ISBN 978-85-85905-15-6
Área
Alimentos
Autores
Cardoso Pinho, A. (UFRA) ; Paula Pantoja Caxias da Silva, B. (UFRA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA)
Resumo
Este trabalho procurou caracterizar o leite-do-amapá comercializado em barracas da tradicional feira do Ver-o-Peso, em Belém do Pará, em termos de alguns parâmetros físico-químicos (pH, condutividade elétrica, acidez, viscosidade, densidade e teor de voláteis), todos seguindo metodologias padrão do Instituto Adolfo Lutz. Esta caracterização se mostra importante, pois este produto é usado pela população da Amazônia com diversos fins medicinais e por ser um recurso natural que pode ser explorado de modo sustentável. Os resultados encontrados sugerem que não há uma padronização do produto vendido, sendo que cada vendedor comercializa o produto com adição de água ao látex natural em proporções diferentes.
Palavras chaves
látex; físico-química; medicinal
Introdução
Na região amazônica muitas espécies de árvores são chamadas pela população de amapazeiro. A população utiliza mais o amapá-amargo (Parahancornia amapa (Huber) Ducker) e o amapá-doce (Brosimum parinariodides Ducke) no tratamento de sífilis, gastrite e problemas respiratório (Silvia et al., 2010). Este látex é extraído fazendo-se cortes no tronco da árvore de modo similar ao processo extrativista do látex da seringueira, por pessoas que adentram a florestas em busca do amapazeiro. O “leite” do amapazeiro é facilmente encontrado em feiras livres em Belém do Pará. O látex do amapá-amargo está entre os vinte produtos de uso de medicinal mais comercializados no mercado local de Belém do Pará (SERRA et al., 2011), todavia existem poucos estudos sobre tal produto. Segundo Silva (2010), apesar de haver o extrativismo e comércio do látex de amapá amargoso, que possui amplitude regional, informações sobre o mercado, ecologia, manejo e importância da atividade para as pessoas envolvidas ainda são inexistentes. O presente trabalho buscou realizar uma caracterização físico-química do “leite” de amapá comercializado em Belém do Pará, com o intuito de contribuir com informações deste produto não-madeireiro, sendo que sua exploração poderá contribuir para o uso sustentável da floresta.
Material e métodos
Para a realização do presente trabalho, foram adquiridas 6 amostras de “leite” de amapá, vendido em 4 barracas da feira do Ver-o-Peso, localizada em Belém do Pará, a qual segundo Silva (2010), é a maior feira ao ar livre da região amazônica, totalizando 80 barracas que vendem diversos produtos oriundos de espécies de plantas medicinais, sendo que esses produtos são comercializados pelos(as) chamados(as) “erveiros(as)”, que são pessoas que se destinam a vender produtos de origem vegetal (cascas, óleos, sementes, raízes, etc) ou de origem animal, sendo que tais produtos são usados no tratamento de diversas doenças. De posse das amostras foram realizadas análises físico-químicos (pH, acidez, condutividade elétrica, umidade ou teor de voláteis e densidade), utilizando as metodologias preconizadas pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2010), e a viscosidade foi determinada via copo Ford N° 3, tendo sido cronometrado o tempo de escoamento do “leite” através do orifício do aparelho, sendo que este tempo foi convertido para a viscosidade com emprego da equação fornecida pelo fabricante. Todas as análises forma feitas em triplicata no Laboratório de Físico-Química do Centro de Tecnologia Agropecuária (CTA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).
Resultado e discussão
A tabela 1 traz os resultados das análises físico-químicas das amostras de
“leite” de amapá. Os resultados de pH estiveram entre 5,54 e 5,89, com média
igual a 5,62, o que caracteriza um produto com carácter ácido. A
condutividade elétrica (CE) é um parâmetro que mede a condução da corrente
elétrica em soluções, portanto estima o conteúdo iônico das soluções, o qual
registrou valores entre 23,00 e 174,00 mS/cm, com média de 94,00 mS/cm. O
látex de amapá registrou uma média de viscosidade de 29,28 mS/cm, sendo um
material menos viscoso que o extraído da seringueira (Hevea brasiliensis),
segundo Ripel (2005) apud Agostini (2009) a viscosidade do látex da
seringueira é variável, principalmente se o látex for diluído, então pode-se
supor que a ampla variação de viscosidade entre as amostras conforme a sua
barraca de origem pode ter sido por causa de possíveis diluições
diferenciadas do produto. Segundo Cecchi (2003), a acidez total é uma
análise bastante importante tendo em vista que por meio dela é possível
obter dados valiosos sobre o processamento e do estado de conservação dos
alimentos. O “leite” de amapá é utilizado como fortificante por várias
pessoas na Amazônia, portanto não deixa de ser um alimento, cujas amostras
analisadas no presente trabalho mostrou valores variando entre 1,98 e 14,28
b% com média igual 9,25 %. Os valores dos teores de voláteis variaram entre
95,39 e 98,88 %, com média de 96,92 %, indicando que este produto não-
madeireiro é constituído quase na sua totalidade por substância voláteis a
105 °C. A densidade foi de 1,19 g.cm-3 para todas as amostras analisadas,
sendo superior aos valores encontrados por Ripel (2005) citado por Agostini
(2009) para o látex coletado de Hevea brasiliensis (0,975 e 0,980 g.cm-3).
Legenda: C.E. = condutividade elétrica; Visc. = viscosidade; TV = teor de voláteis; Dens. = Densidade.
Conclusões
O “leite” de amapá comercializado em Belém do Pará é ácido, com viscosidade e densidade superiores ao látex da Hevea brasiliensis, possui quase 100 % de substancias voláteis a 105 ºC. Os valores de viscosidade encontrados para as diferentes barracas são bem distintos, sugerindo não haver uma padronização do produto comercializado.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CTA e a UFRA pela infraestrutura.
Referências
AGOSTINI, D. L. S. Caracterização dos constituintes do látex e da borracha natural que estimulam a angiogênese. Dissertação de mestrado apresentada a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, 2009;
CECHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. 2ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2003;
IAL. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Manual de Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos Químicos e Físicos para Análises de Alimentos. 4 ed. São Paulo, 2008;
SILVA, M. S. Látex de amapá (Parahancornia fasciculata (Poir) Benoist, Apocynaceae): remédio e renda na floresta e na cidade. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina, 2010;
SERRA, Murilo; FANTINI, Alfredo Celso; SHANLEY, Patricia. Látex de amapá (Parahancornia fasciculata (Poir Benoist, Apocynaceae): remédio. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 2, p. 287-305, maio-ago. 2011.