ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Alves de Abreu e Sousa, P. (UFPI) ; Rodrigues de Sousa, H. (UFPI)
Resumo
A muito tempo que a aprendizagem em química é focada na memorização, sendo necessário alternativas de incentivo para tornar eficaz a relação ensino- aprendizagem. Neste sentido, as ilustrações (charges, tirinhas, histórias em quadrinhos) podem estimular a prática da leitura, serem ferramentas para o desenvolvimento cognitivo e proporcionar a interação da teoria com a realidade. A pesquisa realizada avalia a importância das ilustrações em estimular a aprendizagem em química, os alunos foram avaliados por questionário baseado nas imagens. E os resultados comprovam que o interesse e aceitação da avaliação foram da totalidade da turma, o questionário serviu como avaliação diagnóstica, e pode ser desenvolvido como atividade extraclasse, sendo exemplo que aproxime a teoria da realidade.
Palavras chaves
Jogos Educativos; Ensino; Química
Introdução
Muitos alunos do Ensino Médio, consideram a química como uma ciência abstrata, pois não conseguem compreender a ideia no espaço tridimensional, dificultando consideravelmente o aprendizado, além de transmitir o conceito errôneo sobre o aprendizado de química ser meramente decorativo. Dessa maneira, é interessante que os professores da disciplina busquem alternativas didáticas que favoreçam a relação ensino-aprendizagem, revelando aos alunos que a química é uma ciência cujos conceitos e leis são consequência direta do comportamento da natureza (LIMA, et al. 1999). Tendo em vista essa dificuldade, Francisco Júnior (2010) empregou no ensino de química as Histórias em Quadrinho (HQs) como ferramenta no ensino de jovens e adultos (EJA). A história foi criada pelo professor e apresentada aos discentes para introduzir o assunto de densidade. Os estudantes leram, interpretaram e dramatizaram a história, logo o uso de ilustrações para o ensino de química é ferramenta de fácil aplicação, com alcance na rede pública e particular de ensino e para todas as faixas etárias. As ilustrações (charges, tirinhas, histórias em quadrinhos) além de estimular os estudantes à pratica da leitura, podem ser ferramenta de apoio no desenvolvimento cognitivo, estimulando a interação da teoria com a realidade. De forma lúdica, não só o conhecimento, mas o pensamento crítico pode ser instaurado e motivado no aluno. Para que as ilustrações sejam consideradas ferramentas de apoio metodológico é importante que o professor (educador) esteja capacitado para inserir a atividade de forma a complementar a teoria ministrada, elucidar o conteúdo, ilustrar. Assim, as ilustrações (quadrinhos e charges) abrem um novo leque para o ensino, sendo ferramenta de apoio eficaz pela oportunidade de construir o pensamento de uma maneira divertida, fundamentada na relação ensino-aprendizagem (FRANSCISCO JÚNIOR, 2010). No campo da Química, os alquimistas elaboraram um conjunto de códigos para disseminar o conhecimento da época. Atualmente há consenso acerca do fato de que as imagens são representações analógicas similares estruturalmente aquilo que representam, e que podem colaborar para a compreensão de conteúdos beneficiando as situações de aprendizagem. Para Johnson-Laird (1983) citado por Kiill (2009), as ilustrações são representações das características de um modelo espacial tridimensional ou cinemático subjacente, centrado no observador. De acordo com Sebata (2006), no meio científico, as imagens desempenham um papel de representação gráfica dos fenômenos, produzidas por meio da observação destes, que podem ser realizadas com ou sem instrumentos. Portanto, as imagens na ciência representam uma tentativa de explicação e de representação da realidade. Logo, as ilustrações podem expressar o conhecimento científico, ao estabelecer elos direto de compreensão entre as figuras e o conteúdo, sobretudo no campo da química, em que as imagens podem ser particularmente interessantes. Para Paselk (1994) as ilustrações podem desenvolver nos estudantes a habilidade de interpretar o fenômeno químico no nível molecular. Gibin e Ferreira (2013) apontam que o uso de imagens é relevante, pois facilita e estimula a retenção e a lembrança dos conceitos que foram aprendidos, visto que elas são mais facilmente lembradas do que as palavras. Assim, o seu uso em atividades didáticas é apropriado e deveria ser incentivado pelos professores. Os autores sugerem diferentes usos de ilustrações na prática pedagógica do ensino de química como, uso ilustrativo de imagens, uso da imagem como elemento mobilizador de um grupo em torno de um determinado assunto, como exercícios de aplicação e fixação de conceitos, como ferramenta de avaliação e uso em trabalhos interdisciplinares. Portanto, existem várias maneiras de utilizar as imagens na sala de aula e cabe ao professor adotar em sua prática o uso destas de acordo com os objetivos pedagógicos pretendidos. Sendo relevante para o ensino de química investigar as dificuldades apresentadas pelos alunos nas diferentes formas de representação, e como constroem seus modelos sobre os conceitos químicos. Conhecendo as representações internas dos estudantes, é possível propor metodologias de ensino adequadas que promovam uma evolução dos modelos ou conceitos para o que é cientificamente aceito. Diante do exposto, em relação ao potencial das imagens no ensino de química e o seu uso pedagógico pouco frequente, este trabalho foi realizado para obter a percepção dos estudantes sobre o uso de ilustrações como recurso auxiliar nas aulas de química. No qual, avaliou através de questionário formulado a partir ilustrações (charges e quadrinhos), a capacidade de interpretação e correlação do conteúdo com a imagem, resolução das questões e nível de interesse pela atividade. A avaliação foi realizada em turma do primeiro ano do ensino médio, de escola particular de Teresina-PI.
Material e métodos
Inicialmente foram realizadas buscas por charges/quadrinhos (em livros, revistas e internet) que se enquadrassem nos assuntos do primeiro ano do ensino médio. Foram selecionadas 12 ilustrações com conteúdo e proposta adequados para o trabalho, posteriormente desenvolvidas perguntas que envolvesse diretamente ou indiretamente o conteúdo da ilustração, onde foi realizado um estudo sobre o conteúdo da mesma a fim de determinar o grau de discussão e envolvimento para então desenvolver as questões de múltipla escolha. Conforme discutidos por Johnstone (1993; 2000) citado por Gibin e Ferreira (2013), as ilustrações devem ser relacionadas com o conteúdo abordando conceito ou fenômeno químico. Além disso, considerara necessidade de partir do conhecimento prévio e concreto dos alunos, iniciando-se pelo nível macroscópico para posteriormente ilustrar o fenômeno em discussão no nível submicroscópico. Os temas desenvolvidos para o questionário baseado nas ilustrações foram: Fenômenos Químicos, Tabela periódica, Eletronegatividade, Funções inorgânicas, Ligações químicas e Meio ambiente, cada tema com duas questões no questionário. A Escola particular do primeiro ano do ensino médio, continha duas turmas com aproximadamente 55 alunos, uma das turmas foi escolhida para responder ao questionário, logo 55 alunos realizaram o teste. Além disso, outro questionário para saber o interesse dos alunos por alternativas de aprendizagem também foi aplicado, em nível pessoal de interesse. Dessa forma, os alunos avaliaram a possível contribuição do uso das ilustrações para o aprendizado de conceitos químicos. Os instrumentos de coleta de dados foram dois questionários que apresentavam tanto questões dissertativas (pessoais) quanto objetivas (quadrinhos/charges). As questões foram corrigidas e estipuladas estatisticamente, os resultados foram confrontados com a literatura.
Resultado e discussão
De acordo com a literatura, a oportunidade de conciliar conteúdos de sala de
aula com ilustrações (charges, quadrinhos) é substancial, para Ferreira; Silva
(2011) discutem que a imagem, seja ela eternizada em pintura, desenho ou
fotografia, resultado da observação do real ou do imaginário, visualizada
manual ou eletronicamente, imóvel ou vibrante, é indispensável em qualquer
processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, é importante oferecer às
estudantes novas metodologias, maneiras de avaliar informam aos professores da
possibilidade de reconstruir as ações metodológicas e didáticas de ensino na
relação ensino-aprendizagem.
Neste sentido, foram realizadas indagações a respeito de cada ilustração e
realizada uma média dos alunos que atenderam aos requisitos básicos do
questionário, bem como, e interpretação das respostas.
Em relação ao questionário pessoal, no qual, verificou-se o interesse, gostos
e dificuldades sobre a disciplina, cerca de 80% dos estudantes não gostam e/ou
não tem afinidade com a química, a turma em sua totalidade descreveram que
sentem dificuldades na compreensão da disciplina. É possível que muitas dessas
dificuldades estejam relacionadas à falta de estabelecimento de relações entre
os níveis do conhecimento químico com a realidade como afirmam Gibin e
Ferreira (2013).
Quanto a atividade proposta de avaliação através de perguntas baseadas nas
ilustrações, os alunos revelaram entusiasmo ao conhecer a maneira que seriam
avaliados. Isso demonstra que os estudantes necessitam de novas metodologias
para serem motivados, para revelarem interesse pela disciplina química. Pois
quando questionados sobre a associação de imagens com o aprendizado na
química, 85% da turma declararam que fora da escola não fazem associação das
imagens presentes nos livros didáticos e apostilas, internet, televisão com o
que aprende em química, e os 15% que afirmaram associar a química fora da
escola declararam que o meio mais usual para correlacionar a ciência é a
internet. Logo, é possível inferir que os estudantes, de modo geral, não
relacionam o conteúdo escolar com o conhecimento cotidiano ou o proveniente de
outras formas de comunicação.
Uma expressiva parte dos alunos (65%) afirmou que sentem dificuldade para
realizarem a associação da teoria com a prática. O uso de imagens que
representam os níveis macroscópico e submicroscópico para um dado fenômeno ou
conceito químico pode auxiliar no estabelecimento da relação entre teoria e
prática pelos estudantes, ajudando o professor a superar essas dificuldades
(GIBIN; FERREIRA, 2013).
Sobre o questionário que envolvia a avaliação por ilustrações, foram
analisados os dados e estipulado estatisticamente o percentual de acerto,
Fenômenos Químicos (70% de acerto da turma), Tabela periódica (65%),
Eletronegatividade (35%), Funções inorgânicas (65%), Ligações químicas (45%) e
Meio ambiente (85%). Com o resultado é possível compreender que o questionário
também é ferramenta de avaliação diagnóstica, pois com esses dados os
professores poderiam estabelecer estratégias para solucionar os problemas da
baixa aprendizagem.
Sobre as ilustrações, é possível inferir pelo resultado estatístico que os
estudantes foram capazes de compreender o conteúdo químico trabalhado na
figura, bem como, discernir, pensar e buscar uma resposta para cada item.
Revelando que o uso de ilustrações como ferramenta de apoio metodológico é
interessante. O processo de ilustrar situações da química, interações no nível
macro/microscópico, a ciência relacionada com o cotidiano e com a alusão a
diversão (características da charge e quadrinhos) são fundamentais e podem ser
defendidos de acordo com a Lei e os Parâmetros (PCNs) que regem a educação, no
qual, descrevem que a contextualização do ensino (recursos que auxiliem no
entendimento do conteúdo) é pressuposto para uma melhor relação ensino-
aprendizagem. Para Warthar e Faljoni-Alário (2005) contextualizar é construir
significados e significados não são neutros, incorporam valores porque
explicitam o cotidiano, constroem compreensão de problemas do entorno social e
cultural, ou facilitam viver o processo da descoberta.
Dessa maneira, a inserção de novas ferramentas e materiais de apoio
metodológicos são de grande importância para tornar a relação ensino-
aprendizagem mais eficaz, visto que a aprendizagem de química se consolida
apenas memorização de informações. E as ilustrações (charges e quadrinhos)
podem ser utilizadas como instrumentos de avaliação diagnóstica, como apoio na
interpretação de reações e fenômenos químicos, como exemplos de conteúdos,
como atividades extraclasse, dando suporte para o conteúdo teórico ministrado
em sala de aula.
Conclusões
A maioria dos estudantes afirmou que possuíam dificuldade para associar a teoria com a prática, além disso, apresenta também dificuldade para imaginar o conteúdo ministrado. Dessa forma, o uso de ilustrações (charges e quadrinhos) que apresentam os diferentes níveis de representação do conhecimento químico pode auxiliar no estabelecimento de relações entre a teoria e a prática no processo de imaginar a química, tornando o processo de aprendizagem mais real do que a simples memorização. No questionário pessoal observou-se que cerca de 80% dos estudantes não gostam e/ou não tem afinidade com a química. E o questionário com as ilustrações com o objetivo que o estudante fosse capaz de determinar o conteúdo de cada tema, avaliar, formular ideia e propor uma resposta a questão, serviu como avaliação diagnóstica, o que permite o professor interagir e buscar estratégias para melhorar a aprendizagem. Além de ser instrumento para auxiliar na interpretação e facilitar o entendimento do conteúdo ministrado. Logo, é importante fornecer subsídios para a melhor formação dos estudantes do ensino médio, inovar é reconstruir, reescrever, possibilitar novas metodologias e didáticas que favoreçam a relação ensino-aprendizagem. O uso das ilustrações demonstrou ser ponto de discussão para valorizar a ciência química, a maioria dos alunos avaliados demonstram que medidas inovadoras despertam interesse dos estudantes, dessa maneira, a aprendizagem tornasse algo mais interdisciplinar, incentivo a análise de situações e a releitura das mesmas.
Agradecimentos
A Escola. A Universidade Federal do Piauí (UFPI). A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Referências
FRANCISCO JUNIOR, W. E. Estratégias de leitura e educação química. Química Nova na Escola, v.32, n. 4 p. 220-226, 2010.
FERREIRA, W. M.; SILVA, A. C. T.; As fotonovelas no ensino de química. Revista Química Nova na Escola, v. 33, n. 1, 2011.
GIBIN, G. B.; FERREIRA, L. H. A formação inicial em química baseada em conceitos representados por meio de modelos mentais. Química Nova, v. 33, n. 8, p. 1809-1814, 2013.
KIILL, K.B. Caracterização de imagens em livros didáticos e suas contribuições para o processo de significação do conceito de equilíbrio químico. 2009. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009.
JOHNSON-LAIRD, P.N. Mental models: towards a cognitive science of language, inference, and consciousness. Cambridge: Harvard University Press, 1983.
JOHNSTONE, A.H. The development of chemistry teaching. University Chemistry Education, v. 70, n. 9, p. 701-705, 1993.
______. Chemical education research: where from here?. University Chemistry Education, v. 4, n. 1, p. 34-38, 2000.
LIMA, M.B.; LIMA-NETO, P. Construção de modelos para ilustração de estruturas moleculares em aulas de Química. Química Nova, v. 22, n. 6, 1999.
PASELK, R.J. Visualization of the abstract in general chemistry. Journal of Chemical Education, v. 71, n. 3, p. 225-226, 1994.
SEBATA, C.E. Aprendendo a imaginar moléculas: uma proposta de ensino de geometria molecular. 2006. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, 2006.
WARTHA, E. J.; FALJONI-ALÁRIO, A. A contextualização no ensino de química através do livro didático. Química Nova na Escola, n. 22, 2005.