ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Ensino de Química
Autores
Ferreira, J.E.V. (IFPA) ; Padilha, M.V.S. (IFPA) ; Oliveira, A.S. (IFPA) ; Ribeiro, P.E.S. (UFPA)
Resumo
Uma aula de Química para alunos deficientes visuais (DVs) é desafiador para qualquer educador, pois muito do que envolve Química é baseado em percepções visuais. Infelizmente, a grande maioria das nossas escolas não oferece um ensino de qualidade aquelas pessoas ausente de sensação visual. Além disso, a literatura carece de propostas voltadas para o ensino de Química a esse público. Este trabalho traz uma Tabela Periódica dos elementos químicos escrita em Braille, o código de leitura em relevo usado pelos DVs. Esse instrumento de ensino foi criado no Instituto Federal do Pará, Campus Tucuruí, e utilizado com seus alunos DVs. Dessa forma, foi possível transformar percepções visuais da Tabela Periódica em percepções táteis.
Palavras chaves
Tabela Periódica; Deficiência visual; Ensino
Introdução
O ensino de Química exige bastante de nossa percepção visual, pois a Química possui uma linguagem própria para representação dos fenômenos da natureza, que abrangem fórmulas, símbolos, gráficos, diagramas, tabelas, modelos, convenções e códigos. Além do mais, a própria prática dessa ciência também requer lançar olhares sobre a mudança de cor de uma solução, o aparecimento de cristais, o desprendimento de um gás, a formação de uma nova fase entre outras situações diversas. Dessa maneira, o sentido da visão parece ser pré- requisito para qualquer atividade que se realize em sala de aula de química (BENITE et al, 2014). Mas como ensinar Química a uma pessoa que não enxerga?! A transmissão de saberes químicos aos deficientes visuais (DVs) se faz por meio de estratégias de ensino adequadas para esse público. Os DVs precisam desses materiais adaptados, pois eles utilizam um tipo particular de leitura, que é a leitura tátil (com os dedos). “O senso tátil pode desempenhar um importante papel na apresentação de informações as pessoas com deficiência visual” (POWER; JÜRGENSEN, 2010, p. 99). Entretanto, infelizmente, apesar dos avanços conquistados nas políticas educacionais voltadas para a inclusão educacional, o ambiente escolar no Brasil ainda hoje não está verdadeiramente preparado para oferecer a plena inserção dos alunos DVs. Considerando essa realidade, este artigo tem como objetivo apresentar uma Tabela Periódica escrita em Braille para ser usada com alunos DVs. Aqui são descritas e discutidas as ações realizadas na criação desse importante recurso de representação em Química, assim como o seu uso com alunos sem percepção visual ou baixa visão do Instituto Federal do Pará, campus Tucuruí.
Material e métodos
Inicialmente foi feito um desenho de uma Tabela Periódica baseada em desenhos similares presentes em livros de ensino de Química. Para a realização dos desenhos foi utilizado o programa Corel Draw, versão X5 (CORELDRAW, 2014). Posteriormente, fez-se a impressão do desenho sobre o papel microcapsulado em uma impressora a laser. Nessa fase, ainda não acontece a produção do relevo no papel. Em seguida, o papel passa pela fusora térmica marca Teca Fuser, onde, por meio do aquecimento, as linhas e os pontos (dots) pretos do desenho ficam em relevo. Recomenda-se imprimir a Tabela periódica em Braille sobre uma folha de papel microcapsulado de tamanho A3. Pode-se usar papel A4 dividindo o desenho da Tabela Periódica em três partes e depois colando-as uma do lado da outra. Cryer, Jones e Gunn (2011, p. 3) explicam que o papel microcapsulado tem em sua composição de microcápsulas sensíveis ao calor, de modo que, quando a tinta preta contendo suficiente carbono sobre o papel passa pela fusora térmica, onde o calor causa a elevação das partes impressas em preto. Detalhes sobre o papel microcapsulado e seu uso na produção de relevo tátil podem ser encontrados nos trabalhos de McCallum e Ungar (2003), Rowell e Ungar (2003), Thompson e Chronicle (2006), Aldrich e Sheppard (2001) e Power e Jürgensen (2010). Diversos aspectos foram levados em conta para avaliar o uso da Tabela Periódica tátil com os nossos alunos DVs: conforto quando se emprega a leitura usando os dedos, facilidade de ser manipulada e capacidade de ser instrumento de auxílio na aprendizagem referente à classificação dos elementos químicos.
Resultado e discussão
A Tabela Periódica desenvolvida neste trabalho (Figuras 1 e 2) apresentou
uma boa qualidade para ser utilizada na leitura tátil por alunos DVs. Pode-
se perceber nas figuras uma grande semelhança entre esse material criado com
legendas em Braille e as Tabelas Periódicas normalmente acessíveis aos
videntes. Esse é um ponto fundamental, porque tal semelhança permite que
ambos os públicos (videntes e não-videntes) obtenham as mesmas informações
utilizando tabelas com o mesmo formato, diferentes apenas na linguagem
apresentada por elas.
Um de nossos alunos Dvs, após analisar a Tabela Periódica em Braille,
comentou sobre a relevância desse material adaptado para o entendimento do
assunto que estava estudando na escola:
“Agora sim posso consultar a tabela periódica para realizar minhas
atividades e avaliações na sala de aula, tinha muita dificuldade de
compreender antes de usar esta tabela, as coisas ficaram mais fáceis agora,
química não é tão difícil assim...”
Outro estudante, com baixa visão, também acrescentou:
“O professor sempre se dedicou a me ensinar em contra-turno os conceitos da
química por causa da minha deficiência, e esses momentos foram muito
importantes para eu aprender, mas nem sempre conseguia entender. Esta tabela
foi muito boa para o meu entendimento em muitas atividades.”
Figura 1. Desenho da Tabela Periódica em Braille criado no computador
contendo os símbolos dos elementos químicos e os respectivos números
atômicos. Em cima de cada coluna aparecem as respectivas numerações de cada
grupo.
Figura 2. Tabela Periódica em Braille após passar pela impressora a laser e
pela fusora térmica.
Tabela Periódica em Braille, desenhada no computador contendo os símbolos dos elementos químicos e os respectivos números atômicos.
Tabela Periódica em Braille após passar pela impressora a laser e posteriormente pela fusora térmica.
Conclusões
O uso da computação para o desenho da Tabela Periódica permitiu, entre outras vantagens, criar uma representação desse instrumento de consulta com ótima qualidade e que pode ser armazenado no próprio computador. Desse modo, pode-se afirmar que a criação de representações de interesse químico pela estratégia descrita neste trabalho pode ser mais uma ferramenta de auxílio na elaboração de materiais pedagógicos para o ensino de Química destinado a pessoas impossibilitadas de ler por meio da visão, mas que podem utilizar a leitura tátil.
Agradecimentos
Agradecemos o apoio financeiro disponibilizado pelo IFPA para o desenvolvimento do trabalho.
Referências
ALDRICH, F. K.; SHEPPARD, L. Tactile graphics in school education: perspectives from pupils. The Brithish Journal of Visual Impairement, [S.l.], v. 19, nº. 2, p. 69-73, 2001.
BENITE, Ana Canavarro et al. O diário virtual coletivo: um recurso para investigações dos saberes docentes mobilizados na formação de professores de Química de deficientes visuais. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 36, n. 1, p. 61-70, fev. 2014.
CORELDRAW Graphics suite software. Version: X5. [S.l.]: Corel Corporation, 2014. Programa. 1 CD-ROM.
CRYER, H.; JONES, C.; GUNN, D. Producing Braille on swell paper: a study of Braille legibility. Birmingham, United Kindgon: RNIB Centre for Accessible Information, 2011.
McCALLUM, D.; UNGAR, S. An introduction to the use of inkjet for tactile diagram production. The British Journal of Visual Impairement, v. 21, nº. 2, p. 73-77, 2003.
POWER, C.; JÜRGENSEN, H. Accessible presentation of information for people with visual disabilities. Universal Access in Information Society, [S.l.], v. 9, n°2, p. 97–119, 2010.
ROWELL, J.; UNGAR, S. The world of touch: an international survey of tactile maps. Part 1: production. The British Journal of Visual Impairment, [S.l.], v. 21, nº. 3, p. 98-104, 2003.
THOMPSON, L. J.; CHRONICLE, E. P. Beyond visual conventions: rethinking the design of tactile diagrams. The British Journal of Visual Impairment, [S.l.], v. 24, n°. 2, p. 76-82, 2006.