ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Ensino de Química
Autores
Moradillo, E.F. (UFBA) ; Carvalho, J.R.M. (UFBA) ; Pimentel, H.O. (UFBA) ; Anunciação, B.C.P. (UFBA) ; Messeder Neto, H.S. (UFBA) ; Sá, L.V. (UFRB) ; Souza, P.F.S. (UFBA) ; Patrocínio, A.A. (UFBA)
Resumo
O Parfor é um Programa do Governo Federal em parceria com os Estados, Municípios e as Instituições de Educação Superior – IES. Tem como objetivo principal a formação de professores da rede pública de educação básica. Na Licenciatura em Química/Parfor/Ufba criamos componentes curriculares onde a abordagem explícita sobre a história e filosofia das ciências, em particular da química, é tratada, com o objetivo de superar o referencial empírico-analítico dominante nos cursos de formação de professores. Constatamos que através dessa abordagem os alunos desenvolvem uma visão crítica e dinâmica das ciências, e do fazer ciência, com fortes implicações e mudanças nas suas concepções de ensino e prática pedagógica.
Palavras chaves
Parfor; Currículo; História das Ciências
Introdução
O Parfor é um Programa do governo federal, coordenado pelo MEC/Capes, que tem como objetivo principal a formação de professores da rede pública de educação básica, que ainda não possuem a licenciatura. A Ufba iniciou esse programa em agosto de 2010, com oito cursos e dentre eles o de Licenciatura em Química. Já formamos uma turma e estamos no penúltimo semestre da segunda turma. Na Licenciatura em Química da Ufba, a análise da matriz curricular do curso revelava fragmentações entre as disciplinas específicas e as disciplinas pedagógicas, além de não levar em consideração a historicidade do processo social do homem se fazer homem a partir de si mesmo. Uma das implicações dessa falta de historicidade tem a ver com a compreensão do empreendimento científico, tanto nos seus aspectos ontológicos como epistemológicos. Ao longo desses últimos nove anos fizemos várias intervenções no currículo, sendo uma delas relacionada à abordagem explícita da história e filosofia das ciências. No currículo do Parfor não foi diferente, um dos novos componentes curriculares ministrado foi o QUI A45-História e Epistemologia no Ensino de Química, que se revelou fundamental para a crítica e a superação da concepção ingênua de conhecimento/ciência/química que geralmente são abordados nos cursos de formação de professores de química. Entendemos que a superação de um modelo empírico-analítico na formação de futuros educadores exige a proposição de ações que extrapolem a simples construção de novas metodologias de ensino e aprendizagem. O debate epistemológico relativo à natureza do conhecimento científico/químico e a sua construção histórica deve ser parte constitutiva do currículo.
Material e métodos
Matthews (1995), um dos maiores defensores da inclusão da história das ciências e epistemologia no ensino das ciências, advoga a importância tanto do ensino de ciências, quanto do ensino sobre as ciências. Na sua perspectiva, ensinar sobre as ciências inclui além dos resultados científicos, a discussão de toda uma dinâmica da atividade científica: descoberta, justificação, divulgação e aceitação do conhecimento científico (MATTHEWS, 1995). Desta forma criamos dois componentes curriculares para dar conta dessas discussões: História da Química e História e Epistemologia no Ensino Químico (HEEQ) (MORADILLO, 2010). Neste trabalho, enfatiza-se o componente de HEEQ que articula a história da ciência com as questões epistemológicas. Na primeira parte desse componente discutimos sobre a relevância da filosofia e da história das ciências para a formação dos professores de ciências e sobre método científico. No segundo momento passamos a discutir sobre as bases filosóficas da ciência moderna: Francis Bacon, René Descartes, David Hume, Immanuel Kant Georg W. Friedrich Hegel, Auguste Comte, Karl Marx. Retomamos a concepção de ciência que predominou a partir da modernidade e seus problemas filosóficos, como por exemplo, a insustentabilidade da proposta indutivista de descobrir leis a partir de resultados experimentais. Em outro momento passamos a discutir epistemólogos que fizeram à crítica a ciência positivista e que tem uma forte penetração no ensino de ciências e da química, a exemplos de Karl Popper, Thomas Kuhn e Gaston Bachelard. A partir desses referenciais teóricos passamos a analisar o reflexo dessas questões epistemológicas nos livros didáticos de ciências e de química. No final, os alunos são estimulados a fazer um esboço de projeto para o Trabalho de Conclusão de Curso.
Resultado e discussão
Na literatura encontramos algumas possíveis vantagens para o uso da história das ciências e epistemologia no ensino de ciências/química tais como: humanização da concepção de ciência; percepção do caráter dinâmico do conhecimento científico; a articulação de eventos históricos e contextualização das descobertas científicas; dentre outros. Por outro lado, notam-se algumas desvantagens dessa abordagem tais como: o uso de preconceitos ou uma visão “presentista” para julgar fatos históricos; decepção com alguns cientistas, quando se conhece mais sobre sua história; dentre outros.
Cônscios das vantagens e desvantagens da abordagem histórica das ciências no currículo, os alunos do Parfor puderam compreender que a história das ciências está imersa na história social e que possibilita, na atualidade, um posicionamento quanto à sua invariância dominante, um certo padrão de fazer ciência, dado em alguns princípios. Princípios que são valores e que vão guiar e não determinar, o processo de fazer ciência: visão materialista de mundo, a busca de regularidades, consistência empírica, consistência teórica, parcimônia e poder heurístico. Valores esses que tem implicações práticas: O critério ontológico precede o critério gnosiológico e no caso do ser social o seu fundamento está na sua radical essência histórica; o critério epistemológico fundamental é de natureza lógica; a confirmação da teoria é de ordem prática e não teórica; o conhecimento é provisório; a observação é teórica-dependente; leis e teorias desempenham papeis diferentes; a replicabilidade é a regra; o método não é algo que possa ser algoritmizado, pois não existe um método universal; o método deixa de ser o caminho da verdade para ser o acúmulo sistematizado da experiência humana ao longo da história.
Conclusões
No modelo empírico-analítico anterior, os licenciados desenvolviam um caráter essencialmente técnico voltado para a aplicação dos saberes acumulados de forma acrítica, ahistórica e descontextualizada. Constatamos que através da abordagem da história e filosofia das ciências os alunos desenvolvem uma visão crítica e dinâmica das ciências/química, e do fazer ciência/química, com fortes implicações e mudanças nas suas concepções de ensino e prática pedagógica.
Agradecimentos
Ao PARFOR/CAPES - UFBA.
Referências
MATTHEWS, M. R. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, local, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995.
MORADILLO, E. F. A dimensão prática na licenciatura em química da UFBA: possibilidades para além da formação empírico-analítica. Tese (Doutorado em Ensino, Filosofia e História das Ciências), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.