ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Santos, A. (UFG) ; Mesquita, N. (UFG)
Resumo
A busca de novas propostas para intervir na educação tem se tornado uma constante, tanto para educadores como para pesquisadores da educação que desejam promover um ensino comprometido com a formação integral dos alunos. Partindo-se desta premissa, o desenvolvimento de projetos na área de química, tendo a Libras como mola propulsora, permite aos discentes não somente conhecer e aprender uma nova língua, mas torná-la, dentro dos projetos, um valioso instrumento de aprendizagem dos conceitos de química, através de aulas expositivas e sinalizadas, de jogos e também de atividades lúdicas. O presente artigo retrata a experiência vivenciada com os alunos do ensino médio do Centro Educacional São Francisco de Assis – CEFRAN, situado no bairro Maiobão no município de Paço do Lumiar – MA.
Palavras chaves
Projetos; Libras; Ensino de química
Introdução
O desenvolvimento de projetos no currículo da educação básica não é uma ideia nova e nem revolucionária no ramo de educação. No entanto, tem se desenvolvido em uma estratégia de ensino com uma definição mais formal, mais atrelada à realidade de vida da sociedade, da escola e do aluno. Trabalhar com projetos ganhou um lugar de maior interesse na sala de aula já que os alunos participam mais quando têm a chance de se aprofundar em problemas cotidianos e desafiadores. Dessa forma, o trabalho com projetos vai além, possibilitando o despertar do interesse dos alunos. Projetos estimulam a curiosidade ativa e um nível mais elevado de raciocínio (Thomas, 1998). Nessa perspectiva, desde 2004, o Centro Educacional São Francisco de Assis (CEFRAN), localizado no município de Paço do Lumiar – MA, tem desenvolvido projetos na área de Química a fim de possibilitar ao aluno um novo canal de aprendizagem e ao professor um novo e rico instrumento de ensino. Diante deste cenário a Libras (Língua Brasileira de Sinais) tornou-se uma importante ferramenta para estreitar os laços entre o ensinar o aprender em Química. O papel da língua de sinais na escola vai além da sua importância para o desenvolvimento do sujeito surdo, trata-se de oportunizar na prática a inclusão e o desenvolvimento da língua de sinais como meio de partilhar conhecimentos e experiências, tanto entre os surdos como também entre os ouvintes. A realização de projetos na área de química utilizando a Libras tornou-se um valioso instrumento pedagógico destinado a melhorar a qualidade da aprendizagem de certo conteúdo escolar, isso porque usando a língua de sinais e aproveitando de toda a gama de novidades os alunos tiveram iniciativas de buscar o conhecimento e de principalmente socializá-los no universo escolar.
Material e métodos
Nessa escola, os projetos são desenvolvidos do ensino médio, apresentando sempre um tema gerador na área de química. A abordagem da temática envolve atividades lúdicas, jogos e aulas em sala de aula e em outros ambientes da escola. Os projetos são desenvolvidos à médio prazo em 3 (três) etapas. A introdução da Libras ocorre desde a primeira etapa, onde são desenvolvidas oficinas de Libras com um professor especialista e com a participação de membros de uma associação representante da comunidade surda do município de Paço do Lumiar. Para o desenvolvimento das oficinas utilizou-se como recursos didáticos o projetor de imagens, que permitiram a visualização da temática de química e de expressões do dia a dia na língua de sinais e um material de apoio previamente selecionado pelo docente de Libras. O desenvolvimento do projeto em suas etapas está descrito no cronograma a seguir: Na 1ª etapa foram realizadas oficinas e apresentações em Libras, debates, experimentos e apresentações artísticas; Na 2ª etapa foram realizados debates, experimentos, exposição de vídeos e apresentações artísticas; Na 3ª etapa foi realizada uma gincana com diversas atividades lúdicas e jogos em Libras e a avaliação do evento. As oficinas foram trabalhadas em Libras a fim de promover um aprofundamento de alguns dos sinais utilizados em química e permitir a realização de atividades voltadas para o projeto. Algumas provas priorizavam a formação técnica em datilologia (alfabeto em libras) possibilitando a criação de um canal de comunicação e aprendizagem de conceitos sobre a química do dia a dia, que conjuntamente, com a sinalização oportunizar um novo caminho para explorar o tema gerador. Foram aplicados questionários aos estudantes e, a partir das respostas, foram discutidos alguns resultados.
Resultado e discussão
Com o adendo das oficinas de Libras nos projetos de Química, o diálogo, as
explicações e algumas apresentações de cunho específico da área de química
passaram a ser trabalhados em língua de sinais, tanto dentro quanto fora da
escola. Tal panorama é confirmado na pesquisa de avaliação do projeto, onde
93% dos alunos responderam que a utilização da Libras extrapolou os limites
da sala de aula. A comunicação por meio da Libras, nesse caso, possibilitou
o contato, mesmo que inicial com essa língua, o que é importante
considerando-se que, segundo Quadros e Schmledt (2006), em diversos contexto
escolares brasileiros, professores “desconhecem libras e a escola não tem
estrutura ou recursos humanos para garantir aos alunos surdos o direito à
educação, à comunicação e à informação” (p. 19). O gráfico apresentado na
Figura 1 mostra os resultados quando se perguntou aos alunos: em que
ambientes a língua de sinais foi importante para ampliar seus conhecimentos.
Percebeu-se que os conhecimentos adquiridos eram facilmente socializados,
pois a sinalização começou a ser algo inerente à comunicação dos discentes.
Esses conhecimentos eram validados em encontros com membros de uma
comunidade surda onde puderam exercitar a Libras conhecendo um pouco mais de
sua estrutura e importância. Com realização dos projetos de química, os
alunos, nessa escola, sempre alcançavam melhores desempenhos escolares,
pois, além de ser um estímulo ao despertar do interesse dos estudantes, os
projetos também passaram a ser uma ferramenta para construção do saber. Tal
perspectiva é corroborada por Silva et al (2008) quando apontam que “O uso
da pedagogia de projetos no tratamento de conceitos químicos possibilitou
uma comunicação e participação mais efetiva em sala de aula dos alunos
envolvidos” (p. 170).
Importância da Libras em ambientes diversos
Conclusões
A partir dos projetos de química no CEFRAN, buscou-se de forma lúdica, envolvente e atraente trabalhar as aulas, de tal maneira que os alunos pudessem vivenciar no seu dia a dia alguns conceitos práticos sobre a química. A Libras, nesse quesito permitiu, não somente a inserção de uma língua dentro de ambiente escolar, mas possibilitou também uma rota alternativa para a aquisição do conteúdo de química e sobre as questões de diversidade do aprender. Nesse sentido, a Libras em sala de aula abre espaço para uma aprendizagem onde a socialização do conhecimento torna-se abrangente e significativa.
Agradecimentos
Ao Centro Educacional São Francisco de Assis - CEFRAN, e a todos os alunos que participaram dos Projetos de Química.
Referências
QUADROS, Ronice Müller de. Idéias para ensinar português para alunos surdos/ Ronice Muller Quadros, Magali L. P. Schmiedt. – Brasília : MEC, SEESP, 2006.
SILVA, P.B; BEZERRA, V. S; GREGO, A; SOUZA, H. A. Pedagogia de Projetos no Ensino de Química - O Caminho das Águas na Região Metropolitana do Recife: dos Mananciais ao Reaproveitamento dos Esgotos. Química Nova na Escola, São Paulo, n.29, agosto, 2008.
Thomas, J.W. (1998). Project-based learning: Overview (Ensino com abordagem de projeto: visão geral). Novato, Califórnia: Instituto Buck para Educação.