A QUÍMICA EM CORDEIS: UMA APRENDIZAGEM COLABORATIVA

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ensino de Química

Autores

Silva, W. (UECE) ; Lima, T. (SEDUC AM) ; Fernandes, M. (UFC)

Resumo

Um dos desafios dos professores de Química do ensino médio é levar o conteúdo de forma clara, objetiva de modo que os alunos tenham vontade de estudar essa matéria, que muitas vezes não é bem vinda pelos estudantes. Neste trabalho os alunos elaboraram cordéis com diversos assuntos de Química de modo que com suas rimas e levando a matéria para o seu cotidiano os alunos venham fixar o conteúdo, com maior facilidade ou mesmo minimizar as dificuldades em aprender o conteúdo de Química. O Trabalho foi realizado pelos alunos do terceiro ano, logo após feita uma comparação com as notas dos alunos participantes antes e depois da elaboração dos cordéis e o resultado foi o aumento das notas por esses alunos após a elaboração do cordéis.

Palavras chaves

Química; Literatura de Cordel; Ensino

Introdução

A literatura de cordel, como poesia popular, é uma das mais importantes expressões culturais da população nordestina, está presente nas feiras livres, praças e eventos populares. Esse singular meio de comunicação de massa, surgido na Península Ibérica, foi trazido para o Nordeste do Brasil pelo colonizador europeu, desenvolvendo-se no Ceará, especialmente na cidade de Juazeiro do Norte. São folhetos populares, escritos e impressos com ilustrações nas capas; eram dependurados em barbantes para venda em locais públicos, daí a sua denominação. Desde que surgiram os primeiros folhetos impressos, no último quartel do século XIX, a literatura de cordel tem sido uma poderosa ferramenta de alfabetização e incentivo à leitura para as populações carentes do Nordeste. Diante do problema educacional que o nosso país enfrenta, é preocupante o crescente desinteresse e a passividade dos alunos em sala de aula, onde se percebe certo distanciamento entre a realidade proposta pelos livros didáticos e a realidade dos alunos. Pode-se promover essa aproximação por meio da Literatura de Cordel, que tem um enorme potencial didático e o poder de aliar-se ao processo ensino- aprendizagem de forma que se consiga revitalizar o gosto pela leitura. Além do mais, o Cordel pode ser utilizado como instrumento de baixo custo para a divulgação científica, capaz de atingir diversos segmentos sociais, por meio da utilização de rimas que atraem e tornam a leitura mais agradável e prazerosa sobre os diversos temas possíveis.São notórias as dificuldades no processo de ensino-aprendizagem de Química. Os professores encontram-se atrelados a uma metodologia tradicional e os alunos costumam ter aversão aos conteúdos desta disciplina, por considerá-los de difícil compreensão. Isso nos leva a uma busca incessante por alternativas que possam reverter ou modificar essa realidade, para tanto, muitos estudos têm sido realizados, com o objetivo de encontrar essas alternativas que possam melhorar o ensino de Química.Uma das grandes barreiras no aprendizado de Química é a dificuldade de correlacionar os conceitos vistos em aulas com o cotidiano, a abstração desses conteúdos e a resistência deles à disciplina. Diante deste contexto requerem-se mudanças nas metodologias utilizadas pelos professores desta área, visto que, são apontadas como o principal motivo do desinteresse e pouco aprendizado dos alunos.Devido a tantas dificuldades, citadas, desenvolvemos esse projeto, de forma alternativa, com a Literatura de Cordel para o ensino de Química com alunos do 3º Ano da Escola de Ensino Fundamental e Médio Beni Carvalho, a fim de minimizar suas dificuldades em relação ao conteúdo de Química aborda nessa série.

Material e métodos

A ideia do projeto é a elaboração de cordéis, produzidos pelos próprios alunos como forma de colaboração no processo de ensino-aprendizagem. A utilização sempre de novas tecnologias, vem a somar e sempre consegue ganhar a atenção dos alunos. Uma escola sem atração faz com que aprendizagem do aluno continue crescendo em passos lentos.Projeto realizado com alunos do ensino médio da EEFM Beni Carvalho, com turmas de segundo e terceiros anos do Ensino Médio, com uma média de 38 alunos em cada turma. No inicio seria lançada a proposta de serem feitos esses cordéis para elaborar um novo material para ajudar no entendimento dos conteúdos de química aos alunos. Houve o sorteio dos conteúdos para o começo das leituras sobre os assuntos. Os assuntos que foram sorteados eram conteúdos que são trabalhados nas suas respectivas séries e outros conteúdos interdisciplinares. Conteúdos que terão sua ligação também com o cotidiano a fim de dar uma visão crítica ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) já que é a base de trabalhado pelo mesmo. A divisão dos assuntos foi definida pela quantidade de grupos formados nas respectivas salas de aula. Grupos que tiveram em sua quantidade, um mínimo de 4 e máximo de 6 integrantes. Os conteúdos então trabalhados pela turmas foram os seguintes temas: Termoquímica, Cinética Química, Soluções, Tabela Periódica, Química em Casa e Elementos Químicos.Logo após foi trabalhada a elaboração de xilogravuras para a execução dos trabalhos. A xilogravura são as figuras colocadas nas capas dos cordéis e tais imagens podem ser obtidas por uma simples técnica de fabricação que imita a xilogravura. Com o uso de bandejas de isopor (bandejas de frios que são usadas em supermercados), pincel, tintas, rolo de espuma, palitos de madeira ou lápis. Ao término dessa fase organização e produção do material foi feito a leitura dos cordéis em sala de aula, como uma forma de valorizar os trabalhos das equipes. Trabalhos esses que foram revistos, corrigidos, para uma melhor organização e elaboração de materiais alternativos para o uso na biblioteca da escola como livretos formados e doados pelos alunos.

Resultado e discussão

Com os cordéis elaborados os alunos começaram a expor em sala de aula, de modo que os mesmos contextualizassem o assunto ou assuntos abordados no cordel.O estudo dos gases foi um dos assuntos abordado no cordel, no caso em particular a pressão gasosa, foi revisado alguns conceitos dos gases, tais como pressão, temperatura e volume. A lei de Boyle, afirma que: “O volume de certa quantidade fixa de um gás mantido à temperatura constante é inversamente proporcional à pressão”. Quando duas medidas são inversamente proporcionais, uma torna-se menor à medida que a outra se torna maior. A lei de Boyle pode ser expressa matematicamente como: V = constante x 1/P A Lei de Charles afirma que: o volume de certa quantidade fixa de gás à pressão constante aumenta linearmente com a temperatura. V = k . T Abaixo segue um pequeno trecho do cordel elaborado pelos alunos. [...]Queria comida rápida Fiz arroz e feijão Tudo saiu rapidinho Graças à panela de pressão A temperatura alta Acelera a fermentação Processo muito usando Na fabricação do meu pão A liberação de gás carbônico É resultado da reação. Sobre a história da Tabela Periódica, foi discutida as várias tentativas de se elaborar uma tabela capaz de organizar os elementos em ordem de suas propriedades, dos vários cientistas que tentaram de algumas forma estabelecer essa relação até Mendeleev. Quanto a organização dos elementos na Tabela, foi discutido as famílias e o períodos, foi discutido da seguinte forma, os elementos do mesmo grupo têm o mesmo número de elétrons na camada de valência (camada mais externa). Assim, os elementos do mesmo grupo possuem comportamento químico semelhante. Existem 18 grupos sendo que o elemento químico hidrogênio é o único que não se enquadra em nenhuma família e está localizado em sua posição apenas por ter número atômico igual a 1, isto é, como tem apenas um elétron na última camada, foi colocado no Grupo 1, mesmo sem ser um metal. Dessa forma podemos explicar o motivo de o elemento hidrogênio ter número atômico 1, não ser metal e está a cima da família 1A, onde os alunos, tinham em mente que o elemento hidrogênio era um elemento dessa família, dessa forma foram abordados todas as famílias do elemento representativos. Cada fila horizontal da tabela periódica constitui o que chamamos período ou série de elementos.Os elementos de um mesmo período têm o mesmo número de camadas eletrônicas. Existem sete períodos, cada um correspondendo a uma das camadas eletrônicas, então a partir do conceito de período, podemos explicar, revisar, o diagrama de Linus Pauling, fazendo distribuições eletrônicas para entendermos como encontrar um período e uma família de um elemento na tabela Periódica. [...]Dos elementos vem a inspiração Para a gente poder explicar A criação de uma tabela Importante para se estudar Aprendendo com ela A vida vai facilitar . Aprendendo com a tabela Você fica informado Conhece os elementos E onde foram colocados É só presta atenção E ser bem disciplinado Foi através de um quebra-cabeça Que Mendeleyev formou A primeira tabela periódica Que ele tanto sonhou Colocou os elementos em ordem E a tabela apresentou. Acima estão representados dois cordéis apresentados pelos alunos em assuntos distintos ministrados no Ensino Médio. Depois da análise e discussão dos cordéis, segue os gráficos com as porcentagens das notas das séries em que os alunos participaram da pesquisa, o trabalho tem como um dos objetivos melhorar os rendimentos dos alunos da E.E.F.M BENI CARVALHO, mostrados nos gráficos abaixo.No 2º Ano A temos um aumento bastante considerável em relação ao aumento das notas, cerca de 61,6% dos alunos tiveram aumentos de suas notas e 33,3% não acompanharam o ritmo dos demais alunos. A pequena porcentagem deve-se aos alunos que por algum motivo que, não revelados por eles, não quiseram participar da pesquisa assim como nas demais turmas. Assim como no 2º Ano A, a turma do 2ºAno C, também, teve um aumento considerável em relação as notas dos alunos, onde 61,6% dos alunos tiveram aumento em seus rendimentos e 33,3% não obtiveram o mesmo ritmo dos demais alunos.No gráfico a seguir estão relacionados as porcentagens, tomando como base o aumento das notas dos alunos em 3 séries de terceiros anos, 3ºAno A, 3ºAno B e 3ºAno C, como mostra o gráfico 3, a série que teve um maior desempenho foi o 3ºAno A com 49% de seus alunos com melhora de médias, o 3ºAno B com 36% e o 3º Ano C com 14%, o 3ºAno C foi a série onde os alunos tiveram maior rejeição em relação a pesquisa.







Conclusões

Podemos perceber que o cordel contribui de maneira significativa com o processo ensino-aprendizagem, vendo que sua utilização contribui com a escrita e com a oralidade de nossos alunos. A perspectiva de novas tecnologias em sala de aula só vem a somar, mesmo sabendo de inúmeras dificuldades em que se é lecionar e inovar no ensino público. Têm-se os cordéis bem contextualizados, onde os alunos conseguiram transmitir em versos tais temas ligando bem com a química e a transversalidade. A rima no cordel é uma ferramenta muito interessante para a memorização, pois quando feita de forma lúdica, os alunos se interessam mais no que estão fazendo conseguem adquirir conhecimento de forma bem prática e elaborando trabalhos muito bons, como os citados no texto. Quantitativamente, podemos perceber que os alunos que fizeram o cordel tiveram melhora em sua nota, como visto e isso, comprova o que foi observado. Aqueles alunos que não participaram, nota-se notas baixas e isso é um reflexo um pouco da escola publica: alunos sem participação dos pais na escola cobrando de seus filhos. Todo processo novo de ensino/aprendizagem só terá sucesso com participação e empenho, e mais ainda, vontade dos educandos em querer aprender e fazer valer a pena o que o educador tem e quer proporcionar como ferramenta para o seu aprendizado.

Agradecimentos

Referências

BARBOSA, A, S, M., PASSOS, C, M, B., COELHO, A, A. O CORDEL COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE CIÊNCIAS. Experiências em Ensino de Ciências, v6(2), pp. 161-168; 2011.
CARDOSO, S, P; C. Dominique. Explorando a Motivação para Estudar Química. Química Nova, 23 (2), 2000.
Viana A, L. Acorda cordel na sala de aula. Fortaleza (CE): Tupynamquim/ Queima-Bucha; 2006.
WANDERLEY, K, A; SOUZA, D, J, P.; BARROS, L, A. O.; SANTOS, A; SILVA, P B.; SOUZA, A M. A. Pra gostar de química: um estudo das motivações e interesses dos alunos da 8ª série do ensino fundamental sobre química. Resultados preliminares. Resumo do I CNNQ: 2005.

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