ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Moraes, P. (IFAM/CAMPUS MAUÉS) ; Cruz, F. (COLÉGIO BATISTA DE PARINTINS/SEDUC AM)
Resumo
A extração de pigmentos de espécies vegetais é uma prática bastante utilizada pelos índios da Amazônia para expressar suas crenças e sentimentos. A partir dessas observações da cultura amazônida, foi proposto pelo professor de Química do 3°ano do Ensino Médio, do Colégio Batista de Parintins a produção de tintas com matérias-primas naturais para o estudo de funções orgânicas. A prática foi desenvolvida de forma interdisciplinar e apresentada na Feira de Ciências da escola. Para o desenvolvimento da proposta foram coletados variedades de solos para produção da tinta e espécies vegetais que serviram como corantes naturais. Após a coleta de amostras foi realizado um estudo da estrutura e propriedades da matéria e em seguida, a produção da tinta com minério abundante na região de Parintins.
Palavras chaves
FUNÇÕES ORGÂNICAS; TINTAS NATURAIS; ENSINO-APRENDIZAGEM
Introdução
De acordo com os PCN, o ensino de química deve ser agregado a uma trilogia de adequação pedagógica fundada em contextualização, respeito ao desenvolvimento cognitivo e afetivo, desenvolvimento de competências e habilidades em consonância com os temas e conteúdos do ensino (1999, p 88). Na Amazônia é inesgotável a quantidade de exemplos que possibilitam aos educandos darem significado ao conhecimento científico sobre o tema funções orgânicas. O uso da terra da região e aglutinantes naturais como goma de polvilho, leite de fruta-pão para produzir a tinta e pigmentos de origem vegetal para fornecer a cor foi uma estratégia no ensino de química que estabeleceu a analogia entre o conteúdo funções orgânicas e o cotidiano do discente, facilitando o processo de ensino-aprendizagem pelo contato do tema com a cultura do povo parintinense. Nesse sentido, esse trabalho construiu e contextualizou verdadeiros significados, incorporando valores que explicam o cotidiano do discente e permitindo a aplicabilidade dos conceitos, leis e teorias com os fatos da sua cultura.
Material e métodos
Para o desenvolvimento dessa atividade, as turmas foram organizadas em grupos de 4 componentes e sob a orientação do professor foram a campo para coletar espécies vegetais e minerais para a produção da tinta. Coletada as amostras foram selecionadas sementes de urucum (Bixa orellana), argila e polvilho para produção da tinta natural e em seguida, toda matéria-prima foi exposta no laboratório de ciências da escola para pesquisa e estudo da sua estrutura molecular. Concluída a pesquisa, os alunos identificaram os grupos funcionais nas substâncias e apresentaram as seguintes informações: 1.As sementes do urucum conhecida como colorau, componente indissociável de inúmeros pratos da culinária de Parintins apresenta em predominância um carotenoide conhecido como bixina e essa possui uma cadeia isoprênica de 24 carbonos, contendo um ácido carboxílico e um éster metílico nas extremidades, perfazendo assim a fórmula molecular C25H30O4; 2. A argila é uma rocha sedimentar composta basicamente por silicato de alumínio hidratado, óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. Foram apresentadas as argilas com um maior teor de ferro-férrico, determinando uma cor avermelhada e laranja; 3.O polvilho de mandioca apresenta as propriedades de liga, estabilizante na retenção de líquido, engomagem e não possui sabor, nem odor característico, sem interferir no resultado final do produto. A próxima etapa foi o preparação das tintas, executada pelos próprios alunos, na área externa da escola. Várias amostras foram preparadas utilizarando argila, água, corantes naturais e o grude feito com a goma de tapioca.A tinta produzida foi utilizada para pintura dos trabalhos escolares, como maquetes e painéis apresentados na Feira de Ciências da escola.
Resultado e discussão
Foram produzidos várias amostras de tinta utilizando a argila, água e goma de tapioca. Na busca de variedades de cores foi acrescentado pigmentos de origem vegetal resultando uma tinta natural. Entretanto, como a tinta foi feita com polvilho tem aplicação somente em paredes nos interiores de ambientes que estejam secos e arejados. Os alunos foram além do planejado quando utilizaram outros pigmentos e aglutinantes que permitissem a aplicação da tinta em isopor e tecido para confeccionar trabalhos escolares que seriam apresentados na Feira de Ciências. Dessa forma os discentes foram instigados a questionar e participaram da prática que passou a ser dinâmica com um despertar para aprender funções orgânicas.
Conclusões
A atividade proporcionou uma alternativa prática, acessível e com o forte "apelo cotidiano" que possui a matéria-prima da região de Parintins-Amazonas, uma vez que a proximidade do dia-a-dia tende a prender as atenções e despertar interesses nos alunos pelo tema abordado em Química Orgânica. A produção de tintas naturais no ambiente escolar é uma estratégia de ensino-aprendizagem que atribuiu ludicamente conhecimentos científicos, funções orgânicas e conhecimentos culturais que perpassam épocas e valorizam hábitos, às vezes não conhecidos pelos nossos alunos.
Agradecimentos
Ao Colégio Batista de Parintins pelo apoio e incentivo a pesquisa e estudo de campo.
Referências
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília:1999.
RODRIGUES, Vanessa Machado Salvador. Utilização de Tintas Naturais em sala de Aula a partir de pigmentos e aglutinantes regionais. Dissertação (Mestrado) – Curso de Graduação e Licenciatura em Artes Visuais da UAB, Universidade Aberta de Brasília, 2011.
ARROIO, A.; HONÓRIO, K.; WEBER, K.; MELLO, P.; GAMBARDELLA, M.; SILVA, A. O show da química: motivando o interesse científico. Química Nova.v. 29, n. 1, 173-178, 2006.
CUNHA, A. M. O. Ensino de Ecologia em espaços não formais. III CLAE e IXCEB, 10 a 17 de Setembro de 2009, São Lourenço, MG