ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Brito, E.B. (IFRJ) ; Figueira, K.L. (IFRJ) ; Rocha, M.R. (IFRJ) ; Gomes, S.S. (IFRJ) ; Silva, T.G. (IFRJ) ; Teodoro, T.L. (IFRJ) ; Rocha, M.A. (COLÉGIO ESTADUAL SARGENTO WOLFF) ; Lima, M.C. (IFRJ) ; Pinho, G.S. (IFRJ)
Resumo
Este trabalho apresenta uma metodologia que integra química e teatro, desenvolvida com alunos do 1º ano do ensino médio de uma escola do município de Belford Roxo- RJ. Nesse método, cada grupo escreveu, elaborou e interpretou cenas relacionando moléculas, exploradas nas ligações químicas, a questões sociais e ambientais. Os temas foram estudados e debatidos, para assim produzir os roteiros. Buscou-se através de um processo construtivo, demonstrar que a química ganha significado para o indivíduo quando este se apropria do conhecimento e consegue relacioná-lo à sua realidade.
Palavras chaves
ENSINO DE QUÍMICA; TEATRO; INTEGRAÇÃO DE SABERES
Introdução
Culturalmente, ciência e arte são consideradas áreas totalmente opostas que não podem caminhar juntas. A arte é vista como diversão ou entretenimento, enquanto a química é tida como uma ciência que está mergulhada em raciocínio e é metódica. O teatro é um elemento capaz de despertar de forma lúdica e simples questionamentos e reflexões sobre diversas áreas do conhecimento e suas influências na sociedade, dando aos alunos a possibilidade de fazer indagações e provocações sobre a ciência e sua ligação com questões sociais e econômicas (PALMA, 2006). A grande maioria dos alunos encara a química como “bicho de sete cabeças” e não veem como ela pode ser atrativa e interessante. É nessa perspectiva que o teatro pode ser utilizado como forma de desenvolver habilidades não só pessoais, como também de reflexão e crítica, por possuir como característica liberdade e permitir que o aluno não tenha medo de expor suas ideias e errar (HUIZINGA, 1980, KOUDELA, 2004), já que o diálogo e exposição de ideias permite a ampliação do senso crítico e da prática da cidadania (MONTENEGRO et al.,2005), necessários na interlocução de ciência e sociedade. Nesse sentido desenvolveu-se com quinze alunos do primeiro ano do turno matutino, uma atividade interligada ao teatro, nela quatro moléculas já estudadas no conteúdo de ligações químicas foram escolhidas pelos alunos, em seguida, eles verificaram a aplicabilidade de cada uma delas no cotidiano e então escreveram pequenas histórias baseadas em discussões acerca de cada tema. Após essa etapa, a interpretação foi feita, colocando a química em prática, integrando assim o conhecimento de mundo e vivência dos alunos e a arte que foi o elemento fundamental para a espontaneidade das falas e criação dos diálogos.
Material e métodos
A fim de modificar a impressão que se tem de que a química é algo assustador e de difícil compreensão, foi proposto aos alunos produzir uma encenação utilizando o conteúdo de ligações covalentes, onde eles escolheriam quatro moléculas dentre as que foram trabalhadas em atividades propostas pelo PIBID e a partir de então escreveriam quatro cenas, buscando sempre a relação do conteúdo com situações cotidianas. Essa atividade foi dividida em cinco etapas, sendo essas: divisão dos grupos, escolhas das moléculas, elaboração das cenas, gravação e apresentação do vídeo final com presença dos alunos e seus responsáveis. As moléculas escolhidas por eles foram: SO3 (trióxido de enxofre), C6H12O6 (glicose), H2O (água) e CO (monóxido de carbono), a partir delas foram trabalhados, respectivamente, os temas: chuva ácida, o alto consumo de açúcar, desperdício de água e morte por asfixia. Todas as etapas foram mediadas por bolsistas do PIBID e em cada momento eram levantadas discussões acerca dos temas. Cada cena produzida tinha o enfoque social e/ou ambiental que eles consideravam importante ser discutida. A produção das cenas teve apoio de um dos alunos, que faz parte de um grupo de teatro e foi fundamental para dar segurança à interpretação do restante do grupo. As gravações das cenas foram feitas dentro do espaço escolar que foi transformado em cenários para as interpretações dos alunos. Após todo o processo de gravação, o vídeo passou por edição e foi apresentado aos pais e alunos em um evento realizado pelo PIBID para marcar o encerramento das atividades do ano e para que os responsáveis conhecessem o projeto.
Resultado e discussão
Participaram dessa atividade quinze alunos do turno matutino. Essa
metodologia proporcionou a descoberta e o desenvolvimento de habilidades
que, talvez, não tivessem sido colocadas em prática até aquele momento, o
que pode ser evidenciado pela seguinte fala: - "incentivaram nossa
interpretação, me passaram experiência de pela primeira vez da minha vida
atuar em frente às câmeras."- aluno 1;
Enquanto desenvolviam a escrita dos textos e roteiros, que apresentavam um
caráter dramático ou rico em comédia, demonstraram sua criatividade ao
problematizar situações cotidianas e fazer uma leitura crítica sobre elas,
mostrando que muito além de compreender a química presente em cada situação,
eles também notaram que os saberes não são isolados. O comprometimento e
dedicação também foram notórios, pois os alunos no dia da gravação
permaneceram na escola até depois do horário - "Mãe, são 18:22 e eu estou
aqui no PIBID"- aluno 2.
As cenas elaboradas foram: 1) A química na chuva ácida - Nesta encenação uma
cidade vem sofrendo com a grande mortandade de peixes causada por chuvas
ácidas advindas de emissão de gases poluentes de outras regiões pela ação
dos ventos que tem chegado ao local. Nessa cena os personagens assistem ao
noticiário comentando o problema ambiental e discutem os males causados pelo
trióxido de enxofre. 2) Ingestão elevada de açúcar por crianças. De forma
cômica foi criticado o aumento do consumo vertiginoso de açúcar e suas
consequências. 3) Desperdício de água - A cena consiste em uma crítica ao
uso indiscriminado dos recursos hídricos. 4) Morte por asfixia - Esta cena
faz alusão aos casos de violência e/ou acidentes causados por sufocamento
com gás.
Toda essa atividade resultou na produção de um DVD, que teve suas cópias
distribuídas para os alunos participantes.
Alunos interpretando a cena sobre Chuva ácida.
Alunos interpretando a cena sobre conscientização do uso da água.
Conclusões
Esta atividade contribuiu positivamente na percepção da química como uma ciência integradora e importante para a construção do pensamento crítico e científico de fenômenos e eventos cotidianos, além de problematizar vários assuntos atuais como a crise da água em nosso país e a grande emissão de gases poluentes. Com o teatro foi criado um ambiente alegre, onde os conhecimentos químicos foram expostos de maneira lúdica e interativa, mostrando que arte e ciência podem se complementar.
Agradecimentos
Ao PIBID/CAPES Ao IFRJ Às coordenadoras Maria C. P. Lima, e Gabriela S. A. Pinho E ao supervisor Marcus A.G. Rocha
Referências
HUINZIGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento de cultura. São Paulo: Perspectiva, 1980.
KOUDELA, I. Jogos teatrais. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
MONTENEGRO, B. et. al. O papel do teatro na divulgação científica: a experiência da seara da ciência. Ciência & Cultura, v.57, n.4, p.31–32, 2005.
PALMA, C. Arte e ciência no palco. Entrevista concedida a Luisa Massarani e Carla Almeida. História, Ciências, Saúde, Manguinhos, v.13 (suplemento), p. 233-46, out.2006.