TECNOLOGIA ASSISTIVA: A EXPERIMENTAÇÃO PARA DEFICIENTES VISUAIS

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ensino de Química

Autores

Benite, C.R.M. (UFG - IQ - LPEQI) ; Benite, A.M.C. (UFG - IQ - LPEQI) ; Yosheno, F.H. (UFG - IQ - LPEQI) ; Morais, W.C.S. (UFG - IQ - LPEQI) ; Araújo, R.J.S. (UFG - IQ - LPEQI) ; Vargas, G.N. (UFG - IQ - LPEQI) ; Camilo, W.M. (UFG - IQ - LPEQI) ; Costa, A.C.M. (UFG - IQ - LPEQI)

Resumo

A aprendizagem resulta tanto do ambiente de ensino que o professor proporciona como na participação efetiva do aluno nas atividades de aula. Deficientes visuais sofrem consequências da desinformação nas aulas experimentais, assumindo uma postura passiva e dependente na manipulação de vidrarias, equipamentos e interpretação dos dados observáveis, por ser desconsiderado no planejamento das aulas, por falta de recursos materiais adequados e falta de formação dos professores para atuar com sua especificidade. Contendo elementos da pesquisa-ação, nesta investigação o uso de Tecnologia Assistiva contribuiu para que o aprendiz atribuísse significado individual ao que foi observado pelos demais sentidos, atuando de forma ativa e independente com a mediação do professor.

Palavras chaves

Tecnologia Assistiva; Experimentação no ensino ; Deficiente Visual

Introdução

Nas últimas décadas os avanços tecnológicos têm permitindo a criação de novos meios de se relacionar socialmente e, na educação, novas formas de ensinar e aprender. Numa perspectiva inclusiva, as tecnologias vem sendo tema de atuais reflexões acerca do seu uso com dimensões voltadas para a “autonomia e desenvolvimento do indivíduo, enquanto sujeito dos seus processos” (GALVÃO FILHO, 2012, p.67). Ao longo desse desenvolvimento as relações mediadas pelo professor ocorrem por meio de signos e instrumentos (VYGOTSKY, 1984). Os signos são elementos interpretáveis externos ao sujeito que os auxiliam nos processos psicológicos como representação da realidade, se referindo a elementos ausentes do espaço e tempo presente. Já os instrumentos são considerados elementos interpostos entre o sujeito e o mundo, com o objetivo de ampliar as possibilidades de transformação e controle da natureza (OLIVEIRA, 1993). Segundo Vygotsky (1984), os instrumentos possuem uma finalidade social por serem feitos para fins específicos. Neste sentido, a Tecnologia Assistiva (TA) pode contribuir como recurso de acessibilidade para pessoas deficientes servindo de instrumento de mediação para a “atribuição de sentidos aos fenômenos do seu entorno e à própria interação social” (GALVÃO FILHO, 2012, p.70). Entendemos a TA como possível ferramenta mediadora para deficientes visuais (DV) em aulas experimentais para o ensino de química, que tem a visão como meio de aquisição de informações (VYGOTSKY, 1984). Diante disso, este trabalho versa sobre o estudo do uso de equipamentos adaptados em aula experimental contendo aluno DV sobre destilação alcoólica, visando a atribuição de sentidos a partir da intervenção do professor em formação inicial.

Material e métodos

Contendo elementos da pesquisa-ação, esta investigação nasceu de uma necessidade da prática: ensinar química para DV por meio de experimentos. Defendemos que para discutir experimentos com DV é fundamental o uso de recursos que permitam sensações diferentes com os demais sentidos. As aulas são ministradas no Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio aos Deficientes Visuais de Goiânia (CEBRAV-GO), semanalmente, por professores em formação inicial (PFI) e servem como apoio à sala de aula regular. O aluno DV tem suas aulas no ensino público regular e as dúvidas e dificuldades são levadas ao CEBRAV para serem discutidas por meio de experimentos. O número de alunos (A) em cada aula varia de um a seis. Na aula de destilação, o termômetro vocalizado foi usado para o controle da temperatura de ebulição do etanol. A escolha do hardwares e software para sua construção foi baseada nas necessidades do grupo pesquisado: a temperatura é comunicada pelo aparelho por meio do som. O equipamento tem dimensões 12cmx8cmx5cm, com botões de comando (on-off, medida, reset e instruções, apresentados em braile) e dois cabos, um de alimentação e outro contendo o sensor de temperatura (BENITE et al, 2015). A proveta usada para medir o volume do mosto a ser destilado é adaptada com sistema de boia e o volume de 0 a 100mL é marcado em auto- relevo, porém medido pelo DV no sentido inverso ao das provetas convencionais: de cima para baixo (BENITE et al, 2013). Ambos os equipamentos foram desenvolvidos no Laboratório de Pesquisas em Educação em Química e Inclusão - LPEQI, situado no Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás, numa forma de aproximação universidade/escola/sociedade por meio de ações e reflexões acerca da formação docente para a inclusão no campo da experimentação.

Resultado e discussão

Chamamos de TA os estudos envolvendo o desenvolvimento de produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que visam a participação ativa de pessoas com deficiência, objetivando sua autonomia, independência e qualidade de vida (BRASIL, 2007). No extrato a seguir, apresentamos PFI instruindo A1 ao uso da proveta adaptada para medir o volume de mosto da cana-de-açúcar para ser destilado e controle da temperatura de ebulição do etanol. PFI1: Você vai medir o volume do mosto com uma proveta adaptada de 100mL. A proveta mede de 5 em 5 mL. Conforme a ponteira for descendo, vai aumentando o volume. A1: É como uma boia! PFI1: Isso! Esse é o mosto. Coloque o funil para transferir, você vai medir 20 mL. (A1 transfere o mosto e verifica o volume pelo tato). A1: Dez, quinze, vinte mL. PFI1: Transfira o mosto para o balão. Vamos colocar o balão no destilador? (A1 tateia e conecta o balão no destilador). PFI1: Esse é o nosso termômetro vocalizado em graus Celsius. Se apertar esse botão, ele te falar a temperatura. PFI2: Já está condensando. A1, verifica a temperatura. Termômetro: 79 graus. PFI: Sente o cheiro de álcool! Como instrumentos de mediação para DV, a proveta (pelo tato) e o termômetro (pela audição) permitiram A1 assumir uma postura ativa no experimento medindo o volume do mosto e, com a orientação de PF1, transferiu o líquido para o balão conectando-o ao equipamento para a realização da destilação, controlando sua temperatura. Tal atuação refuta as posturas passivas e dependentes nessas atividades, se contrapondo as “significativas limitações em sua capacidade de interação com o meio” (GALVÃO FILHO, 2012, p.70). Os instrumentos permitiram A1 atribuir sentido aos aspectos fenomenológicos do experimento com a intervenção de PFI.

Conclusões

O aluno DV apresenta limitações na sua capacidade de interação nos experimentos, pois tal prática utiliza a visão como meio de aquisição de informações do fenômeno para serem tratadas teoricamente. Nessa investigação, o uso da TA contribuiu para que PFI atingisse os objetivos pedagógicos dos experimentos permitindo A1 manusear e controlar os eventos de forma investigativa, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades que são necessárias à investigação criativa atribuindo significados aos dados observados pelo tato e pela audição por meio da interação mediada.

Agradecimentos

Ao CEBRAV e ao CNPq

Referências

BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; FIELD’S, K.A.P.; MORAIS, W.C.S. e CAVALCANTE, K.L. Análise de uma intervenção pedagógica sobre o conceito de soluções no contexto da deficiência visual. IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Águas de Lindóia: SP, de 10 a 14 de Novembro, 2013.
BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; MORAIS, W.C.S. e YOSHENO, F.H. Estudos sobre o uso de Tecnologia Assistiva no ensino de química. Em foco: a experimentação. II Encontro de Licenciaturas do Sudoeste Goiano e II Encontro de PIBID do Sudoeste Goiano. Jataí: GO, de 21 a 23 de maio, 2015.
BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Ata da VII Reunião do Comitê de Ajudas Técnicas – CAT CORDE / SEDH / PR realizada nos dias 13 e 14 de dezembro de 2007.
GALVÃO FILHO, T.A. Tecnología assistiva: favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem em contextos educacionais inclusivos. Em: GIROTO, C.R.M.; POKER, R.B.; OMOTE; S. As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas (org.). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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