FORMAÇÃO INTERDISCIPLINAR DE PROFESSORES: DESAFIOS E CONQUISTAS – a interação entre sujeitos

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ensino de Química

Autores

Nogueira, S.R.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Cardoso, F.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

Realizado com alunos dos Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Física e Química da UFF, através do Programa Institucional LIFE UFF - Ciências da Natureza, Sociais e Humanas em diálogo e do PIBID, este trabalho busca auxiliá-los a compreender a visão complexa da educação e sua importância para a atuação no magistério. Através de reuniões de estudo e para elaboração de planejamentos bimestrais e de aulas, verificou-se que o maior desafio ainda é o de promover interação verdadeira e produtiva entre esses sujeitos; e, a maior conquista tem sido o desenvolvimento, por parte de alguns, de atitude interdisciplinar, que tem gerado mudanças na atuação em grupo e em sala de aula, refletindo de forma positiva na interação com os estudantes da Educação Básica.

Palavras chaves

Ciências da Natureza; formação de professores; interdisciplinaridade

Introdução

Seguindo a orientação da UNESCO (Delors, 1997), a interdisciplinaridade foi reinserida oficialmente na educação brasileira, em particular para o Ensino Médio, através das DCNEM (BRASIL, 1998). Desde então, diversos documentos tentam auxiliar professores a implantá-la em sua prática docente (BRASIL, 1999, 2002 e 2006). Segundo Fazenda (1994) o professor interdisciplinar está sempre envolvido com seu trabalho, tem gosto especial por conhecer e pesquisar; possui um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos, luta por uma educação melhor e traz a marca da resistência que o impele a lutar contra a acomodação, embora em vários momentos pense em desistir da luta. Tais características, que levarão o professor a se manter atento às necessidades de seus alunos, de seus colegas e das suas próprias no processo ensino-aprendizagem, não se ensinam ou se aprendem, precisam ser desenvolvidas. Nesse sentido, a formação de professores para a interdisciplinaridade se pauta no desenvolvimento de competências para construir pontes entre os diferentes conhecimentos disciplinares, valores humanos e o mundo atual, de modo a torná-los aptos para “articular, religar, contextualizar, situar-se num contexto e, se possível, globalizar, reunir os conhecimentos adquiridos” (Morin apud Augusto, 2004); um processo que envolve “atitude de espera, humildade, desapego e comprometimento para fazer com os pares o percurso interdisciplinar no projeto curricular da escola” (Ferreira, 2010). Neste trabalho, onde se priorizou a interação entre sujeitos e o desapego de concepções individuais, apresentamos resultados parciais, alcançados com estudantes de licenciatura, durante construção de um planejamento bimestral contextualizado das disciplinas Física (F), Química (Q) e Biologia (B).

Material e métodos

Em etapa prévia houve leitura e reflexão sobre: textos oficiais da educação no Brasil; o relatório Delors; o paradigma científico emergente (Santos, 1987); e, textos de Edgar Morin (Morin, 2000 e 2003). Desde fevereiro de 2014, os 14 licenciandos (Q - 6, F - 5, B -3) participam das aulas das três disciplinas (assistem e/ou lecionam, geram materiais etc.), em uma turma de 1ª série do EM, na escola pública parceira. A preparação do planejamento do quarto bimestre para as disciplinas ocorreu da seguinte forma: (I) leitura e discussão em grupo (sem supervisão dos orientadores), nos livros adotados pela escola, dos assuntos propostos no Currículo do EM do RJ (Q: ligações interatômicas e forças intermoleculares, F: impulso, momento linear e conservação do momento, B: diversidade da vida), apresentando dúvidas e tentando saná-las entre si, (II) escolha de tema de trabalho, (III) discussão com as orientadoras para dirimir as dúvidas persistentes e avaliar a adequação do tema escolhido, (IV) pesquisa complementar sobre o tema e os conteúdos, (V) organização dos tópicos do tema e associação com os conteúdos específicos, (VI) distribuição dos assuntos no número de aulas disponíveis e apresentação do planejamento para a equipe completa, (VII) busca e troca de ideias, entre os grupos, para o trabalho de cada disciplina, (VIII) reorganização do planejamento, (IX) confecção dos planos de aula, (X) preparação dos materiais a serem usados em sala de aula. Ao longo do processo os licenciandos foram observados em suas participações e reações nas discussões com o grupo e com as orientadoras, assim como nas reuniões gerais com a equipe. A cada etapa a análise desses comportamentos norteou o redirecionamento dado pelas orientadoras a cada grupo e à equipe.

Resultado e discussão

O trabalho ocorreu de maio a julho de 2014. Os temas escolhidos foram: Corrida espacial (F), Combustíveis (Q) e Biodiversidade (B), os planejamentos e planos de aula foram finalizados. O objetivo geral para o bimestre é que os alunos consolidem a “compreensão do conhecimento científico como resultado de uma construção humana, inserido em um processo histórico e social” (RIO DE JANEIRO, 2012). Quanto à interação entre sujeitos e ao desapego de concepções prévias individuais, objetivo priorizado nesse processo, ficou evidente a dificuldade e, na maioria das vezes, a vergonha em admitir ao grupo, e ao orientador, desconhecimento de assuntos já estudados em disciplinas na universidade, ou sobre o tema escolhido e, especialmente, sobre a conexão entre ambos. Em dois grupos, Q e B, os colegas terminaram por incentivarem-se a admitir as dificuldades, auxiliaram-se mutuamente e o trabalho logrou sucesso em tempo menor. No terceiro grupo, F, essa postura gerou a convicção de que um colega (L1) não queria contribuir para o trabalho e por isto não interagia, provocando um incômodo crescente, irritação e impaciência, o que foi exposto para as orientadoras apenas quando se estava prestes à ruptura. Além disso, a disputa entre outros dois colegas para impor ideias por diversas vezes desmotivou os demais e dificultou o andamento do trabalho. Nem o relato dos grupos Q e B sobre como trabalharam ajudou a minimizar as divergências no grupo F. Após longa conversa com a orientadora, o licenciando L1, reviu suas atitudes, percebeu que sua postura de aparentar um conhecimento que não possuía era defensiva, explicou-se e desculpou-se com os colegas. Tal atitude minimizou a disputa acirrada entre os outros dois colegas e ajudou a evolução do trabalho.

Conclusões

A análise geral do andamento do trabalho e das atitudes das orientadoras, por vezes interpretadas como de condescendência para com L1, levaram os licenciandos a entenderem a importância da intersubjetividade, sem a qual não se exerce, com compreensão complexa, o magistério. Que o planejamento e as ações pedagógicas servem ao alunado a que se destina. Que seus alunos, como cada um deles hoje, serão pessoas com conhecimentos, problemas, emoções e sentimentos diferentes, e que não lograrão efetivo sucesso profissional sem envidar todos os esforços para não deixar nenhum deles para trás.

Agradecimentos

À CAPES e à Pró-Reitoria de Graduação – UFF, pelo apoio financeiro.

Referências

AUGUSTO, T. G. S,; CALDEIRA, A. M. A.; CALUZI, J. J.; NARDI, R. Interdisciplinaridade: concepções de professores da área Ciências da Natureza em formação em serviço. Ciência e Educação, v.10, nº 2, 2004.

BRASIL. Resolução CEB nº 3, de 26 de junho de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.

______. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio. Brasília, MEC/SEMTEC, 1999.

______. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN + Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.

______. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o ensino médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2006.

DELORS, J. (Org.) Educação Um Tesouro a Descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para O Século XXI. São Paulo: Cortez, 1997.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 17ª. ed. Campinas: Papirus, 2010 (1994). 143 p.

FERREIRA, Nali Rosa Silva. Currículo: Espaço interdisciplinar de experiências formadoras do professor da escola de educação básica. R. Interd., São Paulo, Volume 1, número 0, p.11-22, Out, 2010. Disponível em http://www4.pucsp.br/gepi/. Acesso em maio 2011.

SANTOS, B. S. Um discurso sobre as Ciências. Porto: Edições Afrontamento, 1987.

MORIN, E. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

MORIN, E., A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

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