ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Alimentos
Autores
Barbosa, J. (EMBRAPA) ; Oliveira, M. (EMBRAPA) ; Rodrigues, I. (EMBRAPA)
Resumo
Este trabalho teve como objetivo avaliar o desenvolvimento de pleurotus ostreatus em substrato a base de caroços de açaí não esterilizados, utilizando-se ureia como fonte de nitrogênio e cal para o controle de contaminação. Efetuou-se delineamento experimental do tipo 2² com ponto central para estas variáveis com os seguintes níveis avaliados em triplicata: TR1 (2%cal, 1%ureia), TR2(1%cal, 1%ureia), TR3 (ponto central 1,5%cal, 0,5%ureia), TR4(1%cal 0%ureia) e o TR5 (2%cal, 0%ureia). Efetuou-se também um tratamento controle TR6 no qual não houve adição de cal e ureia. Os resultados obtidos apresentaram elevada variabilidade, porém indicando estatísticamente que o melhor rendimento está em torno dos tratamentos TR1 e TR2. Observaram-se também mudanças morfológicas.
Palavras chaves
Açai; Shimeji; cal e ureia
Introdução
O açaí (Euterpe oleracea Mart.) está distribuído em toda a extensão da região Amazônica, concentrando-se com maior frequência nos estados do Pará, Amapá e Maranhão (CAVALCANTE, 2010). A produção de frutos está centrada no estado do Pará que é o principal responsável pelo atendimento das demandas do mercado paraense, brasileiro e internacional. No Pará, o açaí é o principal alimento de muitas famílias ribeirinhas, alem de ter uma forte demanda na região metropolitana de Belém, um importante mercado do produto (FREITAS et al., 2015). O fruto maduro do açaí apresenta 15% de polpa e 85% de caroços. No processamento, estes caroços apresentam-se como um resíduo de elevado volume que atualmente não tem uma utilização de valor agregado importante, sendo, na maioria das vezes, jogado no lixo e, assim, torna-se um problema ambiental. É nesse cenário que o cultivo de shimeji (Pleurotus ostreatus), um cogumelo de elevado valor econômico e nutricional, apresenta-se como uma possibilidade interessante de agregar valor ao caroço de açaí ao utilizá-lo como substrato para sua produção. Como alimento o shimeji apresenta uma composição rica e balanceada em fibras, proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais, alem de baixo valor calórico, gorduras e sódio (GHORAI et al., 2009). Assim com outras espécies de fungos, o shimeji é incapaz de assimilar algumas fontes de nitrogênio incluindo os nitratos, por isso recomenda-se que utilize nas formulações fontes de nitrogênio como amônia e ureia. Assim, neste trabalho, buscando-se gerar um ambiente competitivo para o sehimeji em substrato de açaí não esterilizado, utilizou-se ureia como fonte de nitrogênio e cal hidratada para minimizar os riscos de contaminação e melhorar a competição com outros microrganismos.
Material e métodos
Este experimento foi desenvolvido seguindo a metodologia de acordo com (MODA, EVELISE MONCAIO, 2003), com alterações. A cultura de shimeji, na forma de “spaws”, foi adquerida de uma empresa de São Paulo especializada em produção de sementes de cogumelos e os caroços de açaí foram obtidos em pontos comerciais de venda de açaí em Belém. Estes caroços foram secos em estufa por três dias a uma temperatura media de 70ºC e depois foram triturados em moinho mecânico levando a uma massa de fibras com granulometria inferior a 1mm. Para a elaboração dos substratos foram feitas bateladas de 6kg, suficientes para produzir três sacolas de 2kg de substrato, constituídas de 3,6 kg de fibras do caroço de açaí e 2,400kg de água, além de cal e ureia em quantidades de acordo com os tratamentos descritos a seguir. TR1 (2%cal. 120g, 1%ureia. 60g), TR2( 1%cal. 60g, 1%ureia. 60g), TR3(1,5%cal. 90g, 0,5%ureia. 30g), TR4(1%cal. 60g, 0%ureia.), TR5 (2%cal. 120g, 0%ureia), TR6, controle (0%cal, 0%ureia). Com os tratamentos preparados, o material foi inoculado com 2% de inóculo de Pleurotus ostreatus, e incubados a 25C ° em câmara escura por 20 dias. Após este período, foi efetuada análise do desenvolvimento micelial, de contaminação e eventual frutificação e eficiência biológica, com a análise estatística baseada nas duas últimas variáveis.
Resultado e discussão
Todos os tratamentos apresentaram
crescimento micelial sem a presença de
contaminação, excetuando-se o
tratamento controle que apresentou
contaminação.
Observou-se também que as hifas
formadas apresentavam distribuição
irregular
pelo substrato, não colonizando
completamente o mesmo. Somente os
tratamentos
TR1, TR2 e TR3, apresentaram corpos de
frutificação com os valores médios de
produtividades e eficiência biológica
apresentados na tabela 1, juntamente
com
os respectivos desvios padrões. Os
resultados obtidos apresentaram
elevada
variabilidade , porém com indicação de
maior rendimento e eficiência
biológica
nos pontos TR1 e TR2.
Conclusões
Os resultados deste trabalho mostram que o Pleurotus ostreatus tem potencial de desenvolvimento em substrato de caroços de açaí, mesmo sem a esterilização, ao se utilizar cal como agente bactericida e ureia como fonte de nitrogênio. Contudo, o potencial de uso desse substrato ainda requer mais estudos para avaliar melhor os percentuais de cal e ureia para cultivo de Pleurotos ostreatus com produtividade aceitável e sem levar a alterações morfológicas que comprometam a qualidade do produto.
Agradecimentos
Ao CNPQ, pela concessão de bolsa de iniciação científica e à FINEP pelo fomento ao projeto DENDEPALM.
Referências
CHORAI, S. F. et al. Fungal biotechnology in food and feed processing. Food Research international, v. 42, p. 577-587, 2009.
CAVALVANTE, Paulo B. Frutas comestíveis na Amazônica. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 7ª edição revisada e atualizada. 2010.
FREITAS, M. A. B.; VIEIRA, I. C. G.; ALBERNAZ, A. L. K. M.; MAGALHÃES, J, L. L. Floristic impoverishment of Amazoniam floodplain forests managed for açaí fruit production. Foreste Ecology and Management, n. 357, p. 20-27, 2015.
MODA,EVELISE MONCAIO: Produção de pleurotus sajor-caju em bagaço de cana-de-açúcar lavado e o uso de aditivos visando sua conservação in Natura. Dissertação (mestrado) , Escola Superior de Agricultura de Luiz de Queiroz. Piracicaba, 2003.