Origem e fontes de matéria orgânica de sedimentos do baixo rio São Francisco.

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ambiental

Autores

Costa Santos, E. (UFBA) ; Palmeira Campos, V. (UFBA) ; Vilas Bôas Costa Dias, J. (UFBA) ; Lima Santos, C. (UFBA) ; Roberto Bispo de Souza, J. (UFBA) ; Dantas Pinto Medeiros, Y. (UFBA)

Resumo

Os impactos ambientais produzidos pelas grandes barragens assumem proporções significativas no baixo São Francisco, sendo esta provavelmente a região mais impactada de todo o curso deste rio. Sedimentos superficiais deste trecho do rio, do lado do estado de Alagoas (Pão de Açúcar) e do lado do Estado de Sergipe (Gararu, Pindoba e Ilha das Flores) foram amostrados no período chuvoso, estando entre os objetivos para verificar possíveis origens e fontes de matéria orgânica. A relação C/N apresentou valores entre 6,90 e 10,0. δ13C variou entre -20,17‰ e -21,87‰. Com base nestes valores foi possível inferir que a matéria orgânica é proveniente de algas, de origens decorrentes de plantas marinhas, macrófitas marinhas e fitoplâncton, sendo suas estruturas enriquecidas em 13C.

Palavras chaves

Sedimentos; Baixo rio São Francisco; Matéria orgânica

Introdução

O baixo curso do Rio São Francisco possui uma área de 25.523 km², população total de 1.372.735 habitantes distribuídos em 86 municípios, com taxa de urbanização de 51%. Está localizado entre o quadrante de coordenadas geográficas 8º 35’ latitude S, 37º 87’ longitude W e 10º 64’ latitude S, 36º 31’ longitude W. Essa área se divide entre os Estados de Sergipe e Alagoas, no trecho compreendido após a Represa de Xingó, à jusante da cidade de Piranhas, passando pela cidade de Pão de Açúcar, ambas no município alagoano, e seguindo para Propriá e Ilha das Flores, no município sergipano. O encadeamento de problemas econômicos e sociais advindos dos impactos ambientais produzidos pelas grandes barragens assume proporções significativas no baixo São Francisco, sendo esta provavelmente a região mais impactada de todo o curso do rio. Há indícios de que esta região apresenta a maior vulnerabilidade hidro-ambiental de toda a bacia do rio São Francisco em relação às mudanças introduzidas pela construção e operação das grandes barragens (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2013). A caracterização do material orgânico sedimentar, presente nestes sistemas, é de suma importância e utilidade para se conhecer a origem e os processos a que estes ambientes estiveram submetidos em um passado recente (últimos cem anos) ou mais antigo (milhares de anos). Medidas complementares da composição molecular e isotópica da matéria orgânica podem produzir importantes indicadores de fonte e da natureza deste material em lagos e em grandes rios (AMORIM et al., 2009). Diversos tipos de traçadores da matéria orgânica são utilizados para identificar as prováveis origens e os processos a que esta matéria esteve sujeita durante sua formação. O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a origem e fontes de matéria orgânica de sedimentos superficiais amostrados em período chuvoso, nas regiões de Pão de Açúcar em Alagoas e Gararu, Pindoba e Ilha das Flores, em Sergipe e, margeadas pelo Baixo curso do Rio São Francisco.

Material e métodos

Amostras de sedimentos foram coletadas nas quatro estações: Pão de Açúcar – AL (9º45’33,7” S e 37º24’43,5” W), Gararu – SE (9º58’50,0” S e 37º0’48,7” W), Pindoba - SE (10º16’41,0” S e 36º42’20,5” W) e Ilha das Flores – SE (10º24’40,7” S e 36º33’59,8” W). Cerca de 3 g de cada amostra de sedimento liofilizado foi tratada com 10 mL de HCl 1 mol L-1 para extrair carbonatos presentes. Após 24 horas, as amostras foram centrifugadas durante 1 min (3000 rpm) e o líquido sobrenadante descartado. O procedimento foi repetido até que não ocorresse mais efervescência na amostra. Em seguida, as amostras foram lavadas cuidadosamente e centrifugadas por 3 vezes com água ultrapura, secas em temperatura ≤ 50°C e então pesadas. Cada amostra (24 – 27 mg) de sedimento foi pesada em uma cápsula de estanho, fechada e então submetida à análise elementar (COSTA et al., 2011). O equipamento utilizado nas determinações, de carbono orgânico, nitrogênio e concentrações isotópicas foi o analisador elementar CHNS-O Analyser Costech Instruments ECS Modelo 4010. Para a análise isotópica o analisador elementar foi acoplado ao espectrômetro de massa Finnigan Delta Plus. Os gases utilizados no equipamento apresentaram grau de pureza (300 K pa de He e O2, sendo o He é o gás de arraste). No equipamento foi utilizado o detector de condutividade térmica (TCD), cujo gás utilizado na combustão das amostras foi o O2 com 30 mL min-1 durante 5 segundos, com a temperatura de trabalho do forno de 900°C.

Resultado e discussão

Os resultados encontrados para carbono orgânico total (COT), nitrogênio (N), razão C/N e o isótopo estável do carbono 13C nas estações estudadas são apresentados na Tabela 1. Os valores da razão C/N observados para todas as estações entre 6,90 e 10,0. Segundo Meyers (1994), evidenciam uma fonte de matéria orgânica produzida principalmente por algas. Os valores de δ13C para os sedimentos das estações estudadas variou entre -20,2 ‰ e -21,9 ‰. Segundo Silva et al. (2012), pode-se inferir que esses valores de 13C (-13 ‰ e -22 ‰) estão relacionados com plantas marinhas e macrófitas marinhas, quantidades (-19 ‰ e -27 ‰) estão relacionados a fitoplânctons. Todas essas espécies de algas apresentam em sua estrutura um enriquecimento de 13C.

Tabela 1. Parâmetros geoquímicos orgânicos do baixo rio São Francisco.

Carbono orgânico total (COT), nitrogênio (N), razão carbono e nitrogênio (C/N) e isótopo estável de carbono (δ13C).

Conclusões

Os dados obtidos para a razão C/N nos sedimentos amostrados indicam fonte de matéria orgânica no baixo rio São Francisco produzido principalmente por algas. A partir dos dados de δ13C pode-se inferir que as algas são provenientes de plantas marinhas, macrófitas marinhas ou fitoplâncton. Esse fato é provavelmente decorrente da redução de vazões do baixo Rio São Francisco, ocorrendo uma baixa hidraulicidade, provocando um aporte maior de características marinhas.

Agradecimentos

Ao grupo LAQUAM e ao CNPq.

Referências

1. AMORIM, M. A., MOREIRA-TURCQ, P. F., TURCQ, B. J., CORDEIRO, R. C. Origem e dinâmica da deposição dos sedimentos superficiais na Várzea do Lago Grande de Curuai, Pará, Brasil. Acta Amazonica, vol. 1, n° 39, 165 – 172, 2009.

2. ANA/GEF/PNUMA/OEA. Projeto de Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terra na Bacia do São Francisco, Sub-projeto 2.4 – Estudo do Processo Erosivo das Margens do Baixo São Francisco e seus Efeitos na Dinâmica de Sedimentação do Rio. Brasília: SPR/ANA, 29 p., 2013.

3. COSTA, A.B., NOVOTNY, E.H., BLOISE, A.C., AZEVEDO, E.R. de, BONAGAMBA, T.J., ZUCCHI, M.R., SANTOS, V.L.C.S., AZEVEDO, A.E.G. Characterization of organic matter in sediment cores of the Todos os Santos Bay, Bahia, Brazil, by elemental analysis and 13C NMR. Marine Pollution Bulletin, n° 62, 1883-1890, 2011.

4. MEYERS, P. Preservation of elemental and isotopic source identification of sedimentary organic matter. Chemical Geology, nº 114, 289-302, 1994.

5. SILVA, T. R., LOPES, S. R. P., SPÖRL, G., KNOPPERS, B. A., AZEVEDO, D. A. Source characterization using molecular distribution and stable carbon isotopic composition of n-alkanes in sediment cores from the tropical Mundaú–Manguaba estuarine–lagoon system, Brazil. Organic Geochemistry, n°53, 25–33, 2012.

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