Influência da pulverização da casca da Verônica (Dalbergia monetária L.) em variáveis físico-químicas de chás preparados por decocção

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Produtos Naturais

Autores

Pantoja Caxias da Silva, B.P. (UFRA) ; Cardoso Pinho, A. (UFRA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA)

Resumo

A Dalbergia monetária L. é uma planta encontrada na Amazônia e tem seu uso popular no tratamento medicinal. O objetivo geral foi avaliar parâmetros físico-químicos (teor de extrativos, pH, acidez total e condutividade elétrica) de chás de Verônica preparados por decocção a partir da casca triturada ou pulverizada. Um total de 10 amostras de casca de Verônica vermelha foi obtido em feiras livres da cidade de Belém (PA). Com as amostras de cascas foram preparados chás por decocção. Os chás das cascas pulverizadas apresentaram maiores valores de TE e valores de AT, pH e CE com menor variação entre as amostras. Não foram encontrados padrões de teores desejáveis para estas variáveis. Os mesmos puderam caracterizar a forma (pulverizada ou fragmentada) da casca da Verônica através do PCA

Palavras chaves

avaliação físico-química; plantas medicinais; Amazônia

Introdução

Mesmo com o surgimento de novos remédios e o desenvolvimento de pesquisas na síntese de novos fármacos, as plantas ainda constituem excelentes ferramentas para a descoberta de novos mecanismos envolvidos em diversas patologias. Na Amazônia muitas espécies são popularmente conhecidas para diversos usos, que vão desde a alimentação, passando pela construção civil e naval, até por seu uso medicinal e religioso (SEGOVIA et al., 2010). A Dalbergia monetária L., da família das Leguminosas-Papilionáceas (REGO, 1993; PIO CORRÊA, 1978) é uma planta encontrada às margens dos rios e igarapés da Amazônia e é usada no tratamento para cicatrização, higienização de feridas, asseios vaginais, anemia, cálculos da bexiga etc. Popularmente, distinguem-se duas variedades da planta, a “verônica branca” e “verônica vermelha”, embora não tenham sido atestadas diferenças botânicas entre elas (COTA, 1999). A verônica vermelha é preferida para uso medicinal, e é assim chamada devido a evidente coloração vermelho escura da casca quando separada do caule (NUNES, 1996). A revisão bibliográfica da espécie vegetal estudada comprovou que pouco se conhece sobre sua composição química, físico-química e sua atividade biológica. Os autores evidenciam duas formas principais de preparação utilizadas pelos usuários que adquirem a “casca da Verônica” no mercado. Em uma delas (extrato), a casca é utilizada em pedaços e deixada em água, à temperatura ambiente, durante a noite para ser ingerida na manhã seguinte. Em outra forma (chá), a casca, em pedaços ou em pó, é fervida durante alguns minutos em água. O objetivo geral foi avaliar parâmetros físico-químicos (teor de extrativos, pH, acidez e condutividade elétrica) de chás de Verônica preparados por decocção a partir da casca triturada ou pulverizada.

Material e métodos

Um total de 10 amostras de casca de Verônica vermelha foi obtido em feiras livres da cidade de Belém, capital do Estado do Pará. Estas amostras já se encontravam secas nos pontos de venda e foram transportadas em frascos de vidros hermeticamente fechados até o Laboratório de Físico-Química, do Centro de Tecnologia Agropecuária (CTA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). No laboratório, o material foi armazenado ao abrigo da luz, umidade, insetos e roedores, até o momento de análise. Cada uma das amostras foi divida em duas partes, onde 500 g foram fragmentadas manualmente em pedaços pequenos, e outras 500 g foram pulverizadas em moinho de facas. Com as amostras de cascas fragmentadas e pulverizadas foram preparados chás por decocção de 100 mL de água destilada e 20 g do material botânico até fervura. Deixando resfriar (10 a 15 minutos) e, em seguida, coando o líquido. A proporção planta/solvente utilizada foi de 1:5 (ou 20%). Nas amostras de chás de casca pulverizada ou fragmentada foram determinados: pH através de imersão direta do eletrodo de vidro de um peagâmetro de bancada da marca MS Tecnopon® modelo Mpa210; condutividade elétrica (CE) através da imersão direta do eletrodo de um condutivímetro da marca LUTRON® modelo CD-4301, os resultados foram expressos em miliSiemens por centímetro (mS.cm-1); o teor de extrativos em água (TE) através de metodologia descrita pela Farmacopeia Brasileira (2010); a acidez total (AT), expressa em miligramas por 100 gramas, determinada pelo método descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (2008). Todas as análises foram realizadas em triplicata. As médias foram comparadas utilizando o teste de Tukey com 95% de probabilidade. Os dados também foram submetidos à Análise de Componentes Principais (PCA) via o software MINITAB 16.

Resultado e discussão

De acordo com a Tabela 1, pelo teste de Tukey (ANOVA) foi verificada nas amostras de chá da casca de Verônica (CCV) e chá do pó de Verônica (CPV) diferença significativa (p ≥ 0,05) entre os valores obtidos para os 3 parâmetros. Somente a acidez total nas amostras de CPV não apresentou diferença significativa entre os resultados obtidos nas 10 amostras. Os valores de TE apresentaram uma maior diferença estatística entre as amostras de chá de uma mesma preparação (CCV e CPV). As amostras CPV apresentaram percentagens maiores (19,87 a 24,13%) do que as CCV (6,18 a 9,18%). Percebe- se uma maior eficiência na extração dos constituintes com a diminuição da granulometria do material botânico e uma melhor homogeneidade da amostra. Foram obtidos valores de pH em uma faixa levemente ácida (5,0 < pH < 6,0) para os 2 tipos de chá. Os valores de pH estão relacionados a acidez total dos chás. Espera-se encontrar uma maior AT nas amostras com menores valores de pH. A condutividade elétrica variou levemente entre 0,11 a 0,13 mS.cm-1 para as amostras de chá (CCV e CPV). Esta propriedade é fortemente influenciada pela presença de íons como Ca2+, Mg2+, Na+, K+ etc. A acidez total para as amostras de CPV variou levemente entre 2,88 a 3,88 mg.L-1. Enquanto que, para as amostras de CCV variou de 3,36 a 5,57 mg.L-1 (máximo anômalo verificado na amostra CCV1). A aplicação de análise de componentes principais (PCA) aos dados obtidos gerou a Figura 1, na qual é possível perceber a formação de 2 grupos distintos, sendo diferenciados pela forma na qual a casca utilizada na preparação do chá de Verônica se encontrava, triturada ou pulverizada. A amostra CCV1 teve um comportamento distanciado devido ao valor da AT bem acima da média do grupo.

Tabela 1. Valores de média e desvio-padrão do teor de extrativos (em %

Legenda: Letra diferentes significam diferença significativa (95% de significância),via ANOVA e teste de Tukey

Figura 1. Gráfico das componentes principais para os dados de chás das

Legenda: CPV = Amostra de Chá da Casca Pulverizada de Verônica; CCV = Amostra de Chá da Casca Triturada de Verônica

Conclusões

Os chás das cascas pulverizadas apresentaram maiores valores de TE e valores de AT, pH e CE com menor variação entre as amostras, devido à pulverização aumentar a superfície de contato da droga vegetal com o solvente durante o processo de extração. Nenhum trabalho foi encontrado na literatura consultada abordando estudos qualitativos dos chás da casca da Verônica. Não foram encontrados padrões de teores desejáveis para as características físico- químicas. Entretanto, as mesmas puderam caracterizar a forma (pulverizada ou fragmentada) utilizada da casca da Verônica através do PCA.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Centro de Tecnologia Agropecuária (CTA) e a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).

Referências

COTA, R. H. dos S. Ações antiulcerogênicas do extrato aquoso liofilizado de Dalbergia monetária Lineu (Verônica). Dissertação de mestrado. Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1999.

FARMACOPÉIA BRASILEIRA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília, 5º ed., v. 1, 2010.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. 5. ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. 1020 p.

NUNES, D. S. Chemical strategies for the study of ethnomedicines. In: Tropical Forest Medical Resources and the Conservation of Biodiversity, Ed. by M. Balick, S. Laird and E. Elizabetsky, Columbia University Press, New York, p. 41 – 47, 1996.

PIO CORRÊA, M. Diccionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas. Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal: Rio de Janeiro, vol. 6, p. 405, 1978.

REGO, M. T. Comunicação Pessoal, 1993.
SEGOVIA, J. F. O.; GONÇALVES, M. C. A.; OLIVEIRA, V. L.; SILVEIRA, D.; KANZAKI, L. I. B. A Detecção de Produtos Naturais Biologicamente Ativos no Estado do Amapá. In: Programa Primeiros Projetos, 2010.

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