Webcam e projetor multimídia: recursos para visualização de experimentos em sala de aula

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Halfen, R.A.P. (UFRGS) ; Salgado, T.D.M. (UFRGS)

Resumo

Este trabalho apresenta um método para exibição, ao vivo, de experimentos de Química em sala de aula, utilizando-se uma câmara de vídeo acoplada a um projetor multimída. A proposta foi aplicada à disciplina de Química Geral e Orgânica de um Curso de Biologia Marinha, para a qual foi elaborado um conjunto de experimentos com caráter motivador e contextualizado e que pudessem ser adequadamente visualizados com o uso da webcam e do projetor. O recurso permite a participação dos alunos e o debate com o professor, à medida que os experimentos vão sendo realizados e projetados em tempo real. A proposta se mostrou adequada para situações em que não há laboratório de química em condições de ser utilizado ou os recursos financeiros são insuficientes para comprar reagentes e equipamentos.

Palavras chaves

câmera de vídeo; projetor multimídia; experimentos químicos

Introdução

Este trabalho discute as possibilidades didáticas do uso de recursos multimídia para a demonstração de experimentos para um grande número de estudantes, possibilitando que o professor discuta os experimentos com toda a turma, à medida em que vão sendo realizados. Em locais onde a infraestrutura é precária, não há laboratórios, ou há dificuldades para adquirir reagentes, o uso de recursos multimídia tem se tornado uma ferramenta de ensino importante em disciplinas da área de ciências (PORTER et al., 1993; JONES, 2013). A química tem forte apelo visual e sua compreensão pode ser muito melhorada com o uso de imagens apropriadas, as quais permitem observar as características macroscópicas dos fenômenos e transformações. As pesquisas no ensino de química mostram que a atividade de laboratório é fundamental para a aprendizagem química. Galiazzi et al. (2005) propõem a realização de atividades experimentais na perspectiva sociocultural, em que os experimentos são considerados ferramentas ou artefatos culturais para a apropriação do discurso químico pelos estudantes. A atividade proposta é desenvolvida usando-se alguns artefatos culturais a fim de problematizar os conhecimentos dos estudantes sobre o fenômeno químico. O objetivo deste trabalho foi viabilizar a realização de atividades experimentais na disciplina de Química Geral e Orgânica do curso de Ciências Biológicas com Ênfases em Biologia Marinha e Costeira e em Gestão Ambiental, Marinha e Costeira, oferecidos pela UFRGS, em parceria com a UERGS, no Ceclimar (Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos) em Imbé-RS. No local há apenas um laboratório, o qual não possui infraestrutura para experimentos químicos e não comporta um número superior a 10 alunos, mas as turmas são de 40 alunos, semestralmente.

Material e métodos

Foram realizados, em dois semestres letivos, experimentos demonstrativos, em sala de aula. Os alunos participavam ativamente, acompanhando e discutindo o que ia acontecendo, ao vivo, à medida que o experimento ia sendo realizado pelo professor. Esses experimentos eram realizados em uma mesa com boa iluminação, à frente de uma câmara filmadora acoplada, por meio de um cabo, a um projetor multimídia. Também se pode utilizar uma câmara de celular ou uma webcam, fazendo as conexões apropriadas. As imagens eram projetadas para uma tela, de modo que todos os alunos podiam visualizar claramente o experimento. Os experimentos foram realizados em sincronia com os conteúdos teóricos, buscando tornar mais dinâmica a disciplina teórico-prática: identificação de aldeídos e cetonas; oxidação de álcoois; reação ácido-base com ácido benzoico e anilina e determinação de pH; comparação de acidez de funções orgânicas; decomposição do bicarbonato de sódio em meio ácido; entre outros. Esse tipo de experimento, realizado em sala de aula, diferencia-se dos realizados em laboratório e por isso deve ter algumas características: não utilizar reagentes químicos que acarretem riscos de queimadura, explosão, chama, fumaça ou odor desagradável; escolher experimentos relacionados com o cotidiano, de curta duração, que envolvam reações químicas coloridas e de fácil visualização; utilizar pequenas quantidades de reagentes, de baixo custo e fácil descarte; que os experimentos sejam didaticamente significativos, despertem o interesse e possam ser realizados em recipientes simples (copo de Béquer, vidro de relógio). Após a aplicação da proposta didática, procurou-se verificar qualitativamente, por meio de duas perguntas respondidas por escrito, como os alunos a receberam e se os objetivos foram atingidos.

Resultado e discussão

A Figura 1 mostra a câmera fixada num suporte acima do experimento realizado. O professor realizava a reação e a imagem era projetada para uma tela pelo projetor multimídia. O uso do zoom permite detalhar o que se quer chamar a atenção. Se o professor apenas fizesse a demonstração em frente aos alunos, os que estivessem ao fundo da sala não conseguiriam visualizá-lo. À medida que o experimento ocorria, surgiam indagações dos alunos e o professor incentivava os alunos a formularem proposições, partindo dessas respostas para chegar à explicação do fenômeno. Concordamos com Schwahn e Oaigen (2009): uma aula experimental, seja com manipulação do material pelo aluno ou demonstrativa, além de aparato experimental requer discussão, análise, interpretação dos fenômenos químicos e troca de informações entre os participantes. A metodologia foi testada com 2 turmas de 40 alunos e para avaliar sua percepção foram feitas 2 perguntas: 1) Assinale a resposta mais adequada em relação à sua percepção sobre realização de demonstrações químicas em sala de aula: a) As aulas se tornam mais interessantes e mais motivadoras; b) A aula fica mais divertida, mas não contribui de maneira significativa com o ensino; c) Não acrescenta informações mais relevantes do que aquelas que se tem lendo os livros; d) Considero uma perda de tempo. 100 % dos estudantes marcaram a alternativa a). 2) Qual foi a sua percepção do uso de experimentos com uso de uma filmadora e um projetor multimídia? Algumas respostas a essa pergunta aberta: “As aulas com uso da câmera e data show fazem com que tenhamos maior contato com as experiências químicas”; “Boa visibilidade das reações químicas propostas”; “Aula com experimentação é muito boa, pois conseguimos ver na prática o que realmente ocorre durante as reações".

Arranjo utilizado para a realização dos experimentos, em sala de aula, com a câmera fixada a um suporte e conectada a um projetor multimídia.

Conclusões

Realizar experimentos em sala de aula com uso de câmara de vídeo acoplada a projetor multimídia oportuniza a dinamização das aulas, estimula a interatividade e possibilita realizar, com boa visualização, diferentes experimentos, mesmo na ausência de laboratório, para um grande número de alunos. Há sensível redução de custo de material. As experiências podem acompanhar os conteúdos teóricos, permitindo entender melhor os temas abordados. A estratégia tornou significativos conteúdos que, de outra forma, seriam vistos apenas na teoria e demandariam maior grau de abstração para sua compreensão.

Agradecimentos

Aos estudantes de Ciências Biológicas com Ênfases em Biologia Marinha e Costeira e em Gestão Ambiental, Marinha e Costeira.

Referências

PORTER, C. W.; STRASSBURG, R. W.; BOWER, K.; BOWER, C.; FERRANTE, R.; FRATE, D. Advanced technology: Multimedia in a large class. Journal of Chemical Information and Computer Sciences, v.33, p. 300-302,1993.
JONES, L. L. How multimedia-based learning and molecular visualization change the landscape of chemical education research. Journal of Chemical Education, v. 90, n. 12, p. 1571-1576, 2013.
GALIAZZI, M. C.; GONÇALVES, F. P.; SEYFFERT, B. H.; HENNIG, E. L.; CARRICONDE, J. Uma sugestão de atividade experimental: A velha vela em questão. Química Nova na Escola, v.21, n. 5, p. 25-28, 2005.
SCHWAHN, M. C. A.; OAIGEN, E. R. Experimentação na formação inicial de professores: construção de um caderno de experimentos no PIBID/Química da UFRB. In: Encontro Nacional em Pesquisa em Educação em Ciências, 7., 2009, Florianópolis-SC. Anais... Florianópolis: UFSC, 2009.