ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Ambiental
Autores
Silva, B.M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)) ; Morales, G.P. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)) ; Guthjar, A.L.N. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)) ; Faial, K.C.F. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS (IEC)) ; Santana, B.C. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS (IEC)) ; Silva Filho, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)) ; Fernandes, B.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)) ; Neves, P.A.P.F.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA))
Resumo
O caranguejo Ucides cordatus é uma espécie endêmica dos manguezais do continente Americano, com elevado potencial de bioacumulação de elementos metálicos. Neste trabalho, foram mensuradas as concentrações de cobalto (Co), níquel (Ni), manganês (Mn) e alumínio (Al) em amostras do quelípodo e brânquias do U. cordatus, por meio da técnica de ICP OES. As concentrações médias de metais entre as estruturas foram comparadas estatisticamente, tendo as brânquias constituído o maior sítio de acumulação. O estudo ratificou a utilização deste crustáceo como biomonitor.
Palavras chaves
Bioacumulação; Crustáceo; Metais
Introdução
O monitoramento de ambientes costeiros e estuarinos com a utilização de organismos vivos tem sido realizado em diversos estudos, nos Estados Unidos da América (EUA), no estado de Nova Jersy, Reichmuth et al. (2010)1 investigaram a bioacumulação de metais no siri azul, enquanto que Adams e Engel (2014)2 averiguaram a acumulação de metais neste mesmo crustáceo na costa da Flórida. No Brasil, os estudos de biomonitoramento estão concentrados, sobretudo nas regiões sul e sudeste e são realizados principalmente com siris, peixes e moluscos bivalves. No estado do Paraná, Repula et al. (2012)3 realizaram o biomonitoramento dos elementos cromo (Cr) e chumbo (Pb) em peixes de água doce. Na região sudeste, destacam-se trabalhos como o de Virga et al. (2008),4 Virga et al. (2007)5 com o siri azul, Azevedo et al. (2012)6 com duas espécies de bagres, Andrade et al. (2011)7 com Callinectes ornatus (Ordway, 1863) e o de Pinheiro et al. (2012)8 com o caranguejo Ucides cordatus Linnaeus (1763). O caranguejo U. cordatus, é um importante representante da fauna dos manguezais e é amplamente consumido como alimento pela população paraense. Apesar disto, não existem estudos que versem acerca da acumulação de metais neste crustáceo no litoral paraense e região amazônica. O objetivo do presente estudo foi avaliar a acumulação dos elementos Co (cobalto) Ni (níquel) Mn (Manganês) e Al (Alumínio) no caranguejo Ucides cordatus visando a sua utilização como futuro biomonitor destes elementos para os manguezais de Curuçá (PA).
Material e métodos
Amostragem Trinta e dois indivíduos do caranguejo U. cordatus foram coletados (autorização SISBIO nº 49353-1/código de autenticação 81473453) por meio do método de braceamento. Após a captura, os caranguejos foram lavados com água local para a retirada do excesso de sedimentos, alocados em sacos de polietileno, armazenados em caixa de poliestireno com gelo. Posteriormente foram medidos, dissecados e identificados quanto ao sexo com as instruções do manual de Fiscarelli e Pinheiro.9 Equipamentos Uma balança analítica digital (TE2145) Sartorius AG (±0,0001g) foi utilizada para pesar as amostras, um liofilizador (modelo L101) para liofilizá-las, e um forno de microondas (Mars Xpress) CEM para auxiliar no processo de digestão. Um espectrômetro de Emissão Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP OES, Vista-MPX CCD simultâneo, Varian, Mulgrave, Austrália) para a quantificação dos elementos. Preparo das amostras As amostras do quelípodo e das brânquias foram liofilizadas e maceradas no almofariz com pistilo, uma massa de aproximadamente 0,1 g de músculo e das brânquias dos caranguejos foi pesada no frasco de digestão (n =72) e em seguida, adicionou-se 4 mL de HNO3 (65% v.v-1) e 4 mL de H2O2 (30% v.v-1). Após a digestão, os frascos com os digeridos foram retirados do forno de microondas, transferidos para os frascos volumétricos e aferidos ao volume final de 50 mL. Análise dos dados As análises dos dados foram realizadas por meio do programa BioEstat 3. Para verificar a existência de diferença significativa, entre os valores médios de elementos por estrutura entre os sexos e entre estruturas para um mesmo sexo, foram empregados dois testes: O teste T-Student, e o teste de Mann- Whitney (U). Em todos os testes es-tatísticos, considerou-se p<0,05 como estatisticamente significativo.
Resultado e discussão
Constatou-se diferença estatística significativa (p<0,05) entre as
concentrações de elementos nas estruturas analisadas (quelípodo e brânquias)
para ambos os sexos, com exceção ao Co, tendo as brânquias sido o maior
sítio de acumulação (Tabela 1).
O fato das brânquias terem apresentado as maiores concentrações de elementos
metálicos, pode estar relacionado à sua sensibilidade às variações
ambientais, visto que frequentemente estão em contato com a água do
ambiente.
Os ambientes costeiros e estuarinos têm recebido grande parte de resíduos
que contêm elementos traços, compostos com alta toxicidade, que podem se
acumular nos animais pelos principais epitélios de troca, como as brânquias
(Ahearn et al., 2004).10 O acúmulo dos elementos traços na biota está
relacionado a importantes fatores, como a concentração na água, nos
alimentos e do período no qual os animais são expostos a essas concentrações
(Kamude et al., 2002).11
Com relação ao sexo, houve diferença estatística significativa (p<0,05)
somente para o elemento Al, nas brânquias, tendo os machos as maiores
concentrações médias (Tabela 1). De acordo com Mac Farlane et al., (2000)12
em estudo realizado com o Heloecius codiformes, há semelhança na dieta de
machos e fêmeas, no entanto, pode haver variações, de acordo com o
metabolismo de cada indivíduo, o que pode estar relacionado a diferença de
concentração de Al entre os sexos. Em relação a maior concentração de Al nas
brânquias, resultado similar foi encontrado por Merfa (2010),13 em estudo
realizado com o U. cordatus em Rio Claro, SP, o que pode estar associado a
função osmorregulatória das brânquias neste crustáceo.
Concentração de elementos (valores em peso seco) nas brânquias e quelípodos de machos (M) e fêmeas (F) de U. cordatus coletados em Curuçá, Pará
Conclusões
O estudo forneceu informações acerca da acumulação média de elementos metálicos nas brânquias e quelípodo do U. cordatus. As concentrações foram majoritariamente mais elevadas nas brânquias para ambos os sexos, e os machos apresentaram maiores concentrações de Al, quando comparados com as fêmeas. Os resultados obtidos neste trabalho corroboram a utilização do caranguejo Ucides cordatus como um biomonitor de elementos metálicos em manguezais.
Agradecimentos
Ao Instituto Evandro Chagas e ao Laboratório de Toxicologia “Dr. Edilson Brabo” pela parceria na realização das análises. À CAPES pelo auxílio financeiro para a reali
Referências
1. Reichmuth, J. M.; Weis, P.; Weis, J. S. Environmental Pollution, v. 158, n. 2, p. 361-368, Feb. 2010.
2. Adams, D. H.; Engel, M. E. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 102, n. 2, p. 196-201, Apr. 2014.
3. Repula, C. M. M.; Campos, B. K.; Ganzarolli, E. M.; Lopes, M. C.; Quináia, S. P. Quim. Nova, v. 35, n. 5, p. 905-909, fev. 2012.
4. Virga, R. H. P.; Geraldo, L. P.; Ciênc. Tecnol. Aliment. 2008, 28, 943.
5. Virga, R. H. P.; Geraldo, L. P.; Santos, F. H.; Ciênc. Tecnol. Aliment. 2007, 27, 779.
6. Azevedo, J. S.; Hortellani, M. A.; Sarkis, J. E. S. Brazilian Journal Of Oceanography, v. 60, n. 4, p. 463-472, Oct./Dec. 2012.
7. Andrade, S. F.; Matos, T. B.; Carvalho, C. E. V. Revista Virtual de Química, v. 3, n. 2, p. 129-137, abr./jun. 2011.
8. Pinheiro, M. A. A.; Silva, P. P. G.; Duarte, L. F. A.; Almeida, A. A.; Zanotto, F. P. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 81, n.1, p.114-121, July, 2012.
9. Pinheiro, M. A. A.; Fiscarelli, A. G. Manual de apoio à fiscalização do caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Itajaí, Santa Catarina: Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul - CEPSUL. 2001.
10. Ahearn, G. A.; Mandal, P. K.; Mandal, A. Journal of Comparative Physiology B, Biochemical, Systemic, and Environmental Physiology,2004, 174, 439.
11. Kamunde C.; Grosell M.; Higgs D.; Wood CM. Journal of Experimental Biology 2002, 205, 279.
12. Macfarlane, G. R.; Booth, D. J.; Brown, K. R. Aquatic Toxicology, 2000, 50, 153.
13. Merfa T. C. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2010.