Estudos para destinação do resíduo de gesso por upcycling

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ambiental

Autores

Mognon, C. (UPF) ; Mistura, C. (UPF) ; Fontanella, R. (UPF)

Resumo

O gesso é originado do mineral gipsita que é um sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O) que ocorre em diversas regiões do mundo e que apresenta um amplo e diversificado campo de utilizações. Os resíduos de gesso incluem contaminantes diversos, oriundos do processo de construção. No Brasil as pequenas fábricas de componentes de gesso não possuem fornos e não realizam a reciclagem nem o reuso. Este trabalho refere-se à importância da pesquisa para desenvolvimento (P&D) de novos produtos e destino correto de resíduos da construção civil prejudiciais ao meio ambiente com o menor uso de energia possível (upcycling).

Palavras chaves

Resíduo de gesso; Reciclagem; Upcycling

Introdução

O grande interesse pela gipsita é atribuído a uma característica peculiar que consiste na facilidade de desidratação e reidratação, podendo ser utilizada na forma natural na agricultura e na indústria de cimento. Enquanto a forma calcinada, conhecida como gesso, encontra várias utilizações na construção civil, na medicina como material ortopédico, na odontologia no preparo de modelos de estudo das estruturas oral e maxilofacial e como auxílio nos procedimentos de laboratório para a confecção de próteses dentárias, etc. O gesso cartonado é predominantemente gesso natural hidratado, papel, fibras de vidro, vermiculita (pode conter amianto), argilas, amido, potassa (KOH), agentes espumantes, dispersantes, hidro-repelentes nas placas resistentes à água, íons de metais e a presença de boro. Os resíduos ainda incluem contaminantes diversos, oriundos do processo de construção pela má gestão em canteiro de obra. Uma das características da geração de resíduos de construção é sua heterogeneidade (JOHN e CINCOTTO, 2003). A empresa parceira neste trabalho atua no recebimento e na reciclagem do resíduo de gesso pelo processo de reuso com a menor quantidade de processo possível, que após reprocessamento pode ser utilizado na agricultura como um corretivo do solo e neutralizador dos cátions alumínio (III) fitotóxicos (CAIRES, 2004). Este processo determinado upcycling é a maneira de transformar resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Processa minimamente materiais para dar uma nova utilidade. Ao contrário da reciclagem convencional que usa processos com alto uso de energia para modificar o material e então transformar seu uso, a upcycling modifica pouco o material e usa menos energia no processo.

Material e métodos

As atividades realizadas constituíram-se no diagnóstico de geração de resíduos de gesso em uma empresa de construção civil, preenchimento de formulários de controle, vistorias em obras, coleta de amostras, caracterização, estudos para destinação correta do resíduo de gesso e avaliação para um possível produto novo com o mínimo uso de energia (upcycling). Para a determinação de umidade em amostras de resíduo de gesso para uma comparação ao gesso (matéria prima), coletaram-se amostras de gesso da fábrica, do gesso em pedra e do gesso em pó, onde foi realizada no laboratório de Pesquisa da UPF (Universidade de Passo Fundo) sempre em triplicatas. Mediu-se a massa de um cadinho sem amostra, após mediu-se aproximadamente 5g de amostras e colocou-se na mufla por 2h a 150°C, após calcinação, as mesmas foram resfriadas em dessecador e mediu-se a massa do cadinho com a amostra seca até massa constante. As amostras de resíduo de gesso da fábrica e amostras de gesso (matéria prima) e gesso em pedra foram calcinadas a temperatura de 150°C por 2h. As outras determinações dos resíduos de gesso foram realizadas em um laboratório de análises de solo e fertilizantes. Utilizou-se o método recomendado pela Instrução Normativa número 27, (BRASIL, 2006) para determinação de Cádmio e Chumbo. As determinações de Enxofre e Cálcio, foram realizadas de acordo com o manual de análises de solo, plantas e outros materiais (TEDESCO et al., 1995).

Resultado e discussão

Os resultados encontrados nas amostras estudadas são para a análise da umidade do gesso em pó: 5,78%; gesso de resíduo da fábrica: 44,08% e gesso pedra: 18,76%. As amostras de resíduos após triturados de granulometria 0,30mm apresentaram resultados de cádmio de 4,02mg/kg; chumbo de 49,28mg/kg, cálcio de 30,04%; enxofre de 18%. Pelos resultados deste estudo, este resíduo pode ser utilizados como aditivo na agricultura, apenas por simples moagem, o que caracterizaria o reuso com o mínimo de energia possível (upcycling). Devido à exigência legal do licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente poluidores e a municipalização desta responsabilidade no Rio Grande do Sul (RS), a empresa obteve o processo de licenciamento prévio (LP) da ampliação da fábrica para receber resíduos de gesso junto ao órgão municipal.

Conclusões

O período de pesquisa na empresa Schneider Decorações em Gesso Ltda. contribuiu para o conhecimento sobre o seu trabalho e a sua rotina. A Empresa onde se desenvolveu a pesquisa apresentou infraestrutura, oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento de novos produtos a partir de resíduos de gesso, principalmente o gesso de uso agrícola (BARROS, 2005; CAIRES et al., 2004), através de upcycling (MCDONOUGH e BRAUNGART, 2013).

Agradecimentos

A Universidade de Passo Fundo (UPF) e a empresa Schneider Decorações em Gesso Ltda. de Marau, RS pelo suporte na execução do projeto.

Referências

BALTAR, C. A. M.; BASTOS, F. F.; LUZ, A. B. Diagnóstico do polo gesseiro de Pernambuco (Brasil) com ênfase na produção de gipsita para fabricação de cimento. 2010.
BALTAR, C. A. M.; BASTOS, F. F.; LUZ, A. B. Rochas e Minerais Industriais. Gipsita. Centro de Tecnologia Mineral, Ministério da Ciência e Tecnologia (CETEM). Rio de Janeiro, p.449- 470, nov. 2005.
BARROS, M. F. C. et al. Aplicação de gesso e calcário na recuperação de solos salino-sódicos do Estado de Pernambuco. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande – PB, v.9, n.3, p.320-326, mar., 2005.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 27 de 5 de junho de 2006. Diário Oficial da União, 9 jun. 2006.
CAIRES, E.F. et al. Alterações químicas do solo e resposta do milho à calagem e aplicação de gesso. R. Bras. Ci. Solo, v.28, p.125-136, 2004.
JOHN, V. M.; CINCOTTO, M. A.. Alternativas de gestão dos resíduos de gesso. Disponível em:<http://www.reciclagem.pcc.usp.br. Acesso em: 29 jun. 2016.
MOGNON, C.; MISTURA, C. M. Reutilização (upcycling) de resíduos de indústria de gesso da construção civil. (Relatório de Estágio – TCC) Curricular do Curso de Química Bacharel. UPF. 2010.
MCDONOUGH, Willian; BRAUNGART, Michael. CRADLE TO CRADLE. Berço ao berço – Criar e reciclar ilimitadamente. Editora G. Gili. 2013. 192p.
TEDESCO, M. J. et al. Análises de solo, plantas e outros materiais. 2. ed., Porto Alegre. UFRGS, 1995.

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