alguns fizeram a relação com o presente “então é por isso que ainda não chegamos na cura da AIDS” (aluno 4) mostrando que conseguiram relacionar a questão política e econômica com a ciência. O vídeo é destinado ao Ensino Médio, mais especificamente ao primeiro ano, porque é quando os alunos têm o primeiro contato com a química e a física, podendo ser estendido ao fundamental II, caso este tenha ambas em sua matriz, podendo ser apresentado tanto em escolas da rede pública quanto em rede privada para facilitar o ensino-aprendizagem de forma interessante, divertida, prazerosa, dinâmica e criativa em concordância com Luz e Oliveira (2008) e Soares (2010). Recomenda-se exibir o vídeo, primeiramente, na íntegra aos discentes. Após, rever o vídeo de forma a pausá-lo em distintos momentos para comentá-lo, estimular o debate e ao questionamento com o uso de indagações e problemas, para assim fazer com que os estudantes reflitam sobre o conteúdo, solucionem os problemas expostos, cheguem as suas próprias conclusões, ampliando suas visões de mundo, tendo uma aprendizagem mais significativa e percebendo a importância da história e da sociedade para a evolução da ciência em assentimento com Gattás e Furegato (2006), Figueiredo e Silva (2007), Mendes, Lewgoy e Silveira (2008) e Trindade (2010).

Conclusões

Acreditamos que por meio desta proposta de aula os alunos compreenderam de forma criativa, divertida, dinâmica e interessante os modelos atômicos de maneira interdisciplinar e perceberam a importância da abordagem da história da ciência como construção do conhecimento no decorrer do tempo em uniformidade com Gattás e Furegato (2006), Figueiredo e Silva (2007), Mendes, Lewgoy e Silveira (2008) e Trindade (2010).Esta proposta pode ser aplicada a outras realidades para retificar ou ratificar o que foi aqui discutido e para trazer, também, um feedback para as pesquisas.Há a necessidade de haver mais trabalhos sobre este assunto para enriquecer ainda mais este tema, pois o estudo não foi esgotado e nem era essa a proposição.

Agradecimentos

Agradecemos ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências do IFRJ Campus Nilópolis.

Referências

CHASSOT, A. I. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. Ijuí. UNIJUÍ, 2001.
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
FIGUEIREDO, W. G.; SILVA, F. W. O. Limitações da analogia entre sistemas planetários e modelos atômicos. In: XVII Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2007, São Luis. XVII Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2007.
GATTÁS, M. L. B; FUREGATO, A. R. F. Interdisciplinaridade: uma contextualização. Acta paulista de enfermagem, v.3, n. 19, 2006.
LUZ, M; OLIVEIRA, M. de F. A. Identificando os nutrientes energéticos: uma abordagem baseada em ensino investigativo para alunos do Ensino Fundamental. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 8, n. 2, 2008.
MENDES, J. M. R; LEWGOY, A. M. B; SILVEIRA, E. C. Saúde e interdisciplinaridade: mundo vasto mundo. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 1, n. 1, jan./jun, 2008.
PICCIGUELLI, R. P; RIBAS, R. M. R. Educação física x ensino de matemática: um modelo interdisciplinar de aprendizagem. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, Uberlândia/MG, 2007.
SOARES, M. C. Uma proposta de trabalho interdisciplinar empregando os temas geradores alimentação e obesidade. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010. Disponível em: <http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3111> Acessado em: 01 maio 2015.
TRINDADE, L. S. P. A alquimia dos processos de ensino e de aprendizagem em química. São Paulo: Madras, 2010.

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