PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA, TOXICIDADE FRENTE À Artemia salina, E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES ANTIOXIDANTE E ANTICOLINESTERÁSICA, DO EXTRATO AQUOSO DAS VAGENS DE Caesalpinia ferrea Mart. (JUCÁ).

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Produtos Naturais

Autores

Cavalcante, G.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Liberato, H.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Martins, A.L.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Martins, V.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Câmara Neto, J.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Vieira, I.G.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Morais, S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

Na medicina popular, o chá da casca do caule de C. ferrea tem sido utilizado no tratamento de diabetes. Assim, objetivou-se investigar o potencial antioxidante, anticolinesterase e a toxicidade frente à A. salina do extrato aquoso quente (chá) dos frutos de Jucá, afim de justificar seu uso. Realizou-se prospecção fitoquímica, a qual revelou a presença de fenóis, antocianinas, flavonoides e catequinas, entre outros. O extrato apresentou boa atividade antioxidante (CI50 = 60,14 ± 2,73 μg/mL), baixa atividade anticolinesterásica, e baixa toxicidade frente a A. salina. Pode- se inferir que os compostos fenólicos presentes no EAFJ, com atividade antioxidante relevante, justificam em parte seu uso contra diabetes, sugerindo a realização de mais estudos para identificação dos compostos bioativos.

Palavras chaves

Pau-ferro; Acetilcolinesterase; Diabetes

Introdução

Caesalpinia ferrea Mart. (Fabaceae), popularmente conhecida como Jucá ou Pau-de- ferro, é uma árvore nativa do Brasil, amplamente distribuída no Norte e Nordeste (BRAGANÇA, 1996; LORENZI, 2002) e utilizada na medicina popular para diversos fins terapêuticos como antidiabético, analgésico, anti-inflamatório, antibacteriano, anti-hipertensivo e anticâncer (BALBACH, 1972). Em virtude de sua importância etnomedicinal, o Ministério da Saúde incluiu C. ferrea na lista nacional de plantas medicinais importantes para o sistema de saúde (VASCONCELOS et al., 2011). O chá da casca do caule de C. ferrea tem sido utilizado pela população para o tratamento de diabetes (HASSAN et al., 2015). Diabetes mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla caracterizada por hiperglicemia crônica, a qual, induz o aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e diminuição das defesas antioxidantes. Muitos indivíduos optam por terapias alternativas à base de plantas medicinais para amenizar seus efeitos (DALLAQUA e DAMASCENO, 2011). Estudos afirmam que uma série de doenças como câncer, diabetes, artrite, malária, AIDS e doenças do coração, podem estar ligadas aos danos causados por substâncias reativas oxigenadas (ROS). Assim, o consumo de substâncias antioxidantes na dieta diária, pode produzir uma ação protetora efetiva contra processos oxidativos que naturalmente ocorrem no organismo. (BRENNA e PAGLIARINI, 2001). Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo prospectar os metabólitos secundários presentes no Extrato Aquoso do Fruto do Jucá (EAFJ), bem como, avaliar o potencial biológico do mesmo, verificando sua atividade antioxidante, anticolinesterásica e toxidade frente à Artemia salina, na tentativa de justificar essas propriedades.

Material e métodos

As vagens de Caesalpinia ferrea foram coletadas no município de Fortaleza, Ceará. Retiraram-se as sementes das mesmas e o pericarpo foi utilizado para a obtenção de um extrato aquoso através de um sistema de refluxo. A prospecção fitoquímica de metabólitos secundários do Extrato Aquoso das Vagens de Jucá (EAFJ) foi realizada conforme a metodologia de Matos (1998), com verificação visual de alterações colorimétricas e/ou surgimento de precipitado. A determinação do teor de fenóis totais foi feita por meio de espectrofotômetro no comprimento de onda de 750 nm, utilizando o reagente Folin-Ciocalteu e a curva padrão do ácido gálico (SOUSA et al., 2007). Para a quantificação de flavonoides seguiu-se a metodologia descrita por Funari e Ferro (2006), utilizando o reagente cloreto de alumínio a 2,5%, leitura em espectrofotômetro no comprimento de onda 425 nm e comparação com curva padrão da Quercetina. A avaliação da atividade antioxidante seguiu o método de varredura do radical livre DPPH, descrito por Brand-Willians et al. (1995). A absorbância foi aferida em espectrofotômetro, a 515 nm. Calculou-se a CI50 (concentração que inibe 50% do radical livre DPPH) e utilizou-se a rutina como padrão. Para avaliar sua toxicidade, utilizou-se Artemia salina conforme descrito por Barbosa et al. (2009). A droga padrão foi dicromato de potássio (K2Cr2O7). Calculou- se a concentração letal que elimina 50% do número de náuplios (CL50). Todos os testes já citados foram realizados em triplicata. A avaliação da atividade inibitória da enzima acetilcolinesterase (AChE), foi efetuada de acordo com o ensaio enzimático descrito por Ellman et al. (1961) e adaptado para cromatografia em camada delgada por Rhee et al. (2001). O Teste foi realizado em duplicata e o utilizou-se fisostigmina como padrão.

Resultado e discussão

A prospecção fitoquímica revelou a presença de fenóis, antocianinas, antocianidinas, flavonóides, leucoantocianidinas, catequinas, flavonas e saponinas. Souza et al. (2006) encontraram ainda antraquinonas, alcalóides, depsídeos, depsidones, lactonas, açúcares, taninos, sesquiterpenos e triterpenos; e consideraram os taninos como o componente principal do extrato aquoso de C. ferrea. O extrato aquoso da C. ferrea apresentou teor de fenóis totais e de flavonóides correspondentes à 56,8 ± 1,89 μg/mL equivalentes de ácido gálico (EAG) e 2,79 ± 0,16 μg/mL de equivalentes de quercetina (EQ), respectivamente. Sampaio et al. (2009), estimaram a quantidade de polifenóis em extrato hidrometanólico dos frutos de C. ferrea em 7,3%. Em relação à atividade antioxidante, o extrato aquoso dos frutos de C. ferrea apresentou CI50 = 60,14 ± 2,73 µg/mL, (Tabela 1). Hassan et al. (2015) obtiveram para o extrato hidroalcólico das folhas de C. ferrea CI50 = 12,45 ± 2,86 µg/mL. Dentre os antioxidantes de ocorrência natural, os compostos fenólicos destacam-se; sua ação deve-se principalmente às suas propriedades redutoras (SOUSA et al., 2007). Compostos fenólicos que apresentam atividade antioxidante têm demonstrado propriedades antidiabéticas o que justificaria em parte a o uso popular de C. ferrea. O extrato aquoso da C. ferrea apresentou baixa atividade anticolinesterásica, com halo de inibição da enzima AChE de 6 mm (tabela 1). A inibição da AChE além de mediar efeito analgésico, participa da atenuação de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson (GOMATHI; MANIAN, 2015). Quanto a toxicidade frente à Artemia salina, o EAFJ apresentou CL50 = 936,2 ± 143,3 (tabela 1). Este ensaio biológico é um dos mais utilizados para a avaliação preliminar de toxicidade (ALVES et al., 2000).

Tabela 1

Atividades antioxidante, toxicológica e inibição da enzima AChE do extrato aquoso dos frutos de Jucá (EAFJ).

Conclusões

O Extrato Aquoso das Vagens de Jucá apresentou compostos fenólicos, antocianinas, antocianidinas, flavonóides, leucoantocianidinas, catequinas, flavonas e saponinas; revelou boa atividade antioxidante, o que pode ser atribuídos aos compostos fenólicos presentes no extrato; baixa atividade anticolinesterase e baixa toxicidade frente à Artemia salina. Tais dados corroboram com o potencial farmacológico e fitoterápico da espécie, sendo necessários mais estudos para identificação dos seus compostos bioativos.

Agradecimentos

PROEX – UECE. CNPQ.

Referências

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