Cinética de adsorção do herbicida paraquate em argila bentonita sódica e em materiais híbridos TiO2-Bentonita e Al2O3/Fe2O3-Bentonita

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Físico-Química

Autores

Magri, V.R. (UNESP/IBILCE) ; Fertonani, F.L. (UNESP/IBILCE) ; Pastre, I.A. (UNESP/IBILCE)

Resumo

No presente trabalho modificou-se a estrutura da argila bentonita sódica (Na-B) obtendo-se materiais híbridos TiO2-Bentonita (Ti-B) e Al2O3/Fe2O3- Bentonita (Al/Fe-B). Caracterizou-se e aplicou-se os materiais em ensaios de cinética de adsorção, frente ao herbicida paraquate em meio aquoso. Observou-se que a capacidade de troca de cátions (CTC) das argilas, que diminui em função do método de modificação, foi dependente do tamanho médio de partícula do material. Verificou-se que a CTC foi a característica que mais influenciou na capacidade adsortiva dos materiais. Ambas, CTC e capacidade adsortiva, seguiram a ordem: Na-B > Ti-B > Al/Fe-B. As argilas apresentaram cinética de adsorção rápida com o equilíbrio se estabelecendo em 30 minutos para Na-B e Ti-B e em 45 minutos para a argila Al/Fe-B.

Palavras chaves

Paraquate; Bentonita; Adsorção

Introdução

O paraquate (Dicloreto de 1,1-dimetil-4,4-bipiridinio) é um herbicida de ação foliar, persistente na natureza, extremamente tóxico, e que está entre os agrotóxicos mais utilizados no mundo (HAN et al., 2010; MARTINS, 2013). Os tratamentos convencionais de água e efluentes não são eficientes na remoção de substâncias persistentes e o herbicida torna-se passível de atingir a população pela contaminação da água de abastecimento (DE LEÓN et al., 2008; DHAOUADI; ADHOUM, 2010) pois frequentemente é encontrado em ambientes aquáticos (FERNÁNDEZ; IBÁÑEZ; PICÓ, 1998; AMONDHAM et al., 2006; BRITTO et al., 2012). Tratamentos terciários, como adsorção em fase líquida e fotocatálise heterogênea, mostram-se como métodos alternativos aos tratamentos convencionais de efluentes líquidos (WONG et al., 2004; WANG; HUNG; SHAMMAS, 2006). Um dos desafios nesta área está no desenvolvimento de matrizes sólidas viáveis e eficientes para serem utilizadas nesses processos (ESPLUGAS et al., 2002; WANG et al., 2013). Materiais como a argila bentonita, recebem atenção por serem abundantes e de baixo custo. Ademais, propriedades físico-químicas como expansibilidade em água, área de superfície especifica elevada, capacidade adsortiva e de troca de cátions, fazem da argila um excelente adsorvente e possibilitam a modificação estrutural do material. De acordo com o método de modificação obtêm-se materiais funcionalizados com propriedades fotocatalíticas (MURRAY, 2007; GALEANO; GIL; VICENTE, 2010; YANG et al., 2013). Neste contexto, o trabalho objetivou a síntese de materiais híbridos TiO2-Bentonita e Al2O3/Fe2O3- Bentonita, a partir da argila bentonita sódica, para serem utilizados na remoção do paraquate de sistemas aquosos. Como etapa inicial da investigação realizou-se ensaios de cinética de adsorção.

Material e métodos

Os materiais foram preparados como descrito a seguir: A) Na-B: a argila bentonita (Sigma-Aldrich) foi tratada com NaCl em meio aquoso, fracionada por centrifugação, a fração mais leve foi dialisada, seca em estufa a 80°C e calcinada em mufla a 450°C por 2 horas; B) Ti-B: preparou-se um gel de TiO2 como descrito por Cervantes, Zaia e Santana (2009), com modificações. Sob agitação magnética, o gel foi adicionado a uma suspensão aquosa 2% m/v de bentonita sódica não calcinada (TiO2/Argila = 1:20). O material foi liofilizado e calcinado nas mesmas condições que a Na-B; C) Al/Fe-B: preparou-se uma solução de polihidroxicátions mistos de Al3+ e Fe3+, com porcentagem de [Fe3+]/[Al3++Fe3+] = 3%, como descrito por Galeano, Gil e Vicente (2010), com modificações. A solução foi adicionada a uma suspensão aquosa 2% m/v de bentonita sódica não calcinada (20,0 meq g-1). O material foi lavado, liofilizado e calcinado nas mesmas condições que a Na-B. Dentre outras técnicas, as argilas foram caracterizadas por difratometria de raios- X, determinação da área de superfície por BET, determinação da CTC por Kjeldhal e determinação do tamanho médio de partícula por espalhamento de luz. Os ensaios de cinética de adsorção foram realizados em triplicata a 25±1 °C. Amostras, com concentração 0,1 g L-1 de argila e 14,97 mg L-1 de paraquate, foram mantidas sob agitação magnética, retiradas em função do tempo (t: 2,5 a 120 minutos) e centrifugadas. Analisou-se os sobrenadantes em espectrofotômetro UV-Vis, calculou-se a quantidade de herbicida adsorvido nos tempos t (Qt: mg g-1) e, aos resultados experimentais, aplicou-se as equações de cinética de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem. Calculou-se também a porcentagem adsorvida no equilíbrio (%Ads) (HO; MCKAY, 1998, 1999; SARI et al., 2007).

Resultado e discussão

Os resultados de caracterização dos materiais (Tabela 1) mostraram que os métodos de modificação não alteraram significativamente o espaçamento interlamelar (d001) das argilas e embora a modificação com TiO2 não tenha alterado significativamente a área de superfície específica (SBET) da argila, a modificação com polihidroxications de Al/Fe diminuiu consideravelmente essa propriedade. Além disso, as modificações aumentaram o tamanho médio de partícula e diminuiram a CTC do material e nota-se que essas grandezas são inversamente proporcionais. Por meio das curvas de cinética de adsorção do paraquate (Figura 1a) foi possível inferir que a cinética do processo é rápida, com o equilíbrio se estabelecendo em 30 minutos para Na–B e Ti–B, e em 45 minutos para Al/Fe–B. Ao aplicar as equações de cinética aos resultados experimentais, somente a de pseudo- segunda ordem [t/Qt = 1/k2.(Qeq)2 + 1/Qeq.t], atingiu valores de correlação aceitáveis (R2 > 0,90; curvas na Figura 1b). Essa equação fornece parâmetros cinéticos (Tabela 1) como a constante de velocidade de pseudo-segunda ordem (k2: g mg-1 min-1) e a quantidade de herbicida adsorvido no equilíbrio (Qeq: mg g-1). A correlação com essa equação sugere que a Qeq é proporcional aos sítios ativos do material e que a adsorção envolve interações coulombianas entre o dicátion paraquate e os grupos da argila carregados negativamente (Si–O- e Al–O-) (HO; MCKAY, 1998, 1999; SARI et al., 2007). Mediante análise comparativa dos resultados, observa-se que a k2 aumentou para a argila Ti-B e diminuiu para a argila Al/Fe-B em relação à Na-B, que os valores de Qeq são consistentes com os obtidos experimentalmente e que a capacidade adsortiva da argila frente ao paraquate foi dependente de sua CTC, onde ambas seguiram a ordem Na-B > Ti-B > Al/Fe-B.

Figura 1.

Curvas de: (a) cinética de adsorção e (b) cinética de pseudo-segunda ordem para a adsorção do herbicida paraquate nas argilas estudadas; T = 25±1 °C.

Tabela 1.

Parâmetros obtidos por meio da caracterização estrutural das argilas e por meio dos estudos de cinética de adsorção do herbicida paraquate.

Conclusões

Os métodos de modificação alteraram significativamente apenas o tamanho médio de partícula e a CTC da argila bentonita. Além disso, essas propriedades mostraram-se inversamente proporcionais. A cinética de adsorção foi rápida em todos os materiais e a quantidade de paraquate adsorvido foi dependente da CTC do material. Contudo, a modificação com TiO2 aumentou a constante de cinética de pseudo-segunda ordem, referente a adsorção do paraquate pela argila Ti-B.

Agradecimentos

Agradecemos ao IBILCE/Unesp, ao Prof. Dr. José Geraldo Nery e à Profa. Dra. Marcia Perez dos Santos Cabrera, da mesma instituição, por disponibilizar seus equipamento

Referências

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