ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Vicente, P.S.B. (UEA) ; Souza, E.A. (IFAM) ; Guimarães, I.R.C. (UEA) ; Zanelato, A.I. (UEA) ; Souza, R.J. (UEA) ; Mata, M.S.L. (UEA) ; Santos, H.C. (UEA) ; Castro, F.B. (UEA) ; Silva, R.L. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA)
Resumo
A Oficina de Formação Pedagógica visava trabalhar os eixos temáticos do currículo da Educação de Jovens e Adultos a partir de uma prática sustentável. Em vista disso, foi produzido um pão enriquecido com farinha de tucumã (Astrocaryum aculeatum) para mostrar a possibilidade de contextualização e diálogo entre os eixos temáticos e os conteúdos disciplinares. O estudo envolveu professores e alunos de Química, supervisores da educação municipal e professores que atuavam em escolas rurais na Educação de Jovens e Adultos. Os resultados foram satisfatórios, pois além de confirmar a hipótese inicial mostraram que os elementos da biodiversidade amazônica podem se configurar excelentes recursos pedagógicos assim como, possibilitar diálogos entre a ciência, a sociedade tecnológica e o mundo natural.
Palavras chaves
Formação Pedagógica; Prática Sustentável; EJA
Introdução
Antigamente, o homem para conservar os alimentos valia-se de práticas rudimentares como a defumação, a salga e a secagem ao sol para que os alimentos pudessem perdurar por mais tempo. Com o advento da modernidade e o avanço das tecnologias outras técnicas de conservação de alimentos apareceram: a fervura, resfriamento/congelamento e a desidratação artificial. Na produção do pão caseiro foi utilizada uma farinha de tucumã desidratado. O tucumanzeiro (Astrocaryum aculeatum) é uma palmeira nativa da Amazônia, fornece matéria-prima para fabricação de móveis e decorações, o óleo pode ser extraído para produção de biodiesel e sabão, o endocarpo na confecção de produtos artesanais. De acordo com Eleutério (2015), o tucumã (Astrocaryum aculeatum) é um fruto bastante consumido pela população indígena e cabocla da Amazônia. A polpa é consumida in natura, depois de amadurecida. Geralmente no contexto indígena, é saboreado com farinha e pela população cabocla é acompanhado com café e outras bebidas. Nos centros urbanos, a população amazonense saboreia este fruto, em forma de sanduiche recheado com bananas fritas e queijo (X caboquinho). O pão caseiro foi fabricado durante uma Oficina de Formação Pedagógica desenvolvida com professores de escolas rurais no município de Parintins-AM que trabalhavam na EJA. O objetivo desta formação era mostrar a possibilidade de se trabalhar os eixos temáticos da proposta curricular a partir de uma prática sustentável e, sobretudo, valorizar elementos da biodiversidade amazônica, pois, acreditávamos ser possível estabelecer diálogos entre conteúdos disciplinares e os eixos temáticos confirmando a relação ciência, sociedade tecnologia e o mundo natural.
Material e métodos
Os frutos de tucumãs foram transportados até ao Laboratório de Educação Química e Saberes Primevos da UEA onde foram selecionados, lavados e imersos em solução de hipoclorito de sódio (02 colheres/5 litros de água) por 30 minutos; enxaguados em água corrente potável. Os frutos foram descascados manualmente; o mesocarpo removido; pesagem; fervura da polpa; drenagem do excesso de água. A polpa foi lavada em uma solução de água e limão (2 limões para 0,5 litros de água). A água foi drenada e a polpa colocada nas bandejas do desidratador solar durante 72 horas. Para este tipo de desidratador utiliza-se os raios do sol para aquecer os alimentos que estão sobrepostos em prateleiras secando-os. Após a realização desses procedimentos a polpa foi moída em um liquidificador doméstico obtendo a farinha de tucumã desidratada. Para a fabricação do pão caseiro foram utilizados os seguintes ingredientes: 1k de farinha de trigo, 2 xicaras de farinha de tucumã desidratada; 6 colheres de açúcar, 1 colher de sopa de sal, 2 ovos, 2c colheres de margarina, 1 envelope de fermento biológico de 10g, ½ a 2 xícaras de água. Os ingredientes secos foram misturados e aos poucos foi sendo adicionada água até obter-se uma massa homogênea que foi deixada em repouso por 30 min e cilindrada até ficar bem escorregadia pronta para ser modelada. Os pães foram colocados em uma forma untada com óleo e deixados novamente em repouso por 30 min. Depois foi levado ao forno pré-aquecido por 35 a 40 minutos para assar. O produto final foi distribuído entre 5 professores formadores, 11acadêmicos do Curso de Química do CESP/UEA, 3 supervisores da SEMED Parintins, 15 professores municipais que ministravam aulas na EJA e estavam participando da formação pedagógica.
Resultado e discussão
A proposta de Formação Pedagógica visava trabalhar os eixos temáticos do currículo da EJA a partir de uma prática sustentável. Em vista disso, os eixos temáticos Educação & Trabalho e Economia Solidária sustentaram a produção do pão caseiro enriquecido com farinha de tucumã (Astrocaryum aculeatum). Foi sugerido aos professores da EJA que nas práticas docentes valorizassem os elementos da biodiversidade amazônica, pensando na possibilidade de estabelecer diálogos entre conteúdos disciplinares e os eixos temáticos, confirmando a relação ciência, sociedade e natureza. Em seguida os professores rurais reuniram-se em grupos para montar uma proposta de contextualização e diálogo utilizando os eixos temáticos “Educação & Trabalho e Economia Solidária”. Os resultados foram satisfatórios, pois os professores compreenderam o objetivo da proposta como mostra a figura 1. Os conteúdos propostos pelo GP1 e GP2 podem ser abordados nas aulas de Química com alunos do 9º ano da EJA. Os conteúdos do GP3 nas aulas de Geografia e Ciências e o professor poderá falar aos alunos sobre o solo amazônico destacando as áreas de várzeas que se renovam no período da enchente e de terra-firme como solo empobrecido, pouca concentração de nutrientes minerais e a intensa lixiviação a que são submetidos os solos amazônicos. A respeito dos recursos naturais não renováveis serviu de exemplo o gás natural produzido no pólo petroquímico do município de Coari no Estado do Amazonas. Enquanto que os conteúdos propostos pelo GP4 permitem evidenciar o fenômeno da fotossíntese enfatizando sua importância para as cadeias alimentares, a respiração e a transpiração dos vegetais. Isso tudo demonstrou a viabilidade da proposta de ensino da EJA (Figura 1).
Conclusões
De modo geral, podemos avaliar a Oficina de Formação Pedagógica realizada com professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) como significativa, pois possibilitou uma reflexão a respeito das práticas pedagógicas aplicadas nas escolas rurais com alunos da EJA. Acreditamos que se as sugestões apresentadas nesta Oficina forem desenvolvidas pelos professores da EJA nas escolas onde atuam, provavelmente estarão convertendo a proposta da Oficina em uma ação concreta de desenvolvimento sustentável e, sobretudo, valorizando a Educação de Jovens e Adultos e os elementos da biodiversidade amazônica.
Agradecimentos
À Equipe da EJA da SEMED Parintins e professores da EJA das escolas rurais.
Referências
ELEUTÉRIO, Célia Maria Serrão. O Diálogo entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a formação Inicial de Professores de Química na Amazônia. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Cuiabá, 2015.