CARACTERIZAÇÃO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR VISANDO A PRODUÇÃO DE CARVÃO ATIVADO

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ambiental

Autores

Soares, L.A. (UFRN) ; Alexandrino, A.C. (UFRN) ; Souza, C.P. (UFRN) ; Duarte, M.M.L. (UFRN)

Resumo

Este estudo teve como objetivo caracterizar o bagaço da cana-de-açúcar a fim de verificar sua funcionalidade como matéria-prima para produção de carvão ativado, agregando valor a esse resíduo da indústria sucroalcooleira. O bagaço de cana foi fornecido pela indústria Estivas (RN) e caracterizado pelas análises: termogravimetria, difratometria de raios-X, espectrometria de fluorescência de raios-X e microscopia eletrônica de varredura. Diante dos resultados encontrados, observou-se que o bagaço de cana foi capaz de oferecer características químicas e estruturais importantes para a produção de carvão ativado, mostrando potencialidade para este uso e apresentando uma maneira para aproveitamento deste resíduo disponível em grande quantidade na agroindústria brasileira.

Palavras chaves

bagaço de cana-de-açúcar; caracterização ; carvão ativado

Introdução

O bagaço da cana-de-açúcar é considerado uma fonte de biomassa, o qual é gerado em grandes quantidades durante o processamento da cana-de-açúcar, além de ser um combustível barato e de baixo poluentes (KATYAL; THAMBIMUTHU; VALIX, 2003) Visto que há uma vasta variedade de cana-de-açúcar e que o desenvolvimento de sua cultura é influenciado por diversos fatores de produção como clima, quantidade de água, tipo de solo, entre outros, a composição química da cana é bastante variável quanto à proporção dos elementos, porém quantitativa e qualitativamente, exibe regularidades em todas as variedades (SCHLITTLER, 2006). A biomassa pode ser definida como qualquer material orgânico que consiste principalmente em carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, presentes na forma de celulose, hemicelulose e lignina. Além desses compostos orgânicos, encontra- se presente também na biomassa, geralmente em pequena quantidade, uma parte inorgânica composta por metais alcalinos (Na, K), metais alcalino-terrosos (Mg,Ca) e outros componentes como S, Cl, N, P, Si, Al compondo fração inorgânica varia de 0,1 a 12% (VIGOUROUX, 2001). A utilização de resíduos para produção de carvões ativados adiciona valor econômico, ajuda a reduzir o custo de descarte dos resíduos e, o mais importante, fornece uma alternativa potencialmente barata aos carvões ativados comerciais (RAFATULLAH, et al. 2010). Nos últimos anos, devido ao desenvolvimento da agroindústria, a grande quantidade de resíduos gerados no setor é motivo de preocupação com o meio ambiente. Neste contexto, o presente trabalho objetivou caracterizar o bagaço de cana e investigar a potencialidade deste resíduo da agroindústria brasileira como forma de se obter produtos de maior valor agregado, como o carvão ativado.

Material e métodos

O bagaço de cana-de-açúcar utilizado neste trabalho foi seco em estufa A 65 ºC por 72 h. Após este procedimento, o material seco foi triturado em um moinho de facas em peneira de 10 Mesh. Análise Termogravimétrica (TG): Foi utilizada para estimar a perda de massa das amostras de bagaço de cana-de-açúcar. As medidas de análise térmica foram realizadas em um TGA-DTA, TA Instruments, modelo SDT 2960, com taxa de aquecimento de 10 ºC/min, sob fluxo de N2 (60 mL/min), partindo da temperatura DE 25 ºC até 800 ºC. Difratometria de Raios-X (DRX): Foi realizada para avaliar a estrutura cristalina das amostras de bagaço de cana-de-açúcar. Utilizou-se um difratômetro Rigaku, com radiação CuKα e filtro de niquel. Os difratogramas foram adquiridos com variação de ângulo (2Ө) entre 10° e 90°. Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX): Realizada para analisar a composição química de impurezas presente no bagaço de cana-de-açúcar. Foi utilizado um equipamento marca PHILIPPS modelo XL30 – ESEM. As amostras de catalisador na forma de um pó fino foram acondicionadas em porta amostra de teflon e polipropileno sob atmosfera a vácuo. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV): A morfologia dos materiais foi observada a partir de um microscópio eletrônico de varredura da marca Hitachi, modelo Tabletop Microscope TM-3000.

Resultado e discussão

Os resultados encontrados para TG, DRX e FRX encontram-se apresentados na forma de Gráficos e Tabela na Figura 1. Análise Termogravimétrica (TG): A primeira perda de massa, aproximadamente 5,7%, pode ser observada até 250 ºC e corresponde à eliminação de água retida no material. Depois se observa, entre 250 e 360 ºC, maior perda de massa (58%), que corresponde à decomposição da hemicelulose e à maior parte da celulose. A decomposição da lignina ocorre a partir de 360 ºC, indicando maior estabilidade de sua estrutura em relação às outras. Portanto, somente acima de 360 ºC é possível a decomposição da lignina e formação de carvão. GARCÌA-PÈREZ et al. (2001) encontraram máxima perda de massa na temperatura de 351 ºC para o bagaço de cana-de-açúcar com tamanho de partícula superior a 450 μm. Difratometria de Raios-X (DRX): A análise de difração de raios X foi realizada para investigar a estrutura cristalina do bagaço. Verificou-se que a celulose é o único componente, dentre os três principais da biomassa, que apresenta estrutura parcialmente cristalina com picos característicos localizados em 2ϴ = 15,8 º, 22,6 º e 34,3 º. Além disso, observou-se a presença de outros picos de difração que podem ser atribuídos aos componentes inorgânicos presentes no bagaço. Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX): A análise da tabela de FRX mostrou que as percentagens mais representativas foram dos óxidos K2O (23,34%), Fe2O3 (22,77%) e o SiO2 (20,65%), totalizando 77,7%. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV): As micrografias obtidas por MEV foram efetuadas para avaliar a textura do material. As imagens demonstraram que o bagaço apresentou aspecto fibroso, porém quebradiço e com forma tubular pouco definida. Os resultados podem ser observados nas imagens da Figura 2.

Figura 1– Resultados para o bagaço de cana-de-açúcar: (A) Termograma e



Figura 2- Microscopia eletrônica de varredura para o bagaço de cana, c



Conclusões

Diante dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que o bagaço de cana-de- açúcar ofereceu características importantes, tendo em vista a produção de carvão ativado. Sendo um resíduo disponível em grande quantidade na agroindústria brasileira, apresentou assim uma alternativa para aproveitamento deste importante material.

Agradecimentos

Referências

GARCÌA-PÈREZ. M., CHAALA, A., ROY, C., 2002, “Vacuum pyrolysis of sugarcane bagasse”, Journal of Analytical and Applied Pyrolysis, v. 65, pp. 111-136.
KATYAL, S.; THAMBIMUTHU, K.; VALIX, M. Carbonisation of bagasse in a fixed bed reactor: influence of process variables on char yield and characteristics. Renewable Energy. Canada: Pergamon, v. 28, p. 713-725, 2003.
RAFATULLAH, M.; SULAIMAN, O.; HASHIM, R.; AHMAD, A. Adsorption of methylene blue on low-cost adsorbents: A review. Journal of Hazardous Materials, v. 177, p.70-80, 2010.
SCHLITTLER, L. A. F. S. Engenharia de um bioprocesso para produção de etanol de bagaço de cana-de-açúcar. 2006. 174 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Rio de Janeiro, 2006.

VIGOUROUX, R. Z. Pyrolysis of biomassa: Rapid pyrolysis at high temperature, slow pyrolysis for active carbon preparation. Estocolmo, Royal Institute of Tecnology, Dissertação de Mestrado. 2001. 48 p.

Patrocinadores

CNPQ CAPES CRQ15 PROEX ALLCROM

Apoio

Natal Convention Bureau Instituto de Química IFRN UFERSA UFRN

Realização

ABQ