Integração do teste modificado de Sturm de evolução de CO[sub]2[/sub] e respirometria de consumo do O[sub]2[/sub] para caracterização dos efluentes municipais

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ambiental

Autores

de Paula, N. (CEUNES - UFES) ; Mothe, L. (CEUNES - UFES) ; Ventorin, B.C. (CEUNES - UFES) ; Sacht, S.O. (CEUNES - UFES) ; Andrade, R.P. (IF SUDESTE MG) ; Cotta, A.J.B. (CEUNES - UFES)

Resumo

A falta de infraestrutura da maioria dos municípios brasileiros leva a disposição inapropriada do esgoto sanitário diretamente nos cursos d'água, com severos impactos ambientais. O presente trabalho descreve a construção de um protótipo para realização integrada de dois ensaios para avaliar a biodegradabilidade dos despejos municipais; o teste de Sturm, de fixação do CO2 gerado durante a respiração microbiana, e um ensaio respirométrico de monitoramento do consumo do oxigênio dissolvido durante a degradação da matéria orgânica biodegradável (MOB). Tal protótipo foi empregado na caracterização dos efluentes da cidade de São Mateus-ES, com intuito de correlacionar a liberação do CO2 com o consumo do oxigênio dissolvido.

Palavras chaves

esgoto; CO[sub]2[/sub]; teste de Sturm

Introdução

Muitas localidades, tanto as próximas como as distantes de centros urbanos, enfrentam problemas decorrentes do contínuo despejo de efluentes provenientes de indústrias e residências em seus corpos hídricos; problemas esses advindos da falta de planejamento na expansão das cidades e consequente falta de infraestrutura para tratamento de seus despejos. A partir deste ponto, o estudo dos impactos da descarga de esgoto doméstico, rico em matéria orgânica, sobre um corpo hídrico é importante, visto que capacidade de autodepuração do sistema pode ser desrespeitada, o que acarreta em perda de biodiversidade, pode causar a morte dos organismos aeróbios e tornar a água imprópria para uso. A cidade de São Mateus-ES, não possui estação de tratamento do esgoto, e por isso o esgoto sanitário é diretamente lançado no Rio São Mateus e no seu afluente o Rio Abissínia. A situação é preocupante, pois suas águas são captadas para abastecimento das residências do bairro Guriri (São Mateus- ES), poucos quilômetros (aprox. 8 km) após receber os despejos municipais (VARGAS e COTTA, 2013). Tradicionalmente, a taxa de consumo do OD é determinada através de medidas da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), monitorando-se o consumo do OD num intervalo de alguns dias (SPERLING, 2005). Neste trabalho, uma nova técnica é proposta para se realizar o monitoramento da quantidade de CO2 gerado durante a decomposição da aeróbia da MOB no frasco reator, ao mesmo tempo que o consumo de OD é registrado. Objetivando-se investigar a correlação entre estes parâmetros.

Material e métodos

Amostras da água do Rio Abissínia, o qual recebe a maior parte do esgoto domestico da cidade de São Mateus-ES, foram tomadas com frascos plástico de 1L, submergindo-o emborcado até uma profundidade de 20 a 30 cm e preenchidos completamente com amostra. No local, o OD registrado foi sempre <0,3 mg/L. Construção do sistema integrado de ensaio respirométrico e de fixação do CO2: Foi construído um sistema para integrar para a execução dos ensaios respirométrico, de consumo de OD, à semelhança do proposto por FERREIRA (2005), e o ensaio de fixação de CO2. O protótipo é composto por uma bomba de ar, dois frascos fixadores de CO2(g), ambos contendo solução saturada com Ba(OH)2, um frasco reator, no qual a amostra sob análise é introduzida, e por um quarto frasco contendo água para que o ar do ambiente não entre em contato com a segunda solução fixadora. O ar é bombeado diretamente para o primeiro frasco fixador (A) para remover o CO2(g) do fluxo de ar que segue para o frasco reator (B). Deste, o fluxo de ar segue para o segundo frasco fixador (C), o qual retém o CO2(g) produzido durante a respiração dos microoganismos no reator (na forma de BaCO3(s)), assim a massa de BaCO3(s) obtida reflete a quantidade de MOB que foi oxidada. A qual é representada pela glicose, C6H12O6. A amostra é aerada no reator, e o consumo do OD monitorado com uma sonda amperométrica, em intervalos de 2-3 h, por 3 dias. O CO2(g) produzido, foi fixado sob a forma de BaCO3(s), o qual teve sua massa registrada, e representada como MOB (na forma de glicose), através de cálculos estequiométricos.

Resultado e discussão

O sistema para realização dos ensaios respirométrico e de fixação do CO2 é apresentado na Figura 1. Para a medida de OD no reator, sem perda do CO2(g) produzido, o monitoramento do consumo de OD foi realizado apenas durante período diurno e com uma tampa à qual o sensor de OD foi fixado com o auxilio de anéis de silicone para vedação da sonda à tampa. Após a aeração da amostra, registrou-se a concentração de OD inicial e a cada 2-3 h com a amostra sob agitação magnética. Ao final do dia, ou quando um valor próximo a 2mg/L de O2 era alcançado, a amostra era novamente aerada para se transferir o CO2(g) produzido para o frasco fixador e elevar o valor de OD. Somente depois, o reator era aberto e uma tampa simples (sem o sensor de OD) era empregada para o período noturno. Deste modo, a cada dia pode-se realizar a calibração do sensor e evitava-se deixa-lo submerso na amostra por um período no qual este não seria usado. O BaCO3(s) foi separado por filtração e seco antes da pesagem. Os valores da massa obtida de BaCO3(s), da MOB relativa ao CO2 produzido e da MOB relativa O2 consumido, estão na Tabela 1. A similaridade dos valores registrados nos dois ensaios realizados revela a homogeneidade dos efluentes municipais. Os valores estimados de MOB, a partir da massa do BaCO3(s) fixado, são superiores aos valores de MOB, calculados através do O2 consumido ao longo do ensaio. Indicando que uma parte (25%) de todo CO2 fixado pode ter sido gerado por processos de degradação anaeróbia, ou, não houve a remoção de todo o CO2 do ar de aeração, ou, que uma forma mais oxidada (do que a glicose) está presente no efluente.

Tabela 1.

Valores obtidos experimentalmente e estimados com as relações estequiométricas das reações I e II para as variáveis estudadas

Figura 1.

Protótipo construído para a medição dos parâmetros respirométricos.

Conclusões

Após diversos ajustes no protótipo e definição do protocolo de medidas os ensaios respirométrico e de fixação de CO2 puderam ser integrados sem prejuízos. O uso do protótipo construído permitiu verificar o comprometimento da qualidade da água do Rio São Mateus, por despejos orgânicos. Os resultados relativos ao CO2(g) não foram conclusivos. Mesmo assim são importantes, pois podem correlacionar os parâmetros consumo de OD e liberação de CO2(g), não apenas pela via aeróbia, como amplamente admitido.

Agradecimentos

À UFES pelo apoio financeiro e bolsa de iniciação científica.

Referências

FERREIRA, E.D.S. Aplicação da Respirometria na caracterização do esgoto doméstico afluente a uma ETE por processos de lodos ativados. Dissertação de mestrado em tecnologia ambiental e recursos hídricos. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, Brasil, 117p, 2002.
SPERLING, M.V. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. UFMG. 3ª edição, 2005.
VARGAS, M.V.L.; COTTA, A.J.B. Avaliação dos impactos decorrentes do lançamento de efluentes urbanos no Rio São Mateus – ES: Resultados Preliminares. In: XVI COREEQ – Congresso Regional de Engenharia Química. Anais do Coreeq 2013, 2013.

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