ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Santiago, J.C.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Maia, M.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Santos, V.L. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)
Resumo
O consumo de chás medicinais tem se intensificado devido a crença de que o natural não prejudica a saúde. No entanto, o consumo indiscriminado de chás podem expor o consumidor a sérios riscos de saúde, devido ao desconhecimento na dosagem adequada e/ou a presença de determinas substâncias tóxicas. Apoiados na ideia de que o ensino de química tem por objetivo auxiliar o aluno na tomada de decisões conscientes, objetivou-se com esse trabalho ensinar a química dos chás e orientar os alunos do Ensino Médio sobre as possíveis adversidades geradas pelo consumo indiscriminado ou sem orientação de chás. Os dados coletados revelam que os alunos consumiam chás sem orientação alguma, mas que após a atividade em sala de aula, passarão a buscar mais informações sobre o chá que optarem por consumir.
Palavras chaves
Concepções Discentes; Chás; Química Orgânica
Introdução
O chá é uma das bebidas mais consumidas do mundo. O aroma e o sabor agradável são características que contribuíram para a popularização dessa bebida, mas é devido às suas propriedades medicinais que esta bebida se espalhou pelas diversas culturas. As propriedades medicinais dos chás devem- se à presença, em sua composição química, de compostos biologicamente ativos como: flavonoides, catequinas, polifenóis, alcaloides, vitaminas e sais minerais (BRAIBANTE et al., 2014). No entanto, Silva, Almeida e Rocha (2010) alertam que o consumo indiscriminado de chás medicinais podem expor um indivíduo a sérios riscos de saúde, devido aos excessos na dosagem e/ou a presença de determinadas substâncias tóxicas em algumas plantas medicinais. Por estar comumente presente no cotidiano dos alunos, o chá torna-se uma temática importante de ser utilizada para promoção do conhecimento químico. Os autores Santos e Schnetzler (1996, p. 28) afirmam que “a função do ensino de química deve ser a de desenvolver a capacidade de tomada de decisão, o que implica a necessidade de vinculação do conteúdo trabalhado com o contexto social em que o aluno está inserido”. Nessa perspectiva, Chassot (2007) considera que os saberes populares podem ser usados como saberes escolares, tornando o ensino de química mais significativo. Com o objetivo de orientar os alunos do Ensino Médio sobre os riscos do consumo indiscriminado de chás, realizou-se uma aula expositiva dialógica para obtenção de conhecimento químico sobre os chás medicinais mais consumidos pela sociedade paraense. A relevância sociocultural dessa pesquisa destaca- se no estabelecimento de um elo entre o conhecimento do cotidiano do aluno e o conhecimento científico, possibilitando assim, a capacidade de tomada de decisões conscientes.
Material e métodos
Esta pesquisa iniciou-se com um levantamento bibliográfico sobre os chás medicinais, explorando-se suas estruturas químicas e suas propriedades medicinais, seguida de atividade de campo. A amostra computou com 28 alunos do Ensino Médio de uma Escola Pública da cidade de Ananindeua/PA, e a coleta de dados ocorreu no mês de junho de 2015, mediante a aplicação de um questionário antes e depois da realização de uma aula expositiva dialógica. A atividade ocorreu em três etapas. A primeira etapa consistiu na aplicação de um questionário contendo 4 perguntas, sendo duas abertas e duas fechadas, que tratavam das seguintes questões: Você conhece a química dos chás? Quais tipos de chás você costuma consumir? Para quais tipos de indicações você costuma consumir chás? Você conhece ou já sentiu algum efeito colateral por ter consumido algum tipo de chá? Com base nas respostas dos alunos, foram escolhidos 3 tipos de chás para serem trabalhados em uma aula expositiva dialógica, sendo eles: capim-santo, hortelã e boldo (segunda etapa). A terceira etapa consistiu na aplicação de um segundo questionário afim de verificar a compreensão dos alunos sobre o consumo de chás medicinais, possíveis mudanças de hábitos, além de averiguar questões intrínsecas ao ensino de química relacionado ao cotidiano do aluno. Os dados foram analisados qualitativamente, com base nas respostas dadas as questões abertas, e também foi feita análise por meio de estatística descritiva, para o estabelecimento de médias e frequências, teste de normalidade de Shapiro- Wilk e teste t de Student.
Resultado e discussão
Ao serem questionados se consomem chás medicinais com frequência, 89% dos
alunos afirmaram que “sim”. Em seguida, foi perguntado quais os tipos de
chás que costumam consumir, observamos que os mais citados foram: capim-
santo, hortelã e boldo (Fig. 1). Quando questionados sobre possíveis efeitos
colaterais que tenham sentido, todos os alunos afirmaram não terem
conhecimento sobre qualquer tipo de reação adversa. Ainda que os alunos
tenham relatado não terem sofrido nenhum tipo de efeito colateral por
consumirem chás, optou-se por escolher os três tipos de chás mais citados
para a obtenção de conhecimento químico e orientação desses alunos quanto
aos riscos do consumo indiscriminado de chás medicinais. Após a aula
expositiva dialógica, os alunos foram questionados se: Qual será sua postura
após ter adquirido conhecimento químico sobre chás? 100% dos alunos
afirmaram que serão mais cautelosos ao optarem por consumir chás para fins
terápicos, conforme diz A1: “Agora serei mais atenciosa na escolha do chá
que irei consumir, já que alguns chás podem provocar efeitos indesejáveis se
consumido indiscriminadamente”. Esse relato corrobora com Santos e
Schnetzler (1996), visto que o ensino de química promoveu, nesse caso, a
capacidade de tomar decisões fundamentadas em informações e ponderadas as
diversas consequências decorrentes de tal posicionamento. Quanto ao
conhecimento químico sobre chás antes e após a aula, evidenciou-se uma
melhora significativa na nota dos alunos, tanto é que aplicado o teste de
Shapiro-Wilk, o valor foi de p > 0,06, indicando a normalidade dos
dados. Pareado com o teste de t de Student, registrou-se um valor de
p < 0,001, confirmando que há diferença significativa antes e depois
da aula.
Gráfico da porcentagem dos tipos de chás mais consumidos pelos alunos.
Conclusões
A temática “chás” contribuiu para que os alunos possam interpretar as situações do seu cotidiano por meio dos conteúdos químicos envolvidos. Constatou-se que os alunos, em sua maioria, consumiam chás medicinais na crença de que por serem naturais, não estariam colocando sua saúde em risco. No entanto, todos os alunos compreenderam que se o consumo de chás não for bem orientado, seus consumidores estarão sujeitos a contaminações, reações indesejáveis e interação entre efeitos de substâncias e com medicamentos regularizados.
Agradecimentos
Aos alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola de Ananindeua/PA pela participação voluntária nessa pesquisa.
Referências
BRAIBANTE, M. E. F.; SILVA, D.; BRAIBANTE, H. T. S.; PAZINATO, M. S. A Química dos chás. Revista Química Nova na Escola, v. 36, n. 3, p. 168 – 175, ago., 2014.
CHASSOT, A. Educação conSciência. 2. ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2007.
SANTOS, W. L.P.; SCHNETZLER, R. P. Função Social: O que significa ensino de química para formar o cidadão? Revista Química Nova na Escola, n. 4, p. 28 – 34, nov., 1996.
SILVA, R. P.; ALMEIDA, A. K. P.; ROCHA, F. A. G. Os riscos em potencial do uso indiscriminado de plantas medicinais. Anais do V Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica, Alagoas, 2010. Disponível em: <http://congressos.ifal.edu.br/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/676/407>. Acesso em: 13 jul., 2015.