ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Produtos Naturais
Autores
dos Santos Silva, A. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; de Araújo Tortola, D. (UFPA) ; da Silva Pinheiro, D. (UFPA) ; Celi Sarkis Muller, R. (UFPA)
Resumo
O objetivo deste trabalho foi investigar alguns parâmetros físico-químicos de chás de casca de sucuúba em pedaços e em pó, com a finalidade de estabelecer diferenças entre os chás elaborados, além de contribuir para a caracterização desse produto. Foram analisados os seguintes parâmetros: pH; condutividade elétrica (CE); teor de extrativos; densidade e acidez. Tendo como base os parâmetros citados, executou-se uma análise de componentes principais, que conseguiu separar as amostras de cascas em pedaço e de cascas pulverizadas em dois grupos distintos, com exceção de uma única amostra de chá de casca em pedaços que ficou incorretamente agrupada.
Palavras chaves
chá; sucuúba; Amazônia
Introdução
Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson, da família Apocynaceae, é uma árvore de grande porte conhecida como sucuuba e nativa da região Amazônica (CORREA, 1984). As folhas são utilizadas popularmente na forma de decocto contra constipação, dores e irritação do estômago, enquanto o látex é empregado topicamente contra afecções de pele (DI STASI, 2002). Há relatos de que extratos etanóicos da casca de sucuúba mostraram atividades leishmanicida interessantes (CASTILLO et al., 2007). Segundo relatos etnofarmacológicos, a sucuúba é indicada para os casos de dor nas costas (extrato do látex), pancada (tintura da casca), dor de dente (decocto da casca) e inflamação (decocto das folhas) .Suas cascas, galhos e látex são utilizados para casos de ferida, verme, artrite, dor, tumor, úlcera, gripe, herpes, leishmaniose, inflamação no útero e diarréia, por povos do Peru, Brasil e Bolívia (RODRIGUES et al., 2010). Apesar da grande importância apresentada anteriormente, o chá da casca de sucuúba ainda foi pouco estudado em termos químicos. O objetivo deste trabalho foi investigar alguns parâmetros físico-químicos de chás de casca de sucuúba (Himathantus sucuuba) em pedaços e em pó, com a finalidade de estabelecer diferenças entre os chás elaborados, além de contribuir para a caracterização desse produto. Os parâmetros analisados foram: pH; condutividade elétrica (CE); teor de extrativos; densidade e acidez. Aos dados obtidos se aplicou análise de componentes principais para distinção dos chás.
Material e métodos
Oito amostras de cascas de sucuuba (Himathantus sucuuba) foram adquiridas em feiras de Belém-PA, entre abril e junho de 2014. Tais cascas foram levadas para o Laboratório de Controle de Qualidade e Meio Ambientes (LACQUAMA-UFPA), sendo lavadas com água destilada, secas e divididas em 2 porções. Metade de cada amostra foi quebrada manualmente em pequenos pedaços, e as outras metades foram trituradas em moinho de facas, obtendo-se 2 conjuntos de 8 amostras: de cascas em pedaços (C1 a C8); e de cascas finamente pulverizadas (P1 a P2). Para o preparo dos chás, foi pesado 1 g de cada amostra em erlenmeyer de 250 mL e se adicionou 100 mL de água, levando-se para ferver em chapa aquecedora por 15 min. Após resfriassem foram coados com papel de filtro qualitativo. Foram executadas as seguintes análises físico-quimicas: condutividade elétrica, com o emprego de condutivímetro portátil (INSTRUTHERM, CD 880) calibrado com solução padrão de condutividade 146,9 μS/cm; pH, determinado usando pHmetro (PHTEK) calibrado com solução tampão pH 4 e 7; densidade, determinada através da medida de massa de chá contida em picnômetro de 10 mL; acidez, através de titulação com solução de NaOH 0,1 mol L-1; teor de extrativos, que consistiu na retirada de uma alíquota de 20 mL do chá, que foi levada a chapa aquecedora até secura, em cadinho previamente calibrado, e depois mantido em estufa a 105º C por 3 h. Todas essas metodologias seguiram a Farmacopéia Brasileira (2005). Todas as determinações foram realizadas em triplicatas, sendo os resultados apresentados como média e desvio padrão. Os resultados de cada parâmetro foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey (5 % de significância). O tratamento estatístico multivariado foi executado se empregando o programa MINITAB 16.
Resultado e discussão
Os resultados obtidos neste estudo se encontram na Tabela 1. Os valores de pH
para os chás das cascas em pedaços obteve média de 5,06 e o chá da casca
pulverizada, média 4,23, valores estes significativamente diferentes (p < 0,05),
o que implica no fato de a pulverização da casca ter rebaixado o pH do chá, isto
é, deixado o chá mais ácido, o que também é confirmado pelo parâmetro acidez,
que teve também médias significativamente distintas, sendo maior para o chá da
casca pulverizada (1,33%) do que para o de casca em pedaços (1,05%). O processo
de pulverização da casca não afetou o parâmetro condutividade elétrica, pois os
resultados encontrados para os dois grupos de chá não foram significativamente
diferentes. A pulverização da casca teve o efeito de elevar a densidade do chá
da casca de sucuúba, pois os resultados encontrados foram significativamente
distintos e o grupo de chás das cascas pulverizadas se mostrou mais denso. Este
fato está associado ao fato de que o teor de extrativos também ser mais elevado
no grupo dos chás de cascas pulverizadas, o que significa que o processo de
extração foi mais intenso neste grupo, e levando a uma maior concentração de
substâncias dissolvidas no chá, o que também elevaria a densidade. A análise de
componentes principais (Figura 1) conseguiu separa as amostras em 2 grupos
distintos, um de amostras de cascas em pedaços e o outro de amostras de cascas
pulverizadas, sendo que apenas a amostra C1 foi incorretamente agrupada, levando
a uma eficiência do método igual a 93,75%. Ressalta-se que essa amostra era a
que tinha os menores tamanhos dos pedaços da cascas de sucuúba.
O símbolo * significa não haver diferença significativa entre as amostras dos 2 conjuntos estudadas, conforme o teste t de Student (p < 0,05).
Separação entre os dois tipos de chás de sucuúba estudados, com base somente nos parâmetros físico- químicos pH, teor de extrativos e acidez.
Conclusões
A pulverização da casca de sucuúba provocou diferenças significativas em alguns parâmetros, tais como teor de extrativos, pois a pulverização reduziu as partículas, aumentando a superfície de contato do material vegetal com a água fervente, favorecendo assim a extração dos compostos existentes nas cascas de sucuúba. A análise de componentes principais se mostrou boa para separar os chás elaborados com a casca em pedaços e os elaborados com as cascas pulverizadas.
Agradecimentos
A Universidade Federal do Pará pela infra-estrutura necessária ao andamento deste trabalho.
Referências
CASTILLO, D.; AREVALO, J., HERRERA, F.; RUIZ,C.; ROJAS, R. Spirolactone iridoids might be responsible for the antileishmanial activity of a Peruvian traditional remedy made with Himatanthus sucuuba (Apocynaceae). Journal of ethnopharmacology 112.2 (2007): 410-414.
CORREA, M.P. (1984) “Dicionário de plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas”, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, Vol. 6, págs. 154-5.
DI STASI, L.C. e HUMA-LIMA, A.C., Plantas medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica, 2002, 2. ed., UNESP, São Paulo, págs. 375-92.
FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2005
RODRIGUES, Eliana; DUARTE-ALMEIDA, Joaquim M.; PIRES, Júlia Movilla. Perfil farmacológico e fitoquímico de plantas indicadas pelos caboclos do Parque Nacional do Jaú (AM) como potenciais analgésicas. Parte I. Brazilian Journal of Pharmacognosy, v. 20, n. 6, p. 981-991, 2010.