ISBN 978-85-85905-19-4
Área
Química Orgânica
Autores
Souza, S.D. (UEPA) ; Silva, E.A.S. (UFPA) ; Gomes, P.W.P. (UFPA)
Resumo
A espécie Rolanda Fruticosa (F.) kuntze, pertence à família Asteraceae, de ocorrência em todo território brasileiro. O presente trabalho objetivou gerar um conhecimento preliminar acerca do uso uso popular da Rolanda Fruticosa (F.) kuntze, valendo-se do estudo sobre os parâmetros físico- químico e o perfil fitoquímico dos extratos das folhas e flores dessa espécie segundo a farmacopeia brasileira. Os resultados fitoquímicos atestaram para ambas as partes a presença dos metabolitos secundários: Alcalóides, flavonóides, saponinas, taninos e fenóis. Entretanto, as mesmas possuem parâmetros físico-químicos diferentes, tais como: umidade (30,73 e 8,60%) teor de cinzas (2 e 2,1%) e pH (5,86 e 6,16) para folha e flor respectivamente, tendo assim, uma possível ação dessa espécie como fitoterápico.
Palavras chaves
Perfil fitoquímico; Rolandra fruticosa (L.) k; Analises físico-químicas
Introdução
A utilização de produtos naturais como recurso terapêutico é tão antiga quanto à civilização humana e, por muito tempo, produtos minerais, vegetais e animais constituíram o arsenal terapêutico (RATES, 2001). O uso de plantas medicinais in natura ou devidamente preparadas vem apresentando um crescimento considerável nas mais diversas áreas do mundo, devido a maioria das espécies vegetais produzirem metabólicos secundários, que quando consumidas podem apresentar atividade medicinal, porém muitas plantas ainda não apresentam sua potencialidade terapêuticas conhecidas ou comprovadas por estudos químicos ou farmacológicos. O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico em muitas comunidades quilombolas nos municípios do Marajó, uma vez que essas comunidades estão situadas a grandes distâncias dos centros urbanos, apresentando assim dificuldades de locomoção, impossibilidades financeiras, alto custo nas farmácias e efeitos adversos de medicamentos sintéticos. As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais contribuem de forma relevante para a divulgação das virtudes terapêuticas dos vegetais, prescritos com frequência, pelos efeitos medicinais que produzem, apesar de muitas vezes não terem seus constituintes químicos conhecidos. Dessa maneira, para compensar as deficiências nos estudos de plantas, o governo instituiu a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), com o propósito de facilitar o acesso aos medicamentos fitoterápicos, garantindo assim a sustentabilidade da biodiversidade brasileira, promovendo a valorização do conhecimento tradicional e preservação de comunidades, associada ao desenvolvimento industrial e tecnológico (MACIEL et al., 2002). A planta conhecida como “pai Joaquim” pertencente à espécie Rolandra fruticosa é utilizada pelos moradores na comunidade quilombola do caldeirão localizada em Salvaterra, Marajó-PA, para o tratamento de inflamação no sistema urinário, dores lombares, infecções, entre outras doenças, devido a isso, tona-se viável gerar um conhecimento preliminar que embase o uso popular dessa espécie, valendo-se do estudo sobre os parâmetros físico- químico e o perfil fitoquímica dos extratos das folhas e flores dessa espécie. A cultura medicinal desperta o interesse de vários pesquisadores, envolvendo áreas interdisciplinares, como, a botânica, a farmacologia, a fitoquímica, a biotecnologia e dentre outras, que juntas enriquecem os conhecimentos sobre a inesgotável fonte medicinal da Amazônia (MOREIRA et al., 2002). As plantas medicinais podem ser tão eficientes quanto os produzidos pela síntese química, contudo a transformação de uma planta em um medicamento deve visar à preservação da integridade química e farmacológica do vegetal, garantindo a constância de sua ação biológica e a sua segurança de utilização, além de valorizar seu potencial terapêutico. Para atingir esses objetivos, a produção de fitoterápicos requer, necessariamente, estudos prévios relativos a aspectos botânicos, agronômicos, fitoquímicos, farmacológicos, toxicológicos, de desenvolvimento de metodologias analíticas e tecnológicas (MIGUEL, 2013). Com base no exposto, o propósito do presente trabalho foi gerar um conhecimento preliminar que embase o uso popular dessa espécie, valendo-se do estudo sobre os parâmetros físico-químico e o perfil fitoquímica dos extratos das folhas e flores dessa espécie.
Material e métodos
O material vegetal foi selecionado e destas retiradas sujidades, para, então, ser destinados à secagem em estufa à temperatura de 45ºC, por 48 horas. Por conseguinte, o material vegetal foi triturado e moído em um processador industrial. Ao final desses procedimentos foram obtidas as massas totais dos materiais secos, resultando num total de 150 g de folha e 150 g flor. 50 g de cada parte da planta foi submetido à extração por maceração com EtOH, a frio em um ciclo de 24 horas, seguido de filtração e evaporação em uma capela para obtenção do extrato. As analises foram realizadas no laboratório de Ciências Naturais da Universidade do Estado do Pará, campus XIX - Salvaterra. A caracterização físico-química consistiu em determinar o pH, umidade, cinzas totais sendo realizada em triplicata para todas as amostras. A determinação do pH foi realizada, pesando-se 10 g da amostra em um béquer e misturada a 100 mL de água. Agitou-se, e logo em seguida procedeu-se a leitura do pH em peagâmetro calibrado. Para o teor de umidade foram pesados 1 g de cada parte da planta (flolha e flor), as quais foram submetidas ao aquecimento à 115 °C através de raios infravermelho durante 1 hora cada e obtenção de resultados em percentual. Para cinzas, fez-se calcinação do material em chapa aquecedora por 30 minutos e posteriormente foram submetidos a incineração em mufla por 5 horas a 550ºC, com progressão de 2ºC/min. Na triagem fitoquímica analisou-se testes para: fenóis, taninos, flavonoides, alcalóides e saponinas. Para fenóis e taninos solubilizou-se 20 mg do extrato em 5mL de água destilada e adicionados 2 gotas de solução alcoólica de cloreto férrico (FeCl3) a 1%. Observou- se se ouve mudança da coloração inicial. Para flavonoides solubilizou 20 mg do extrato seco, em 10 mL de Metanol, e em seguida adicionadas 5 gotas de Ácido Clorídrico (HCl) e raspas de Magnésio. Para alcaloides, foram dissolvidos 20 mg do extrato seco em 5 mL de solução de Ácido Clorídrico (HCl) a 5%, e adicionadas algumas gotas de Reativo de Bouchardat (4g de Iodeto de Potássio e 2 g de iodo ressublimado dissolvidos em 100 mL de água destilada). Para saponinas foram dissolvidos alguns miligramas do extrato seco em 5 mL de água destilada. Em seguida, diluiu-se para 15 mL e a solução foi agitada vigorosamente durante 2 minutos em tubo fechado. Foi observado se a camada de espuma permanece estável por mais de 30 min, o que determina resultado positivo para saponina espumídica.
Resultado e discussão
Os resultados obtidos do pH, Teor de Umidade (%) e do teor de cinzas totais
(%), para folha e flor, foram adquiridos a partir dos procedimentos
prescritos pela farmacopeia brasileira (2010), descritos e estão
apresentados na figura 1.
A partir dos valores obtidos para pH, nota-se que o extrato etanólico da
folha é mais ácido do que a flor, no entanto, ambos estão com o pH abaixo de
7,0 e segundo a farmacopeia brasileira, o pH do extrato da folha e flor é
considerado ácido. Para umidade são aceitáveis valores de 8 a 14%. Este
nível de umidade confirma a inibição de enzimas que possivelmente degradam
constituintes químicos, prioritariamente pela hidrólise, além de também
inibir o desenvolvimento de microrganismos (FARIAS, 2004). Os resultados
adquiridos nos testes para este parâmetro se encontram dentro do padrão,
porém para amostras de folhas não se encontram dentro dos níveis de valores
definidos pela farmacopeia Brasileira. Para os resultados obtidos que
caracterizam a quantidade de minerais no vegetal, não foram encontrados
resultados na literatura que possa determinar um padrão.
Com a realização da caracterização fitoquímica foi possível constatar grupos
de compostos químicos provenientes do metabolismo secundário das plantas
(taninos, flavonóides, fenóis, saponinas e alcalóides). A figura 2 mostra os
resultados obtidos na triagem fitoquímica a partir dos extratos etanólicos
da planta.
Pôde-se observar que os extratos etanólico obtidos da folha, apresentaram os
5 grupos químicos estudados. Para a flor, foi observou-se que os extratos
etanólicos resultaram positivos para 4 grupos (fenóis, taninos, alcalóides e
saponinas) e negativo para 1 grupo (flavonóides). Para os extratos da folha
e flor, foi possível a identificação de fenóis, mediante a mudança de
coloração para azul ao reagir com o cloreto férrico 1%, indicando assim a
presença de fenóis. Esses compostos possuem ação antioxidante, em
consequência da sua estrutura química e de suas propriedades redutoras,
apresentando assim, características como desinfetantes, antisséptico bucais
e hospitalares, antifúngico, antialérgico e na fabricação de medicamentos.
Antioxidantes fenólicos funcionam como seqüestradores de radicais e algumas
vezes como quelantes de metais (SHAHIDI et al., 1992), agindo tanto na etapa
de iniciação como na propagação do processo oxidativo. Os produtos
intermediários, formados pela ação destes antioxidantes, são relativamente
estáveis devido à ressonância do anel aromático apresentada por estas
substâncias (NAWAR, 1985). Os compostos fenólicos e alguns de seus derivados
são, portanto, eficazes para prevenir a oxidação lipídica; entretanto,
poucos são os permitidos para o uso em alimentos, devido principalmente a
sua toxicidade (SHAHIDI et al., 1992).
A reação para flavonoides usando o método de Shinoda, foi positivo para os
extratos das folhas e negativo para as flores. Os flavonoides apresentam
atividade antibacteriana, antiespasmódica, antioxidante, anti-inflamatória,
além de dar uma resposta imunológica, porém, na qual há produção de
anticorpos específicos contra um determinado agente agressor. Flavonóides
modificam também várias funções fisiológicas pela interação com enzimas como
citocromo P450 e transportadores de membrana como proteínas transportadoras
de glicose (HODEK et al., 2002; MARTIN et al., 2003). Sugere-se que a
proteína transportadora de membrana, glicoproteína-P excluía os agentes
terapêuticos de células e desempenhe função fisiológica de proteger o
organismo das substâncias tóxicas. No entanto, flavonóides e outros
compostos polifenólicos podem modular a resposta das glicoproteínas-P, sendo
que essa atividade recentemente revelada mostrou que essas substâncias
inibem a resistên- cia de multidrogas utilizadas no tratamento de câncer
(KITAGAWA, 2006).
O teste usando para a identificação de taninos usando cloreto férrico 1%,
foi positivo para folha e flor, exceto para o extrato hexânico. Os taninos
são substâncias que protegem as plantas dos ataques de microrganismos. Nos
animais têm efeitos analgésico, facilita a digestão, cicatrizante de lesões
ulcerosas, controla a produção de ácido clorídrico pelo organismo e corrige
funções estomacais ao facilitar a eliminação de gases. Externamente contra
as inflamações da cavidade bucal, a bronquite, as hemorragias locais,
feridas.
A confirmação da presença de alcaloides, nos extratos, foi comprovada pela
formação de precipitado, para os extratos etanólico e metanólico e negativo
para o extrato hexânico. Esse grupo tem uma variedade de ações, como:
queimaduras, feridas, insônia, problemas respiratórios, ação antibacteriana
e antifúngica, podem contribuir para uma dilatação da artéria coronária e no
tratamento do câncer.
Os testes para identificação do grupo das saponinas foram comprovados após a
duração da espuma por mais de 30 min, sendo positiva para todos os extratos.
A sua propriedade física principal é reduzir fortemente a tensão superficial
da água. As plantas que contém saponinas também tem ação mucolítica,
diurética e depurativa. Elas fornecem a ação dos demais princípios ativos da
planta e em excesso podem ser irritantes na mucosa intestinal. Destaca-se
que os resultados aqui obtidos nunca haviam sido descritos antes na
literatura nacional e internacional, logo são resultados preliminares com
caráter básico, para que futuramente padrões sejam traçados para a espécie
estudada como uma alternativa e fonte de produção de fármacos em combate a
doenças.
Valores obtidos para pH, teor de umidade e cinzas totais de folha e flor da espécie Rolandra fruticosa (L.) kuntze.
Triagem fitoquímica dos extratos etanólicos brutos da folha e da flor de Rolandra fruticosa (L.) kuntze
Conclusões
As análises físico-químicas da folha e da flor mostraram resultados promissores os quais foram citados pela primeira vez na literatura e na espécie. Pois, possibilitam conhecer as características do vegetal que pode vir a ser utilizado como parâmetro para controle de qualidade em futuras análises que estão de acordo com parâmetros estabelecidos pela Farmacopeia Brasileira. A identificação de seus princípios ativos e das propriedades medicinais da Rolandra fruticosa (L.) kuntze, teve resultados satisfatórios, pois atestam a presença desses compostos, que exercem uma possível ação medicinal dessa planta sobre diversas doenças. As análises realizadas permitiram identificar substâncias como: fenóis, flavonoides, taninos, alcaloides e saponinas, indicando que futuramente poderá haver vários estudos químicos e biológicos com a espécie Rolandra fruticosa. Tais substâncias são compostos químicos que podem atuar no organismo bloqueando o desenvolvimento de células doentes, ou que podem atenuar sintomas, devido à sua ação no sistema nervoso central. Os resultados obtidos neste trabalho tornaram-se importantes no processo de identificação e padronização de parâmetros de qualidade para as folhas e flores da Rolandra fruticosa (L.) kuntze, sobretudo pela ausência de limites estabelecidos para umidade, pH e teor de cinzas totais na literatura para esta droga vegetal, contribuindo para o maior conhecimento das propriedades que poderá ser utilizado para o desenvolvimento de um possível fitoterápico.
Agradecimentos
Referências
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