O ENSINO DOS CONCEITOS QUÍMICOS COM A PROBLEMATIZAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO QUÍMICA.

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ensino de Química

Autores

Pena, M.O.V. (SME) ; Gauche, R. (UNB)

Resumo

Esse trabalho fundamentou-se na construção dos conceitos básicos da química utilizando a problematização do fenômeno de combustão, diante das dificuldades dos professores de ciências atuantes nas Séries Finais do Ensino Fundamental. Durante os encontros foram discutidas suas concepções iniciais referentes aos conceitos químicos, bem como reflexões acerca dos desafios que envolvem o ensinar e aprender. Os resultados mostraram que os docentes possuem concepções alternativas para explicações de fenômenos, dificuldades associadas a estrutura atômica e com os conceitos básicos da química. A formação continuada para esses professores que se encontram em serviço é uma das formas de contribuir com a superação de deficiências na formação inicial e a busca de maior segurança na atuação docente.

Palavras chaves

Ensino ; Conceitos; Formação

Introdução

Esta pesquisa aborda o ensino de Química no nível Fundamental e os diversos desafios enfrentados pela maioria dos professores de Ciências, os quais são graduados em Biologia. Estes não tiveram formação inicial adequada envolvendo discussões aprofundadas a respeito dos conteúdos de Química. Nesse quesito, em suas palavras Paulo Freire (1996) aponta que, não é possível o professor ajudar o educando a superar sua ignorância se não supera permanentemente a sua. Não pode ensinar o que não sabe. (p. 96). Como estes professores já se encontram em serviço, objetivamos desenvolver uma proposta de formação continuada envolvendo a problematização de alguns fenômenos, para contribui com a compreensão desses conhecimentos, de sua respectiva linguagem conceitual de forma crítico-reflexivo. É incontestável que o ensino dos conceitos básicos de química envolva não apenas o conhecimento dos conteúdos, mas o saber explicar os fenômenos envolvidos, a criticidade a respeito de suas decisões em favor do desenvolvimento das aprendizagens dos educandos (SILVA e ARAÚJO4). As dificuldades relacionadas ao ensino e a aprendizagem de química perpassam não apenas pela memorização de alguns conhecimentos, mas a compreensão dos fenômenos que nos cercam que, esta ciência elabora através de modelos. Há de se compreender também que estes modelos não são cópias da realidade e sim representações utilizadas para facilitar através da visualização o entendimento dos fenômenos com suas propriedades peculiares. A reprodução das dificuldades dos professores contribui para as concepções alternativas de alunos e dificuldades de construção de modelos explicativos dos fenômenos analisados coerentes com o científico, ROSA E SCHENETZLER (1998). Nessa perspectiva, considerando as especificidades para o Ensino de da Química, cabe ao professor fazer as interlocuções necessárias para suscitar interações entre a aprendizagem dos alunos e os conhecimentos químicos apresentados. Esta pratica requer conhecimentos para dar significado aos conceitos que, em suas experiências com formação continuada de professores, Maldaner (2006, p. 45) alega que: “(...) é diferente saber os conteúdos em um contexto de Química, de sabê- los, em contexto de mediação pedagógica dentro do conhecimento químico”. Portanto, acreditamos ser de grande relevância atender as necessidades dos docentes em suas dificuldades para o desenvolvimento da autonomia como professores de ciências em relação ao ensino da Química para ir além do que os livros didáticos propõem. Para isto, é preciso relacionar de forma mais ampla e profunda os conhecimentos discorridos em sala de aula aos eventos da vida diária. Os dados foram coletados em um curso de formação continuada com 17 professores de Ciências do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Educação (RME) de Goiânia, onde a maioria era licenciada em Biologia (14). Desenvolvemos dinâmica de apresentação, problematização de vivências de situações de aprendizagens, atividades em grupos e discussões ampliadas.

Material e métodos

A metodologia utilizada neste trabalho consistiu em sequências propositivas de atividades problematizadas, de forma colaborativa e coletiva que, possibilitassem a (re) construção dos conceitos. No início foram proporcionadas situações de vivências para que expressassem suas concepções iniciais acerca dos conceitos básicos da Química, de forma individual e/ ou discutidas em duplas. Esses dados oportunizaram a investigação acerca de suas dificuldades e equívocos reproduzidos em sala de aula. Posteriormente, com a utilização do fenômeno de combustão os docentes foram solicitados a expressarem o entendimento do fenômeno observado (queima de um pedaço de magnésio: antes e depois). Ampliaram-se as discussões no grupo maior de forma que, cada participante pudesse expressar suas concepções e no decorrer das vivências com a busca de mediação dessas concepções através da problematização, serem capazes de perceberem os próprios disparates. Tais concepções conduziram a discussões e reflexão coletiva sobre a própria pratica, de modo a possibilitar a construção e reconstrução dos conceitos básicos de química. Tais ações contribuem para maior segurança e eficácia no desenvolvimento das atividades e também a qualidade das ações desenvolvidas com os alunos. Essa questão envolveu entendermos e interpretarmos as transformações ocorridas com na combustão, através da percepção da luz, a ‘fumaça’ e a cinza. Tais evidências nos possibilitou refletir acerca da linguagem química, sua representação que envolve as substâncias, as moléculas e átomos dos elementos.

Resultado e discussão

A proposta fundamentou na possibilidade de auto formação, no novo jeito de olhar e perceber as transformações, a (re) construção dos conceitos básicos da Química ao relacionar o fazer e o pensar através da problematização. A transformação química explicitada pela combustão de uma fita de magnésio oportunizou explicações e expressões microscópicas através de modelos e teorias sugerindo um olhar e estudo mais atento, criterioso e abrangente na busca de solução para as questões que se apresentaram. Tais explicações foram posteriormente, também mediadas em reflexões de situações presentes no cotidiano. Conforme registrado em Pimenta (2005) buscou-se não existir controle rígido a priori, procurando trabalhar com os professores e não sobre eles. Os docentes participantes informaram encontrar dificuldades em trabalhar com a Química, existindo ausência de clareza do que se trata essa ciência e insegurança em relação aos conceitos básicos conforme alguns trechos das concepções que, seguem: DP3 : “/.../ a Química estuda a estrutura invisível de todas as coisas existentes”. De inicio, a análise que se faz imprescindível é que o docente tenha concepções claras que a Química é uma ciência experimental que estuda as substâncias - o conhecimento de sua estrutura e propriedades. DP11, DP15: [...] sabemos que esse tema permite falar sobre substâncias, elementos químicos, átomos, mas sinceramente não sei como faria isso de modo que os alunos entendessem de forma clara [...]. As preocupações dos professores confirmam a insegurança diante dos conceitos químicos que, traduzem impedimento na construção do conhecimento, que ao professor também constitui uma limitação. Tais discussões propiciadas no coletivo colaboraram para o estimulo no processo de desenvolvimento de alguns conhecimentos e a visão de não se sentirem isolados em suas dificuldades. DP5: Átomo é a unidade extremamente reduzida formadora da matéria. DP6: Átomo é a menor unidade que forma a matéria. DP9 e DP12: Elementos químicos existem na natureza e juntos formam as moléculas que unidos formam as substâncias. Percebemos a presença de concepções alternativas de forma equivocada e por vezes baseadas nas definições dos livros didáticos. As concepções iniciais dos professores expressaram as deficiências na formação inicial e as dificuldades desses profissionais no trabalho com os conteúdos conceituais da química que, envolvem especificidades dessa área do conhecimento. Em relação ao que foi colocado por DP5 e DP6, nota-se equívocos quanto à concepção de átomo, certa confusão entre o que consisti ser o elemento e átomo. Nas considerações acerca do ensino dos conceitos básicos de Química utilizando como referência os estudos de Silva et al. (1988, 1989) verifica- se que substância é o que dá individualidade à matéria e permitem que diferenciemos um material do outro com suas propriedades específicas. As substâncias são formadas por partículas constituintes que denominamos átomos. As propriedades das substâncias são explicadas pelas interações entre esses átomos, que não são ‘a menor porção da matéria’. Designa-se elemento químico como “tipo de átomo caracterizado por um número atômico específico”. Analisando as expressões conceituais dos docentes, é notória a confusão na articulação das palavras, o que dificulta a organização do pensamento para a devida percepção dos conceitos, o que foi reconhecido pelos docentes. Partindo dessa premissa, as palavras utilizadas podem comprometer a organização do pensamento e o entendimento conceitual. VYGOTSKY (1998) aponta ser necessária a organização do pensamento para a devida compreensão ou construção intelectual de significado, que se constrói de forma processual. A organização do pensamento requer utilização adequada das palavras, as quais conferem entendimento. Sem a intenção de esgotar discussões pertinentes aponta-se para a importância do aprender a prender e da formação realizada com os professores em suas necessidades.

Conclusões

A proposta possibilitou a construção e a reconstrução de suas concepções conceituais através das discussões proporcionadas a cada atividade desenvolvida, bem como reflexões críticas acerca da formação inicial e continuada dos docentes que atuam no ensino dos conceitos básicos de química no nível Fundamental. O trabalho com os docentes oportunizou não se sentirem isolados em suas dificuldades, saber que outros compartilham dos mesmos entraves e que, juntos, poderiam buscar uma forma adequada de superá-los, rompendo com o ‘fazer por fazer’, o executar ‘mecanicamente e sem intencionalidade’ (LINHARES, 1989, p. 67). Por isso, é imprescindível reconhecer a importância do professor e de sua formação no processo de ensino, considerando que o professor faz parte da ação desta formação, sendo primordial dar-lhe voz em suas reais necessidades e não o considerar como mero executor de atividades. A conclusão da formação ocorreu com avaliações positivas e apontamentos de contribuição com as concepções conceituais básicas de Química e para estratégias metodológicas, na articulação com a prática docente, em termos profissionais e pessoais.

Agradecimentos

Agradeço a todos os docentes participantes da formação que contribuíram no desenvolvimento desse trabalho.

Referências

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LINHARES, C. A Escola e Seus Profissionais: Tradições e Contradições. Rio de Janeiro: Agir. 1989.
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MALDANER, O. A.; ZANON, L. B. e AUTH, M. A. Pesquisa sobre Educação em Ciências e Formação de Professores. In: SANTOS, F. M. T. dos e GRECA, I. M. (org.) A pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil e suas Metodologias. Ijuí: UNIJUÍ, 2006.
PIMENTA, S. G. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 521-539, set./dez. 2005.
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4SILVA, E. M. A. & ARAÚJO, C. M. Reflexão em Paulo Freire: Uma contribuição para a formação continuada de professores. V Colóquio Internacional Paulo Freire, Recife, 2005.
SILVA, R.R.; TOLENTINO, M.; FILHO, R. C. Rocha; TUNES, E. Ensino de conceitos de química. II. Matéria: um sistema conceitual quanto à sua forma de apresentação. Ciência e Cultura. Universidade Federal de São Carlos, v.38, n. 12, dez. 1986.
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VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.
______. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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