Tetragonopterus chalceus COMO BIOINDICADOR DE ESTRESSE OXIDATIVO EM PEIXES NA ZONA PORTUÁRIA DE SANTANA-AP

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ambiental

Autores

Aragão, C.G.G. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Gemaque, T.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ) ; Santiago, J.C.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Silva, E.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Santos, A.M. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)

Resumo

O Rio Amazonas é de suma importância para o estado do Amapá, pois além de contribuir para sua economia através da exportação de minérios, abriga uma diversificada ictiofauna. Um acidente ocorrido em 2013 despejou toneladas de minérios no Rio, causando contaminação na água, bem como distúrbios ambientais aos organismos aquáticos que habitam esta região. O presente estudo objetivou avaliar o conteúdo de hemoglobina (Hb) e metahemoglobina (mHb) como indicador de estresse oxidativo em T. chalceus, um peixe nativo da Amazônia. As amostras foram analisadas em espectrofotômetro de 540 nm para Hb e 630 nm para mHb. O conteúdo elevado de Hb e mHb nas espécies analisadas sugere que o local apresenta desequilíbrio ambiental, devido a exposição dos organismos à elevadas concentrações de minérios.

Palavras chaves

Rio Amazonas; Bioindicador; Estresse Oxidativo

Introdução

O estado do Amapá, banhado pelo Rio Amazonas, tem sua economia ligada diretamente à exportação de minérios, e o porto de Santana é utilizado como ponto de saída para a exportação [1]. A área Portuária de Santana é constituída pela área terrestre e fluvial, contínua e descontínua, das instalações portuárias. O porto de Santana foi demarcado pela portaria MT nº 71, de 15/03/00; e compreende a área entre a foz do rio Matapi, a leste, e a localidade de Fazendinha, a oeste, ambos projetados em direção ao rio Amazonas [2]. Em 2013, ocorreu um desmoronamento de toneladas de minérios, que foram despejadas acidentalmente no leito do Rio Amazonas, causando contaminação na água, bem como distúrbios ambientais aos organismos aquáticos que habitam esta região [3]. O estresse oxidativo é uma condição biológica em que ocorre desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio e a sua desintoxicação através de sistemas biológicos que as removam ou reparem os danos por elas causados. Perturbações no equilíbrio das formas oxidada e reduzida de moléculas, como o NADH, podem provocar a produção de peróxidos e de radicais livres que danificam todos os componentes celulares, incluindo proteínas e lipídios [4]. Peixes são ótimos biomarcadores, pois reagem imediatamente frente a qualquer alteração no ecossistema aquático. Através de alterações fisiológicas como mudanças no batimento opercular, natação incomum ao comportamento da espécie, alterações branquiais e mudanças ou dificuldades na alimentação, é possível notar intoxicação por substâncias químicas [5]. O presente estudo objetivou avaliar o conteúdo de hemoglobina (Hb) e metahemoglobina (mHb) como indicador de estresse oxidativo em Tetragonopterus chalceus, um peixe nativo da Amazônia.

Material e métodos

Os testes, para efeito de registro, foram realizados de acordo com os Princípios das Boas Práticas de Laboratório (OECD, 2001), seguindo-se os protocolos de referência reconhecidos internacionalmente (sempre os mais atualizados). Os princípios de Boas Práticas de Laboratório da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) foram primeiramente elaborados no final da década de 70, e oficialmente recomendado em 1981, pelo Conselho da OECD, como pré-requisito para aceitação, por parte das autoridades nacionais, de dados provenientes de estudos de substâncias químicas para fins de avaliação do produto. Estudos e avaliações de produtos químicos têm o objetivo de determinar seus perigos potenciais, visando a prevenção de danos à saúde. O método da toxicidade aguda de classe (TAC), diretriz 423 da OECD com algumas adaptações para a realização dos ensaios toxicológicos agudos e à determinação da DL50, procedendo-se à observação da possível toxicidade. Foram coletados 5 espécies de T. chalceus na Zona Portuária de Santana. A captura (SISBIO n. 55251/ registro n. 6637250) foi feita com o uso do apetrecho de pesca, tarrafa. Os animais foram armazenados em uma caixa com água e transportados até o Laboratório de Bioquímica na Universidade do Estado do Amapá, onde foi realizada a coleta do sangue para análises por corte próximo a nadadeira anal, com o auxílio de capilares heparinizados. Como grupo controle foram usados 5 espécies de L. obtusidens adquiridos em uma loja de aquário. Após coleta, as amostras foram diluídas em tampão fosfato (0,2 M; pH 7,2) e analisadas em espectrofotômetro em 540 nm para Hb e 630 nm para mHb.

Resultado e discussão

Os testes não permitem obter uma resposta absoluta sobre o risco que uma determinada amostra apresenta para a população humana, uma vez que é muito difícil extrapolar para os seres humanos os resultados de toxicidade obtidos para os organismos em laboratório e até mesmo correlacionar os resultados de toxicidade entre organismos de diferentes espécies. Ao avaliar a hemoglobina (HB) e metahemoglobina (METHB) foram observados aumentos significativos quando comparados ao grupo controle (HB 0,061±0,130) e (METHB 0,035±0,065), ao grupo que foi capturado na zona portuária (HB 0,355±0,477) e (METHB 0,125±0,269). A grande diferença entre os parâmetros analisados nos dois grupos indica que a poluição no local está provocando estresse oxidativo em T. chalceus.

Conclusões

O conteúdo elevado de Hb e mHb nas espécies analisadas sugere que o local estudado apresenta desequilíbrio ambiental, devido ao grande fluxo de embarcações ou a exposição dos organismos à elevadas concentrações de minérios, provocando estresse oxidativo em T. chalceus. Sendo assim, a exposição a poluentes pode ter consequências biológicas, do nível celular até efeitos no organismo e em todo o ecossistema do local afetado pela contaminação por minérios.

Agradecimentos

Referências

[1] MONTEIRO, M. A. A ICOMI no Amapá: meio século de exploração mineral. Novos Cadernos NAEA. v. 6, n. 2, p. 113-168, dez. 2003.
[2] BRASIL, Ministério dos Transportes. Portaria nº 71, de 15/03/00 (D.O.U. de 16/03/00), descreve a área do Porto Organizado de Macapá, no Município de Santana, no Estado do Amapá, 2000.
[3] SILVA, L. M. A. Composição, estrutura e distribuição da ictiofauna do rio Matapi, Estado do Amapá. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, UNIFAP, 2014.
[4] DONALDSON, E. M. The pitutary-interrenal axis as an indicator of stress in fish. In: Pickering A.D., editor. Stress and fish. New York: Academic Press, 1981.
[5] LACKNER, R. “Oxidative stress” in fish by environmental pollutants. In: Fish ecotoxicology. Birkhäuser Basel, p. 203-224, 1998.

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