ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Ambiental
Autores
Martins, D.F.F. (UFERSA) ; Marques, H.G. (UFERSA) ; Câmara, M.Y.F. (UFERSA) ; Pinto, L. (UFERSA)
Resumo
Este trabalho analisou o potencial fitorremediador da Eichhornia crassipes em ambientes naturais. Para isso, determinou-se na água do Rio Apodi/Mossoró e no tecido vegetal das macrófitas aquáticas o teor de nitrogênio total, Ca, Mg, K, Fe, Cu, Mn, Zn, Ni, Co, Na, Al, Cd, Pb e Cr total em dois pontos de coleta. A partir daí calculou-se o fator de translocação (FT) e bioacumulação (FB) de todos os elementos quantificados. Todas as análise foram feitas utilizando a metodologia prescrita no Standard Methods of APHA (2005) e EMBRAPA (1999). Desta forma, a partir dos resultados obtidos para os FT e FB constatou-se que a mesma pode ser utilizada como agente fitorremediador em ambientes naturais de todos os elementos quantificados.
Palavras chaves
Fitorremediação; Eichhornia crassipes; Rio Apodi/Mossoró
Introdução
Os ambientes aquáticos apresentam grande diversidade e compreendem vários tipos de ecossistemas, como lagos, rios, estuários e oceanos, tendo sua composição química alterada constantemente em função, principalmente, da sua dinamicidade (COSTA et al., 2008). No entanto, têm-se verificado um aumento da influência de outros fatores, principalmente antrópicos, em sua composição. Assim, o lançamento de águas residuárias domésticas, agrícolas e industriais sem tratamento adequado em rios e lagos pode provocar diversos problemas, como a eutrofização do ambiente e a morte de peixes e de outros seres vivos (MARTINS et al., 2011; ROCHA et al., 2009).A preocupação com a recuperação de áreas poluídas é bastante recente, no entanto, é possível encontrar diversos métodos convencionais de tratamento destes ambientes como, por exemplo, a remediação por lodos ativados; e alternativos, como a biorremediação (GAYLARDE et al., 2005). Dentro da biorremediação, a fitorremediação destaca-se como uma das técnicas mais estudadas. Segundo Jadia e Fulekar (2009), esta técnica consiste basicamente no uso de plantas para a recuperação ou estabilização de ambientes poluídos. As macrófitas aquáticas da espécie Eichhornia crassipes, utilizadas neste trabalho, são plantas aquáticas flutuantes da família Pontederiaceae bastante comuns em regiões de clima tropical. No Brasil, esta espécie ocorre tanto em ecossistemas aquáticos naturais como em ambientes aquáticos impactados por atividades antrópicas, onde apresentam elevada taxa de crescimento e produzem grandes quantidades de biomassa (CARDOSO et al., 2003). Desta forma o objetivo deste trabalho foi determinar o potencial fitorremediador da Eichhornia crassipes em ambientes naturais.
Material e métodos
Foi realizada 1 coleta em dois diferentes pontos localizados no trecho do Rio Apodi/Mossoró que corta a cidade de Mossoró (Ponto 1 – Leito principal e Ponto 2 – Canal de Tricotomização). As amostras de água foram armazenadas em frascos de vidro âmbar, acondicionadas em caixa de isopor com gelo e transportadas ao laboratório de Química para a realização dos tratamentos e análises necessárias. Coletou-se, também, um litro de água para análise de metais, onde o mesmo foi imediatamente acidificado com 1 mL de ácido nítrico concentrado logo após a coleta. As plantas foram coletadas, aleatoriamente, em cada ponto e armazenadas em sacos plásticos, devidamente identificados e com um pouco de água dos próprios locais. Em seguida, as mesmas foram levadas ao laboratório de química para limpeza e tratamento prévio. As amostras de água sem acidificação foram filtradas, armazenadas em frascos de vidro âmbar, previamente limpos e secos, e acondicionadas em refrigerador para a realização posterior das análises. As amostras acidificadas foram digeridas e encaminhadas para análise dos metais. As plantas foram separadas em folhas (limbo + pecíolo) e raízes, lavadas com água da torneira e enxaguadas exaustivamente com água destilada. Após este processo, foram secas com papel toalha e submetidas ao processo de desidratação a 60°C utilizando uma estufa com circulação forçada de ar. Em seguida, as folhas e raízes foram trituradas, separadamente, e armazenadas para posterior análise. Os métodos de análises seguiram a recomendação do Manual de análise química de solos, plantas e fertilizantes da EMBRAPA (1999) e Standard Methods of APHA (2005). O FT e FB foram calculados a partir do teor dos elementos na água e no tecido vegetal da Eichhornia crassipes.
Resultado e discussão
Desta forma, a partir dos dados obtidos do teor de metais e nitrogênio total
na água e tecido vegetal da Eichhornia crassipes, calculou-se os FT e FB de
cada elemento para esta espécie (Ver Tabela 1). Em relação ao FT, pode-se
constatar que as macrófitas aquáticas apresentam alta capacidade de acumular
Ca, K, Na e nitrogênio nas folhas, tendo em vista que todos os valores se
apresentaram maiores que a unidade. Esse comportamento era esperado em
função da essencialidade desses elementos para o desenvolvimento das
plantas, o que favorece a translocação dos mesmos das raízes para as folhas.
Esse mesmo comportamento foi observado em trabalhos anteriores para plantas
com diferentes idades e locais de cultivo (MARTINS et al., 2011).Já os FT
para Al, Fe e Mn em ambos os pontos e Mg no ponto 1 apresentaram valores
menores que a unidade. Para os três primeiros esse comportamento é
totalmente coerente e esperado tendo em vista a não essencialidade do Al
para o desenvolvimento das plantas e a necessidade em pequenas quantidades
de Fe e Mn. Com relação ao Mg, por ser um macronutriente, esperava-se que se
apresentasse em maior quantidade nas folhas, assim como foi para o ponto 2.
No entanto, fatores adversos como a competição e substituição do mesmo por
outros metais divalentes com tamanho
aproximado no processo metabólico da planta e sua idade fisiológica, podem
causar esse fenômeno. Com base nos resultados obtidos para o FB para cada
elemento, pode-se observar que todos eles se apresentaram muito maiores que
a unidade, demonstrando, assim, alta tendência da planta em bioacumular
esses elementos no seu tecido vegetal. Apesar dos valores obtidos para os FT
e FB, não foi possível classificar a espécie em estudo com hiperacumuladora
em função da dinamicidade dos ambientes naturais.
Tabela 1 - Resultados obtidos para os fatores de translocação e bioacumulação para Eichhornia crassipes presente no Rio Apodi/Mossoró.
Conclusões
De acordo com os resultados obtidos pode-se concluir que: i. Os teores de Cd, Pb, Cr, Co, Cu, Ni e Zn no tecido vegetal se encontraram abaixo do limite de detecção da técnica utilizada. Fato este de grande importância, em especial para os elementos tóxicos, tendo em vista a necessidade de se dar um destino final à biomassa produzida; ii. Não foi possível caracterizar as macrófitas aquáticas como uma planta hiperacumuladora. No entanto, foi constatado pelos FT e FB que a mesma pode ser utilizada como agente fitorremediador em ambientes naturais de todos os elementos quantificados.
Agradecimentos
UFERSA, UERN e UFRN.
Referências
AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination
of water and wastewater. 18 th ed. Washington: APHA. 2005.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Manual de análises
químicas de solos, plantas e fertilizantes. Brasília, DF, 1999.
MARTINS, D. F. F. et al. Temporal and physiological influence of the absorption of nutrients and toxic elements by Eichhornia crassipes. Journal of Environmental Monitoring, v. 13, n. 2, p.274-279, fev. 2011.
COSTA, C. R. et al. A toxidade em ambientes aquáticos: Discussão e métodos de avaliação. Química Nova, v. 31, n. 7, p. 1820-1830, 2008.
ROCHA, S. A.; LOUGON, M. S.; GARCIA, G. O. Influência de diferentes fontes de poluição no processo de eutrofização. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 4, n. 4, p.1-6, set. 2009.
GAYLARDE, C. C.; BELLINASO, M. L.; MANFIO, G. P. Biorremediação: Aspectos
biológicos e técnicos da biorremediação de xenobióticos. Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento, n. 34, 2005
JADIA, C. D.; FULEKAR, M. H. Phytoremediation of heave metals: Recent techniques. African Journal of Biotechnology, v.8, n. 6, p. 921-928, 2009.
CARDOSO, L. R; MARTINS, D.; TERRA, M. A. Sensibilidade a herbicidas de acessos de aguapé coletados em reservatórios do Estado de São Paulo. Planta Daninha, v.21, p. 61 – 67, 2003. Edição Especial.