ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Alimentos
Autores
Becker, M.M. (BIONORTE-UFMA) ; Silva, F.E.P.S. (UFMA) ; Mandaji, C.M. (UFMA) ; Medeiros, I.J.S. (UERR) ; Malta, T.A. (ESTÁCIO DE SÁ) ; Souto, L.A.S. (UFMA) ; Moraes, J.F. (UFMA) ; Mendes, T.M.F.F. (UFRR) ; Nunes, G.S. (UFMA)
Resumo
Cobre e manganês são microminerais essenciais ao organismo humano, sendo as frutas suas fontes naturais. Considerando a importância na nutrição humana, os teores de Cu e Mn foram quantificados simultaneamente por ICP-OES em nove frutos da Amazônia brasileira, e seus potenciais nutricionais avaliados. Os teores encontrados nos elementos sugerem que os frutos abiu, buriti e pajurá são fontes em Cu e monguba e uxi possuem alto teor; açaí e buriti possuem alto teor em Mn, e uxi é fonte natural nesse elemento. Os resultados representam novas informações sobre frutos da Amazônia brasileira, alguns ainda inexplorados, e sugerem sua inserção na dieta alimentar, por contribuírem com microminerais essenciais.
Palavras chaves
frutas amazônicas; microminerais; essencialidade
Introdução
Os minerais, originários sobretudo do solo e da água, são absorvidos pelas plantas e chegam ao homem através do consumo destes. No organismo humano formam os tecidos corpóreos, atuam na ativação e regulação enzimática, no controle de impulsos nervosos e em outras funções vitais (SMOLIN; GROSVENOR, 2007). Classificados como microminerais essenciais, as espécies químicas cobre e manganês são requeridas diariamente em pequenas quantidades, baseadas no consumo mínimo/máximo admitidos, a fim de prevenir deficiências que possam impedir o bom funcionamento do organismo, e evitando também a toxicidade, uma vez que o excesso e/ou deficiência desses minerais podem levar a desordens no sistema fisiológico e enfermidades (SHILS; OLSON; SHIKE, 1994). Estudos nutricionais demonstram que os níveis de ingestão diária recomendada (IDR) de cobre e manganês, para um homem adulto sadio, são de 0,9 mg e 2,3 mg, respectivamente (INSTITUTE OF MEDICINE, 2006). Os benefícios do cobre na nutrição humana incluem a manutenção da estrutura óssea, do sistema nervoso central e a absorção do ferro (VAITSMAN; DUTRA; AFONSO, 2001). A ingestão em quantidades insuficientes contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, infecções microbianas e anemias, enquanto seu excesso está relacionado à esclerose, asma, hipertensão, depressão, convulsões, necrose do fígado e problemas cardiorrespiratórios (PEDROZO, 2003; GOLDHABER, 2003). O manganês, por sua vez, atua no controle dos níveis de glicose, na proteção das células contra os radicais livres e nas atividades neuro-hormonais. Além disso, participa da formação e crescimento do feto e, provavelmente, combate o diabetes e a esquizofrenia (PEDROZO, 2003). O excesso deste elemento está relacionado às anormalidades nos pulmões e no cérebro (GOLDHABER, 2003). Diante desse contexto, e considerando que as frutas são fontes naturais em minerais, este trabalho visa avaliar o potencial nutricional de nove frutos nativos da Amazônia brasileira quanto à essencialidade e/ou toxicidade em cobre e manganês nos limites de tolerância fisiológicos.
Material e métodos
Os reagentes utilizados foram de grau de pureza analítica e a água utilizada foi deionizada. Os materiais utilizados foram previamente descontaminados em HNO3 a 10% (v/v) por no mínimo 24 h. Nove frutos nativos da Amazônia brasileira foram adquiridos em seus ambientes de produção nos Estados de Roraima, Amazonas e Maranhão: abiu (Pouteria caimito), açaí (Euterpe oleracea), biribá (Rhollinea orthopetala), buriti (Mauritia vinífera), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), inajá (Maximiliana maripa), monguba (Pachira aquatica), pajurá (Couepia bracteosa) e uxi (Saccoglotis uchi). Os frutos foram devidamente acondicionados, identificados e transportados ao laboratório. As amostras foram então lavadas em água corrente e em água deionizada, despolpadas, maceradas em gral de porcelana, homogeneizadas e refrigeradas a -20 °C. Foram tomadas porções de 0,2-0,5 g das amostras homogeneizadas, e adicionados sequencialmente 5,0 mL de HNO3 concentrado, 2,0 mL de H2O2 a 30% (v/v) e 0,5 mL de ítrio (Y) a 100 mg L-1, o qual foi usado como padrão interno. A mistura obtida foi homogeneizada e submetida a digestão em forno microondas (MARSX press 6.0), de acordo com o método estabelecido pela AOAC (2002). O digerido foi diluído com água deionizada para 25,0 mL e filtrado em papel de filtro quantitativo (28 μm) antes das análises dos teores dos minerais. As determinações dos elementos foram feitas por Espectrometria Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES) (Shimadzu, modelo 9820, com nebulizador concêntrico), sob 1,2 kW de potência, 10 L min-1 de argônio e comprimentos de onda de 327,396 nm e 383,826 nm, para o Cu e o Mn, respectivamente. As curvas analíticas foram definidas para 7 valores de concentração, obtidos a partir da diluição de soluções padrão a 1000 mg L-1 em 2 % (v/v) de HNO3. Os critérios para avaliação da eficiência do método analítico foram baseados nas seguintes figuras de mérito: melhores respostas analíticas da razão sinal/ruído; precisão, baseada no desvio padrão relativo (RSD) para três determinações; sensibilidade, com base nos limites de detecção (LOD) e quantificação (LOQ) para dez determinações dos brancos (SKOOG, 2008), e exatidão, mediante ensaios de recuperação em dois níveis de concentrações.
Resultado e discussão
O método analítico mostrou-se preciso, com valores de RSD variando de
2,15 a
9,63 %, e de 2,42 a 8,45 %, para as determinações do Cu e Mn,
respectivamente. As faixas lineares instrumentais foram de 0,03125 a 2,0
mg
L-1 para o Cu e de 0,01875 a 1,2 mg L-1 para o Mn.
Os
valores de LOD e LOQ para o Cu foram de 4,0 10-4 e 17,0
10-4 mg L-1, e para o Mn, de 7,12 10-6
e
1,2 10-5 mg L-1, respectivamente. Índices de
recuperação médios de 106,25 e 99,35 % foram obtidos para Cu e Mn,
respectivamente.
As concentrações médias de Cu e Mn (mg/100g de amostra) e seus
respectivos
RSD, bem como a classificação dos frutos como fonte nutritiva são
apresentados na Tabela 1.
A avaliação nutricional das amostras estudadas foi feita tendo como base
o
Relatório Técnico do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998), o qual
classifica
um alimento como fonte em determinado mineral, quando 100 g deste
apresentar
de 15 a 29 % de sua IDR, e um alimento de alto teor mineral, quando este
apresentar mais que 30 % da sua IDR.
Avaliando a classificação mineral em relação a ingestão de cobre,
observa-se
que as polpas do abiu, buriti e pajurá podem ser
classificadas como fontes, por atenderem 22,3 %, 17,7 %, 21,3 % e 15,6 %
da
IDR, respectivamente. As sementes de monguba e a polpa de
uxi
mostraram-se com alto teor em cobre, contribuindo com 83,0 e 35,7 % da
IDR,
respectivamente. Neste sentido, a inserção desses frutos na dieta seria
bastante interessante, já que atenderia recomendações diárias e ao mesmo
tempo evitaria danos à saúde causados por deficiência em cobre.
Em relação ao manganês, a polpa de uxi pode ser classificada como
fonte natural (29 % da IDR) e as polpas de açaí e buriti
revelaram-se com alto teor nesse micromineral, excedendo 100 % da IDR.
Apesar da grande quantidade de manganês fornecida através do consumo de
100
g das polpas de açaí e buriti estudadas, observa-se que os
resultados das concentrações são inferiores ao nível máximo de ingestão
tolerável (11 mg/dia). Além disso, deve-se considerar que apenas 3 a 5 %
do
manganês ingerido é efetivamente absorvido pelo organismo e
disponibilizado
para as funções metabólicas normais, uma vez que uma grande parcela é
excretada pelas fezes via bile (INSTITUTE OF MEDICINE, 2006; MARTINS;
LIMA,
2001). Logo, a efetiva inclusão dessas frutas na dieta alimentar traria
diversos benefícios, como nos processos de formação dos ossos, na função
reprodutiva e no metabolismo de carboidratos e lipídeos (INSTITUTE OF
MEDICINE, 2006).
As concentrações obtidas para as polpas de biribá, cupuaçu
e
inajá podem contribuir para atingir a IDR em cobre e manganês
através
de complementações minerais de outros alimentos.
Ainda que uma comparação entre resultados seja complexa, em virtude das
concentrações dependerem de fatores inter-relacionadas como genética,
solo,
clima, estágio de maturidade da planta e biodisponibilidade (PEDROZO,
2003),
comparando os valores obtidos com algumas referências da literatura,
pode-se
verificar que as concentrações de Cu para o açaí e Mn para o
abiu mostraram certa concordância com os dados apresentados na
TACO
(2006), enquanto que os teores de Mn para o açaí, de Cu para o
abiu, e de Cu e Mn para o cupuaçu e o buriti estão
acima dos valores listados na TACO (2006) e também reportados por
Manhães e
Sabaa-Srur (2011). Por outro lado, os teores de Cu e Mn para o
biribá, pajurá e uxi estão abaixo dos valores
relatados
em outros estudos (SMITH et al., 2013; BERTO et al., 2015). Não foram
encontradas referências na literatura relacionadas aos teores desses
minerais em polpas de inajáe sementes de monguba.
Teores de Cu e Mn nos frutos da Amazônia brasileira e sua classificação em relação à essencialidade mineral.
Conclusões
Os resultados aqui apresentados fornecem novas informações sobre microminerais em frutas nativas da região Amazônica, algumas inexploradas, sendo que tais informações serão úteis não só para a construção de uma base de dados de composição mineral desses alimentos, como também na sua popularização em outras regiões do Brasil e do mundo. A avaliação do potencial nutricional dos frutos selecionados permitiu classificá-los como sendo de elevado teor ou mesmo fonte em cobre e/ou manganês, destacando-se os frutos abiu, açaí, buriti, monguba, pajurá e uxi. De um modo geral, a inclusão dessas frutas na dieta alimentar brasileira é recomendada, uma vez que estas apresentaram concentrações de cobre e manganês em quantidades que podem contribuir para correções nutricionais e prevenir enfermidades. O conhecimento desta composição certamente auxiliará os consumidores na escolha dos alimentos, bem como contribuirá para a orientação nutricional por especialistas com princípios de desenvolvimento local e diversificação na alimentação.
Agradecimentos
Referências
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