EFEITO DO ARMAZENAMENTO NAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO ÓLEO DE BURITI Mauritia flexuosa L.f ORIUNDAS DO NORTE DE MINAS GERAIS

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Química Orgânica

Autores

Arrudas, S.R. (UNIMONTES) ; Rocha, S.M. (UNIMONTES) ; Nunes, Y.R.F. (UNIMONTES) ; Rodrigues, M.T.O.S. (UNIMONTES) ; Silva, D.S. (UNIMONTES) ; Morais Costa, F. (UFMG) ; Fidencio, P.H. (UFVJM)

Resumo

A Mauritia Flexuosa L.f, por ser uma oleoginosa promissora para indústrias alimentícias, cosméticas e com aspirações para biocombustíveis através da utilização do óleo. Desta forma as propriedades físico-químicas do óleo do buriti e seu armazenamento, onde foi feito o armazenamento em recipientes de vidro transparente e âmbar, em temperatura ambiente e freezer, por um período de 105 dias. O óleo de buriti apresentou 70,6 % de ácido graxo oléico, e apresenta carotenóides e tocoferóis. As propriedades não diferiram em função do armazenamento. Os resultados estão dentro do limite recomendado para o consumo, conforme estabelecido pela RDC 270/2005 da ANVISA. manteve estável no decorrer do período estipulado, demonstrando assim a importância dos carotenóides, confirmando a estabilidade.

Palavras chaves

buriti; oleaginosa; anti oxidantes

Introdução

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, sendo considerado um mosaico de diversas fitofisionomias caracterizadas por estruturas de vegetação e flora peculiares (CASSINO et al., 2015). Devido a esta diversidade o Cerrado desperta interesse por agregar valores ao mercado e promover a sustentabilidade (IBGE, 2004). Visando este aspecto sustentável, os frutos provenientes das palmeiras existentes neste bioma têm sido uma referência na valorização econômica de diversas regiões, a saber, Pará, Amazonas, Bahia, Goiás, São Paulo, Minas Gerais dentre outros estados (CICONINI, 2012). Representante da família Arecaceae, a palmeira Mauritia flexuosa L. f é uma das mais utilizadas para fins econômicos (ALMEIDA et al., 1994), conhecida popularmente como buriti, miriti, palmeira-do-brejo, sendo uma espécie típica dos ambientes de veredas (PIO, 2010; RESENDE et al., 2012). Morfologicamente a Mauritia flexuosa L. f possui altura de 20 a 30 m, tronco de 30 a 50 cm de diâmetro,e produz cachos de 2 a 3 metros de comprimento. E seu fruto é constituído de epicarpo (casca externa), mesocarpo (parte comestível) e endocarpo esponjoso que envolve a semente muito dura (LORENZI et al., 1996). O fruto do buriti apresenta diversas aplicações, entre elas: alimentação, cosméticos, uso medicinal, e seu óleo constitui uma alternativa para produção de biodiesel (SILVA, 2002). Os óleos vegetais são constituídos basicamente de mono, di e triacilgliceróis, além de ácidos graxos livres, pigmentos (carotenoides e clorofilas), tocoferóis e outras substâncias. Os carotenoides constituem o maior grupo de corantes naturais, variando sua coloração de amarelo claro ao vermelho (PAULA MOTA et al., 2010; OLIVEIRA, 2011). Entre os melhores antioxidantes naturais encontram-se os carotenoides, os β- carotenos e os tocoferóis, presentes no óleo de buriti, que impedem a oxidação do mesmo (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2009). A estabilidade térmica do óleo depende de sua estrutura química, de modo que os ácidos graxos saturados: láurico, palmítico e o esteárico são mais estáveis em comparação aos ácidos graxos insaturados que incluem o linoléico, linolênico e oléico, sendo este ultimo predominante no óleo de buriti. A presença de insaturações eleva o potencial de oxidação do óleo e fatores como luz, temperatura, acidez contribuem para a oxidação dos carotenoides (BOBBIO, 1989; AMBRÓSIO et al., 2006). Os processos oxidativos aceleram a degradação de óleos e gorduras, podendo também ocorrer por hidrólise, polimerização e pirólise comprometendo assim as características organolépticas como sabor e coloração (HIDALG et al., 2007). Visando qualidade e aplicação, são necessários parâmetros físico-químicos para mensurar as condições deste óleo para a sua utilização. Dentre estes parâmetros estão: índice de acidez, viscosidade, densidade, refração e perfil de ácidos graxos (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2005). Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar as propriedades físico-químicas do óleo de Mauritia flexuosa L.f, através das em função do tempo e do armazenamento, visando subsidiar o melhor manejo e conservação do óleo visando à manutenção da sua qualidade

Material e métodos

O óleo foi fornecido pela cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas Grande Sertão LTDA localizada na Região Norte de Minas Gerais, lote MFR13004, no período de junho de 2014. Tempo amostral e tratamentos O óleo foi submetido a quatro condições de tratamento: ambiente (Amb, 30ºc) e freezer, (Fre, -20ºc) separados e armazenados em recipientes de vidro âmbar e vidro transparente, no qual foram analisadas as propriedades físico- químicas do óleo em função do tempo que envolveram : 15, 30, 45, 60,75 ,90 e 105 dias. Análises físico-químicas Para determinação da viscosidade foi utilizado o viscosímetro copo Ford, este se baseia na taxa de fluxo de um líquido através de um orifício ou de um ducto de geometria simples. Um dos métodos para a determinação de densidade consiste na medida do peso de um recipiente, com volume conhecido, volume este que seja calibrado de acordo com o peso da água pura no mesmo recipiente. Neste trabalho utilizou-se de um picnômetro de volume de 25 ml realizando três repetições. Para o índice de refração utilizou-se o refratômetro ajustado com água destilada à temperatura de 25ºc, com a mesma metodologia do instituto Adolfo Lutz (2005) para determinação do índice de refração. A avaliação do índice de acidez foi feita para os quatro tratamentos com triplicatas. O índice de acidez foi determinado pelo método que utiliza como solução titulante, o hidróxido de sódio 0,1mol/l e fenolftaleína a 1% como indicador, segundo metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2005). Perfil de ácidos graxos, carotenóides e tocoferol Os ácidos graxos foram convertidos em ésteres metílicos (esterificação) por cromatografia gasosa. Dissolveu-se, em tubo criogênico de 2 ml, aproximadamente 12 mg do óleo extraído das amostras de buriti em 100 μl de uma solução de etanol (95%)/ hidróxido de potássio 1mol/l (5%). Após agitação em vórtex por 10 s, o óleo foi hidrolisado em um forno de microondas doméstico. As análises foram realizadas em um cromatógrafo a gás hp7820a (agilent) equipado com detector por ionização de chamas, no laboratório de cromatografia da UFMG. A determinação dos carotenóides foi realizada segundo AOAC (2000). A leitura dos extratos foi realizada em espectrofotômetro (Coleman 33 d) a 450 nm; Os tocoferóis foram quantificados em cromatografia líquida com detector de fluorescência, e dissolvido em n- hexano e analisado por CLAE – Cromatografia líquida de alta eficiência, no laboratório de química da UFMG (AOAC, 2000).

Resultado e discussão

Pôde-se comprovar por meio da cromatografia gasosa que a composição do óleo de Mauritia flexuosa L. f apresentou predominância de ácidos graxos insaturados, como o ácido oléico (C18: 1), em torno de 70%, ácido linoléico (C18: 2) e linolênico (C18: 3). Encontram-se ainda presentes ácidos graxos saturados, o ácido palmítico (C16:0) e esteárico (C18:0). O ácido oléico é o segundo mais consumido no mundo por conta de suas características benéficas à saúde através do uso popular (US DEPARTMENT OF AGRICUTURE, 2014; GIUGLIANO, 2008). Outras oleaginosas também apresentam grande quantidade de ácido oléico, dentre estas, o pequi que possui concentração de 55,87% na polpa de seu fruto, e o bacuri, com 68,77% de ácidos insaturados. Com relação aos carotenoides o pequi possui 7,25mg/100g sendo superado apenas pela polpa de buriti, com 16,7mg/100g (HIANE et al., 2003). Os resultados das análises de composição química do óleo do buriti identificou em sua composição carotenóides totais (1122 µg. g -1 de β caroteno) e tocoferóis (89 mg/100g de óleo). Valores similares aos encontrados por Darnet et al. (2011). Quanto à acidez em função do tempo de armazenamento não houve diferenças significativas p (0,59), porem na comparação entre freezer e ambiente evidenciou-se resultados significativos com p < 0,05 e nas condições claro e escuro com valores 1,521728 e 1,750495 respectivamente, conforme constatado na figura 1 em anexo. Estes resultados encontram-se de acordo com o valor recomendado para consumo, 4,0 mg KOH g -1 para óleos brutos, e abaixo do esperado para óleos refinados (ARRUDAS et al., 2014; ANVISA, 2005). Nas análises de densidade e do índice de refração durante o armazenamento os tratamentos não sofreram modificações em nenhum dos tempos amostrados, cujas médias de 0.000050 e 0,0000012 respectivamente, (p>0,05) para ambos. Desta forma mantiveram sua estabilidade no período de 105 dias (ALBUQUERQUE & REGIANI, 2006). Na temperatura do freezer o óleo apresentou-se mais viscoso, estando de acordo com estudos que mostram a diminuição acentuada na viscosidade de óleos vegetais em função da elevação da temperatura (BROCK et al., 2008). No presente trabalho foram analisados apenas dados iniciais e finais para a análise do perfil de ácidos graxos. O tempo de armazenamento em geral não afetou as proporções, sendo que ocorreu uma diferença mínima entre os óleos armazenados no ambiente e no freezer. Os frascos armazenados em freezer a -20 ºc mantiveram maior proporção em relação à temperatura ambiente. Quanto à cor do frasco (transparente e âmbar) não houve diferenças consideráveis. Os resultados para os parâmetros avaliados no óleo de buriti Mauritia flexuosa L.f indicam seu bom estado de conservação, ao demonstrar baixos níveis de acidez.

vISCOSIDADE

Viscosidade nas Condições de armazenamento ambiente (30ºc) e freezer (-20ºc).

Acidez

Índice de acidez do óleo da polpa de M.flexuosa L.f armazenado nas condições ambiente e Freezer. Escuro e claro.

Conclusões

Com base nos resultados obtidos, o óleo de buriti proveniente da polpa apresentou maior quantidade de ácidos graxos insaturados, sobretudo o ácido oléico. O óleo também apresenta grande quantidade de carotenoides e tocoferóis o que lhe confere boa estabilidade oxidativa. Já nas análises físico-químicas a viscosidade apresentou variação significativa em função do tempo e temperatura enquanto acidez, densidade e refração não foram constatados resultados expressivos. Portanto, a forma de armazenagem mais adequada seria a temperatura do freezer, uma vez que permite maior tempo de estocagem sem alterar as características do óleo, mantendo assim sua qualidade.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo suporte financeiro do projeto e bolsa de PCRH de Sônia Ribeiro Arrudas.

Referências

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