ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Ensino de Química
Autores
Nogueira, S.R.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Cardoso, F.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Machado, B.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)
Resumo
Neste trabalho, realizado em uma escola pública do Rio de Janeiro através dos Programas Institucionais LIFE UFF - Ciências da Natureza, Sociais e Humanas em diálogo e PIBID, apresentamos uma estratégia interdisciplinar construída para iniciar o segundo bimestre da 1ª série do Ensino Médio, nas disciplinas Química, Física e Biologia, atendendo as competências e conteúdos pré-estabelecidos pela Secretaria de Estado de Educação. A estratégia utilizou edições de filmes à disposição na web, animações em power point, perguntas e reflexões. Despertou a curiosidade, fomentou a participação dos alunos e perpassou as aulas do bimestre. Os resultados positivos foram percebidos tanto na participação dos alunos nas aulas, quanto nas avaliações feitas pelos professores e pela Secretaria de Estado.
Palavras chaves
Ensino Médio; Ciências da Natureza; interdisciplinaridade
Introdução
Desde 2011 o Sistema Estadual de Ensino do Rio de Janeiro vem sendo pautado pelo Currículo Mínimo (CMinRJ) proposto pela SEEDUC-RJ (RIO DE JANEIRO, 2012). Embora esta proposta curricular seja uma tentativa válida para a implantação do ensino por competências nas escolas da Rede Pública, ela não avançou para os níveis didático e pedagógico, pois estabeleceu uma sucessão de competências a serem trabalhadas por bimestre, mas não orientou sobre o planejamento e revisão das estratégias de ação e de intervenção ou sobre a dinâmica real da sala de aula. Outro ponto observado nas orientações do trabalho com o Currículo Mínimo é que o mesmo não possibilita alterações entre conteúdos bimestrais, o que favorece que os professores em exercício continuem ensinando conteúdos disciplinares da forma tradicional e compartimentada (MOREIRA, 2011). É importante ressaltar que a base curricular nacional é organizada em três áreas do conhecimento traduzindo-se a intenção de se desenvolver o currículo de forma integrada, de modo que os conteúdos, ainda que organizados em disciplinas e obedecendo a uma proposta de seriação, sejam abordados por temas nas diferentes disciplinas, as quais por sua vez mantêm-se articuladas, na tentativa de análise complexa da realidade em que vivem os estudantes (MAIA, SCHEIBEL & URBAN, 2009). Buscando caminhos para alcançar os níveis didático e pedagógico do ensino interdisciplinar no CMinRJ, apresentamos nesse trabalho, através da organização e realização de uma aula para as disciplinas da área das Ciências da Natureza, um exemplo de estratégia didático-pedagógica interdisciplinar para o desenvolvimento de competências e aquisição de conhecimentos e valores.
Material e métodos
Realizou-se uma análise prévia dos temas e competências descritos no CMinRJ para o 2º bimestre da 1ª série do EM e discutiu-se com os professores das disciplinas Química, Física e Biologia da escola parceira a forma como costumavam desenvolvê-los com os alunos. Os assuntos trabalhados foram uma introdução à Visão geral da tabela periódica; Lei da Gravitação Universal; e, Transmissão da vida - DNA. Os materiais usados foram um trecho de uma entrevista do astrofísico Neil de Grasse Tyson (Cosmic Quandaries, 2009) e uma apresentação em power point (ppt). No início da aula foi informado aos alunos que poderiam interromper a exibição da entrevista sempre que sentissem necessidade de serem esclarecidos. Além disso, programamos 11 paradas em pontos onde o esclarecimento da fala do entrevistado levava naturalmente à discussão de conceitos específicos de cada disciplina, ou sobre questões atuais. O ppt, usado para discutir ou detalhar algumas partes daquela fala, continha slides sobre: tabela periódica; um trecho do filme “Back to the Beginning Origins” (2004) - sobre a origem dos elementos químicos; fórmulas estruturais de aminoácidos e proteínas; um trecho do filme “Como a vida começou” (2008) - sobre o experimento de Miller; uma animação do sistema solar e de um satélite orbitando a Terra; figuras da estrutura do RNA e do DNA com as fórmulas estruturais das bases nitrogenadas; fotografias do telescópio Huble, de astronautas trabalhando no espaço na manutenção do telescópio e de algumas galáxias; um resumo das atividades de Stephen Hawking e comentários sobre sua doença degenerativa; um mapa genético; uma tabela comparativa de número de cromossomos de algumas espécies; e, um resumo das atividades de Neil Tyson.
Resultado e discussão
A aula, apresentada no horário da disciplina Física (07h20min - 9h) em 04/04/14, foi assistida pelos alunos da turma e por bolsistas PIBID (5 de cada disciplina). Os alunos ficaram passivos até a primeira interrupção proposital, aos 28 segundos. A partir daí participaram ativamente resgatando conhecimentos sobre a tabela periódica (9º ano), sistema planetário e teorias de origem da vida (1º bimestre), solicitando interrupções, respondendo e fazendo perguntas (Como sabemos que o número de prótons do átomo é igual ao de elétrons? Por que a estrela morre quando faz ferro? O que é fusionar? Quais alimentos têm betacaroteno? Por que a voz muda quando se inala Hélio? Por que a química do carbono é a química da vida? Por que teve efeito estufa em Vênus? Como sabemos que teve? O que é velocidade de escape? Por que tem gente que quer ir para Marte? O que é matéria escura? Onde encontrar informações sobre Stephen Hawking e Neil Tyson? Etc.). Também ficaram impressionados com a semelhança entre nosso DNA e o dos chimpanzés, com a amplitude da pesquisa genética e com Stephen Hawking. As discussões se prolongaram tanto que não houve tempo para assistirem ao vídeo sobre matéria escura, apresentado na aula de Física seguinte. Vale ressaltar que, mesmo com todas as interrupções realizadas, os alunos não perderam a visão geral da entrevista. As figuras e os vídeos foram reutilizados nas aulas pertinentes durante o bimestre, sendo sempre reconhecidos e as discussões proporcionadas lembradas. O rendimento dos alunos nas avaliações melhorou e a nota média da turma aumentou nas três disciplinas. Após a aula os bolsistas disseram que não haviam acreditado que “daria certo”, mas que os filmes, o ppt e os diálogos ficaram amarrados de tal forma que conquistaram aos alunos e a eles mesmos.
Conclusões
A estratégia executada ajudou os bolsistas e professores a ousarem propor formas alternativas para trabalhar conhecimentos e a se abrirem para receber sugestões. Com relação à turma, o caminho proposto além de lograr sucesso em despertar o interesse para os assuntos que seriam tratados nas disciplinas durante o bimestre, ajudou a consolidar a percepção de que não há fronteiras entre as ciências. Sobre valores humanos, a máxima que finalizava um dos vídeos “somos todos poeira estelar!” continua sendo usada como sinônimo de que nenhum de nós é melhor que os demais.
Agradecimentos
À CAPES, ao Colégio Estadual Guilherme Briggs, a Jean Michel P. Vasconcelos, pela edição dos filmes, e Rodrigo S. Castro, pela dublagem.
Referências
MAIA, C.M., SCHEIBEL,M.F. & URBAN, A.C. Didática: organização do trabalho pedagógico. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.
MOREIRA, M. A. Meaningful learning: from the classical to the critical view . Aprendizagem Significativa em Revista/Meaningful Learning Review – V1(1), pp. 1-15, 2011. (versão completa em português disponível em http://moreira.if.ufrgs.br)
RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Educação. Currículo Mínimo 2012. Rio de Janeiro: SEEDUC, 2012.
Cosmic Quandaries with Dr. Neil de Grasse Tyson. St Petersburg College. Disponível em www.youtube.com/watch?v=CAD25s53wmE&feature=youtu.be. Acessado em fevereiro de 20124.
Back to the Beginning Origins, NOVA, 2004. Disponível em www.youtube.com/watch?v=EzC3Lf9dQi8&feature=youtu.be. Acessado em fevereiro de 20124.
Como a vida começou, History Channel, 2008. Disponível em www.youtube.com/watch?v=3AAgEbA6c_8&feature=youtu.be. Acessado em fevereiro de 20124.