ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Fonseca, W.R.S. (ILES/ULBRA) ; Gomides, J.N. (ILES/ULBRA) ; Marquez, S.C. (ILES/ULBRA) ; Borges, W.S. (ILES/ULBRA)
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo analisar as questões de Química das provas de vestibulares aplicadas entre os anos de 2009 e 2011, em duas Instituições públicas de Ensino Superior, sendo uma do estado de Goiás (Universidade A), e outra do Estado de Minas Gerais (Universidade B), relacionando-as ao grau de contextualização dessas questões com o cotidiano do aluno. O estudo deu-se a partir da pesquisa documental quantitativa, como uma das formas metodológicas de levantamento de dados. De acordo com os dados obtidos nas análises realizadas observou-se um total de vinte e quatro (24) conteúdos de Química, no que se refere à contextualização, apresentou 68,75% de questões contextualizadas, contra 31,25% que não apresentaram contextualização.
Palavras chaves
Ensino Médio; Avaliação; Contextualização
Introdução
A Química, como disciplina escolar, pode ser um instrumento de formação humana, meio de interpretar o mundo e intervir na realidade. Há sugestões de que os conteúdos dessa disciplina sejam desenvolvidos de modo que o aluno reconheça e compreenda, de maneira integrada e significativa, tanto os processos químicos em si, quanto a construção de um conhecimento científico, em estreita relação com aplicações e implicações tecnológicas e ambientais (BRASIL, 2006). A educação desenvolvida no Ensino Médio, na concepção de Amauro (2010), desempenha função primordial para o sucesso dos alunos nos concursos seletivos para o Ensino Superior, logo, através desse exame de seleção, podem-se levantar as deficiências de aprendizagem e, indiretamente, das práticas de ensino desse nível em que os vestibulandos se encontram. Norteando as orientações educacionais propostas, há necessidade de os exames vestibulares contemplarem, uma formação que exige uma metodologia de aprendizado que seja compatível, para que os alunos possam desenvolver especificidades, destacando o ato de comunicar, argumentar, defrontar com problemas, compreendendo-os e enfrentando-os, e participando de um convívio social que lhes permitirão oportunidades de se realizar como cidadãos, fazendo escolhas e tomando gosto pelo conhecimento (BRASIL, 2006). Nesse estudo, objetivou-se analisar as questões de Química das provas de vestibulares aplicadas entre os anos de 2009 e 2011, em duas Instituições públicas de Ensino Superior, sendo uma do estado de Goiás (Universidade A), e outra do Estado de Minas Gerais (Universidade B), relacionando-as ao grau de contextualização dessas questões com o cotidiano do aluno.
Material e métodos
A produção deste estudo deu-se através da pesquisa documental quantitativa, como uma das formas metodológicas de levantamento de dados, pois se trata de recolher informação em várias fontes, como livros didáticos de Química do Ensino Médio, revistas, artigos científicos, publicações avulsas e imprensa escrita, levando o pesquisador a interagir com toda obra relativa a um dado assunto por ele investigado, permitindo-lhe analisar sua pesquisa e manipular informações necessárias ao estudo científico (LAKATOS; MARCONI, 2001). Para tanto, foram analisadas as questões de Química de provas elaboradas nos vestibulares entre os anos de 2009 a 2011 de duas Universidades Federais, sendo uma no Estado de Goiás, (Universidade A) e outra no Estado de Minas Gerais (Universidade B). Os critérios utilizados na avaliação das provas foram os conteúdos e a contextualização das questões. No que se refere à contextualização, buscou-se determinar se as questões exigiriam do aluno algum grau de memorização para conseguir respondê-las, ou seja, se os alunos precisariam ter memorizado algum tipo de lei, regras ou fórmulas, para aplicar as teorias.
Resultado e discussão
O desenvolvimento do trabalho se baseou na pesquisa documental, sendo
analisadas as provas dos vestibulares de duas universidades federais entre
os anos de 2009 e 2011, sendo vistoriados os últimos 4 (quatro) vestibulares
promovidos pelas instituições. Analisaram-se apenas os processos seletivos
em sua 1° fase, perfazendo, dessa forma, um total de 80 questões analisadas.
O motivo pelo qual foram realizadas essas análises no período de 2009 a 2011
foi em virtude de uma das Instituições de Ensino não realizar o processo
seletivo em um determinado semestre, utilizando dessa forma, o resultado do
Enem como processo seletivo.
Para análise das provas dos vestibulares, observou-se 24 (vinte e quatro)
conteúdos da área da Química, além de questões de conhecimentos gerais. O
gráfico 1 (A, B) apresenta os conteúdos que foram mais destacados, sendo os
conteúdos de reações químicas com 10 (dez) questões; compostos orgânicos com
7 (sete); eletroquímica com 6 (seis); química ambiental com 5 (cinco);
funções orgânicas, ácidos e bases, propriedades coligativas e modelos
atômicos com 4 (quatro), polímeros, hidrocarbonetos, propriedades físicas,
equilíbrio iônico, concentração de soluções, substâncias químicas e reações
nucleares com 3 (três) questões cada; além de 4 (quatro) questões
relacionadas a conhecimentos gerais. Os demais conteúdos não evidenciados
foram o que se apresentaram menos de 2 vezes nas provas analisadas das
Universidades A e B.
Sobre, os conteúdos que menos aparecem nesses processos seletivos, existe
uma maior probabilidade de não serem vistos mais aprofundados no ensino
médio, visto a influência que os vestibulares exercem no ensino aplicado
nesse nível, além de tempo dos professores, que muitas vezes precisam
acelerar o conteúdo para que possam cumprir com sua programação curricular,
acarretando dessa forma para um ensino de baixa eficácia.
No que se refere a análise realizadas nas provas de vestibulares sobre as
disciplinas mais englobadas nesses processos, observa-se que, das 80
questões das provas de vestibular das duas Universidades, 40 estão
relacionadas à área da Química Geral, o que corresponde a 50% das questões,
sendo 19 apresentadas pela Universidade A e 21 apresentadas pela
Universidade B. 24 questões se referem à Química Orgânica, divididos em
funções orgânicas, compostos orgânicos, hidrocarbonetos e reações orgânicas,
a qual a Universidade A apresentou um maior índice com 13 questões contra 11
questões contidas nas provas da Universidade B, e, por fim, 16 questões
foram relacionadas à Físico-Química, sendo 8 questões para cada
Universidade.
Diante dessa realidade, pode-se levantar o questionamento de como está sendo
ministrado o ensino de Físico-Química no Ensino Médio, e qual o
aprofundamento os professores dessa área oferecem aos seus educandos, visto
que essas 16 questões, representa apenas 20% das questões abordadas nesses
vestibulares, num total de 80 questões, onde foi possível observar apenas os
seguintes conteúdos referentes a essa disciplina, sendo eles eletroquímica,
propriedades coligativas, concentração de soluções e reações nucleares.
Em face a esta realidade, se faz oportuno ressaltar a referencia que
Maldaner (2006) faz a respeito do vestibular, onde esse exerce uma grande
influência nos conteúdos desenvolvidos no Ensino Médio, sendo ele, a
principal referencia na hora de decidir sobre qual programa de ensino
desenvolver para esse nível.
Nesse direcionamento, vamos de encontro com o que foi exposto por Silva et
al (2010), que se refere à educação promovida no Ensino Médio. Essa não
cumpre com sua função primordial, e sim, uma predominância na preparação dos
educandos para os processos seletivos, ou seja, a possibilidade de um
professor trabalhar apenas esses conteúdos são maiores do que aprofundar num
conteúdo que não é cobrado nesses exames, dando, dessa forma, um
direcionamento ao ensino aplicado.
Outro fator relevante observado refere-se a contextualização das questões e
o grau de memorização que o vestibulando precisaria ter para responder
corretamente as questões, sendo observado nessa análise se as questões
apresentavam pequenos textos como trechos de jornais, livros e revistas,
charges, figuras e se haviam alguma relação com o cotidiano. Conforme
análise realizada das 80 questões analisadas das duas Instituições de
ensino, 68,75% são contextualizadas, contra 31,25% que não apresentaram
contextualização.
Essas questões não contextualizadas estão em desacordo ao que é proposto
pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (BRASIL, 1996), pontuando como uma
finalidade da educação no Ensino Médio quando tenta buscar o aprimoramento
do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Porém, se
essa forma de pensar estiver direcionada também para os vestibulares,
certamente o Ensino Médio conseguirá promover essa finalidade, no entanto,
se não houver uma mudança na elaboração dessas questões nas provas de
vestibulares, correremos o risco desses processos seletivos continuarem
direcionando o ensino aplicado no nível médio, conforme evidenciado por
Silva et al (1986), a qual salienta que o aluno aprende apenas conteúdos
isolados e memorizados, visando somente às questões, típicas do vestibular.
Análise das questões contextualizadas na Universidade A e B.
Análises dos conteúdos das provas dos vestibulares.
Conclusões
Nas análises realizadas no presente trabalho, foi possível observar os conteúdos classificados dentro da disciplina de Química, a contextualização e a memorização, sendo que desses pontos, os mais impactantes referem-se a contextualização e à memorização, pois quando se fala em questões memorizadas, tanto nos livros quanto nas provas de vestibulares, o pensamento é direcionado para uma prática educacional tradicionalista, o que, em nosso tempo, contraria uma grande parte de pesquisadores na área de ensino e até mesmo as tendências pedagógicas. Em face desse resultado, pode-se afirmar que a Universidade B, caminha de acordo com que é proposto pela Lei de Diretrizes e Bases, visto que a contextualização vai de encontro com o que é a finalidade para o Ensino Médio, no que se refere a formação ética, desenvolvimento intelectual e formação para a vida.
Agradecimentos
Referências
AMAURO, Nicéa Quintino. Os concursos vestibulares das universidades estaduais paulistas e o ensino de Química no nível médio. 2010, 133f. Tese (Doutorado em Ciências) – Instituto de Química de São Carlos, USP, São Carlos, 2010. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/75/75131/tde-24032011-084717/pt-br.php>. Acesso: 12 jun. 2015.
BRASIL, Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Básica (SEB). Orientações curriculares para o ensino médio (OCEM). Brasília: MEC/SEB, v. 2, 2006.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
MALDANER, Otavio Aloisio; BAZZAN, Alessandro Callai, LAUXEN, Marla Tânia. Reorganização dos Conteúdos de Química no Ensino Médio a partir do Desenvolvimento do Currículo por Sucessivas Situações de Estudo. XIII Encontro Nacional de Ensino de Química, Campinas: 2006. Disponível em: <http://www.projetos.unijui.edu.br/gipec/sitestudo/documentos/eneq_trab_conmpl_marla_ultima_vers_o.pdf> Acesso em 01 de junho de 2015.
SILVA, Camila Silveira et al. Questões de química no concurso vestibular da Unesp: Desempenho dos Estudantes e Conceitos Exigidos nas provas. Química Nova na Escola. Vol.32. n.1, p.14-21, fev. 2010.