Um Plano de Aula Sobre Pressão de Vapor Para Educação de Jovens e Adultos a Partir do Tema Gerador Pipoca

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ensino de Química

Autores

Freitas Santos, V. (UFU) ; Marques, D.M. (UFU) ; Aparecida Silva Rocha, T. (UFU) ; Pereira Marques, N. (UFU)

Resumo

A educação de Jovens e Adultos implementada pelo governo surgiu da necessidade de incluir as pessoas que por algum motivo tiveram sua oportunidade de estudar perdida e que agora sentem a necessidade de se inserir e adquirir o conhecimento cientifico. Em meio às diversas dificuldades pelas quais esse público passa, o professor deve estar preparado e fazer a diferença na educação desses estudantes, no entanto, poucas pesquisas são realizadas para facilitar o desenvolvimento das aulas aos professores dessa modalidade e principalmente as pesquisas relacionadas com uso das tecnologias da educação e comunicação como mediador de ensino e aprendizagem. Nesse sentido é apresentado um plano de aula sobre pressão de vapor utilizando alguns softwares de simulação e aplicativo de aparelho celular.

Palavras chaves

Tic; ensino de Química; EJA

Introdução

A história da educação brasileira é pautada na exclusão dos menos favorecidos, antigamente estudava quem tinha boas condições financeiras. Hoje ainda nos deparamos com situações desse nível, no entanto, há algumas décadas o governo tenta modificar esses problemas que já estão enraizados na história da educação, implantando e aperfeiçoando programas de política educacional como, por exemplo, o EJA (educação de jovens e adultos). É sabido que existem vários relatos sobre a dificuldade que os alunos têm em entender alguns conteúdos da química e por sua vez essa dificuldade também é constante com os alunos da EJA, e às vezes ela é maximizada devido a fatores como frustração por não acreditar que são capazes de aprender, falta de tempo para estudar e se dedicar ao aprendizado, pela base de estudos iniciais que já foram concluídas há anos atrás e que não ocasionaram a significação na aprendizagem, e outro fator relevante é que eles não conseguem relacionar a disciplina com suas experiências e necessidades do dia a dia. Além das dificuldades por parte dos alunos, os professores também se deparam com muitas dificuldades para trabalhar com esse grupo, pois geralmente não são preparados, ou não são orientados em sua formação a desenvolver metodologias diferenciadas e tratar esses alunos com as peculiaridades necessárias, geralmente chegam às salas de aula dispostos a ensinar, da mesma forma que foram ensinados no seu curso de Licenciatura. Na educação de Jovens e adultos, especialmente, deve ter a preocupação de capacitar esses alunos à aquisição de novas competências, preparando-os para lidar com diferentes linguagens e tecnologias e para responder aos desafios de novas dinâmicas e processos. O aluno da EJA tem pressa em adquirir conhecimentos, ele realmente tem o anseio pela aprendizagem, e principalmente em disciplinas exatas ele precisa ver sentido e aplicação no conteúdo que está sendo aprendido (MOREIRA, ET AL, 2013). Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio mostram que as habilidades cognitivas e afetivas desenvolvidas no ensino de Química devem capacitar o aluno a ser independente em situações problemáticas, contribuindo para o desenvolvimento do educando como pessoa humana e como cidadão (BRASIL, 1999). Chassot (1993) aponta uma solução para a melhoria na qualidade do ensino de Química, segundo ele é necessário adotar uma nova metodologia que seja centrada em princípios básicos. Dentre eles o autor cita a necessidade de que o ensino esteja adequado à realidade econômica, política e social do meio onde se insere a escola, bem como a necessidade de execução de experimentos que tenham como resultados dados observados na realidade, utilizando o ensino de química como meio de educação para a vida, correlacionando o conteúdo de química com os de outras disciplinas, para que o aluno possa entender melhor o sentido do desenvolvimento científico. O programa nacional de tecnologia educacional, Proinfo, é um programa do governo que tem o dever de suprir as demandas tecnológicas das escolas como computadores, internet e conteúdos educacionais, as escolas por sua vez são responsáveis por garantir a estrutura adequada e educadores qualificados para utilizarem os recursos oferecidos. No entanto, vários são os problemas enfrentados entre esses ganchos, isso faz com que a aquisição e a utilização desses recursos não ocorram de forma eficiente (FERNANDES, 2005). Esse problema é intensificado na Educação de Jovens e Adultos, EJA, pois os alunos da EJA já foram prejudicados em sua vida escolar por fatores diversos, e com as dificuldades em se trabalhar com recursos tecnológicos eles são excluídos socialmente mais uma vez. Para Freire (2002) um dos meios pelo qual ocorre a busca pela libertação é a interação do sujeito com o meio em que ele vive, seja na ciência ou na tecnologia, nesse sentido utilizar esses meios tecnológicos é apoderar-se de um instrumento de luta a favor da inclusão digital e social dessa classe. Mas infelizmente as pesquisas nessa área não são significativas em relação à quantidade, poucos estudos são realizados e estão disponíveis para consulta em sites de pesquisa em relação ao uso de Tic no ensino de Química para a modalidade EJA. Um trabalho desenvolvido na disciplina Tecnologias da Informação e Comunicação no Ensino e Ciências e Matemática do programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Uberlândia, em que a proposta era buscar alguns artigos, dissertações e teses sobre o uso de Tic no ensino de Química na Educação de Jovens e Adultos, tornou possível nossa visão sobre a escassez de estudos desse tema e nos motivou a produzir e disponibilizar um plano de aula, simples que pode ser reproduzido em sala de aula e também servir de incentivo para que outros pesquisadores e professores, desenvolva aulas utilizando as tic com intuito de enriquecer a cultura digital de seus alunos.

Material e métodos

Muitos são os obstáculos epistemológicos relacionados aos conteúdos de Química, geralmente os estudantes não conseguem relacionar fatos vivenciados ao que aprendem em sala de aula, e por outras vezes os professores também enfrentam essas barreira epistemológicas pelo modo ao qual foram formados. Há tempos o aluno deixou de ser considerado uma tabula rasa, onde seus pensamentos e suas experiências não são utilizadas em sua formação, a exploração das concepções alternativas que os alunos apresentam, não somente é útil para entender o que eles pensam, mas também é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de reflexões das suas idéias, partindo do conhecimento geral, macro, para o conhecimento micro, ou cientifico, que é uma boa opção para que os alunos obtenham uma aprendizagem significativa (MALAFAIA, RODRIGUES, 2008). A utilização de temas geradores é uma eficiente metodologia para construção do conhecimento cientifico pelo alunos, com o tema gerador é possível criar no aluno o interesse pela critica ao conhecimento que advêm do senso comum. Utilizando um tema conhecido e vivenciado pelos educandos torna-se possível modificar conceitos errôneos ou obstáculos epistemológicos construídos durante suas experiências. Nesse sentido, foi desenvolvido um plano de aula a partir do tema gerador Pipoca e Química, com intuito de introduzir o conceito de pressão de vapor. O tema foi pensado devido à proximidade que o público em geral tem com a preparação de alimentos, já que é comum e talvez todos já tenham presenciado ou até mesmo realizado a preparação de pipocas. Com isso, objetivo da aula é buscar a compreensão dos alunos sobre as propriedades coligativas e os fenômenos relacionados, o tempo previsto para realização das atividades propostas sobre o tema é de aproximadamente três encontros de quarenta e cinco minutos, a distribuição das atividades ocorrerá em três momentos. Inicialmente os alunos serão levados ao laboratório de informática, onde já deveram estar instalados os softwares de simulação que serão utilizados. As simulações serão Propriedades dos gases e Micro-ondas, disponíveis no PHet e Operação Estouro da Pipoca, disponível no portal do professor. Posteriormente, os alunos que possuem telefones com câmera de vídeo gravarão em casa o preparo de pipocas em diferentes situações, com óleo e sem óleo na panela, com água e sem água no micro-ondas. Isso será realizado para promover a curiosidade e enriquecer a discussão no próximo momento. Por fim, será realizada uma discussão em conjunto sobre os fenômenos que ocorrem no estouro da pipoca, em todas as condições, como por exemplo, no micro-ondas, na panela, sem óleo, sem água e depois deverá ser realizadas pelo professor, intervenções sobre a relação com outros utensílios como a panela de pressão e todos esses exemplos serão relacionados com o conteúdo durante toda discussão.

Resultado e discussão

Todos sabem que o milho de pipoca estoura, mas muitas vezes não se perguntam por que ocorre tal fenômeno e como acontece, o que faz com que o estouro da pipoca tenha relação com a pressão de vapor? Pressão de vapor é a relação entre a força exercida na direção perpendicular sobre uma dada superfície e a área dessa superfície. O interior do grão (endosperma) contém amido e cerca de 12% de água. O exterior do grão (pericarpo) apresenta grande resistência mecânica, quando um grão de milho é aquecido sua umidade interna é convertida em vapor, em dado momento o vapor se expande as moléculas se movimentam intensamente no interior do milho que pressionam fortemente o pericarpo, até que se rompe, é nessa hora que os grãos de milho explodem. O pericarpo atua como uma panela de pressão, evitando a saída do vapor de água até que certa pressão limite seja atingida. A parte branca que chamamos de pipoca, nada mais é do que o amido do endosperma. O ensino de conceitos químicos, a partir de temas conhecidos e discutidos, como realizado com o tema supracitado possibilita um maior entendimento do conteúdo por parte dos alunos, pois se relaciona com fenômenos palpáveis, próximos da realidade dos estudantes. Freire (2002) apresenta seus anseios com a educação mencionando o quão bom seria se as experiências dos alunos fossem aproveitadas, se as discussões em sala de aula, fossem pautadas nos problemas que acontecem em suas casas em seus bairros. O autor ainda destaca a importância do docente não se limitar ao ensinamento de conteúdos soltos, vazios sem significado para o aluno, ele defende a necessidade de estimular o aluno a pensar, pois o pensar insere o aluno como sujeito histórico, conhecedor do mundo em que vive (FREIRE, 2002). A significação da aprendizagem depende muito da forma como se ensina, nesse sentido, ensinar é buscar, indagar, constatar, intervir, exige conhecimento, troca de saberes, troca de experiências. A partir dessas relações pode ocorrer à verdadeira aprendizagem, aquela que transforma o sujeito, fazendo com que ele se torne autônomo, emancipado (FREIRE, 2002).

Conclusões

O desenvolvimento de atividades como essa, pode despertar no educador o interesse em auxiliar o educando no desenvolvimento intelecto-social. As tecnologias cada dia estão mais presentes no cotidiano de todos, e dessa forma é fundamental que o educador, buque interagir com essas tecnologias e levem as mesmas para sala de aula. Como foi citado, os alunos da EJA já são excluídos cientificamente por diversos motivos que o afastaram do saber cientifico, do ambiente escolar, com isso é muito importante buscar a inserção deles não só no conhecimento cientifico, mas também inseri-lo no mundo tecnológico. Atividades como essa promovem a possibilidade de um conhecimento efetivo pelos alunos, fazendo com que eles possam entender os fenômenos que ocorrem em seu dia a dia, tornando-os sujeitos da sua própria história, incluídos socialmente, libertos e autônomos.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática- UFU

Referências

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da educação, 1999.
CHASSOT, A. I. Catalisando transformações na educação. Ijuí: Unijuí, 1993.
FERNANDES, Jarina Rodrigues. O computador na Educação de Jovens e Adultos: sentidos e caminhos. Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Editora Paz e Terra, 2002.
GOMES, H. J. P; OLIVEIRA, O. B. Obstáculos Epistemológicos no ensino de ciências: um estudo sobre suas influências nas concepções de átomo. Ciência e Cognição, v.12, 2007.
LOMBARDI, S. M. Educação de Jovens e Adultos: Reflexões sobre o momento atual. 2003. 30 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização)- Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2003.
MALAFAIA, G; RODRIGUES, A. S. L. Uma reflexão sobre o ensino de ciências no nível fundamental da educação. Ciência e Ensino, v.2. 2008.
MOREIRA, F.B.F; CARVALHO, S.T.P; MOREIRA, E.J.S; FERNANDES, A.F.O; OLIVEIRA, P.M; LIMA, M.A.A. Ensino de química na modalidade EJA: uma proposta de produção de um material didático. In: IX Congresso de Iniciação Cientifica do IFRN. Resumos. Currais Novos, 2013.

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