ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Produtos Naturais
Autores
Silva Júnior, L.J.C. (UESB) ; Paula, V.F. (UESB) ; Nascimento, J.C. (UESB) ; Correia, S.J. (UESB) ; Macedo, G.E.L. (UESB)
Resumo
Este trabalho descreve o estudo fitoquímico do extrato metanólico da casca do caule de Metrodorea maracasana Kaastra, na busca de novas substâncias presentes em frações mais polares, desta planta, que ainda não haviam sido estudadas. Usando técnicas clássicas de purificação em coluna cromatográfica, e recristalizações, seguido de técnicas espectroscópicas e espectrométricas de análise, foi possível o isolamento e identificação das piranocumarinas aloxantoxiletina, citrusarina-A, e dipetalolactona; das cumarinas simples artemicapina A e artemicapina B; e do flavonoide (-)-4’-o- metil-epigalocatequina, ainda não descritos no gênero Metrodorea, além das piranocumarinas 5-metoxixantiletina, 5-hidroxixantiletina, já descritas em estudos anteriores das raízes desta planta.
Palavras chaves
Rutaceae; Metrodorea maracasana; cumarinas
Introdução
Metrodorea maracasanaa Kaastra, popularmente conhecida como orelha d’onça, é uma planta da família Rutaceae, endêmica da flora brasileira, cujos indivíduos são encontrados no Nordeste (Bahia) e no Sudeste (Espírito Santo) do país (PIRANI, 2015). A inexistência de estudos químicos ou biológicos, prévios, descritos na literatura para esta planta, foi o principal fator motivador para o presente estudo. Ao longo dos últimos anos, o grupo de pesquisa em produtos naturais da UESB tem investido no estudo fitoquímico de vários extratos desta espécie, cujos resultados revelaram grande presença de metabólitos secundários pertencentes à classe das cumarinas (REIS, 2010), que é uma classe de metabólito de grande interesse medicinal, uma vez que desempenham uma variedade de atividades biológicas, tais como atividade anti-inflamatória, anticoagulante, antibacteriana, antifúngica, antiviral, anticancerígena, anti-hipertensiva, antitubercular, anticonvulsiva, antioxidante e neuroprotetora (VENUGOPALA et al., 2013). Todavia, grande parte das substâncias isoladas desta planta, nos estudos da raiz, foi obtida de frações de média à baixa polaridade. No presente estudo, visou-se o isolamento de substâncias presentes no extrato metanólico (de maior polaridade) da casca do caule de M. maracasana, buscando-se obter substâncias ainda não isoladas nos demais extratos.
Material e métodos
O material vegetal submetido a este estudo foi coletado de um espécime de Metrodorea maracasana localizado na Fazenda Brejo Novo, situada a 9 km da cidade de Jequié-BA. A exsicata foi depositada no Herbário da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, com o código HUESB1334. A identificação botânica foi realizada pela Dra. Guadalupe E. Licona de Macedo (DCB-UESB) e confirmada pelo especialista Dr. Rubens J. Pirani. A casca do caule desta planta foi submetida à secagem em estufa numa temperatura de 40 ºC, para posteriormente ser triturada e submetida à exaustiva extração com os solventes hexano, acetato de etila e metanol. Após remoção dos solventes utilizando-se evaporador rotativo com pressão reduzida, foi obtido respectivamente o extrato hexânico, acetato de etila e metanólico. O extrato metanólico foi submetido a fracionamento em coluna cromatográfica utilizando sílica gel 60 como fase estacionária e uma mistura de Hexano:Acetato de Etila, numa proporção de 1:1 como fase móvel inicial, realizando-se uma eluição em gradiente crescente de polaridade, passando por misturas de acetato de etila:etanol e sendo finalizada pela eluição total com metanol. Novos processos de purificação por coluna cromatográfica, recristalização, e cromatografia em camada delgada preparativa foram necessários para isolamento das substâncias que, posteriormente, passaram por análises espectroscópicas, RMN (Ressonância Magnética Nuclear) de 1H e de 13C, e espectroscopia no Infravermelho, e análises espectrométricas por CG-EM (Cromatografia Gasosa acoplada a espectrometria de Massas) para elucidação de suas respectivas fórmulas estruturais.
Resultado e discussão
Do extrato metanólico das cascas de M. maracasana foram identificadas
oito substâncias puras, ou em mistura, das quais, sete são pertencentes à
classe das cumarinas, e um flavonoide, pertencente a subclasse dos
flavanóis. O flavonoide (-)-4’-O-metil-epigalocatequina [1] (62 mg),
substância isolada de maior polaridade, ainda não havia sido descrito no
gênero Metrodorea. Ele foi isolado na forma de cristais de coloração
castanha, solúveis em CH3OH, cujos dados de RMN 1H e
13C foram comparados com Magalhães (2012). A cumarina simples
artemicapina-B [2] (3 mg), também ainda não descrita no gênero
Metrodorea, foi obtida na forma de cristais amarelados solúveis em
CH3OH cujos dados de 1H foram comparados com Wu e
colaboradores (2000). A piranocumarina angular aloxantoxiletina [3] (60 mg)
foi isolada como cristais esbranquiçados de aroma adocicado solúveis em
CHCl3, seus dados de RMN 1H foram comparados com Ju e
colaboradores. (2000). Neste estudo foram obtidas duas misturas de
substâncias, contendo na primeira as piranocumarinas angulares citrusarina-A
[4] e dipetalolactona [5] (dados de RMN 1H comparados com os
apresentados por ITO et al., 1991; MURRAY E FORBES, 1975, respectivamente),
e na segunda mistura a cumarina simples artemicapina-A [6] (dados de RMN
1H comparados com os apresentados por e MAES et al., 2005) e
outra piranocumarina não identificada. O estudo também permitiu o isolamento
das piranocumarina 5-metoxixantiletina (99,3 mg) [7] e 5-hidroxixantiletina
[8] (4,9 mg) já isoladas no extrato da raiz desta planta por Reis e
colaboradores (2010) cujos dados de RMN foram comparados com aqueles destas
substâncias já isoladas.
Conclusões
Os principais constituintes químicos do extrato metanólico da casca do caule de M. maracasana pertencem à classe das cumarinas, sendo a maioria delas piranocumarinas. As cumarinas aloxantoxiletina, citrusarina-A, dipetalolactona, artemicapina A, artemicapina B e o flavonoide (-)-4’-o-metil- epigalocatequina ainda não haviam sido isolados de espécies do gênero Metrodorea.
Agradecimentos
Agradecimentos expressos à Fapesb, pela concessão de bolsa de pesquisa; à UESB, pelo apoio e incentivo à pesquisa, e aos laboratórios de RMN da UFBA e da UFV.
Referências
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