ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ensino de Química
Autores
Luz, T.C.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Paixão, M.F.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Mendes, C.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA)
Resumo
Este trabalho discute algumas dificuldades enfrentadas por alunos de 2ª e 3ª séries do Ensino Médio de um colégio estadual Feira de Santana (BA) no aprendizado dos conceitos de mol e quantidade de matéria. Uma abordagem simples e dinâmica, por meio de uma oficina, visou à aproximação desses conceitos abstratos ao dia a dia dos estudantes e contribuir para tornar o processo ensino aprendizagem de química mais interessante. Após a oficina, os alunos ainda apresentaram dificuldades básicas em estabelecer a diferença conceitual entre as grandezas massa e quantidade de matéria e em compreender o conceito de mol e a relação entre o mol e a constante de Avogadro, embora 85,5% acharam a experiência interessante e facilitadora da aprendizagem.
Palavras chaves
ensino aprendizagem; mol; quantidade de matéria
Introdução
A abordagem de química no Ensino Médio tem sido relatada por aprendizes que afirmam que a química em sala de aula é distante de suas vidas e de difícil compreensão. Educadores e pesquisadores buscam entender as causas dessas dificuldades propondo novas abordagens que contribuam para a melhoria do processo ensino aprendizagem. O ensino inadequado dos conceitos químicos pode dificultar a aprendizagem e torná-la mecânica (MIRANDA e COSTA,____). Nos últimos anos, o conceito de mol tem sido um alvo de reflexões e propostas de práticas pedagógicas (LASCHUCK, 2013). O mol foi introduzido como unidade de base do Sistema Internacional de medidas (SI) da grandeza quantidade de matéria e expressa a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quantos átomos existam em 0,012 quilograma de carbono 12 (IUPAC, 1997). Sendo um conceito abstrato, as práticas pedagógicas para o ensino do mol podem levar a um entendimento equivocado (LOURENÇO, 2003). Um trabalho realizado em um colégio estadual de Feira de Santana (BA) em 2014, com alunos de 1ª e 2ª série do Ensino Médio, para identificar dificuldades no ensino aprendizagem de química, constatou que o conteúdo balanceamento de equações químicas foi considerado pelos alunos o de maior dificuldade de compreensão. Supondo-se que a falta da compreensão do mol fosse umas das causas da dificuldade apresentada pelos alunos, julgou-se válida a realização de uma oficina que contribuísse para uma aprendizagem significativa desse conceito. Este trabalho teve como objetivos agregar uma abordagem crítico reflexiva aos conceitos de mol e quantidade de matéria baseada na experimentação, aproximar tais conceitos do cotidiano dos alunos e proporcionar um processo de ensino aprendizagem de química mais dinâmico e estimulante.
Material e métodos
O experimento “Mol de cada coisa”, disponível no site PONTO CIÊNCIA, foi adaptado para a realização de uma oficina com alunos de 2ª e 3ª séries do Ensino Médio de um colégio estadual de Feira de Santana (BA). Inicialmente, foi aplicado um teste de sondagem para saber o grau de conhecimento dos alunos sobre os conceitos de mol e quantidade de matéria. Em seguida, foi feita uma discussão sobre esses conceitos, a partir das perguntas: “o que você entende sobre quantidade de matéria?”, “qual o conceito de mol?” e “o mol é encontrado no cotidiano?”. O quadro foi utilizado eventualmente para formalizar as ideias discutidas. Na sequência, foi discutido o uso no cotidiano da sacarose, cloreto de sódio, carvão pulverizado e enxofre, e os alunos calcularam as massas equivalentes a um mol dessas substâncias. Em seguida, foi entregue aos estudantes um frasco de vidro vazio e uma legenda de cores para cada amostra, para que eles estimassem o espaço ocupado por um mol de cada material. Foram apresentados quatro frascos idênticos ao citado acima, numerados de um a quatro, contendo um mol de sacarose, de cloreto de sódio, de carvão pulverizado e de enxofre, respectivamente, para que a altura ocupada por seu conteúdo fosse comparada com a marcada pelos alunos no frasco de previsões. Posteriormente, foram pesados um mol de água e uma massa desconhecida, pelos alunos, dessa substância utilizando um copo plástico para cada medida e uma balança de cozinha para que a turma descobrisse, por comparação, quantos mols de água havia no segundo copo. No final, os alunos refizeram as questões de sondagem e comentaram se a oficina foi uma experiência facilitadora para a compreensão dos assuntos abordados. O software SPSS (Statistical Package for Social Service) foi usado para a análise dos dados.
Resultado e discussão
Na sondagem, foi perguntado “o que o mol expressa”. 21,3% dos alunos
acertaram a questão e 78,7% dos que erraram não distinguiram a grandeza
quantidade de matéria de sua unidade de medida (o mol). Após a dinâmica,
houve um aumento de apenas 18,2% nos acertos e 52,6% mantiveram a percepção
equivocada dos conceitos, talvez por não entenderem propriedades como
volume, massa ou número de partículas. Esta hipótese está de acordo com um
relato da dificuldade enfrentada por alunos pelo uso do termo mol sem a
compreensão das propriedades da matéria (FURIÓ et al, 2000).
Na questão “quantos mols existem em 180 g de água”, 80,3% dos alunos
responderam corretamente. Houve um aumento de apenas 2,6% nos acertos após a
dinâmica, sugerindo dificuldades em entender a quantidade de matéria como
uma grandeza, a proporcionalidade entre a massa da substância e sua
quantidade de matéria e entre mol e massa molar.
Na questão "quantas moléculas há em 256 g de enxofre monoclínico (S8)",
68,1% dos alunos acertaram a resposta. Após a dinâmica, houve um acréscimo
de apenas 5,2% nos acertos, sugerindo que os alunos ainda tiveram
dificuldade em associar a representação macroscópica de um mol, expresso em
gramas, com a constante de Avogadro.
Por outro lado, 85,5% dos alunos consideraram a oficina uma experiência
positiva e facilitadora da aprendizagem dos conceitos, como mostra o relato
“Com a dinâmica deu pra gente entender e aprender ao mesmo tempo". No
entanto, a percepção dos alunos foi incompatível com os resultados obtidos
após a dinâmica.
A abordagem adequada de um conceito científico pode transmitir para o aluno
a ideia de que ele aprendeu, embora essa aprendizagem não seja
significativa; o que pode ainda não ser suficiente, pois cada aluno possui
seu tempo de aprendizagem (SILVA, 2009).
Conclusões
Este trabalho mostrou que apenas 39,5% dos alunos compreenderam o conceito de mol após a oficina. Ainda foi notória a dificuldade de distinção entre massa e quantidade de matéria, de entendimento da proporcionalidade entre essas grandezas e da relação entre o mol e a constante de Avogadro. No entanto, foi possível verificar que uma abordagem simples e contextual de conceitos químicos, através da dinâmica em sala de aula, pode despertar efetivamente o interesse do alunado na construção do conhecimento, mas não reúne necessariamente todas as condições para uma aprendizagem significativa.
Agradecimentos
Agradeço ao Programa Institucional de Bolsa de Extensao (PIBEX) da UEFS.
Referências
FURIÓ, C.; AZCONA, R.; GUISASOLA, J. e RATCLIFFE, M. Difficulties in teaching the concepts of amount of substance and mole. International Journal of Science Education, v. 22, p. 1285-1304, 2000.
IUPAC. Compendium of Chemical Terminology, 2nd ed. (the "Gold Book"). Compiled by A. D. McNaught and A. Wilkinson. Blackwell Scientific Publications, Oxford (1997). Disponível em <http://goldbook.iupac.org>. Acesso em 17 de Julho de 2015.
LASCHUK, E. Aprender Química com Objetos de Aprendizagem: uma Aplicação ao Estudo da Quantidade de Substância e o Conceito de Mol. Laclo. v 4, n 1, 2013.
LOURENÇO, I. M. B.; MARCONDES, M, E, R. Um plano de Ensino para mol. Química Nova na Escola, n 18, p 22-15, 2003.
MIRANDA, D. G. P; COSTA, N. S. Professor de química: Formação, competências/ habilidades e posturas. Disponível em < http://www.ufpa.br/eduquim/formdoc.html >. Acesso em 17 Julho de 2015.
PONTO CIÊNCIA. Mol de cada coisa. Disponível em < http://www.pontociencia.org.br/experimentos/visualizar/mol-de-cada-coisa/208>. Acesso em 14 de Julho de 2014.
SILVA, A. da S. O Sujeito psicológico e o tempo da aprendizagem. Cadernos de Educação, n 32, p 229-250, 2009.