ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DAS ROCHAS PELA CRISTALIZAÇÃO DE SAIS SOLÚVEIS NO SALÃO DEL REY, PAÇO IMPERIAL, RIO DE JANEIRO.

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ambiental

Autores

Ricardo, A. (UFRJ) ; Ribeiro, R. (CETEM) ; Mansur, K. (UFRJ) ; Barroso, E. (UFRJ) ; Ludka, I. (UFRJ) ; Queiroz, J. (CETEM) ; Castro, J. (UFRJ)

Resumo

O Paço Imperial é uma construção do Rio de Janeiro que remonta aos tempos da colônia no Brasil e assumiu importante papel histórico, pois foi a primeira residência da família Real Portuguesa em 1808. Este prédio é construído e ornamentado em rochas metamórficas oriundas da própria cidade, como o gnaisse facoidal e o leptinito, além de argamassa composta por cimento da época. O local em estudo refere-se a uma pilastra com elevado grau de deterioração, presente em um dos salões do Paço, o Salão Del Rey, cuja estrutura apresenta patologias como eflorescência, perda de massa e variação de cor. Um dos elementos que favorecem sua degradação é a cristalização de sais solúveis como halita (NaCL) e gipsita (CaSO4.2H2O). A pesquisa incluiu: amostragem, análise mineralógica, difração de Raio-X e MEV.

Palavras chaves

Morfologias de Alteração; Construções Históricas; Geoconservação

Introdução

É notório que química e geologia são ciências afins, de modo que a geologia mostra-se presente como a tradução da química na natureza abiótica. Os materiais pétreos sofrem, de modo constante intemperismo físico e químico, e por isso, sem o devido cuidado no uso e manutenção, sua durabilidade, em construções, tende a reduzir. Isto se dá, principalmente quando se trata da presença de soluções salinas que penetram na estrutura das rochas, sendo o decaimento salino uma das formas de deterioração mais sérias e comuns em regiões costeiras. Neste caso, cristais são formados pela evaporação do solvente, danificando permanentemente a rocha por aumentar sua porosidade devido à formação de fraturas pelo crescimento dos cristais de sais (JUNIOR, 2012). Um exemplo deste fenômeno ocorre em uma das construções com grande valor histórico para o país, o Paço Imperial. No salão Del Rey deste prédio há uma pilastra, feita em gnaisse facoidal, tijolos e argamassa, extremamente danificada pela ação química de compostos salinos. Vendo-se necessária uma avaliação apurada do problema. O objetivo do presente trabalho é construir uma perspectiva sobre a importância da investigação científica moderna associada à geoconservação deste patrimônio. As etapas laboratoriais incluíram: amostragem, mineralogia dos sais, medição de temperatura e análise química. Os resultados mostraram que há cristalização dos minerais halita (NaCl) e gipsita (CaSO4.2H2O), na argamassa, na rocha e tijolos e que a ocorrência desses sais varia da base ao topo da pilastra mostrando a clara atuação do processo da capilaridade. Viu-se também que a temperatura e o clima têm um papel preponderante no crescimento desses sais e devido à presença de morfologias de alteração, como eflorescência, subeflorescência e perda de massa.

Material e métodos

O presente estudo incluiu pesquisas bibliográficas, pesquisa em campo e análise laboratorial. A pesquisa em campo englobou o mapeamento seguindo o modelo de FTZNER e HEINRICHS (2002), de acordo com o qual se realiza a identificação in situ das diversas morfologias de alteração presentes e as ilustra em um croqui. Houve, também, a coleta de amostras do sal eflorescente. Mediu-se a temperatura da pilastra com termômetro infravermelho da marca Contemp. A etapa laboratorial incluiu caracterização mineralógica; difração de Raio-X, pelo método do pó e Raio-X portátil, para verificar a composição dos sais presentes. O material também foi submetido à análise de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com Sistema de Energia Dispersiva (EDS), o qual possibilita a determinação da composição qualitativa e semiquantitativa das amostras, a partir da emissão de Raios-X característicos (DUARTE et al, 2003).

Resultado e discussão

A pilastra do salão Del Rey tem forma de bloco retangular com as seguintes medidas: 1,35m de altura, 1,26m de largura e 0,63m de profundidade e está localizada no térreo do prédio do Paço Imperial na parte da fachada principal que está afastada cerca de 150m da estação das barcas que faz a ligação entre o Rio de Janeiro e Niterói. Antigamente, esta região não havia sido aterrada e a orla do mar era mais próxima da construção, estando a cerca de 60m conforme observações feitas entre mapas antigos e atuais. O mapeamento das patologias mostrou que as principais alterações presentes no local são:eflorescência,subeflorescência, manchamentos, fissuras, pátinas e perda de massa pela perda da coesão dos grãos da rocha, dos tijolos e alvenaria. A eflorescência e subeflorescência, visualmente, indicam presença de cristais de halita (NaCl) e gipsita (CaSO4.2H2O), cuja origem pode estar relacionada à absorção por capilaridade da água do mar. Sabe-se que a água do mar é composta essencialmente por íons cuja proporção é de cerca de 56% de Cl-, 28% de Na+, 8% de SO4-2, 4% de Mg+2, 1,5% de Ca+2, 1% de K+, 0,5% de HCO3- e 92,5% de H2O, e que, portanto ela contém os elementos para a formação de tais minerais. A fluorescência de Raio-X portátil mostra percentagem elevada para o enxofre a cerca de 70cm da base no gnaisse. Os resultados do MEV e EDS também corroboram os resultados anteriores mostrando a presença de gipsita e halita.

Conclusões

Tende-se a crer que a mudança na paisagem urbana influenciou a circulação em subsuperfície original, uma vez que o nível freático da região da Praça VX sofra variações e encontre novos pontos para emergir. Um deles pode ser o subsolo do Paço Imperial, pela evidente absorção de água por capilaridade que permite a percolação e deposição de sais solúveis que aumentam a porosidade no material estudado, pois o crescimento de halita (NaCl) e gipsita(CaSO4.2H2O) provocam ruptura e microfraturas. Viu-se que a gipsita tende a estar entre a base e a metade da pilastra e a halita entre a metade e o topo.

Agradecimentos

Ao CNPq pelo auxílio financeiro, ao CETEM e à UFRJ pela infraestrutura. E, em especial, aos funcionários do Paço Imperial.

Referências

DUARTE, L. C.; JUCHEM, P. L.; PULZ, G. M.; BRUM, T. M. M.; CHODUR, N.; LICCARDO, A.; FISCHER, A. C.; ACAUAN, R. B.. Aplicações de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Sistema de Energia Dispersiva (EDS) no Estudo de Gemas: exemplos brasileiros. Pesquisas em Geociências, v.30(2) p.3-15, 2003.

FITZNER B., HEINRICHS K., 2002: Damage diagnosis on stone monuments - weathering forms, damage categories and damage indices.- In Prikryl, R. & Viles, H. (ed.): Understanding and managing stone decay, Proceeding of the International Conference "Stone weathering and atmospheric pollution network (SWAPNET)", Universidade de Charles, Praga, The Karolinum Press p.11-56.

JUNIOR, J. C.D de F., 2012. Quimíca aplicada à conservação e restauração de bens culturais: uma introdução. Belo Horizonte: São Jerônimo, 2012. 208p.:il.p&p;30cm. ISBN 978-8564670-02-0.

MARIANI, A. W et al. 2004. Paço Imperial: Roteiro para visita histórica. 4.ed. – Rio de Janeiro: Paço Imperial, 2004 – 80p.:il. CDU725.17 (815.3).

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