ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Ensino de Química
Autores
Ribeiro, M.E.M. (PUCRS) ; Specht, C.C. (PUCRS) ; Ramos, M.G. (PUCRS)
Resumo
Este artigo compreende a importância da participação Pibid na decisão dos licenciandos pela profissão de professor. Pesquisou-se: Como a participação no Pibid impacta da decisão em ser professor de Química? A investigação analisou entrevistas de participantes de subprojetos de Química do Pibid em quatro regiões do Rio Grande do Sul. Os achados foram tratados por meio da Análise Textual Discursiva. Os resultados das análises revelam que o Pibid tem função fundamental na escolha dos bolsistas pela docência. Além de oportunizar desenvolvimento de atividades nas escolas que contribuem para o interesse pela carreira docente, conduz os bolsistas para o aperfeiçoamento das práticas docentes em detrimento dos graduandos que não participam do programa.
Palavras chaves
Pibid; formação de professores; ensino de química
Introdução
O Brasil enfrenta uma séria deficiência na quantidade de professores de Química. Nos primeiros anos do século XXI essa defasagem alcançava número superior a 10.000 professores além do número de licenciandos em Química (RUIZ; RAMOS; HINGEL, 2007). O Governo do Brasil, por meio do Ministério da Educação, vem desenvolvendo nesse tempo alguns movimentos no sentido de promover a atração dos estudantes para os cursos de Licenciatura, em especial as das disciplinas de Biologia, Física, Matemática e Química. Um desses movimentos é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid. Esse programa distribui bolsas de iniciação à docência para licenciandos ligados aos subprojetos participantes. O Pibid foi lançado em 2007, inicialmente para estudantes de instituições de ensino superior (IES) públicas, alcançando a partir de 2009 também as instituições privadas. No ano de 2015 o Brasil dispunha de 224 cursos de Licenciatura em Química participantes do Pibid, resultando em um total de 5261 bolsistas de iniciação à docência. No Estado do Rio Grande do Sul havia 17 subprojetos de Química, envolvendo 320 bolsistas de iniciação à docência (BRASIL, 2014). Esse artigo, que é parte da pesquisa de doutorado de um dos autores, tem por objetivo responder à seguinte questão: “Como a participação no Pibid impacta da decisão em ser professor de Química?”. Para a construção de resposta à questão foram feitas entrevistas com quatro grupos de bolsistas de iniciação à docência vinculados a quatro IES do interior do estado do Rio Grande do Sul.
Material e métodos
A pesquisa aconteceu durante o segundo semestre do ano de 2014. Investigaram-se os subprojetos de Química do Pibid de quatro regiões do estado do Rio Grande do Sul, a saber: região sudeste, região sudoeste, região nordeste e região noroeste. Em cada região escolheu-se uma IES que apresentasse o subprojeto de Química do vinculado ao curso de Licenciatura em Química. Foram realizadas entrevistas com um grupo de bolsistas de iniciação à docência de cada IES. A quantidade de participantes e a duração de cada entrevista encontram-se no quadro 1. Quadro 1. Descrição das entrevistas realizadas INSTITUIÇÃO Nº PARTICIPANTES TEMPO DE DURAÇÃO DA ENTREVISTA U1 2 50 minutos U2 6 66 minutos U3 10 68 minutos U4 6 53 minutos As respostas às entrevistas foram tratadas por meio da Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2011), com o objetivo de construir resposta à questão de pesquisa. Na Análise Textual Discursiva, faz-se a seleção de textos para a constituição do corpus de análise. Após, codificam- se e fragmentam-se os textos em unidades de significado (unitarização), para, em seguida, identificar o sentido para cada unidade, escrevendo-se, então, um título, interpretando assim a unidade; após, reúnem as unidades com significados semelhantes em categorias em um processo de emergência (categorias emergentes); por fim, com base no conteúdo de cada categoria, redigem-se textos descritivo-interpretativos (metatextos).
Resultado e discussão
As concepções dos bolsistas de iniciação à docência sobre a profissão de
professor
O Pibid é decisivo na opção dos bolsistas em realmente tornarem-se
professores. Mesmo que os bolsistas de iniciação à docência identifiquem
dificuldades na profissão de professor, a participação no Pibid, por meio
das relações que acontecem com os estudantes, é definidor por essa
profissão.
Os bolsistas reconhecem dificuldades na profissão de professor.
Relatos comuns aos licenciandos, ao afirmarem que há muitas dificuldades nas
relações entre os professores e os estudantes na escola básica.
Entretanto, o desejo de ser professor de Química surge apenas ao longo do
trabalho no Pibid, não é inato aos bolsistas. Com algumas exceções, a maior
parte dos bolsistas constrói o desejo por essa profissão durante as
atividades no programa. Há, inclusive, a ideia de que a profissão de
professor é uma alternativa para quem não tem outras opções profissionais.
É comum entre os bolsistas a manifestação de que a profissão docente
não era sua intenção inicial. Alguns bolsistas tinham, inicialmente, o
desejo de trabalhar na indústria Química. Os relatos surgidos mostram que o
Pibid fez com que essa concepção fosse modificada e que, agora, a
licenciatura em Química seja a prioridade desses sujeitos.
Os bolsistas de todas as IES investigadas apresentam uma condição em
comum. Todos realizaram seus estudos no Ensino Médio em escolas públicas
estaduais no estado do Rio Grande do Sul. Essa condição faz com que todos os
bolsistas expressem sua intenção de, após concluírem a licenciatura em
Química, ingressarem como professores na rede pública estadual. A facilidade
de obter contrato provisório de professor nas escolas estaduais aumenta o
interesse dos bolsistas por esse sistema de ensino.
Em depoimentos, é possível notar que a docência é apenas um desejo
de ocupação por parte do bolsista. Não é seu principal objetivo
profissional. Por outro lado, também é possível encontrar relatos de
bolsistas que se definiram pela docência, mesmo ainda tendo outros
interesses.
O Pibid consegue atingir a alguns de seus participantes, provocando
neles o real interesse pela docência. Isso acontece quando a participação no
projeto permite que o licenciando vivencie verdadeiramente as relações
internas em uma escola. Assim, o bolsista pode decidir-se pela docência ou
afastar-se dela. De qualquer forma, o Pibid terá alcançado seu resultado,
que é o de promover a docência para aqueles licenciandos que realmente
querem ser professores.
Os bolsistas de iniciação à docência e a escolha pela profissão docente
A participação no Pibid faz com que os bolsistas de iniciação à
docência modifiquem algumas de suas opções profissionais iniciais e decidam
por serem professores, o que justifica a existência desse programa. Esse
fato se deve aos primeiros movimentos de docência que ocorrem exatamente
durante a participação no Pibid. Dessa forma, os bolsistas de iniciação à
docência consideram o Pibid um evento à parte da Licenciatura em Química. De
fato, bolsistas consideram o Pibid mais importante do que as disciplinas
pedagógicas do curso de Licenciatura em Química.
Percebem-se relações entre o Pibid e as disciplinas pedagógicas que
compõem seu currículo escolar, incluindo as disciplinas de estágio
obrigatório. Há uma maior importância dada ao Pibid, quando o comparado às
disciplinas teóricas. O fato de o Pibid permitir o contato inicial dos
bolsistas com os estudantes na escola torna as tarefas obrigatórias mais
fáceis de serem realizadas.
Podem ser estabelecidas diferenças entre as práticas iniciais de
docência dos bolsistas participantes do Pibid com outros licenciandos que
participaram das disciplinas de estágio antes da criação do Pibid. Antes da
implantação dos subprojetos de Química do Pibid, os licenciandos eram
levados até a escola e assumiam turmas sem que tivessem preparação
específica para isso. A diferença na desenvoltura na escola se faz notar
durante as aulas apresentadas por esses dois grupos de licenciandos. Já em
relação às disciplinas pedagógicas, os bolsistas de iniciação à docência
complementam as disciplinas do núcleo técnico da Química. Entretanto, essa
combinação de disciplinas é usada para preparar estratégias de transmissão
dos conteúdos estudados. É a participação no Pibid que estabelece diferença
entre essas práticas tradicionais e as práticas que permitem protagonismo
dos estudantes. Assim, pensa-se que a participação no Pibid possa fazer a
ponte entre as disciplinas do núcleo técnico e as disciplinas do núcleo
pedagógico da Licenciatura em Química.
As concepções dos bolsistas de iniciação à docência sobre a escolha do
curso superior
A análise das manifestações dos licenciandos revela uma certeza:
poucos estudantes ingressam na licenciatura em Química por terem o real
interesse em serem professores de Química.
O gosto pela Química inicia nos primeiros contatos do estudante com
os conceitos dessa ciência, na escola básica. Esse interesse inicial é,
entretanto, pela imagem que a Química entrega aos estudantes, quando seu
professor demonstra reações químicas interessantes e atrativas durante as
aulas.
Esse gosto pela Química, entretanto, não alcança também o interesse
por ensinar Química. O número de ingressantes nos cursos de licenciatura tem
diminuído nos últimos anos, o que causa uma defasagem na quantidade de
professores no Brasil. Essa realidade também alcança a oferta de novos
professores de Química. Saliento que o interesse em ser professor e, mesmo,
a formação do perfil de um futuro professor, acontecem enquanto o estudante
assiste às aulas na escola. Logo, a prática desenvolvida em sala de aula
pelos professores que já estão na profissão é definidora tanto da vontade de
ser professor quanto do gosto pela Química. Percebe-se que o gosto pela
Química é definidor do interesse em estudar Química, em um primeiro momento,
e, até, da definição pela docência. A observação do semestre em que está o
licenciando é relevante, pois há duas situações que definem as questões
referentes o curso de licenciatura em Química: a opção pelo curso e a
continuidade dos estudos até sua conclusão.
Um fator que contribui para o ingresso de estudantes na licenciatura
é a facilidade de aprovação nos processos de seleção para a universidade,
seja por vestibular ou por meio do Enem. Mesmo que a intenção inicial fosse
frequentar outro curso superior, esse fator faz com que alguns estudantes
optem pela licenciatura em Química. Nas IES privadas, a distribuição de
bolsas de estudo a partir de programas governamentais ou a partir de
decisões da própria instituição também são motivos da opção pela
licenciatura em Química. Porém, percebe-se que a dúvida em fazer a
licenciatura em Química continua mesmo após o início do curso. A preocupação
com a profissão a constituir e com as possibilidades de trabalho também
aparecem nos relatos dos bolsistas, de forma, inclusive, a gerar dúvida
sobre o curso que vai ser escolhido pelo estudante.
A bolsa de estudos parece ter participação decisiva na opção dos
estudantes, mesmo quando a escolha pela Química já está manifestada.
Diferentemente da dúvida que os estudantes têm ao ingressarem no curso
superior e fazerem a opção pela licenciatura em Química, o Pibid tem
determinado certezas desses estudantes pela permanência na licenciatura. As
atividades desenvolvidas na escola e os encontros dos grupos de bolsistas
têm se apresentado como motivações para a continuação do estudante na
licenciatura.
O Pibid, portanto, se constitui em fator de estímulo à permanência
do estudante na licenciatura, ao contrário de licenciandos que não
participam do Pibid e que, em grande parte, desistem da licenciatura.
Conclusões
A participação no Pibid oferece a oportunidade para bolsistas desenvolverem ativamente as atividades docentes nas escolas, o que contribui para a tomada de decisões pelos bolsistas em seguir a profissão de professor. Assim, o Pibid é determinante para a escolha profissional pelos participantes do programa. O convívio dos bolsistas no ambiente escolar desenvolvendo atividades favorece a inclinação para a escolha de ser professor como parâmetro fundamental para a permanência na licenciatura. Mesmo ingressantes nos cursos de licenciatura por conveniência mostram interesse pela profissão docente quando começam a desenvolver trabalhos nas escolas por meio de atividades do Pibid. Pois, o programa diferentemente da teoria pedagógica ministradas nos cursos de licenciatura ocorre como um evento aparte, revelando a real dimensão do exercício da docência. Desta forma promove, para os bolsistas, habilidades diferenciadas na atuação como professor em detrimento dos graduandos que não participam do programa.
Agradecimentos
Referências
BRASIL. Relatório de gestão 2009 – 2013. Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica – DEB. Brasília: MEC, 2013.
BRASIL. Relatório Projeto Pibid 2013. Disponível em http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capesPibid. 2014. Acesso em: 09 jul. 2015.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do C. Análise textual discursiva. Ijuí: Editora Unijuí, 2011.
RUIZ, Antonio I.; RAMOS, Mozart N.; HINGEL, Murílio. Escassez de professores no Ensino Médio: propostas estruturais e emergenciais. Relatório da comissão especial. Ministério da Educação. Brasília: MEC, 2007.