AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DO RIO MARACANÃ COMO OBJETO DE ESTUDO DA DISCIPLINA DE QUÍMICA ANALÍTICA AMBIENTAL I DO CURSO TÉCNICO DE MEIO AMBIENTE DO IFRJ-Campus RIO DE JANEIRO

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ambiental

Autores

Gonçalves Farias, D. (IFRJ-RJ) ; Borges, J. (IFRJ-RJ) ; Miguez Cardoso, J. (IFRJ-RJ) ; Miranda Otero, R. (IFRJ-RJ) ; Florêncio Velloso, V. (IFRJ-RJ) ; Ribas Vendramel, S.M. (IFRJ-RJ)

Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido pelos alunos do curso técnico em Meio Ambiente do IFRJ-RJ como cumprimento das atividades desenvolvidas na disciplina de Química Analítica Ambiental I. O objetivo desta disciplina é a aprendizagem prática das técnicas de determinação de parâmetros ambientais para caracterização de águas. Para este fim, se utiliza matrizes reais, procurando fazer com que os alunos também saibam avaliar os possíveis impactos destes parâmetros nos cursos d’água. Desta forma, além da sua qualificação técnica, estes alunos podem desenvolver um censo crítico em relação à necessidade da conservação do meio ambiente. Neste contexto, estudaram-se as águas do Rio Maracanã que, pelas determinações analíticas realizadas, mostraram-se comprometidas no que se refere à sua qualidade.

Palavras chaves

qualidade das águas; parâmetros ambientais; meio ambiente

Introdução

Na atualidade, cada vez mais estamos sujeitos ao convívio com a poluição, seja atmosférica, das águas ou do solo. Vários fatores podem ser apontados como os responsáveis pela degradação do nosso ambiente, tais como: crescimento populacional, urbanização sem controle, desenvolvimento industrial, má gerenciamento de resíduos, entre outros. Contudo, a falta de consciência da população na importância da conservação do meio ambiente é um dos principais problemas na conservação do mesmo e, consequentemente, dos recursos hídricos. A poluição de rios urbanos, especialmente, geram graves problemas de saúde pública. Segundo a Unicef (2013), 80% das doenças e 30% dos óbitos ocorridos no mundo são causados por águas contaminadas. Ademais, águas superficiais que recebem contribuições de esgoto doméstico, efluente industrial e lixo, perdem totalmente suas características naturais, afetando a fauna e flora local, gerando odores e aspecto desagradáveis e podendo chegar ao seu assoreamento total. A poluição dos recursos hídricos também inviabiliza os seus possíveis usos, conforme regulamentado pela resolução CONAMA nº 357 de 2005. Esta resolução determina cinco classes distintas nas quais as águas superficiais podem ser enquadradas e que são caracterizadas por parâmetros ambientais, tais como: oxigênio dissolvido, cor, turbidez, DBO, nitrogênio amoniacal, fósforo total, entre outros. Neste contexto, aliado à questão didática de ensino das técnicas de determinação de alguns parâmetros ambientais, teve-se como objetivo caracterizar as águas do Rio Maracanã, que se encontra nas proximidades do IFRJ-Campus Rio de Janeiro e, avaliar a qualidade destas águas e seus possíveis impactos ao ambiente.

Material e métodos

Foram objeto de estudo da disciplina de Química Analítica Ambiental I as águas do Rio Maracanã na cidade do Rio de Janeiro. O local de coleta das amostras margeia a Avenida Maracanã nas proximidades do IFRJ-RJ, no bairro Maracanã. A água foi coletada pelos próprios alunos, com auxílio de um frasco plástico, se colocando próximos ao leito do rio por depressões existentes na encosta cimentada do mesmo. Para a determinação do oxigênio dissolvido (OD), a água foi coletada diretamente em frascos de DBO e a fixação do mesmo foi realizada “in situ”, dando-se continuidade na análise em laboratório utilizando o método de Winkler modificado. Para a determinação dos demais parâmetros ambientais a água foi condicionada em embalagens plásticas e levada imediatamente ao laboratório para ser analisada ou, congelada para ser avaliada posteriormente. Os parâmetros ambientais determinados pelos alunos foram: pH, cloreto (Cl-), demanda química de oxigênio (DQO), fósforo total (P), nitrogênio amoniacal (N-NH3), série sólidos (sólidos totais e suspensos, fixos e voláteis), turbidez e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Com exceção da DBO que se utilizou o protocolo da ABNT (NBR 12614), todos os demais parâmetros seguiram os procedimentos padronizados do APHA (2005). Sendo pH determinado por pHmetro, cloreto pelo método titulométrico de Mohr, DQO e fósforo total pelo método espectrofotométrico, nitrogênio amoniacal pelo método de destilação com posterior titulação, sólidos por gravimetria e turbidez pelo método nefelométrico.

Resultado e discussão

A nascente do rio Maracanã encontra-se nas encostas do Maciço da Tijuca e do Morro do Sumaré e possui extensão de 7.000 metros. Desemboca no Canal do Mangue, antes de chegar à Baía de Guanabara. Este canal recebe esgoto desde a instalação da família real na região e, atualmente é um dos canais mais poluídos dentre aqueles que desembocam na Baía de Guanabara (COELHO, 2007). A Tabela 1 apresenta os resultados da caracterização do Rio Maracanã, assim como a comparação com duas classes de águas que constam da CONAMA 357. O Rio Maracanã não possui, oficialmente, uma classificação conforme a CONAMA, contudo, a Classe 3 foi eleita pelos alunos como sendo a melhor classe para o enquadramento do mesmo, pelas possibilidades do seu uso e para fins comparativos e de discussão. Da Tabela 1, observa-se que somente pH, cloreto e turbidez estariam dentro dos padrões estabelecidos para a Classe 3. Contudo, a não conformidade para OD, DBO, N-NH3 e P, inviabilizam esta classificação. No caso da Classe 4, embora seja extremamente menos restritiva, o OD também inviabiliza esta classe. Vale ressaltar que o fato do Rio Maracanã não se enquadrar em nenhuma das classes da resolução CONAMA 357 não é o mais alarmante, mas sim o avançado grau de poluição que estas águas apresentam. Este fato pode ser constatado pelos resultados obtidos para a maioria dos parâmetros da Tabela 1, sendo o mais alarmante o OD igual a zero, que está diretamente relacionado aos valores da DBO e DQO, que representam a quantidade de matéria orgânica, provavelmente oriunda de esgotos, que são descartados naquele ambiente diariamente. Estas características tem impacto direto sobre a fauna e flora local, sendo as mesmas inexistentes no local de coleta.

Tabela 1

Resultados dos parâmetros ambientais determinados para as águas do Rio Maracanã e os padrões das Classes 3 e 4 da Resolução CONAMA 357/2005.

Conclusões

A análise dos parâmetros ambientais para as águas do Rio Maracanã permitiu constatar o elevado grau de deterioração do mesmo. Nestas condições, estas águas, além de não poderem ser destinadas a qualquer tipo de uso ainda contribuem para aumentar o grau de poluição no Canal do Mangue e, consequentemente, na Baía de Guanabara. O objetivo deste trabalho foi alcançado considerando-se a formação dos alunos do curso técnico de Meio Ambiente do IFRJ-RJ, que aprenderam na prática a qualificar as águas de um rio e desenvolver um censo crítico em relação à importância da conservação do meio ambiente.

Agradecimentos

Referências

ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS) - ABNT NBR 12614. Águas - Determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) - Método de incubação (20°C, cinco dias), 1992.
APHA; AWWA; WEF. Standard Methods for Examinatiom of Water and Wastewater. 21ª ed. American Public Health Association, Washington, D. C, 2005.

COELHO, V. Baía de Guanabara: uma história de agressão ambiental. Editora Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2007.
UNICEF, Fundo das nações Unidas para Infância. 2013. Crianças morrem diariamente devido à falta de água potável, saneamento básico e higiene. Reportagem publicada na página eletrônica: http://www.unicef.org.br/, acessada em 03 de abril de 2015.
Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005 - Dispõe sobre a classificação das condições e padrões de lançamento de efluentes. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente.

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