ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Simão, A.A. (UFLA) ; Corrêa, A.D. (UFLA) ; Marcussi, S. (UFLA) ; Carvalho, T.C.L. (UFLA) ; Oliveira, C.H.M. (UFLA) ; Machado, G.H.A. (UFLA) ; Cesar, P.H.S. (UFLA) ; Marques, T.R. (UFLA) ; Ramos, V.O. (UFLA)
Resumo
Objetivou-se neste trabalho avaliar o potencial hemolítico, coagulante, fosfolipásico e fibrinogenolítico do extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia, a fim de assegurar o seu uso pela população e em formulações de novos produtos. Nas concentrações analisadas, o extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia não induziu a lise de fosfolipídios, coagulação e não se mostrou proteolítico sobre a molécula de fibrinogênio. Contudo, apresentou potencial hemolítico em concentrações superiores a 10µg. Dessa maneira, é prematura a recomendação do uso desse extrato quanto a eventuais riscos e benefícios para a saúde humana, sendo necessários estudos adicionais de toxicidade, eficácia e segurança, principalmente em relação à atividade hemolítica observada.
Palavras chaves
Hortaliças-não convencion; ora-pro-nobis; hemólise
Introdução
Diversas espécies ainda sub-exploradas da flora brasileira podem constituir uma fonte de renda alternativa e uma opção alimentar. A ora-pro-nobis (diferentes espécies do gênero Pereskia), taioba, serralha e a mostarda são hortaliças-não convencionais, consumidas pelas populações rurais e urbanas e que contribuem para complementar a alimentação e a economia familiar. O consumo da ora-pro-nóbis ocorre principalmente nas antigas regiões mineradoras em Minas Gerais. A riqueza de nutrientes a torna importante na alimentação humana e animal, sendo esta utilizada em preparações como farinhas, saladas, refogados, tortas e massas alimentícias como o macarrão (ROCHA et al., 2008). A Pereskia aculeata Miller, entre as espécies que compõem o gênero Pereskia, representa a espécie mais amplamente investigada cientificamente, assim como consumida em diversas regiões do país. Já a Pereskia grandifolia, embora amplamente utilizada na alimentação, é muito pouco estudada quanto aos seus constituintes químicos e toxicidade. Além do hábito cultural de consumo das cactáceas do gênero Pereskia, o seu interesse vem aumentando nos últimos anos pela indústria alimentícia e farmacológica, sobretudo pelo alto teor de proteínas e de mucilagens. Todavia, estas hortaliças não-convencionais ainda são cultivadas de forma marginal e rudimentar (KINUPP, 2008), e a falta de informações por parte da população quanto ao seu valor nutricional e toxicidade, faz com que seu consumo seja reduzido (ROCHA et al., 2008), especialmente de Pereskia grandifolia. Diante do exposto, objetivou-se neste trabalho avaliar o potencial hemolítico, coagulante, fosfolipasico e fibrinogenolítico do extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia, a fim de assegurar o seu uso pela população e em formulações de novos produtos.
Material e métodos
Folhas de Pereskia grandifolia foram lavadas em água corrente, permaneceram por 1 hora em solução de hipoclorito a 0,1%, sendo então lavadas em água destilada e, em seguida, colocadas em estufas com circulação de ar forçada para secagem, por 48 horas, à temperatura de 35°C. Após secagem, as folhas foram moídas em moinho tipo Willey e, em seguida, a farinha obtida foi submetida à decocção em água fervente na proporção 1:25 (m/v). O extrato obtido foi então centrifugado a 10.000 x g por 10 minutos. O sobrenadante foi recolhido e o precipitado foi novamente submetido ao processo de extração descrito por mais duas vezes. Os extratos foram reunidos e submetidos à liofilização. A atividade fosfolipásica foi avaliada sobre uma emulsão de gema de ovo, a qual contém fosfatidilcolina como substrato, pelo uso de meio sólido conforme descrito por Gutiérrez et al. (1988), sendo utilizada uma única modificação, a troca da agarose por ágar. Para a avaliação da hemólise de eritrócitos humanos em meio sólido, foi utilizada a mesma metodologia descrita acima, porém com substituição da gema de ovo por eritrócitos em solução de PBS. A atividade coagulante foi realizada utilizando plasma humano citratado (200 µL), estabilizado à temperatura de 37°C, procedendo com adição do extrato (RODRIGUES et al., 2000). Para estes ensaios os extratos foram avaliados nas concentrações de 1, 5, 10, 25, 50, 100 e 400 µg. Como controles foram utilizados PBS e peçonha de Bothrops moojeni. Já a atividade fibrinogenolítica foi realizada incubando-se diferentes concentrações do extrato (60, 100, 200 e 400 µg) com fibrinogênio bovino (80 µg) por 60 minutos. As amostras foram analisadas por eletroforese em gel de poliacrilamida a 12% em condições desnaturantes (LAEMMLI, 1970).
Resultado e discussão
Nas concentrações analisadas, o extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia
não induziu a lise de fosfolipídios, entretanto, mostrou-se hemolítico em
concentrações superiores a 10 µg. Em relação à atividade coagulante, nenhuma das
concentrações testadas foi capaz de induzir coagulação, sugerindo assim, não
haver, na composição do extrato aquoso avaliado, moléculas capazes de clivar ou
interagir com componentes da cascata de coagulação (resultados não mostrados).
O extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia nas concentrações avaliadas
(60, 100, 200 e 400 µg) não se mostrou proteolítico sobre a molécula de
fibrinogênio ou com propriedades de ligação à esta proteína, uma vez que o
perfil eletroforético do fibrinogênio se manteve inalterado após incubação na
presença do extrato por período de 60 minutos (Figura 1). O fibrinogênio é uma
glicoproteína plasmática com estrutura dimérica simétrica constituída de três
pares de cadeia polipeptídicas (cadeia alfa, beta e gama), ligadas entre si por
pontes dissulfeto, com função principalmente na coagulação e agregação
plaquetária. A quebra de suas cadeias pode levar a alterações no processo de
coagulação com consequente indução de hemorragias e/ou formação de coágulos
sanguíneos.
Avaliação da interação entre fibrinogênio e o extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia (EAFPG).
Conclusões
O extrato aquoso de folhas de Pereskia grandifolia nas concentrações avaliadas não apresenta potencial fosfolipásico, coagulante e fibrinogenolítico. Porém, mostra- se hemolítico em concentrações superiores a 10 µg. Dessa maneira, é prematura a recomendação do uso desse extrato quanto a eventuais riscos e benefícios para a saúde humana, sendo necessários estudos adicionais de toxicidade, eficácia e segurança, principalmente em relação à atividade hemolítica observada.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPQ pela bolsa de pós-doutorado, e a FAPEMIG pelo apoio financeiro.
Referências
GUTTIÉRREZ, J. M.; AVILA, C.; ROJAS, E.; CERDAS, L. An alternative in vitro method for testing the potency of the polyvalent antivenom produced in Costa Rica. Toxicon, v. 26, n. 4, p. 411-13, 1988.
KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. Teores de proteína e minerais de espécies nativas, potenciais hortaliças e frutas. Food Science Technology, Campinas, v. 28, n. 4, p. 846-57, 2008.
LAEMMLI, U. K. Cleavage of structural proteins during the assembly to the head of bacteriophage T4. Nature, v. 227, p. 680-685, 1970.
ROCHA, D. R. C.; PEREIRA JÚNIOR, G. A.; VIEIRA, G.; PANTOJA, L.; SANTOS, A. S.; PINTO, N. A. V. D. Alimentos e Nutrição, v. 19, n. 4, p. 459-465, 2008.
RODRIGUES, V.; SOARES, A. M.; GUERRA-SÁ, R.;, RODRIGUES, V.; FONTES, M. R. M.; GIGLIO, J. R. Structural and Functional Characterization of Neuwiedase, a Nonhemorrhagic Fibrin(ogen)olytic Metalloprotease from Bothrops neuwiedi Snake Venom. Archives of Biochemistry Biophysics, v. 381, p. 213-224, 2000.