Ressignificação de atividades práticas no ensino de química pelos saberes da EJA

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Nazaré, A.S. (UFPA) ; Cabral, M.C.R. (UFPA)

Resumo

Intervenção realizada em uma turma de Educação de Jovens e Adultos na área das ciências da natureza com competências em química,com objetivo de propor a ressignificação de atividades práticas que geralmente são usadas apenas como recurso de confirmação de teorias apresentadas em sala de aula, de caráter puramente esquemático, reprodutivo e observacional, despontando dessa forma com pouco significado para os estudantes. Assim,por meio da diagnose da turma constatou-se seus anseios em relação à disciplina, e de posse dos saberes cotidianos dos educandos é que se propôs uma atividade prática que possibilitasse a problematização do conteúdo teórico a partir dos saberes dos educandos da EJA, resultando na relevância dessa ressignificação para a aprendizagem significativa dos educandos.

Palavras chaves

Ensino de química; EJA; Ressignificação.

Introdução

O estudo das ciências da natureza compõe o currículo nacional do ensino médio como uma de suas áreas de conhecimento, e tem como foco, segundo Carneiro (2015), a apropriação das concepções científicas referentes ao mundo físico, relacionando-as com a conservação do espaço terrestre. Essa apropriação, entre outras tantas coisas, poderá possibilitar a resolução de problemas concretos que permeiam o cotidiano dos alunos. Para isso, o ensino das ciências na educação básica necessita de um diálogo com o cotidiano dos educandos. A prática onde se pressupõe ocorrer apenas uma transferência ou um “depósito” de informações por parte do professor, como se os alunos representassem uma conta corrente ou um “recipiente”, Freire (1987), chama de educação bancária. Desta forma, a presente ação pedagógica busca romper com essas práticas cunhadas na concepção bancária de educação. Para tal, propõe-se a ressignificação de tais atividades, buscando considerar cada vez mais os educandos como “corpos conscientes”,como influenciadores e produtores de conhecimento científico, intencionados à problematização de suas relações com o mundo através do conhecimento construído por meio da prática. Segundo Delizoicov e Angotti(2002), atividades práticas feitas somente para “provar” aos alunos leis e teorias são pobres para formação e apreensão do conhecimento. Mais válido um trabalho experimental que dê margem à discussão e interpretação de resultados obtidos, sejam eles quais forem. Assim, justifica-se este trabalho, de forma que o mesmo venha mostrar a importância da ressignificação das atividades práticas, a fim de que tais sejam pensadas e desenvolvidas de forma a contribuir efetivamente na construção do conhecimento das ciências, aqui em especifico à Química, na Educação de Jovens e Adultos.

Material e métodos

Através do diálogo com os 12 educandos integrantes de uma turma de EJA da Escola Estadual Augusto Meira, foi realizado uma diagnose com objetivo de conhecer o cenário no qual os mesmos estavam inseridos, o contexto socioeconômico e seus anseios em relação a escola e à disciplina de química. Juntamente com monitores do Programa PIBID, foi proposto a elaboração de uma oficina de produção de pomada com óleos de Andiroba e Copaíba, que foram elementos identificados como sendo de conhecimento de toda turma, possibilitando a contextualização de conteúdos de química orgânica, soluções, e noções de estequiometria. A oficina ocorreu em 3 etapas, tendo como primeira etapa a realização de uma aula expositiva-participativa com objetivo de promover o diálogo entre os sujeitos envolvidos, partindo do tema gerador “a utilização do óleo de Andiroba e Copaíba”. A segunda etapa da oficina foi a produção da pomada. Os alunos divididos em grupos foram levados ao laboratório de ciências da escola, onde de posse das suas anotações executaram a prática, iniciando com a pesagem da gordura vegetal e medição do volume de óleo, 100g e 50mL respectivamente, que foram levados à banho maria para a obtenção de uma mistura homogênea, que foi posta para esfriar, já em temperatura ambiente esta solução foi levada a banho frio e agitada suavemente até obter-se uma consistência firme, em seguida reservada em potes que pudessem ser levados pelos alunos. A terceira e última etapa, ocorrida em sala de aula após a execução da prática, foi um momento no qual os alunos expuseram suas observações, e questionamentos em relação à atividade executada. A partir dessas falas, foi possível dialogar com os alunos fazendo com que os mesmos pudessem ver a relação existente entre os conceitos químicos e suas observações.

Resultado e discussão

Considerando a importância das falas, “Já usei Copaíba pra secar as espinhas do meu rosto”; “Já tomei Andiroba quanto tive problema de prisão de ventre”; “Minha vó sempre usava Andiroba em mim quando eu me batia, e passava na minha garganta quando eu estava gripado”; “Nem sabia que tinha química nessas coisas”; expressas na 1ª etapa, e observações como; “Agora vi o que é uma mistura heterogênea e homogênea, que tanto o professor explicava”; “Achei interessante ter que esquentar a gordura para poder misturar o óleo nela, e depois que esfriava virava a pomada”; “Se a gente colocar muito óleo não vira pomada”, expressas na 2ª etapa, iniciou-se o diálogo-3ª etapa, possibilitando mostrar que o estudo das funções orgânicas, componentes químicos dos óleos,e os tipos de misturas, que à priori não se relacionavam a nenhum componente da realidade dos alunos, agora tornavam-se significativos. Bem como, as característica medicinais dos óleos, tornaram-se reflexos do conhecimento popular no uso dos mesmos por parte dos alunos. Com todos esses elementos, assuntos como; sustentabilidade na Amazônia, valorização do trabalho dos povos das ilhas, comércio de ervas no Ver-o-Peso, valorização dos conhecimentos populares medicinais, o envolvimento e a importância dos conteúdos de química na confirmação dos saberes populares, foram problematizados através da fala do professor em concordância às falas supracitadas dos alunos. Assim, confirmou-se a hipótese positivamente, é possível afirmar que a ressignificação das práticas pelos saberes da EJA são de suma importância no processo de ensino-aprendizagem em química. Todos esses elementos, que surgiram em meio ao diálogo, resultaram na construção de um mapa temático representativo à fala dos sujeitos da EJA participantes da atividade; figura 1.

MAPA TEMÁTICO

Mapa temático dos conhecimentos envolvidos na abordagem do conteúdo discutido pelos sujeitos da EJA.

Conclusões

Ao conhecer a turma, suas experiências de vida, a realidade de cada um, e considerando todos os aspectos que ao decorrer da pesquisa já foram apresentados, tornou-se claro os anseios em relação a significação do conhecimento científico relacionados as situações do cotidiano que permeavam os sujeitos que compunham aquele cenário. E que a relação entre educador- educando é construída pelo diálogo significativo, pelo respeito aos conhecimentos de cada um, validando assim a prática pedagógica no ensino e aprendizagem de química na educação como um todo, a destacar a Educação de Jovens e Adultos.

Agradecimentos

A Deus, a família e todos aqueles que contribuíram para conclusão deste trabalho.

Referências

CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva, artigo a artigo. 23.ed. Petrópolis–RJ:Vozes, 2015.

DELIZOICOV, Demérito; ANGOTTI, José André; PERNANBUCO, Marta Maria. Ensino de Ciências: Fundamentos e métodos. São Paulo:Cortez, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1987.

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