PROPRIEDADES REOLÓGICAS DE MUCILAGEM DE SEMENTES CASTANHA E DOURADA DE LINHAÇA (Linum usitatissimum) OBTIDAS A PARTIR DIFERENTES PROCESSOS DE EXTRAÇÃO

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Alimentos

Autores

Lucyszyn, N. (PUCPR) ; Soares, A.M.C. (PUCPR) ; de Souza, C.F. (PUCPR) ; Silveira, J.L.M. (UFPR) ; de Lima, N.N. (PUCPR)

Resumo

Nesse estudo foi feita a comparação das propriedades reológicas de amostras de mucilagem de sementes de linhaça castanha (LC) e dourada (LD) obtidos a partir da extração aquosa à frio (25ºC) e quente (80ºC) seguida de precipitação com etanol ou liofilização. As medidas foram realizadas em Reômetro HAAKE MARS II, sensor C60/2oTi. A amostra a partir de sementes de linhaça castanha obtida pela extração à quente e precipitada com etanol apresentou valores de viscosidade superiores em comparação com as outras amostras. O caráter mais elástico para a mesma amostra foi confirmado por medidas oscilatórias. Esses resultados demonstram que as diferenças botânicas e o processo de extração podem influenciar as características reológicas do material.

Palavras chaves

Reologia; Polissacarídeo; Linhaça castanha

Introdução

A linhaça (Linum usitatissimum) é uma semente oleaginosa que tem sido estudada por seus benefícios à saúde, sendo reportados efeitos no controle do diabetes (BHATHENA e VELASQUEZ, 2002) e nos níveis de colesterol (COUTO e WICHMANN), entre outros. Há dois tipos principais de linhaça, a castanha (ou marrom) e a dourada. No Brasil, a cultura convencional é a da linhaça castanha, que se adapta melhor às condições de clima e solo. A linhaça dourada é plantada no hemisfério norte (TRUCOM, 2006). As sementes contêm de 22 a 26% de proteína, sendo que sua composição de aminoácidos a classifica como proteína completa, de alto valor biológico (BOMBO, 2006). A fração lipídica corresponde a 35% de sua massa, dos quais 55% são de ácido α-linolênico (ácido graxo ω-3) e de 15 a 18% são compostos por ácido linoléico. Apresenta de 0,6 a 1,8% da lignana secoisolariciresinol diglicosídeo (SDG) (PRASAD, 2008) e é conhecida, por seu alto teor de fibras solúveis mucilaginosas que consistem em três tipos distintos de arabinoxilanas. Em solução estes polissacarídeos apresentam-se na forma de redes e agregados, conferindo ao polímero o caráter gel (SPERONI et al, 2010). Assim, o emprego da mucilagem extraída da linhaça em produtos industrializados apresenta-se como uma possibilidade interessante e realmente promissora. Na Europa e na América do Norte, são encontrados muitos produtos fabricados a partir da linhaça dourada. Já no Brasil, é produzida a linhaça castanha, no entanto a literatura apresenta estudos restritos sobre o uso da mucilagem em alimentos processados. O presente trabalho tem por objetivo avaliar as características reológicas da mucilagem da linhaça castanha, produzida no Brasil, e comparar com a linhaça dourada, além de avaliar, as possibilidades de seu uso.

Material e métodos

As sementes de linhaça castanha (LC) e dourada (LD) foram obtidas no comércio de Curitiba/PR, e submetidas separadamente a dois processos de extração: No processo 1, as sementes de linhaça foram trituradas em liquidificador e submetidas à extração de lipídeos com éter de petróleo, em Soxhlet (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2004). O resíduo foi seco e submetido a extração aquosa à temperatura de 25°C, em liquidificador. O resíduo foi separado através de centrifugação à 4000 rpm/12 min. Ao sobrenadante foi acrescentado NaCl até obter uma concentração de 0,1 mol.L-1 da solução e o polissacarídeo foi precipitado com 2 volumes de etanol, filtrado e seco à 25°C (LUCYSZYN et al, 2006) gerando as amostras 1LD e 1LC. No processo 2, as sementes inteiras, in natura, foram colocadas em água destilada (10%, p/v), a 70ºC, em agitador magnético, durante 150 minutos (SPERONI et al, 2010). O material mucilaginoso obtido foi submetido a filtração e o filtrado divido em duas frações A e B . A fração A foi precipitada com 2 volumes de etanol, filtrado e seco à 25°C, gerando as amostras 2LD e 2LC. A fração B foi liofilizada (amostras 3LD e 3LC). As amostras foram solubilizadas em água destilada (10 g/L), sob agitação por 18 horas, 25°C, previamente às análises reológicas. As análises reológicas foram realizados em Reômetro HAAKE MARS II, utilizando sensor cone placa (C60/2oTi), acoplado a um microcomputador com software Haake na temperatura de 25°C.

Resultado e discussão

Análises reológicas das soluções de polissacarídeos de sementes de LC e LD obtidas por diferentes processos de extração e secagem em sistema estático estão demonstrados na figura 1. Todas as amostras analisadas apresentam um comportamento pseudoplástico, ou seja, a viscosidade aparente diminuiu com o aumento da taxa de cisalhamento (0,1 a 100 s-1) como relatado para outros biopolímeros como galactomanana e xiloglucana (VALENGA, 2007; MARTIN, 2003). Entre as amostras, a uma taxa de cisalhamento de 100 s-1, a mucilagem de sementes de linhaça castanha obtida a partir da extração a quente seguida de precipitação com etanol (2LC) apresentou maior viscosidade em relação às outras amostras (Tabela 1). A fim de analisar as propriedades viscoelásticas das amostras, medidas reológicas foram feitas na região do comportamento viscoelástico linear. Na Tabela 1, são apresentados os valores de G’ (módulo de cisalhamento elástico) e G” (módulo de cisalhamento viscoso) obtidos na frequência de 1 Hz. Pode ser observado que todas as amostras apresentaram valores de G' inferiores a G”, o que sugere soluções com caráter líquido. O menor valor de tan δ (G”/ G’) foi encontrado para a amostra 2LC (1,72). A determinação do valor de tan δ é importante porque ao relacionar os dois módulos se pode caracterizar o comportamento da amostra, ou seja: apresenta um caráter mais elástico ou mais viscoso. Quanto mais baixo o valor de tan δ maior é a característica elástica. Portanto, nessa frequência, a amostra 2LC é que apresentou o caráter mais sólido. As viscosidades aparentes baixas para amostras 3LD e 3LD (Tabela 1) inviabilizaram as suas análises em sistema dinâmico oscilatório.

Figura 1

Curva de viscosidade de soluções aquosas de mucilagem de sementes de linhaça castanha e linhaça dourada obtidas por diferentes processos de extração

Tabela 1

Medidas oscilatórias comparativas de amostras de mucilagem extraída de linhaça castanha e linhaça dourada obtidas por diferentes processos de extração

Conclusões

A fonte de linhaça e o processo de extração influenciaram no comportamento reológico das amostras de mucilagem analisadas. A amostra de linhaça castanha, extraída à quente e precipitada com etanol, fonte nacional, apresentou maior viscosidade o que pode otimizar seu uso industrial em relação ao custo-benefício comparada à linhaça dourada que é importada e nas mesmas condições de extração apresentou viscosidade aparente 44% menor.

Agradecimentos

À Fundação Araucária pela bolsa PIBIC (Soares, A.M.C.), à PUCPR, PRONEX, REDE NANOGLICOBIOTECNOLOGIA CNPq/MCT e UFPR pela estrutura, equipamentos e reagentes fornecidos p

Referências

BOMBO, A.J. (2008) Obtenção e caracterização nutricional de snacks de milho (Zea mays L.) e linhaça (Linum usitatossimum L.). 2006. 96f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, São Paulo, 2006. BHATHENA S.J.; VELASQUEZ, M.T. Beneficial role of dietary phytoestrogens in obesity and diabetes. The American Journal of Clinical Nutrition, v. 76, p. 1191–1201, 2002. COUTO, A.N.; WICHMANN, F.M.A. Efeitos da farinha da linhaça no perfil lipídico e antropométrico de mulheres. Alimentos e Nutrição, v. 22, n. 4, p. 601-608, out./dez. 2011. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. 4 ed. São Paulo: IAL, 2004. LUCYSZYN, N.; QUOIRIN, M.; KOEHLER, H.S.; REICHER, F.; SIERAKOWSKI, M-R. Agar/galactomannan blens for strawberry (Fragaria x ananassa Duchesne) cv. Pelican micropropagation. Scientia Horticulturae, v. 107, p. 358-364, 2006. MARTIN, S. Galactoxiloglucana de sementes de Hymenaea courbaril: estrutura e propriedades. Curitiba, 2003. 109 f. Tese (Doutorado em Bioquímica) – Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná. PRASAD, K. Regression of hypercholesterolemic atherosclerosis in rabbits by secoisolariciresinol diglucoside isolated from flaxseed. Atherosclerosis, v. 197, 34-42, 2008. SPERONI, C. S. et al. Benefícios da retirada de mucilagem da linhaça para o aprimoramento da extração do óleo. In: 25ª JORNADA ACADÊMICA INTEGRADA, 2010, Santa Maria. Anais. Santa Maria: 25ª JAI, 2010. TRUCOM, C. A importância da linhaça na saúde. São Paulo:Editora Alaúde, 2006. 152 p. VALENGA, F.; LUCYSZYN, N.; SOUZA, C.F. de.; LUBAMBO, A.F.; SIERAKOWSKI, M.-R. Galactomannan-alginate synergism applied in albumin encapsulation. Macromolecular Symposium, v. 299-300, 99-106, 2011.

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