ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Ambiental
Autores
Alexandrino, A.C. (UFRN) ; Soares, L.A. (UFRN) ; Souza, C.P. (UFRN) ; Duarte, M.M.L. (UFRN)
Resumo
O objetivo desse trabalho foi verificar o potencial do bagaço da cana-de-açúcar na reação de pirólise lenta (carbonização) como forma de se obter produtos com maior valor agregado, determinando o rendimento e possíveis aplicações dos produtos gerados nessa reação. O bagaço utilizado foi produzido em Arês/RN pela indústria Estivas e caracterizado quanto aos teores de fibras, minerais e pela técnica de termogravimetria. A partir dos resultados obtidos foi possível prever a quantidade de cada produto gerado pela reação de carbonização dessa biomassa, e mostrar a viabilidade do processo para aproveitamento desse resíduo produzido em grande quantidade na agroindústria nacional.
Palavras chaves
bagaço da cana-de-açúcar; biomassa; pirólise
Introdução
O bagaço de cana-de-açúcar é um subproduto do último moinho das usinas e destilarias, que apresenta aproximadamente 30% de massa de cana e umidade em torno de 50% (SCHLITTLER, 2006). A aplicação do processo de pirólise se mostra uma ferramenta promissora, pois tem como base a conversão termoquímica em atmosfera não oxidante, contribuindo para a minimização do impacto ambiental e também para a geração adicional de produtos nas fases sólida (carvão vegetal), líquida (bio-óleo) e gasosa de apreciável valor econômico (insumos químicos e energéticos), os quais possuem aplicabilidade diversa: produção de energia, insumo em refinaria ou no preparo de carvão ativado (produto sólido) (KIMURA, 2009). A composição química da matéria-prima utilizada, que depende das condições climáticas a que esteve exposta a cana, é de fundamental importância na qualidade dos produtos finais obtidos na pirólise. As porções mais voláteis são favorecidas quando se tem maior teor de celulose e hemicelulose contidos na matéria-prima. Quando se tem um maior teor de lignina, obtém-se um alto rendimento de carvão fixo na porção sólida e bio-óleo (GOMES, 2010). Por isso, a análise do teor de fibras se torna indispensável para determinação do rendimento de cada produto no processo de pirólise. Além disso, a análise de termogravimetria mostra a decomposição da biomassa na atmosfera não oxidante e as faixas de temperaturas da formação de cada produto. Assim, este trabalho teve como objetivo verificar o potencial do bagaço da cana- de-açúcar para utilização no processo de pirólise, a fim de obter produtos com maior valor agregado, verificando o rendimento e possíveis aplicações dos produtos gerados nessa reação.
Material e métodos
O bagaço de cana-de-açúcar utilizado neste trabalho foi obtido da Usina Estivas, localizada na cidade de Arês (RN). O material foi inicialmente seco em estufa com circulação forçada de ar, durante 72 h a 65 ºC, em seguida foi triturado em um moinho de facas até a granulometria de 2 mm. Determinação de matéria seca: O resultado desta análise foi obtido através da diferença entre a massa do bagaço após o tempo de 12 h submetido à temperatura de 105 ºC em estufa e a massa do bagaço antes de passar por esse procedimento. Fibra em detergente neutro (FDN) e Fibra em detergente ácido (FDA): As fibras foram determinadas conforme metodologia descrita por Van Soest et al. (1991), utilizando determinador de fibra (ANKOM, Brasil). O teor de celulose, hemicelulose e lignina foi obtido com auxílio dos resultados encontrados em FDN e FDA. Determinação da matéria mineral (cinzas): O teor de cinza da amostra de bagaço de cana-de-açúcar foi determinado de acordo com o método descrito por Silva e Queiroz (2002). Termogravimetria (TG): A análise de TG foi obtida utilizando uma termobalança, efetuada sob fluxo de argônio (60 mL/min), e a faixa de temperatura estudada partiu de 25 até 800 °C, com taxa de aquecimento de 5 °C /min.
Resultado e discussão
Os resultados da composição química do bagaço da cana-de-açúcar (teor de
umidade, matéria mineral, lignina, celulose e hemicelulose) estão apresentados
na Figura 1.
De acordo com os resultados encontrados, verificou-se que os componentes do
bagaço de cana e suas composições mássicas encontradas são semelhantes a
materiais descritos na literatura (Canilha et al 2007, Cunha, 1999; Pandey et
al., 2000; Aguilar et al., 2002; Costa, 2005).
Segundo Rocha, Pérez e Cortez (2004), o carvão obtido da pirólise é gerado
principalmente pela lignina e celulose, o que somados dão mais de 50% da
porcentagem em massa do bagaço de cana-de-açúcar.
O Gráfico da Figura 2 mostra o teste de termogravimetria realizado, onde foi
possível observar a perda de massa ao longo do tempo do processo e verificou-se
que a fração sólida, carvão e cinza, obtida ao fim da carbonização foi de 30% em
relação à massa inicial, esse material pode ser usado como combustível tanto
diretamente na forma de briquetes ou como carvão-óleo ou lamas de carvão-água
por possuir alto valor calorífico, ou pode ser usado como insumo para o preparo
de carvão ativado.
Composição orgânica do bagaço da cana-de-açúcar.
Termograma do bagaço da cana-de-açúcar.
Conclusões
Tendo em vista os resultados encontrados neste estudo, pode-se concluir que o bagaço de cana-de-açúcar utilizado apresentou grande potencial para a produção de gases, bio-óleo e carvão, pois demonstrou composição química satisfatória, fundamental para a produção de materiais com boa qualidade podendo ser utilizados para diversas aplicações. Além de ser uma matéria-prima disponível em abundancia e assim apresentar baixo custo de produção.
Agradecimentos
Referências
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